terça-feira, 21 de dezembro de 2021

A colonização não acabou, mas como permanece?

 


A colonização não acabou, mas como permanece? 


Uma das formas dela se fortalecer é através da premissa de que em verdade se tratam de sistemas bons na essência, mas ruins apenas na prática.


Com isso, há uma insistência na defesa desses modelos, como se só houvesse problemas na execução de alguns e não algo problemático na própria ideologia.


Será que bilhões de pessoas iriam querer seguir o cristianismo se a figura central dessa filosofia fosse alguém descrito como ruim, egoísta, meritocrático? Acredito que não.


Os fã-clubes elevam a imagem de seus ídolos porque isso informa sobre sua própria autoestima. Ninguém quer ter como inspiração alguém que não julgue massa. A reação de defesa acaba sendo uma forma de defender a visão que se tem sobre si mesmo.


Então quanto mais evidências se trazem da violência da ideologia cristã, tanto mais se reforça que isso não é sobre o verdadeiro Jesus, atribuindo à sua essência algo essencialmente bom e amoroso. 


Alguns dizem: houve distorções na tradução da Bíblia (o que concordo), mas se questionamos a validade do que é posto nela, é justo que haja um rigor e que não utilizemos esse argumento apenas para atenuar as menções que não coadunam com a imagem perfeita de Jesus.

Não vejo pessoas dizendo: essa parte do amor ao próximo foi erro de tradução, essa parte da caridade foi distorcida. 


Se a fonte bíblia é desqualificada, então de onde se sabe que o Jesus foi bom e amoroso?

Se não se sabe ao certo, pelas traduções, quem ele de fato foi, por que há a atribuição positiva daquilo que não se conhece? Talvez porque a projeção do desejo de ser salvo precise conciliar-se emocionalmente essa moral do salvador.


Há outros registros históricos, mas aí estamos falando de uma pessoa e não de uma entidade religiosa.

E há que se refletir sobre o desejo de ser salvo por outro ser humano.

Aliás, ser salvo do quê?

A salvação só existe porque há condenação. A promessa do céu só existe com a ameaça ao inferno. E o bem e o amor a alguns se fazem do contraste do ódio aos demais. 


Não me interessa aqui inferir se Jesus era bom ou mau, pois descatequizar o pensamento é justamente sobre pensar uma vida para além do bem e do mal.


Geni Núñez


Fonte: https://www.instagram.com/p/CXjwB5sPneY/


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A colonização não acabou, mas como permanece?

 


A colonização não acabou, mas como permanece? 


Uma das formas dela se fortalecer é através da premissa de que em verdade se tratam de sistemas bons na essência, mas ruins apenas na prática.


Com isso, há uma insistência na defesa desses modelos, como se só houvesse problemas na execução de alguns e não algo problemático na própria ideologia.


Será que bilhões de pessoas iriam querer seguir o cristianismo se a figura central dessa filosofia fosse alguém descrito como ruim, egoísta, meritocrático? Acredito que não.


Os fã-clubes elevam a imagem de seus ídolos porque isso informa sobre sua própria autoestima. Ninguém quer ter como inspiração alguém que não julgue massa. A reação de defesa acaba sendo uma forma de defender a visão que se tem sobre si mesmo.


Então quanto mais evidências se trazem da violência da ideologia cristã, tanto mais se reforça que isso não é sobre o verdadeiro Jesus, atribuindo à sua essência algo essencialmente bom e amoroso. 


Alguns dizem: houve distorções na tradução da Bíblia (o que concordo), mas se questionamos a validade do que é posto nela, é justo que haja um rigor e que não utilizemos esse argumento apenas para atenuar as menções que não coadunam com a imagem perfeita de Jesus.

Não vejo pessoas dizendo: essa parte do amor ao próximo foi erro de tradução, essa parte da caridade foi distorcida. 


Se a fonte bíblia é desqualificada, então de onde se sabe que o Jesus foi bom e amoroso?

Se não se sabe ao certo, pelas traduções, quem ele de fato foi, por que há a atribuição positiva daquilo que não se conhece? Talvez porque a projeção do desejo de ser salvo precise conciliar-se emocionalmente essa moral do salvador.


Há outros registros históricos, mas aí estamos falando de uma pessoa e não de uma entidade religiosa.

E há que se refletir sobre o desejo de ser salvo por outro ser humano.

Aliás, ser salvo do quê?

A salvação só existe porque há condenação. A promessa do céu só existe com a ameaça ao inferno. E o bem e o amor a alguns se fazem do contraste do ódio aos demais. 


Não me interessa aqui inferir se Jesus era bom ou mau, pois descatequizar o pensamento é justamente sobre pensar uma vida para além do bem e do mal.


Geni Núñez


Fonte: https://www.instagram.com/p/CXjwB5sPneY/