sábado, 31 de outubro de 2015

Gosto de Halloween



Gosto de Halloween porque me dá uma grande oportunidade de reflexão a respeito dos medos e verdadeiros inimigos da humanidade. Muitos se levantam armados dos pés à cabeça contra vampiros, lobisomens, máscaras e fantasias nesta época, mas admitem durante todo o ano a falsidade, a omissão de socorro, a hipocrisia e as pequenas corrupções do dia-a-dia.
Quem são nossos verdadeiros inimigos? O que mais corrompe nossas crianças: os brinquedos em forma de monstros do imaginário folclórico-cultural ou nossa falta de caráter e mau exemplo nas atitudes para com o próximo, esteja ele ou não de acordo com nossa opinião?
Fácil é queimar brinquedos e livros, censurar a arte e a cultura. Difícil é extirpar o mal de dentro de nós, amputar a ambição e a maldade, o preconceito e o julgamento precipitado, baseado na aparência.
Fácil é levantar a bandeira contra uma celebração anual, sabotar uma marca, criar um evento. Difícil é demonstrar amor ao diferente, ao que diverge da gente e estender a mão ao que menos se mostra a nós atraente.
Fácil é amar quem nos ama, sorrir a quem concorda conosco, ajudar o que se faz belo aos nossos próprios olhos. Difícil é ter uma postura mais crítica quanto a nós mesmos, ser misericordioso e pacificador neste mundo, ter fome e sede de justiça (a justiça de Deus, não a nossa – que não passamos de justiceiros cegos), amar e agir em favor de quem nos persegue.
Mas agir como Jesus é demais para nós. Por isso o Halloween se torna, muitas vezes, a válvula de escape dos inquisidores, e os monstros invisíveis (mais fáceis de exorcizar), nossos mais visados inimigos.
Enquanto isso, saímos às escuras para prosseguir em nossas práticas contra o próximo. Falsificamos, extorquimos, corrompemos, fazemos “justiça” com as próprias mãos, violamos o direito e buscamos nossos interesses acima do alheio. Somos gatos pardos na noite de nosso filme de terror chamado ‘vida’, e escapamos ilesos da condenação do evangelho distorcido que pregamos, num faz de conta que não passa de um belo baile de máscaras bem parecido com as celebrações de Halloween.

Angela Natel

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Fisiografia dos assassinatos de mulheres - a imolação do corpo feminino no feminicídio

Maria Dolores de Brito Mota

Adital -
O exame dos modos de produção da morte de mulheres nos casos de feminicídio levando em conta os instrumentos e as técnicas utilizadas pelos feminicidas, bem como o aspecto do corpo feminino resultante das agressões fatais, permite ultrapassar a cena e penetrar na maquinaria do feminicídio. Essa maquinaria se fundamenta numa engrenagem em que o corpo do homem se institui como força, articulando simbioticamente a virilidade com a violência para realizar os ferimentos que matam as mulheres através de uma imolação do feminino. É possível desvelar os significados da utilização das armas empregadas e dos ferimentos efetuados com elas nos corpos das mulheres. Esse desvelamento constatou que os feminicídios se caracterizam como crimes brutais, cuja mecânica da produção da morte explicita crueldade e ódio, sendo comum o uso de mais de uma arma e golpeamentos compulsivos, que demandam o emprego de muita força física dos criminosos para realizar o suplício, ou imolação do corpo feminino.

As expressões dessa crueldade marcam o corpo das mulheres através de ferimentos medonhos, produzidos por uma variedade de armas de fogo, faca, facão, martelo, espeto, as mãos, pedra, pau entre outras, cujo uso se faz por golpes repetidos que demandam desprendimento de força física, elemento primordial da identidade masculina, ou seja, componente da masculinidade e do seu poder. Essa forma de matar martiriza, imola o corpo das mulheres para destruir expressões do feminino através da morte física, o que permite avançar o entendimento desses crimes como feminicídio.
As práticas e a significação dos corpos feminino e masculino se relacionam ao processo que Bourdieu denomina de sociodiceia masculina, processo que, para o autor, se baseia em duas operações: "ela legitima uma relação de dominação inscrevendo-a em uma natureza biológica que é, por sua vez, ela uma própria construção social naturalizada" (1999, p. 33)(1). Ao acionar tais operações, essa sociodiceia constrói os corpos, somatizando relações sociais de dominação que torna os homens fortes e agressivos e as mulheres sedutoras e submissas. Assim "a virilidade, como se vê, é uma noção eminentemente relacional, construída diante dos outros homens, para os outros homens e contra a feminilidade, por uma espécie de medo do feminino, e construída, primeiramente, dentro de si mesmo", afirma Bourdieu (idem, p. 67). De tal modo a virilidade se articula com a violência simbioticamente.
O corpo que é culturalmente construído é, portanto, um lugar prático onde o controle é exercido. Assim, o corpo é um texto da cultura, pois ao mesmo é ensinado desde o início da sua existência, sobre os costumes da cultura em que está inserido. Desta forma, a cultura se faz corpo através dos hábitos aprendidos, das normas seguidas, da rotina, ou seja, de práticas que parecem banais.
Com base em notícias sobre assassinatos de mulheres no período de 2002 a 2006, considerando as informações sobre o tipo de arma utilizada no assassinato e os ferimentos provocados, foram encontradas 96 mulheres assassinadas por armas de fogo, 82 por faca, 18 por estrangulamento, 21 envolvendo uso de pedaços de pau, 8 por pedra, 8 por espancamento, 5 por foice, 3 por enxada e 1 por tijolo, martelo, machado, facão, tábua de carne, mão de pilão. Houve ainda 2 mortes envolvendo empurrão, 3 degolamentos, 2 mutilações. Em 19 casos as vítimas forma estupradas, em 6 foram queimadas e 3 foram amarradas.
As mortes causadas por estrangulamento foram praticadas pelas próprias mãos ou por uso de objetos como corda, cadarço, alça de sutiã, entre outros materiais comuns ao espaço doméstico.
Os instrumentos usados nos crimes investigados apresentam uma prevalência do uso de armas domésticas, relacionadas ao espaço da casa e do trabalho dos feminicidas, e que necessitam de uma aproximação corporal e muito investimento de força do assassino sobre a vítima. Facas, armas brancas em geral, paus, pedras, cordas, espancamento, estrangulamento, correspondem à forma de matar em que o corpo do assassino age muito, despende mais energia do que o uso de armas de fogo. Força e ação tanto se relacionam com significados de masculinidade como podem sugerir muito ódio e vontade de destruição.
Os crimes são tão brutais que na maioria deles nunca é desferido apenas um golpe e sim vários, ficando visível que além do objetivo de realmente matar, também há o querer mortificar o corpo da vítima, exprimindo um intenso ódio pelas mulheres. As partes do corpo mais agredidas são: pescoço, cabeça, tórax e seios. Apenas cabeça, garganta e rosto representam 53% das partes corporais atingidas na produção do feminicídio. Essas são regiões corporais mais ligadas à identidade das mulheres, seu pensar, seu falar, suas feições próprias. Em seguida aparece o tórax, onde está o coração, muito atingido pelos golpes.
O corpo assassinado das mulheres evidencia-se como um corpo marcado pela vontade de repressão e destruição das partes que representam a voz e a feminilidade. A violência emerge nesses crimes de gênero como formas de controle do corpo feminino. Um controle que não apenas retira a vida, mas que destroça o corpo da mulher. Não é suficiente matar; é preciso massacrar, mutilar, deformar esse corpo. O estupro, presente em 12% dos casos noticiados, é um dado que chama atenção para o caráter de gênero dos crimes. Vale ressaltar que em um caso ocorreram ferimentos na área vaginal da mulher; e no que se refere à mutilação, em dois casos os alvos foram os seios; que, numa mulher foram extraídos; e em uma criança foram perfurados com cabo de vassoura (pelo próprio pai feminicida).
Foi possível observar que os feminicídios decorrem de situações advindas da condição social dos gêneros, ou seja, do papel e do significado social de ser mulher e de ser homem, fornecendo um conjunto racional de elementos para se aprofundar a configuração desse crime e diferenciá-lo do homicídio. A brutalidade que se constatou na produção da morte feminina nos crimes estudados, parece indicar que a dominação masculina, ainda prevalecente, opõe-se a formas de resistência e autonomia das mulheres. Essa outra forma de ser mulher, mais livre e independente, tem enfrentado a incapacidade de muitos homens que não se reconhecem como tais frente à outra forma de ser mulher, acionando contra elas uma intensa violência e ódio em nome de uma virilidade construída contra o feminino.

Nota:
(1)   Bourdieu, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.


http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=47667

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

So You’ve Been Accused of Witchcraft...

How to avoid the ultimate punishment.


fonte: http://www.laphamsquarterly.org/magic-shows/charts-graphs/so-youve-been-accused-witchcraft?utm_content=buffer147f8&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer

terça-feira, 27 de outubro de 2015

17 Signs That You'd Qualify as a Witch in 1692


Discover whether you are guilty of maleficium and/or would have been accused of practicing witchcraft according to the laws and evidence used during the 1692 Salem Witch Trials.

1. YOU ARE FEMALE

Are you a woman of any kind? If so, you are probably one of the devil’s many hellbrides. Since the medieval period, “an aspect of the female has been associated with the witch.” For thousands of years, people have believed women to be more susceptible to sins than men, and sinning is a clear indication of devil worship. In Salem, 13 women and five men were convicted of practicing witchcraft, though historically the numbers dramatically favor accused women over men.

2. YOU ARE POOR/CANNOT SUPPORT YOURSELF FINANCIALLY

The poor, homeless, and those forced to rely on the community for support were among the most vulnerable and often accused of witchcraft. Sarah Good, hanged in 1692, was extremely disliked and distrusted by neighbors because she wandered from house to house begging for food.

3. YOU ARE RICH/FINANCIALLY INDEPENDENT

If you’re a grown woman living this life without any additional support, you probably also have a jar of eye of newt in your pantry. Any indication that a woman could live without the help or supervision of a man raised alarm. She would likely have been isolated from the community—until, of course, she was arrested and put on trial. Between 1620 and 1725, women without brothers or sons to share their inheritance comprised 89 percent of the women executed for witchcraft in New England.

4. YOU HAVE ONE OR MORE FEMALE FRIENDS

A note to all popular teens and the cast of Sex and the City: A group of women congregating without a male chaperone was deemed a “coven meeting to worship the Devil.” Ladies be communing with flirty cosmos and the devil.

5. YOU HAVE HAD AN ARGUMENT WITH ONE OR MORE OF YOUR FEMALE FRIENDS

Infamous witchfinders like Matthew Hopkins and John Searne inspired such terror in the community that it didn’t take long for women to accuse other women of witchcraft as a way of deflecting their own indictments. According to author Elizabeth Reis, “women were more likely than men to be convinced of this complicity with the devil, and given such convictions about themselves, they could more easily imagine that other women were equally damned.”
Take the case of Rachel Clinton: “Women of worth and quality accused [her] of hunching them with her elbow” when she walked by them at church. Rachel, herself a former woman of “worth and quality,” had a mentally disturbed mother and a late-in-life marriage that caused her to slip to the bottom rung of the class system. Add to that some finger-wagging biddies screaming about an elbow jab and, double double toil and trouble, Rebecca was convicted of witchcraft.

6. YOU HAVE HAD AN ARGUMENT OR DISAGREEMENT WITH SOMEONE

The important thing to remember is that anyone could accuse anyone. And they did. If you found yourself accused of practicing witchcraft of any kind by any kind of person, you might as well have been seen flying naked over the moon on a broomstick made out of a cursed lover’s ears.

7. YOU ARE VERY OLD

Older women, both married and unmarried, were extremely susceptible to accusations. Rebecca Nurse was a 70-year-old invalid when she was accused by disputing neighbors. At 71, she became the oldest woman tried, convicted, and put to death for being a witch.

8. YOU ARE VERY YOUNG

Dorothy Goode was only 4 years old when she confessed to being a witch (simultaneously implicating her mother, Sarah, who was hanged in 1692). Dorothy was imprisoned for nine months before her release. The experience left her permanently insane.

9. YOU ARE A MIDWIFE

Put simply by writer Joel Southern, a midwife’s “age, social and marital status, autonomy, pagan influences, secret knowledge of herbs and most importantly, the vilification of her profession as unclean and demeaning served to demonize the midwife. In short, the midwife represented everything the Church feared.”

10. YOU ARE MARRIED WITH TOO MANY CHILDREN

You have an unnaturally fertile womb that can only be the result of a dark magic. Add to that a young couple nearby having a difficult time conceiving, and you are almost certainly stealing would-be babies from them. Because you are a witch.

11. YOU ARE MARRIED WITH TOO FEW (OR NO) CHILDREN

The devil cursed your unholy womb with infertility. Plus, if your neighbors and their six children are suffering in any way, they almost certainly believe the jealous crone living next to them has hexed their home.

12. YOU HAVE EXHIBITED “STUBBORN,” “STRANGE,” OR “FORWARD BEHAVIOR"

Let loose any kind of sass or backtalk and ye be a witch, probably. Again, in the trial of Rachel Clinton, her accusers solidified the case against her with the following: “Did she not show the character of an embittered, meddlesome, demanding woman—perhaps in short, the character of a witch? Did she not scold, rail, threaten and fight?”

13. YOU HAVE A MOLE, BIRTHMARK, OR THIRD NIPPLE

Any of these found on the body could be interpreted as the Devil’s mark. This is also where the witch’s familiar—usually a dog, cat, or snake—would attach itself to her to drink her blood. The accused were completely rid of their body hair until some kind of marking was found. Now imagine a tiny puppy guzzling from Marilyn Monroe’s beauty mark.

14. BUTTER OR MILK HAS SPOILED IN YOUR FRIDGE

Several testimonials during the Salem Trials mention spoiled dairy products in connection with the accused. Be honest about the condition of your fridge before you continue.

15. YOU HAVE HAD SEX OUT OF WEDLOCK

Throw yourself directly into a blue hellfire if this one applies to you. In 1651, Alice Lake of Dorchester was tried as a witch for having “played the harlot, and being with Child.” Her guilt was so intense that she eventually confessed to convening with the devil “through the commission of her sin.” She was hanged that same year.

16. YOU HAVE ATTEMPTED TO PREDICT THE IDENTITY OF YOUR FUTURE HUSBAND

Ever daydreamed about your soulmate? Written his name in cursive in your notebook? Then, like Tituba, a slave woman living in Salem, your activities could be construed as witchcraft. Tituba encouraged young girls to predict the identities of their future husbands and became the first woman in Salem accused of practicing the craft. And thanks to dreamy succubi like you, she won’t be the last.

17. YOU HAVE BROKEN VIRTUALLY ANY RULE IN THE BIBLE AND THUS ENTERED INTO A PACT WITH THE DEVIL

Here are a handful of rules the Puritans observed. Breaking any could lead to a witchcraft accusation:
-The strict observance of Sabbath, "the training day of military discipline.” This includes no fire, no trading, no traveling, and something called “new showbread In the holy place.” That last one is punishable by death.
-No adultery
-No leading people to other Gods by prophecy or dreams
-No getting raped
-No planting more than one type of seed in a field
-No touching a pig carcass
-No wearing clothing made of more than one kind of cloth or fabric
-No round haircuts
-No braided hair
-And definitely no suffering a witch to live
Did you do any of these things? Then congratulations, you are guilty of practicing witchcraft. You are hellbound, and will likely be hanged, burned, or left to rot in a filthy prison until you die. May the dark shadows cloak you in their wretched embrace. Hail Satan.
All images courtesy of Thinkstock unless otherwise noted.
October 22, 2015 - 9:57am


fonte: http://mentalfloss.com/article/55276/17-signs-youd-qualify-witch-1692

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

domingo, 25 de outubro de 2015

Acabei de sair do Enem. E foi uma das provas mais bizarras que já fiz na minha vida. - Spotniks

Acabei de sair do Enem. E foi uma das provas mais bizarras que já fiz na minha vida. - Spotniks



Dá nojo ao constatar a doutrinação ideológica no ensino brasileiro, que censura o pensamento crítico no dia-a-dia da sala de aula para graduar o cidadão em hipocrisia com especialização em ignorância política e social. Angela Natel

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Deusas e deusas


Em minhas pesquisas para o doutorado encontro frequentemente imagens de divindades femininas da antiguidade. São corpos exuberantes, rechonchudos, adorados por serem símbolos de fertilidade e abundância.
Em nossos dias, a representação de tais atributos é diametralmente oposta: mulheres com formas ósseas à mostra são os ideais da saúde e da prosperidade.
Bons tempos aqueles...
Angela Natel

https://www.facebook.com/Angela-Natel-137128436426391/?ref=tn_tnmn

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Na canoa do antropólogo - Demétrio Magnoli

A malária e o sol escaldante pontuaram a traumática experiência do jovem antropólogo que, entre os aweti, no Xingu, em 1971, fazia sua pesquisa de mestrado. Deitada “em um lago de sangue”, a índia foi declarada morta pelo pajé, enquanto seu bebê recém-nascido chorava perto do fogo. A criança, esclareceu um índio, seria enterrada viva junto com a mãe, enquanto as labaredas terminariam de consumir a oca e os pertences da falecida. Diante disso, consumido pela febre, o antropólogo agarrou o bebê e, auxiliado por sua mulher grávida, uma estudante universitária de Antropologia, protegeu-o por dois dias em sua rede, à espera da canoa que os levaria ao posto indígena.
Deve-se violar uma prática tradicional em nome do princípio da vida? Essa pergunta, a mesma que atormenta até hoje o antropólogo George Zarur, um amigo dileto, ressurge sob outra forma na polêmica sobre o Projeto de Lei 1.057, destinado a coibir o infanticídio entre os índios. À primeira vista, o dilema envolve os conceitos de cultura e direitos humanos. No fundo, trata-se de um debate sobre a fetichização da cultura.
Zarur narrou a história do bebê no seu livro Os pescadores do golfo, de 1984. Numa canoa remada por índios remunerados por contas de colares, ao longo de 12 horas, o casal de antropólogos abrigou a criança “da chuva, do sol e dos ramos da beira dos canais que unem a aldeia Aweti ao Posto Leonardo Villas-Boas”. Finalmente, Marina Villas-Boas recolheu o indiozinho desidratado e o encaminhou para adoção. O gesto impulsivo de Zarur não deveria ser creditado automaticamente à sua própria “cultura”. O PL 1.057 ganhou a alcunha de Lei Muwaji para celebrar a índia amazonense Muwaji Suruwahá, que enfrentou sua tribo a fim de salvar a vida da filha nascida com paralisia cerebral.
A invocação banalizada da “cultura” desfigura o debate. O deputado Edmilson Rodrigues (PSol-PA) alega, tipicamente, que o PL 1.057 “acaba negando o que está previsto na Constituição: a garantia dos povos indígenas à sua identidade cultural”. Batem na mesma tecla a Funai e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Igreja Católica. O infanticídio indígena vitima gêmeos e crianças cujas mães são solteiras ou morreram no parto, assim como as que nascem com deficiências. Na origem da norma encontram-se as estratégias de sobrevivência de grupos humanos acossados permanentemente pela escassez. Nesse contexto, o leite materno e os cuidados com os recém-nascidos são bens limitados e, portanto, valiosos. Há lógica na prática do infanticídio, mas isso não é motivo para perenizá-la.
A unidade indissolúvel entre mãe e filho, na vida e na morte, justifica-se sob a premissa do modo de vida tradicional. Mas o cenário altera-se por completo na hora em que o grupo indígena passa a interagir com a sociedade moderna circundante, que assume a obrigação de prover-lhe serviços essenciais de saúde, inclusive leite para os recém-nascidos, vacinação e tratamentos médicos. Aí, “identidade cultural” converte-se apenas no toque de reunião dos porta-vozes do relativismo cultural.
Da perspectiva dos relativistas, inexistem normas universais legítimas. Indiferentes aos direitos humanos, eles curvam-se à norma prevalente em cada sociedade, enfeitando-a com as plumas e os paetês da “identidade cultural”. O rótulo serve para justificar o autoritarismo estatal na China (“confucionismo”) ou na Malásia (“valores asiáticos”), as discriminações contra as mulheres na Arábia Saudita e no Afeganistão (“islamismo”), a perseguição oficial aos gays em Uganda (“valores africanos”) e a mutilação genital feminina na Somália (“tradição étnica”). O pressuposto implícito do relativismo serviria, ainda, para conferir legitimidade à xenofobia anti-imigrantes na Europa — mas, curiosamente, os intelectuais relativistas jamais recorrem ao álibi da “cultura” quando se trata das modernas sociedades ocidentais.
O PL 1.057 foi aprovado na Câmara, em agosto, e tramita no Senado. Chico Alencar (PSol-RJ), que votou contra, argumenta ser o infanticídio uma “prática cada vez mais rara em cada vez mais ínfimos grupos tribais”. Ele não sabe o que diz, pois faltam estatísticas confiáveis sobre o tema, em função de notória subnotificação, um fenômeno que reflete a postura dominante no governo e na Funai de fechar os olhos às “práticas culturais tradicionais” em colisão com as leis brasileiras. De fato, há fortes indícios de que o infanticídio ainda faz várias centenas de vítimas, todos os anos, entre os índios.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também votou contra, fazendo eco a antropólogos como Rita Santos, que a classificam como instrumento de criminalização dos índios. Mas a Lei Muwaji diz que o dever das autoridades é demover o grupo indígena, “sempre por meio do diálogo”, da persistência na prática do infanticídio, protegendo a criança pela “retirada provisória” do convívio do grupo antes de seu encaminhamento a programas de adoção. Além disso, obviamente, ela não cancela o princípio jurídico da inimputabilidade do indígena, que impede a criminalização de atos derivados da observância de normas entranhadas na tradição do grupo. Na verdade, ao estabelecer a obrigação de comunicar o risco da eliminação de crianças, o PL 1.057 não criminaliza os índios, mas os agentes públicos que, pela omissão deliberada, acobertam violações ultrajantes dos direitos humanos.
“Há uma questão fundamentalista e religiosa por trás dessa lei”, vocifera Saulo Feitosa, do Cimi, apontando um dedo acusador na direção das lideranças evangélicas que defendem a Lei Muwaji. Eu, que não tenho religião, enxergo nessa crítica preconceituosa um outro tipo de fundamentalismo: a veneração da “cultura” como um totem imemorial. E, como tantos outros, religiosos ou não, prefiro ver na canoa que salvou o indiozinho do Xingu uma metáfora para o diálogo entre culturas.

fonte: http://horaciocb.blogspot.com.br/2015/10/na-canoa-do-antropologo-demetrio-magnoli.html


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

DE VOLTA PRO PRESENTE


O futuro é aquele tempo que não existe, mas pelo qual vivemos. Ele é sempre uma promessa de felicidade. Um reparo dos paraísos perdidos. Um anestésico do agora. Uma droga!

Fugidio esse futuro. Quando chega, você se dá conta de que ou não chegou ou já passou. Passa tanto que fica cafona, obsoleto. E risível. Nada é mais ridículo que nossos futuros passados.

A publicidade apela sempre para ele. Nunca estamos satisfeitos. O "hoje" nunca presta. Inconjugável tempo presente. Um cachorro mordendo o próprio rabo.

"Éramos felizes e não sabíamos!" E como não sabíamos, prometeram-nos o amanhã.

Mas a vida acontece, e passa, no presente, independentemente de como a conjuguemos. Mas teimamos em fazer do verbo futuro do pretérito o núcleo do predicado de nossa existência. Verborragizamos!

Suicidamo-nos!

Uma sintaxe sem oração. Muito discurso, pouca ação! Sem conteúdo.

Aí, então, de saudosos nos tornamos saudosistas. De passantes, passadistas. (Vinicius disse não ter medo da morte, mas saudade da vida.)

Certo estava o velho e sábio Jorge Luis Borges: "já somos o passado que seremos".

Quem não se presenteia, pretere-se.

Em nome do primado da vida sobre a sintaxe, vá ler um bom livro, dar um forte abraço em alguém, tomar um sorvete duvidoso antes que derreta, apreciar um belo quadro, andar descalço, comer goiaba no pé, caminhar como seus ancestrais, tomar banho de rio, beijar a quem ama. Porque a vida urge!

Presenteie-se!

Dilson Cunha
21.10.15


fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=806206976154799&set=o.405107339540695&type=3&theater

sábado, 17 de outubro de 2015

Novela “Regra do Jogo” – abordagem e informação incorreta sobre o que é o transtorno bipolar



As questões levantadas pelos leitores, voluntários e frequentadores da ABRATA em relação ao personagem da novela “Regras do Jogo” – Nelita - (atriz Barbara Paz) são muito apropriadas, pois a novela veicula uma informação incorreta sobre o que é transtorno bipolar e, como foi ressaltado nos capítulos iniciais, confunde transtorno de múltiplas personalidades (ou transtorno dissociativo de identidade) com transtorno bipolar com sintomas psicóticos e mostra o personagem em questão com comportamentos que não se identificam com os sintomas dos Transtornos de Humor. 

O que existe de "duplo" no transtorno bipolar não é uma divisão da personalidade, e sim o fato de que a pessoa com transtorno bipolar apresenta ao longo da vida episódios de mania ou hipomania e episódios de depressão. Pode até haver uma alternância rápida entre esses episódios, mas não se trata de manifestações de diferentes personalidades e sim de oscilações de humor, de energia, de velocidade do pensamento, de comportamento motor, entre outros, mas tudo se manifestando dentro da mesma personalidade. Pode inclusive haver sintomas psicóticos, como alucinações e delírios, muito frequentemente em combinação com o estado de humor (sintomas grandiosos na mania e de ruína na depressão), mas, ainda assim, sem alteração da personalidade. 

Aproveitamos a oportunidade e citamos uma nota da Associação Brasileira de Psiquiatria/ABP, da qual a ABRATA é parceira que diz: “Importante salientar que o personagem da novela não tem nenhuma relação com a realidade de nenhuma patologia psiquiátrica. O quadro apresentado não tem nenhuma relação com o Transtorno de Humor Bipolar. ” 

Mensagens recebidas via o Canal Fale Conosco da ABRATA: 

MENSAGEM: “Boa noite, sou portadora de TAB e estou preocupada com a repercussão da novela "A Regra do Jogo”, a descrição do TAB é equivocada e nociva, pois a aceitação do transtorno já é muito difícil, mas sendo retratado desse modo, fica ainda pior. A personagem é descrita como alguém que possui "duas personalidades" e interpretada como uma esquizofrênica, apenas isso. Nós, portadores, já sofremos muitos preconceitos e sendo retratados desse modo, fica ainda pior. ” R.A. Salvador/BA 

MENSAGEM: “Olá, sobre a nova novela da Rede Globo que tem um personagem que foi apresentada como bipolar com traços psicóticos e DUPLA PERSONALIDADE, gostaria de esclarecimentos sobre se é possível haver comorbidade de bipolaridade com essa doença MÚLTIPLA PERSONALIDADE. Em havendo esta possibilidade, gostaria de deixar registrada a minha opinião de que apresentar a bipolaridade desta maneira vai aumentar a confusão em torno da bipo, correndo o risco de sermos ainda mais discriminados. Gostaria de saber ainda se a ABRATA pode se posicionar perante a Rede Globo sobre esta novela e a maneira como o assunto está sendo abordado. Desde já agradeço a atenção. ” J.G. Porto Alegre/RS 

MENSAGEM: “Bom dia! Ontem foi ao ar o segundo capítulo da novela A Regra do Jogo (Rede Globo). Nela, a atriz Barbara Paz interpreta uma mulher com diagnóstico de bipolaridade "com traços psicóticos" (segundo a fala do ator que interpreta seu psiquiatra). No entanto, na novela a personagem é retratada como alguém com dupla personalidade, o que sabemos, não é características do portador de TAB, pois sofremos com alterações de humor, não de personalidade. Há algo que a Abrata possa fazer a respeito? ” A.B. Santa Maria/RS 

MENSAGEM: “ Bom dia, como portadora de TAB venho informar minha indignação com o personagem de Bárbara Paz na novela da Globo Regra do Jogo. Não somos como o personagem está mostrando. Só temos instabilidade no humor, não o que está parecendo na novela. Gostaria que vocês pudessem nos ajudar entrando em contato com a Globo, pedindo uma mudança no comportamento da personagem. Acho que está muito exagerado. Obrigada”. A.A. Conchas/SP 

Informações cientificamente embasadas sobre o transtorno bipolar estão disponíveis em nosso site: www.abrata.org.br 

Neila Maria M. Campos Dra. Rosilda Antonio 
Diretora Presidente Presidente Conselho Científico 

São Paulo, setembro 2015 

fonte: http://www.abrata.org.br/new/noticias/NOTA%20DE%20ESCLARECIMENTO%20ABRATA.aspx

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Meu artigo publicado nos Anais do V Congresso ANPTECRE:

Meu artigo publicado nos Anais do V Congresso ANPTECRE:

http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/5anptecre?dd1=15445&dd99=view&dd98=pb

terça-feira, 13 de outubro de 2015

13 de outubro: Dia Mundial do Escritor!



O tempo, para o escritor, se move de maneira engraçada: ele tem prazos para escrever, revisar e corrigir, mas precisa de uma paciência sem limites quanto aos pareceres, revisões e data de publicação! Angela Natel

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Feliz dia das crianças prá você...

Feliz dia das crianças prá você...
...que não ouve opinião alheia sem se enfurecer e rebater.
Feliz dia das crianças prá você...
...que defende quem nunca pediu sua defesa.
Feliz dia das crianças prá você...
...que rotula o outro por falas e ações, mas quer ser conhecido por suas intenções.
Feliz dia das crianças prá você...
...que se coloca como cão de guarda de uma teologia excludente.
Feliz dia das crianças prá você...
...que tem opinião prá tudo, até para o que não compreende.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não consegue ficar quieto diante do inexplicável.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não perde uma oportunidade para se defender.
Feliz dia das crianças prá você...
...que prefere promover sua página a promover a paz.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não vê contexto e sai espalhando ignorância pelas redes sociais.
Feliz dia das crianças prá você...
...que interpreta os sinais do fim do mundo, mas não consegue interpretar um texto.
Feliz dia das crianças prá você...
...que se arma todo enquanto ouve alguém de quem discorda, em vez de prestar mais atenção.
Feliz dia das crianças prá você...
...que só aceita a verdade quando dita por quem simpatiza.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não sabe repartir e que não admite sair no prejuízo em detrimento do outro.
Feliz dia das crianças prá você...
...que fala em ética e justiça na hora errada e para as pessoas erradas.
Feliz dia das crianças prá você...
...que prefere ver o circo pegar fogo do que ser um pacificador.
Feliz dia das crianças prá você...
...que interpreta sua religião segundo seu próprio padrão de justiça.
Feliz dia das crianças prá você...
...que se compromete com o que não sabe se vai dar conta.
Feliz dia das crianças prá você...
...que julga pela aparência.
Feliz dia das crianças prá você...
...que está doido para desmoralizar quem ameaça sua reputação.
Feliz dia das crianças prá você...
...que acredita em mudança social somente através das redes sociais.
Feliz dia das crianças prá você...
...que aplaude os corajosos sem imitá-los.
Feliz dia das crianças prá você...
...sim, para você, que não admite que age de nenhuma destas maneiras.


Angela Natel – 09/10/2015.

Gosto de Halloween



Gosto de Halloween porque me dá uma grande oportunidade de reflexão a respeito dos medos e verdadeiros inimigos da humanidade. Muitos se levantam armados dos pés à cabeça contra vampiros, lobisomens, máscaras e fantasias nesta época, mas admitem durante todo o ano a falsidade, a omissão de socorro, a hipocrisia e as pequenas corrupções do dia-a-dia.
Quem são nossos verdadeiros inimigos? O que mais corrompe nossas crianças: os brinquedos em forma de monstros do imaginário folclórico-cultural ou nossa falta de caráter e mau exemplo nas atitudes para com o próximo, esteja ele ou não de acordo com nossa opinião?
Fácil é queimar brinquedos e livros, censurar a arte e a cultura. Difícil é extirpar o mal de dentro de nós, amputar a ambição e a maldade, o preconceito e o julgamento precipitado, baseado na aparência.
Fácil é levantar a bandeira contra uma celebração anual, sabotar uma marca, criar um evento. Difícil é demonstrar amor ao diferente, ao que diverge da gente e estender a mão ao que menos se mostra a nós atraente.
Fácil é amar quem nos ama, sorrir a quem concorda conosco, ajudar o que se faz belo aos nossos próprios olhos. Difícil é ter uma postura mais crítica quanto a nós mesmos, ser misericordioso e pacificador neste mundo, ter fome e sede de justiça (a justiça de Deus, não a nossa – que não passamos de justiceiros cegos), amar e agir em favor de quem nos persegue.
Mas agir como Jesus é demais para nós. Por isso o Halloween se torna, muitas vezes, a válvula de escape dos inquisidores, e os monstros invisíveis (mais fáceis de exorcizar), nossos mais visados inimigos.
Enquanto isso, saímos às escuras para prosseguir em nossas práticas contra o próximo. Falsificamos, extorquimos, corrompemos, fazemos “justiça” com as próprias mãos, violamos o direito e buscamos nossos interesses acima do alheio. Somos gatos pardos na noite de nosso filme de terror chamado ‘vida’, e escapamos ilesos da condenação do evangelho distorcido que pregamos, num faz de conta que não passa de um belo baile de máscaras bem parecido com as celebrações de Halloween.

Angela Natel

Fisiografia dos assassinatos de mulheres - a imolação do corpo feminino no feminicídio

Maria Dolores de Brito Mota

Adital -
O exame dos modos de produção da morte de mulheres nos casos de feminicídio levando em conta os instrumentos e as técnicas utilizadas pelos feminicidas, bem como o aspecto do corpo feminino resultante das agressões fatais, permite ultrapassar a cena e penetrar na maquinaria do feminicídio. Essa maquinaria se fundamenta numa engrenagem em que o corpo do homem se institui como força, articulando simbioticamente a virilidade com a violência para realizar os ferimentos que matam as mulheres através de uma imolação do feminino. É possível desvelar os significados da utilização das armas empregadas e dos ferimentos efetuados com elas nos corpos das mulheres. Esse desvelamento constatou que os feminicídios se caracterizam como crimes brutais, cuja mecânica da produção da morte explicita crueldade e ódio, sendo comum o uso de mais de uma arma e golpeamentos compulsivos, que demandam o emprego de muita força física dos criminosos para realizar o suplício, ou imolação do corpo feminino.

As expressões dessa crueldade marcam o corpo das mulheres através de ferimentos medonhos, produzidos por uma variedade de armas de fogo, faca, facão, martelo, espeto, as mãos, pedra, pau entre outras, cujo uso se faz por golpes repetidos que demandam desprendimento de força física, elemento primordial da identidade masculina, ou seja, componente da masculinidade e do seu poder. Essa forma de matar martiriza, imola o corpo das mulheres para destruir expressões do feminino através da morte física, o que permite avançar o entendimento desses crimes como feminicídio.
As práticas e a significação dos corpos feminino e masculino se relacionam ao processo que Bourdieu denomina de sociodiceia masculina, processo que, para o autor, se baseia em duas operações: "ela legitima uma relação de dominação inscrevendo-a em uma natureza biológica que é, por sua vez, ela uma própria construção social naturalizada" (1999, p. 33)(1). Ao acionar tais operações, essa sociodiceia constrói os corpos, somatizando relações sociais de dominação que torna os homens fortes e agressivos e as mulheres sedutoras e submissas. Assim "a virilidade, como se vê, é uma noção eminentemente relacional, construída diante dos outros homens, para os outros homens e contra a feminilidade, por uma espécie de medo do feminino, e construída, primeiramente, dentro de si mesmo", afirma Bourdieu (idem, p. 67). De tal modo a virilidade se articula com a violência simbioticamente.
O corpo que é culturalmente construído é, portanto, um lugar prático onde o controle é exercido. Assim, o corpo é um texto da cultura, pois ao mesmo é ensinado desde o início da sua existência, sobre os costumes da cultura em que está inserido. Desta forma, a cultura se faz corpo através dos hábitos aprendidos, das normas seguidas, da rotina, ou seja, de práticas que parecem banais.
Com base em notícias sobre assassinatos de mulheres no período de 2002 a 2006, considerando as informações sobre o tipo de arma utilizada no assassinato e os ferimentos provocados, foram encontradas 96 mulheres assassinadas por armas de fogo, 82 por faca, 18 por estrangulamento, 21 envolvendo uso de pedaços de pau, 8 por pedra, 8 por espancamento, 5 por foice, 3 por enxada e 1 por tijolo, martelo, machado, facão, tábua de carne, mão de pilão. Houve ainda 2 mortes envolvendo empurrão, 3 degolamentos, 2 mutilações. Em 19 casos as vítimas forma estupradas, em 6 foram queimadas e 3 foram amarradas.
As mortes causadas por estrangulamento foram praticadas pelas próprias mãos ou por uso de objetos como corda, cadarço, alça de sutiã, entre outros materiais comuns ao espaço doméstico.
Os instrumentos usados nos crimes investigados apresentam uma prevalência do uso de armas domésticas, relacionadas ao espaço da casa e do trabalho dos feminicidas, e que necessitam de uma aproximação corporal e muito investimento de força do assassino sobre a vítima. Facas, armas brancas em geral, paus, pedras, cordas, espancamento, estrangulamento, correspondem à forma de matar em que o corpo do assassino age muito, despende mais energia do que o uso de armas de fogo. Força e ação tanto se relacionam com significados de masculinidade como podem sugerir muito ódio e vontade de destruição.
Os crimes são tão brutais que na maioria deles nunca é desferido apenas um golpe e sim vários, ficando visível que além do objetivo de realmente matar, também há o querer mortificar o corpo da vítima, exprimindo um intenso ódio pelas mulheres. As partes do corpo mais agredidas são: pescoço, cabeça, tórax e seios. Apenas cabeça, garganta e rosto representam 53% das partes corporais atingidas na produção do feminicídio. Essas são regiões corporais mais ligadas à identidade das mulheres, seu pensar, seu falar, suas feições próprias. Em seguida aparece o tórax, onde está o coração, muito atingido pelos golpes.
O corpo assassinado das mulheres evidencia-se como um corpo marcado pela vontade de repressão e destruição das partes que representam a voz e a feminilidade. A violência emerge nesses crimes de gênero como formas de controle do corpo feminino. Um controle que não apenas retira a vida, mas que destroça o corpo da mulher. Não é suficiente matar; é preciso massacrar, mutilar, deformar esse corpo. O estupro, presente em 12% dos casos noticiados, é um dado que chama atenção para o caráter de gênero dos crimes. Vale ressaltar que em um caso ocorreram ferimentos na área vaginal da mulher; e no que se refere à mutilação, em dois casos os alvos foram os seios; que, numa mulher foram extraídos; e em uma criança foram perfurados com cabo de vassoura (pelo próprio pai feminicida).
Foi possível observar que os feminicídios decorrem de situações advindas da condição social dos gêneros, ou seja, do papel e do significado social de ser mulher e de ser homem, fornecendo um conjunto racional de elementos para se aprofundar a configuração desse crime e diferenciá-lo do homicídio. A brutalidade que se constatou na produção da morte feminina nos crimes estudados, parece indicar que a dominação masculina, ainda prevalecente, opõe-se a formas de resistência e autonomia das mulheres. Essa outra forma de ser mulher, mais livre e independente, tem enfrentado a incapacidade de muitos homens que não se reconhecem como tais frente à outra forma de ser mulher, acionando contra elas uma intensa violência e ódio em nome de uma virilidade construída contra o feminino.

Nota:
(1)   Bourdieu, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.


http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=47667

So You’ve Been Accused of Witchcraft...

How to avoid the ultimate punishment.


fonte: http://www.laphamsquarterly.org/magic-shows/charts-graphs/so-youve-been-accused-witchcraft?utm_content=buffer147f8&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer

17 Signs That You'd Qualify as a Witch in 1692


Discover whether you are guilty of maleficium and/or would have been accused of practicing witchcraft according to the laws and evidence used during the 1692 Salem Witch Trials.

1. YOU ARE FEMALE

Are you a woman of any kind? If so, you are probably one of the devil’s many hellbrides. Since the medieval period, “an aspect of the female has been associated with the witch.” For thousands of years, people have believed women to be more susceptible to sins than men, and sinning is a clear indication of devil worship. In Salem, 13 women and five men were convicted of practicing witchcraft, though historically the numbers dramatically favor accused women over men.

2. YOU ARE POOR/CANNOT SUPPORT YOURSELF FINANCIALLY

The poor, homeless, and those forced to rely on the community for support were among the most vulnerable and often accused of witchcraft. Sarah Good, hanged in 1692, was extremely disliked and distrusted by neighbors because she wandered from house to house begging for food.

3. YOU ARE RICH/FINANCIALLY INDEPENDENT

If you’re a grown woman living this life without any additional support, you probably also have a jar of eye of newt in your pantry. Any indication that a woman could live without the help or supervision of a man raised alarm. She would likely have been isolated from the community—until, of course, she was arrested and put on trial. Between 1620 and 1725, women without brothers or sons to share their inheritance comprised 89 percent of the women executed for witchcraft in New England.

4. YOU HAVE ONE OR MORE FEMALE FRIENDS

A note to all popular teens and the cast of Sex and the City: A group of women congregating without a male chaperone was deemed a “coven meeting to worship the Devil.” Ladies be communing with flirty cosmos and the devil.

5. YOU HAVE HAD AN ARGUMENT WITH ONE OR MORE OF YOUR FEMALE FRIENDS

Infamous witchfinders like Matthew Hopkins and John Searne inspired such terror in the community that it didn’t take long for women to accuse other women of witchcraft as a way of deflecting their own indictments. According to author Elizabeth Reis, “women were more likely than men to be convinced of this complicity with the devil, and given such convictions about themselves, they could more easily imagine that other women were equally damned.”
Take the case of Rachel Clinton: “Women of worth and quality accused [her] of hunching them with her elbow” when she walked by them at church. Rachel, herself a former woman of “worth and quality,” had a mentally disturbed mother and a late-in-life marriage that caused her to slip to the bottom rung of the class system. Add to that some finger-wagging biddies screaming about an elbow jab and, double double toil and trouble, Rebecca was convicted of witchcraft.

6. YOU HAVE HAD AN ARGUMENT OR DISAGREEMENT WITH SOMEONE

The important thing to remember is that anyone could accuse anyone. And they did. If you found yourself accused of practicing witchcraft of any kind by any kind of person, you might as well have been seen flying naked over the moon on a broomstick made out of a cursed lover’s ears.

7. YOU ARE VERY OLD

Older women, both married and unmarried, were extremely susceptible to accusations. Rebecca Nurse was a 70-year-old invalid when she was accused by disputing neighbors. At 71, she became the oldest woman tried, convicted, and put to death for being a witch.

8. YOU ARE VERY YOUNG

Dorothy Goode was only 4 years old when she confessed to being a witch (simultaneously implicating her mother, Sarah, who was hanged in 1692). Dorothy was imprisoned for nine months before her release. The experience left her permanently insane.

9. YOU ARE A MIDWIFE

Put simply by writer Joel Southern, a midwife’s “age, social and marital status, autonomy, pagan influences, secret knowledge of herbs and most importantly, the vilification of her profession as unclean and demeaning served to demonize the midwife. In short, the midwife represented everything the Church feared.”

10. YOU ARE MARRIED WITH TOO MANY CHILDREN

You have an unnaturally fertile womb that can only be the result of a dark magic. Add to that a young couple nearby having a difficult time conceiving, and you are almost certainly stealing would-be babies from them. Because you are a witch.

11. YOU ARE MARRIED WITH TOO FEW (OR NO) CHILDREN

The devil cursed your unholy womb with infertility. Plus, if your neighbors and their six children are suffering in any way, they almost certainly believe the jealous crone living next to them has hexed their home.

12. YOU HAVE EXHIBITED “STUBBORN,” “STRANGE,” OR “FORWARD BEHAVIOR"

Let loose any kind of sass or backtalk and ye be a witch, probably. Again, in the trial of Rachel Clinton, her accusers solidified the case against her with the following: “Did she not show the character of an embittered, meddlesome, demanding woman—perhaps in short, the character of a witch? Did she not scold, rail, threaten and fight?”

13. YOU HAVE A MOLE, BIRTHMARK, OR THIRD NIPPLE

Any of these found on the body could be interpreted as the Devil’s mark. This is also where the witch’s familiar—usually a dog, cat, or snake—would attach itself to her to drink her blood. The accused were completely rid of their body hair until some kind of marking was found. Now imagine a tiny puppy guzzling from Marilyn Monroe’s beauty mark.

14. BUTTER OR MILK HAS SPOILED IN YOUR FRIDGE

Several testimonials during the Salem Trials mention spoiled dairy products in connection with the accused. Be honest about the condition of your fridge before you continue.

15. YOU HAVE HAD SEX OUT OF WEDLOCK

Throw yourself directly into a blue hellfire if this one applies to you. In 1651, Alice Lake of Dorchester was tried as a witch for having “played the harlot, and being with Child.” Her guilt was so intense that she eventually confessed to convening with the devil “through the commission of her sin.” She was hanged that same year.

16. YOU HAVE ATTEMPTED TO PREDICT THE IDENTITY OF YOUR FUTURE HUSBAND

Ever daydreamed about your soulmate? Written his name in cursive in your notebook? Then, like Tituba, a slave woman living in Salem, your activities could be construed as witchcraft. Tituba encouraged young girls to predict the identities of their future husbands and became the first woman in Salem accused of practicing the craft. And thanks to dreamy succubi like you, she won’t be the last.

17. YOU HAVE BROKEN VIRTUALLY ANY RULE IN THE BIBLE AND THUS ENTERED INTO A PACT WITH THE DEVIL

Here are a handful of rules the Puritans observed. Breaking any could lead to a witchcraft accusation:
-The strict observance of Sabbath, "the training day of military discipline.” This includes no fire, no trading, no traveling, and something called “new showbread In the holy place.” That last one is punishable by death.
-No adultery
-No leading people to other Gods by prophecy or dreams
-No getting raped
-No planting more than one type of seed in a field
-No touching a pig carcass
-No wearing clothing made of more than one kind of cloth or fabric
-No round haircuts
-No braided hair
-And definitely no suffering a witch to live
Did you do any of these things? Then congratulations, you are guilty of practicing witchcraft. You are hellbound, and will likely be hanged, burned, or left to rot in a filthy prison until you die. May the dark shadows cloak you in their wretched embrace. Hail Satan.
All images courtesy of Thinkstock unless otherwise noted.
October 22, 2015 - 9:57am


fonte: http://mentalfloss.com/article/55276/17-signs-youd-qualify-witch-1692

Jogo dos Rótulos!

Para quem gosta de reduzir as pessoas a conceitos fechados e incompletos em si mesmos.


Acabei de sair do Enem. E foi uma das provas mais bizarras que já fiz na minha vida. - Spotniks

Acabei de sair do Enem. E foi uma das provas mais bizarras que já fiz na minha vida. - Spotniks



Dá nojo ao constatar a doutrinação ideológica no ensino brasileiro, que censura o pensamento crítico no dia-a-dia da sala de aula para graduar o cidadão em hipocrisia com especialização em ignorância política e social. Angela Natel

Deusas e deusas


Em minhas pesquisas para o doutorado encontro frequentemente imagens de divindades femininas da antiguidade. São corpos exuberantes, rechonchudos, adorados por serem símbolos de fertilidade e abundância.
Em nossos dias, a representação de tais atributos é diametralmente oposta: mulheres com formas ósseas à mostra são os ideais da saúde e da prosperidade.
Bons tempos aqueles...
Angela Natel

https://www.facebook.com/Angela-Natel-137128436426391/?ref=tn_tnmn

Na canoa do antropólogo - Demétrio Magnoli

A malária e o sol escaldante pontuaram a traumática experiência do jovem antropólogo que, entre os aweti, no Xingu, em 1971, fazia sua pesquisa de mestrado. Deitada “em um lago de sangue”, a índia foi declarada morta pelo pajé, enquanto seu bebê recém-nascido chorava perto do fogo. A criança, esclareceu um índio, seria enterrada viva junto com a mãe, enquanto as labaredas terminariam de consumir a oca e os pertences da falecida. Diante disso, consumido pela febre, o antropólogo agarrou o bebê e, auxiliado por sua mulher grávida, uma estudante universitária de Antropologia, protegeu-o por dois dias em sua rede, à espera da canoa que os levaria ao posto indígena.
Deve-se violar uma prática tradicional em nome do princípio da vida? Essa pergunta, a mesma que atormenta até hoje o antropólogo George Zarur, um amigo dileto, ressurge sob outra forma na polêmica sobre o Projeto de Lei 1.057, destinado a coibir o infanticídio entre os índios. À primeira vista, o dilema envolve os conceitos de cultura e direitos humanos. No fundo, trata-se de um debate sobre a fetichização da cultura.
Zarur narrou a história do bebê no seu livro Os pescadores do golfo, de 1984. Numa canoa remada por índios remunerados por contas de colares, ao longo de 12 horas, o casal de antropólogos abrigou a criança “da chuva, do sol e dos ramos da beira dos canais que unem a aldeia Aweti ao Posto Leonardo Villas-Boas”. Finalmente, Marina Villas-Boas recolheu o indiozinho desidratado e o encaminhou para adoção. O gesto impulsivo de Zarur não deveria ser creditado automaticamente à sua própria “cultura”. O PL 1.057 ganhou a alcunha de Lei Muwaji para celebrar a índia amazonense Muwaji Suruwahá, que enfrentou sua tribo a fim de salvar a vida da filha nascida com paralisia cerebral.
A invocação banalizada da “cultura” desfigura o debate. O deputado Edmilson Rodrigues (PSol-PA) alega, tipicamente, que o PL 1.057 “acaba negando o que está previsto na Constituição: a garantia dos povos indígenas à sua identidade cultural”. Batem na mesma tecla a Funai e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), da Igreja Católica. O infanticídio indígena vitima gêmeos e crianças cujas mães são solteiras ou morreram no parto, assim como as que nascem com deficiências. Na origem da norma encontram-se as estratégias de sobrevivência de grupos humanos acossados permanentemente pela escassez. Nesse contexto, o leite materno e os cuidados com os recém-nascidos são bens limitados e, portanto, valiosos. Há lógica na prática do infanticídio, mas isso não é motivo para perenizá-la.
A unidade indissolúvel entre mãe e filho, na vida e na morte, justifica-se sob a premissa do modo de vida tradicional. Mas o cenário altera-se por completo na hora em que o grupo indígena passa a interagir com a sociedade moderna circundante, que assume a obrigação de prover-lhe serviços essenciais de saúde, inclusive leite para os recém-nascidos, vacinação e tratamentos médicos. Aí, “identidade cultural” converte-se apenas no toque de reunião dos porta-vozes do relativismo cultural.
Da perspectiva dos relativistas, inexistem normas universais legítimas. Indiferentes aos direitos humanos, eles curvam-se à norma prevalente em cada sociedade, enfeitando-a com as plumas e os paetês da “identidade cultural”. O rótulo serve para justificar o autoritarismo estatal na China (“confucionismo”) ou na Malásia (“valores asiáticos”), as discriminações contra as mulheres na Arábia Saudita e no Afeganistão (“islamismo”), a perseguição oficial aos gays em Uganda (“valores africanos”) e a mutilação genital feminina na Somália (“tradição étnica”). O pressuposto implícito do relativismo serviria, ainda, para conferir legitimidade à xenofobia anti-imigrantes na Europa — mas, curiosamente, os intelectuais relativistas jamais recorrem ao álibi da “cultura” quando se trata das modernas sociedades ocidentais.
O PL 1.057 foi aprovado na Câmara, em agosto, e tramita no Senado. Chico Alencar (PSol-RJ), que votou contra, argumenta ser o infanticídio uma “prática cada vez mais rara em cada vez mais ínfimos grupos tribais”. Ele não sabe o que diz, pois faltam estatísticas confiáveis sobre o tema, em função de notória subnotificação, um fenômeno que reflete a postura dominante no governo e na Funai de fechar os olhos às “práticas culturais tradicionais” em colisão com as leis brasileiras. De fato, há fortes indícios de que o infanticídio ainda faz várias centenas de vítimas, todos os anos, entre os índios.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também votou contra, fazendo eco a antropólogos como Rita Santos, que a classificam como instrumento de criminalização dos índios. Mas a Lei Muwaji diz que o dever das autoridades é demover o grupo indígena, “sempre por meio do diálogo”, da persistência na prática do infanticídio, protegendo a criança pela “retirada provisória” do convívio do grupo antes de seu encaminhamento a programas de adoção. Além disso, obviamente, ela não cancela o princípio jurídico da inimputabilidade do indígena, que impede a criminalização de atos derivados da observância de normas entranhadas na tradição do grupo. Na verdade, ao estabelecer a obrigação de comunicar o risco da eliminação de crianças, o PL 1.057 não criminaliza os índios, mas os agentes públicos que, pela omissão deliberada, acobertam violações ultrajantes dos direitos humanos.
“Há uma questão fundamentalista e religiosa por trás dessa lei”, vocifera Saulo Feitosa, do Cimi, apontando um dedo acusador na direção das lideranças evangélicas que defendem a Lei Muwaji. Eu, que não tenho religião, enxergo nessa crítica preconceituosa um outro tipo de fundamentalismo: a veneração da “cultura” como um totem imemorial. E, como tantos outros, religiosos ou não, prefiro ver na canoa que salvou o indiozinho do Xingu uma metáfora para o diálogo entre culturas.

fonte: http://horaciocb.blogspot.com.br/2015/10/na-canoa-do-antropologo-demetrio-magnoli.html


DE VOLTA PRO PRESENTE


O futuro é aquele tempo que não existe, mas pelo qual vivemos. Ele é sempre uma promessa de felicidade. Um reparo dos paraísos perdidos. Um anestésico do agora. Uma droga!

Fugidio esse futuro. Quando chega, você se dá conta de que ou não chegou ou já passou. Passa tanto que fica cafona, obsoleto. E risível. Nada é mais ridículo que nossos futuros passados.

A publicidade apela sempre para ele. Nunca estamos satisfeitos. O "hoje" nunca presta. Inconjugável tempo presente. Um cachorro mordendo o próprio rabo.

"Éramos felizes e não sabíamos!" E como não sabíamos, prometeram-nos o amanhã.

Mas a vida acontece, e passa, no presente, independentemente de como a conjuguemos. Mas teimamos em fazer do verbo futuro do pretérito o núcleo do predicado de nossa existência. Verborragizamos!

Suicidamo-nos!

Uma sintaxe sem oração. Muito discurso, pouca ação! Sem conteúdo.

Aí, então, de saudosos nos tornamos saudosistas. De passantes, passadistas. (Vinicius disse não ter medo da morte, mas saudade da vida.)

Certo estava o velho e sábio Jorge Luis Borges: "já somos o passado que seremos".

Quem não se presenteia, pretere-se.

Em nome do primado da vida sobre a sintaxe, vá ler um bom livro, dar um forte abraço em alguém, tomar um sorvete duvidoso antes que derreta, apreciar um belo quadro, andar descalço, comer goiaba no pé, caminhar como seus ancestrais, tomar banho de rio, beijar a quem ama. Porque a vida urge!

Presenteie-se!

Dilson Cunha
21.10.15


fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=806206976154799&set=o.405107339540695&type=3&theater

Novela “Regra do Jogo” – abordagem e informação incorreta sobre o que é o transtorno bipolar



As questões levantadas pelos leitores, voluntários e frequentadores da ABRATA em relação ao personagem da novela “Regras do Jogo” – Nelita - (atriz Barbara Paz) são muito apropriadas, pois a novela veicula uma informação incorreta sobre o que é transtorno bipolar e, como foi ressaltado nos capítulos iniciais, confunde transtorno de múltiplas personalidades (ou transtorno dissociativo de identidade) com transtorno bipolar com sintomas psicóticos e mostra o personagem em questão com comportamentos que não se identificam com os sintomas dos Transtornos de Humor. 

O que existe de "duplo" no transtorno bipolar não é uma divisão da personalidade, e sim o fato de que a pessoa com transtorno bipolar apresenta ao longo da vida episódios de mania ou hipomania e episódios de depressão. Pode até haver uma alternância rápida entre esses episódios, mas não se trata de manifestações de diferentes personalidades e sim de oscilações de humor, de energia, de velocidade do pensamento, de comportamento motor, entre outros, mas tudo se manifestando dentro da mesma personalidade. Pode inclusive haver sintomas psicóticos, como alucinações e delírios, muito frequentemente em combinação com o estado de humor (sintomas grandiosos na mania e de ruína na depressão), mas, ainda assim, sem alteração da personalidade. 

Aproveitamos a oportunidade e citamos uma nota da Associação Brasileira de Psiquiatria/ABP, da qual a ABRATA é parceira que diz: “Importante salientar que o personagem da novela não tem nenhuma relação com a realidade de nenhuma patologia psiquiátrica. O quadro apresentado não tem nenhuma relação com o Transtorno de Humor Bipolar. ” 

Mensagens recebidas via o Canal Fale Conosco da ABRATA: 

MENSAGEM: “Boa noite, sou portadora de TAB e estou preocupada com a repercussão da novela "A Regra do Jogo”, a descrição do TAB é equivocada e nociva, pois a aceitação do transtorno já é muito difícil, mas sendo retratado desse modo, fica ainda pior. A personagem é descrita como alguém que possui "duas personalidades" e interpretada como uma esquizofrênica, apenas isso. Nós, portadores, já sofremos muitos preconceitos e sendo retratados desse modo, fica ainda pior. ” R.A. Salvador/BA 

MENSAGEM: “Olá, sobre a nova novela da Rede Globo que tem um personagem que foi apresentada como bipolar com traços psicóticos e DUPLA PERSONALIDADE, gostaria de esclarecimentos sobre se é possível haver comorbidade de bipolaridade com essa doença MÚLTIPLA PERSONALIDADE. Em havendo esta possibilidade, gostaria de deixar registrada a minha opinião de que apresentar a bipolaridade desta maneira vai aumentar a confusão em torno da bipo, correndo o risco de sermos ainda mais discriminados. Gostaria de saber ainda se a ABRATA pode se posicionar perante a Rede Globo sobre esta novela e a maneira como o assunto está sendo abordado. Desde já agradeço a atenção. ” J.G. Porto Alegre/RS 

MENSAGEM: “Bom dia! Ontem foi ao ar o segundo capítulo da novela A Regra do Jogo (Rede Globo). Nela, a atriz Barbara Paz interpreta uma mulher com diagnóstico de bipolaridade "com traços psicóticos" (segundo a fala do ator que interpreta seu psiquiatra). No entanto, na novela a personagem é retratada como alguém com dupla personalidade, o que sabemos, não é características do portador de TAB, pois sofremos com alterações de humor, não de personalidade. Há algo que a Abrata possa fazer a respeito? ” A.B. Santa Maria/RS 

MENSAGEM: “ Bom dia, como portadora de TAB venho informar minha indignação com o personagem de Bárbara Paz na novela da Globo Regra do Jogo. Não somos como o personagem está mostrando. Só temos instabilidade no humor, não o que está parecendo na novela. Gostaria que vocês pudessem nos ajudar entrando em contato com a Globo, pedindo uma mudança no comportamento da personagem. Acho que está muito exagerado. Obrigada”. A.A. Conchas/SP 

Informações cientificamente embasadas sobre o transtorno bipolar estão disponíveis em nosso site: www.abrata.org.br 

Neila Maria M. Campos Dra. Rosilda Antonio 
Diretora Presidente Presidente Conselho Científico 

São Paulo, setembro 2015 

fonte: http://www.abrata.org.br/new/noticias/NOTA%20DE%20ESCLARECIMENTO%20ABRATA.aspx

Meu artigo publicado nos Anais do V Congresso ANPTECRE:

Meu artigo publicado nos Anais do V Congresso ANPTECRE:

http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/5anptecre?dd1=15445&dd99=view&dd98=pb

13 de outubro: Dia Mundial do Escritor!



O tempo, para o escritor, se move de maneira engraçada: ele tem prazos para escrever, revisar e corrigir, mas precisa de uma paciência sem limites quanto aos pareceres, revisões e data de publicação! Angela Natel

Feliz dia das crianças prá você...

Feliz dia das crianças prá você...
...que não ouve opinião alheia sem se enfurecer e rebater.
Feliz dia das crianças prá você...
...que defende quem nunca pediu sua defesa.
Feliz dia das crianças prá você...
...que rotula o outro por falas e ações, mas quer ser conhecido por suas intenções.
Feliz dia das crianças prá você...
...que se coloca como cão de guarda de uma teologia excludente.
Feliz dia das crianças prá você...
...que tem opinião prá tudo, até para o que não compreende.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não consegue ficar quieto diante do inexplicável.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não perde uma oportunidade para se defender.
Feliz dia das crianças prá você...
...que prefere promover sua página a promover a paz.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não vê contexto e sai espalhando ignorância pelas redes sociais.
Feliz dia das crianças prá você...
...que interpreta os sinais do fim do mundo, mas não consegue interpretar um texto.
Feliz dia das crianças prá você...
...que se arma todo enquanto ouve alguém de quem discorda, em vez de prestar mais atenção.
Feliz dia das crianças prá você...
...que só aceita a verdade quando dita por quem simpatiza.
Feliz dia das crianças prá você...
...que não sabe repartir e que não admite sair no prejuízo em detrimento do outro.
Feliz dia das crianças prá você...
...que fala em ética e justiça na hora errada e para as pessoas erradas.
Feliz dia das crianças prá você...
...que prefere ver o circo pegar fogo do que ser um pacificador.
Feliz dia das crianças prá você...
...que interpreta sua religião segundo seu próprio padrão de justiça.
Feliz dia das crianças prá você...
...que se compromete com o que não sabe se vai dar conta.
Feliz dia das crianças prá você...
...que julga pela aparência.
Feliz dia das crianças prá você...
...que está doido para desmoralizar quem ameaça sua reputação.
Feliz dia das crianças prá você...
...que acredita em mudança social somente através das redes sociais.
Feliz dia das crianças prá você...
...que aplaude os corajosos sem imitá-los.
Feliz dia das crianças prá você...
...sim, para você, que não admite que age de nenhuma destas maneiras.


Angela Natel – 09/10/2015.