terça-feira, 18 de junho de 2019

Identificação

O assassinato de indígenas não mexe conosco;
o inquérito de anos referente à morte de centenas de pessoas na boate Kiss não nos importa;
o discurso de ódio que incita a violência sistemática contra pessoas da comunidade LGBTQ+ faz parte de nossa confissão de fé;
a fome, a discriminação, a desumanização e os constantes abusos direcionados, em sua maioria, à comunidade negra não nos afeta;
demonizamos outras religiões pelo simples fato de nos consideramos detentores de todo o conhecimento teológico;
rotulamos de hereges a todos os que confrontam nosso confortável assento entre os donos da verdade;
agimos como se a moralidade fosse a condição para uma pessoa ter direito a viver com dignidade, ignorando completamente a imagem de Deus em cada uma de suas criaturas;
nos consideramos padrão para o mundo, mesmo sem o mínimo de autocrítica e nem um pouco de esforço para pesquisa e verificação das informações que reproduzimos automaticamente;
e assim caminhamos, seguimos em nosso caminho proclamando da boca para fora o amor de um deus que sequer faz sentido às pessoas, uma vez que não encarna em suas realidades.

Nos distanciamos, porque não nos diz respeito.
Nos omitimos, porque não nos afeta.
Rebatemos, acusamos e nos defendemos porque nos sentimos ameaçados em nosso sistema religioso frágil e irrelevante.
Não lutamos suas causas, porque não estamos dispostos a nos identificar com essas pessoas - não como Jesus se identificou conosco.

Angela Natel

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Identificação

O assassinato de indígenas não mexe conosco;
o inquérito de anos referente à morte de centenas de pessoas na boate Kiss não nos importa;
o discurso de ódio que incita a violência sistemática contra pessoas da comunidade LGBTQ+ faz parte de nossa confissão de fé;
a fome, a discriminação, a desumanização e os constantes abusos direcionados, em sua maioria, à comunidade negra não nos afeta;
demonizamos outras religiões pelo simples fato de nos consideramos detentores de todo o conhecimento teológico;
rotulamos de hereges a todos os que confrontam nosso confortável assento entre os donos da verdade;
agimos como se a moralidade fosse a condição para uma pessoa ter direito a viver com dignidade, ignorando completamente a imagem de Deus em cada uma de suas criaturas;
nos consideramos padrão para o mundo, mesmo sem o mínimo de autocrítica e nem um pouco de esforço para pesquisa e verificação das informações que reproduzimos automaticamente;
e assim caminhamos, seguimos em nosso caminho proclamando da boca para fora o amor de um deus que sequer faz sentido às pessoas, uma vez que não encarna em suas realidades.

Nos distanciamos, porque não nos diz respeito.
Nos omitimos, porque não nos afeta.
Rebatemos, acusamos e nos defendemos porque nos sentimos ameaçados em nosso sistema religioso frágil e irrelevante.
Não lutamos suas causas, porque não estamos dispostos a nos identificar com essas pessoas - não como Jesus se identificou conosco.

Angela Natel