sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Eu acho que foi assim...


1934. O pastor luterano Bonhoeffer assina a Declaração de Bremen, e funda a Igreja Confessante, declaradamente oposicionista ao Nazismo.

Nazismo tava na moda.

Aí surgiu nas rodinhas de corredor de igreja: - Cê viu o Bonhoeffer arrumando confusão de novo? O cara não pára quieto. Tá lá assinando aquela Declaração subversiva. - Fez seminário, mas nunca leu Romanos 13. Tem que se sujeitar às autoridades, cara! - É um subversivo. É um passo pra heresia, vai cair no liberalismo. Fica vendo! - Esses caras não entendem que só dá pra enfrentar a crise com mão de ferro. A gente precisa de um cara que fala o que pensa! Essa crise econômica é culpa de judeu.

Aí hoje, 84 anos depois, cá estamos nós. Tem filme do Bonhoeffer. Livros dele. Sobre ele. Camisetas dele. E a gente achando o cara o mó bacana porque enfrentou o Hitler.

Mas aí, chegado, aí é fácil, né. Saca só: A gente leu a história e viu que ele se posicionou, viu que ele enfrentou uma tirania horrível e pagou com a vida o preço de ter lutado, se posicionado, enfrentado.

Agora, a gente acha o cara mó bacana. Hoje.

Mas será que lá em 1934 cê ia falar: Ô Bonhoeffer. Tâmo junto! É isso aí. Melhor fazer o mal do que ser o próprio mau.

Na boa, analisa aí. Será?

E concorrer à forca com o seu brother?

1963. O pastor batista Martin Luther King Jr. caminha em Washington e discursa para duzentas mil pessoas afirmando que ele tem um sonho. Seu sonho é ver seus filhos negros indo à mesma escola de crianças brancas.

Segregação racial tava na moda.

Aí surgiu nas rodinhas que se formaram embaixo das árvores do Monumento à Washington: - Olha lá o Luther, esse cara se acha o defensor dos fracos e oprimidos! Para ele no mundo só negros sofrem. E o sofrimento dos vietnamitas... Ele não vai falar nada? - Cara devia se concentrar em pregar o Evangelho. É pastor para quê? Fica aí nessa de direitos dos negros e injustiçados! Coisa humana. Tem que se concentrar no sagrado! - Alguém precisa avisar esse cara que se ele continuar com esse lance de política, essa conversa de esquerdista aí, ele vai morrer. - Por isso que não dá pra misturar religião e política!
Aí hoje, 55 anos depois, cá estamos nós. Novamente. Tem filme do Luther King. Camisetas. Dia do cara. E a gente achando mó bacana que ele enfrentou a Ku Klux Klan.

Será que lá em 1963, estaríamos nós braços dados com ele, tomando bicuda na cara dos policiais e sendo cuspidos direto, dizendo: aguenta firme, irmão!

Hoje, tudo bem, né.
Mas e lá? Na hora de fazer a história?
Porque hoje o maluco que tá tomando as pedradas e você sentando o pau pode ser o cara da história amanhã. Porque, não sei, mas... parece que sempre é assim com os heróis do passado. Eles antes eram uns Zés Ruelas nos corredores e bate-papos dos "bacanas" e das "pessoas de bem". Difícil entender o momento histórico e se posicionar. Tem que ter peito.

Por isso que eu reavalio minha consciência para enfrentar esse momento histórico e me posicionar de modo que amanhã eu não venha a me arrepender. E tem um jeito de acertar. Ficando ao lado dos oprimidos. Dos ferrados. Dos injustiçados. E em amor, em boa consciência, em afeto e Graça.
Cê pode até perder, morrer, ser enforcado ou levar um tiro no peito, mas... a história, meu chapa, ela te absolverá.
Dois pastores protestantes. Um negro. Americano. Um branco. Alemão. Dois resistentes. Subversivos. Heróis de hoje. Malvistos do passado. Respeitados pela igreja de hoje. Excomungados pela de ontem. Que temeram muito mais a vergonha de não enfrentar o caos do que a morte. E honraram a Deus servindo ao próximo.

Deles eu não me envergonharei.
Tampouco dos irmãos que lutam hoje, neste momento histórico e que são tachados de tudo pelos comentaristas da história. Que comentam, mas não a alteram.

Sou inspirado por estes tais "vilões do presente".
Na contramão dos que escolhem Barrabás.
Sou discípulo do preso político da cruz do meio.
Sentenciado por dois poderes paralelos. Que não morreu de trombada de camelo em esquina movimentada de Jerusalém. Foi morto. Assassinado. Acusado de subversão ao Império e Heresia à religião.

Que entrou na história pra mudar a minha sorte. Peço a Ele que me ajude a me posicionar. Sem medo do que virá. Com a coragem e a loucura de quem sabe que não veio a este mundo de passagem, nem rolézinho.
Gito Wendel via Instagram

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Eu acho que foi assim...


1934. O pastor luterano Bonhoeffer assina a Declaração de Bremen, e funda a Igreja Confessante, declaradamente oposicionista ao Nazismo.

Nazismo tava na moda.

Aí surgiu nas rodinhas de corredor de igreja: - Cê viu o Bonhoeffer arrumando confusão de novo? O cara não pára quieto. Tá lá assinando aquela Declaração subversiva. - Fez seminário, mas nunca leu Romanos 13. Tem que se sujeitar às autoridades, cara! - É um subversivo. É um passo pra heresia, vai cair no liberalismo. Fica vendo! - Esses caras não entendem que só dá pra enfrentar a crise com mão de ferro. A gente precisa de um cara que fala o que pensa! Essa crise econômica é culpa de judeu.

Aí hoje, 84 anos depois, cá estamos nós. Tem filme do Bonhoeffer. Livros dele. Sobre ele. Camisetas dele. E a gente achando o cara o mó bacana porque enfrentou o Hitler.

Mas aí, chegado, aí é fácil, né. Saca só: A gente leu a história e viu que ele se posicionou, viu que ele enfrentou uma tirania horrível e pagou com a vida o preço de ter lutado, se posicionado, enfrentado.

Agora, a gente acha o cara mó bacana. Hoje.

Mas será que lá em 1934 cê ia falar: Ô Bonhoeffer. Tâmo junto! É isso aí. Melhor fazer o mal do que ser o próprio mau.

Na boa, analisa aí. Será?

E concorrer à forca com o seu brother?

1963. O pastor batista Martin Luther King Jr. caminha em Washington e discursa para duzentas mil pessoas afirmando que ele tem um sonho. Seu sonho é ver seus filhos negros indo à mesma escola de crianças brancas.

Segregação racial tava na moda.

Aí surgiu nas rodinhas que se formaram embaixo das árvores do Monumento à Washington: - Olha lá o Luther, esse cara se acha o defensor dos fracos e oprimidos! Para ele no mundo só negros sofrem. E o sofrimento dos vietnamitas... Ele não vai falar nada? - Cara devia se concentrar em pregar o Evangelho. É pastor para quê? Fica aí nessa de direitos dos negros e injustiçados! Coisa humana. Tem que se concentrar no sagrado! - Alguém precisa avisar esse cara que se ele continuar com esse lance de política, essa conversa de esquerdista aí, ele vai morrer. - Por isso que não dá pra misturar religião e política!
Aí hoje, 55 anos depois, cá estamos nós. Novamente. Tem filme do Luther King. Camisetas. Dia do cara. E a gente achando mó bacana que ele enfrentou a Ku Klux Klan.

Será que lá em 1963, estaríamos nós braços dados com ele, tomando bicuda na cara dos policiais e sendo cuspidos direto, dizendo: aguenta firme, irmão!

Hoje, tudo bem, né.
Mas e lá? Na hora de fazer a história?
Porque hoje o maluco que tá tomando as pedradas e você sentando o pau pode ser o cara da história amanhã. Porque, não sei, mas... parece que sempre é assim com os heróis do passado. Eles antes eram uns Zés Ruelas nos corredores e bate-papos dos "bacanas" e das "pessoas de bem". Difícil entender o momento histórico e se posicionar. Tem que ter peito.

Por isso que eu reavalio minha consciência para enfrentar esse momento histórico e me posicionar de modo que amanhã eu não venha a me arrepender. E tem um jeito de acertar. Ficando ao lado dos oprimidos. Dos ferrados. Dos injustiçados. E em amor, em boa consciência, em afeto e Graça.
Cê pode até perder, morrer, ser enforcado ou levar um tiro no peito, mas... a história, meu chapa, ela te absolverá.
Dois pastores protestantes. Um negro. Americano. Um branco. Alemão. Dois resistentes. Subversivos. Heróis de hoje. Malvistos do passado. Respeitados pela igreja de hoje. Excomungados pela de ontem. Que temeram muito mais a vergonha de não enfrentar o caos do que a morte. E honraram a Deus servindo ao próximo.

Deles eu não me envergonharei.
Tampouco dos irmãos que lutam hoje, neste momento histórico e que são tachados de tudo pelos comentaristas da história. Que comentam, mas não a alteram.

Sou inspirado por estes tais "vilões do presente".
Na contramão dos que escolhem Barrabás.
Sou discípulo do preso político da cruz do meio.
Sentenciado por dois poderes paralelos. Que não morreu de trombada de camelo em esquina movimentada de Jerusalém. Foi morto. Assassinado. Acusado de subversão ao Império e Heresia à religião.

Que entrou na história pra mudar a minha sorte. Peço a Ele que me ajude a me posicionar. Sem medo do que virá. Com a coragem e a loucura de quem sabe que não veio a este mundo de passagem, nem rolézinho.
Gito Wendel via Instagram