segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O Reino para o qual não ofereço nenhum tipo de resistência

"Deixei para as 17h este texto que poderá também ser o último.
Quem saberá?
Este foi um ano tenebroso. Talvez culpa da idade, 33. A mesma do Cristo na cruz, não é o que dizem?
Estou todo ferrado.
Trabalho com ONGs. Coisa de vagabundo e que serão fechadas, conforme as promessas.
Escrevi muitos textos, fáceis de serem rastreados e jogados contra mim, para me pendurarem, no madeiro brasileiro, o pau-de-arara.
Então serei escorraçado, junto à metade dos que discordam e para não sofrer danos piores, terei de escolher um país. Qual?
Me indicarão Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. Eu penderei à Portugal, seus pastéis de nata e sua Lisboa literária. Ou a um cantão africano, suas cores e cantigas, onde o tambor dita o ritmo da resistência.
Resistirei.
Aqui ou acolá.
Sempre fui assim.
Era pra morrer no parto, na pedrada, nos capotes, na malária, no assalto, várias e várias vezes e segui resistindo.
Sempre saí com um sorriso meio amarelo, torto, fraco, para encarar a vida.
E cá estamos nós.
O que quer que venha. Resistirei.
Junto dos ninguéns, os esquecidos, os que são pesados em arrobas, os lixos deste mundo. Deles é o Reino de Deus não importa qual seja o governo dos homens.
E é junto deles que desejo ser achado. Em algum fim de mundo desta terra, no centro das periferias, centrado no amor.
Este poderá ser meu último texto aqui. Quem saberá?
O que é certo, porém, é que será o primeiro ato de um novo tempo de resistência e ação, afeto e amor, que esses dias odiosos me ensinaram. Para alguma coisa valeram: encorajaram-me a resistir.
E a crer na doce revolução, sem balas ou bandeiras. A única pela qual vale a pena entregar a vida.
Um Mundo Outro.
Que um rapaz de trinta e poucos anos do vilarejo de Nazaré ousou chamar de O Reino.
Nele, o menino coloca a mão da toca da serpente.
Cordeiro e leão dormem irmanados.
E a gente ama a Deus no amor ao outro, que sempre será meu próximo, mesmo que discorde de mim.
Depois de dias tenebrosos e de escuridão, o sol brilhará e trará com ele o cheiro da vida e as cores da manhã.
Então não haverá mais nada a resistir.
Me entregarei aos braços amorosos daquele que traz cicatrizes nas mãos. O torturado.
E lhe darei em definitivo o meu último, e talvez primeiro respirar depois de ter-lhe devotado a vida como o pior dos servos.
Ele é Kyrios. Senhor supremo e governa sobre mim.
Todos os outros governantes são eleitos.
Quanto a este, me elegeu para ser filho do Seu amor."

Gito Wendel

Fonte: https://www.facebook.com/gitowendel/posts/2033212123405836?__xts__[0]=68.ARD1Yq5U-J-K_2B_rbojFkMu31P87CyEO4_UmG-Pe9t5reIlcnC1ovPN_zMyFtvZKNbuPUt2PTT4_kys6HREjGyIRVaBU1MPlo8ji_uCfccQWFslWaUPSBaIZZHAQ88tWibzPIuUuGNSGk6Ky4kP-MyDJEFkRah17quiVngHbPOutW-idF3bFUPbO2qtj1vsd4Erdv58o3ZlOeSh8ZC4Q3E&__tn__=C-R

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O Reino para o qual não ofereço nenhum tipo de resistência

"Deixei para as 17h este texto que poderá também ser o último.
Quem saberá?
Este foi um ano tenebroso. Talvez culpa da idade, 33. A mesma do Cristo na cruz, não é o que dizem?
Estou todo ferrado.
Trabalho com ONGs. Coisa de vagabundo e que serão fechadas, conforme as promessas.
Escrevi muitos textos, fáceis de serem rastreados e jogados contra mim, para me pendurarem, no madeiro brasileiro, o pau-de-arara.
Então serei escorraçado, junto à metade dos que discordam e para não sofrer danos piores, terei de escolher um país. Qual?
Me indicarão Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. Eu penderei à Portugal, seus pastéis de nata e sua Lisboa literária. Ou a um cantão africano, suas cores e cantigas, onde o tambor dita o ritmo da resistência.
Resistirei.
Aqui ou acolá.
Sempre fui assim.
Era pra morrer no parto, na pedrada, nos capotes, na malária, no assalto, várias e várias vezes e segui resistindo.
Sempre saí com um sorriso meio amarelo, torto, fraco, para encarar a vida.
E cá estamos nós.
O que quer que venha. Resistirei.
Junto dos ninguéns, os esquecidos, os que são pesados em arrobas, os lixos deste mundo. Deles é o Reino de Deus não importa qual seja o governo dos homens.
E é junto deles que desejo ser achado. Em algum fim de mundo desta terra, no centro das periferias, centrado no amor.
Este poderá ser meu último texto aqui. Quem saberá?
O que é certo, porém, é que será o primeiro ato de um novo tempo de resistência e ação, afeto e amor, que esses dias odiosos me ensinaram. Para alguma coisa valeram: encorajaram-me a resistir.
E a crer na doce revolução, sem balas ou bandeiras. A única pela qual vale a pena entregar a vida.
Um Mundo Outro.
Que um rapaz de trinta e poucos anos do vilarejo de Nazaré ousou chamar de O Reino.
Nele, o menino coloca a mão da toca da serpente.
Cordeiro e leão dormem irmanados.
E a gente ama a Deus no amor ao outro, que sempre será meu próximo, mesmo que discorde de mim.
Depois de dias tenebrosos e de escuridão, o sol brilhará e trará com ele o cheiro da vida e as cores da manhã.
Então não haverá mais nada a resistir.
Me entregarei aos braços amorosos daquele que traz cicatrizes nas mãos. O torturado.
E lhe darei em definitivo o meu último, e talvez primeiro respirar depois de ter-lhe devotado a vida como o pior dos servos.
Ele é Kyrios. Senhor supremo e governa sobre mim.
Todos os outros governantes são eleitos.
Quanto a este, me elegeu para ser filho do Seu amor."

Gito Wendel

Fonte: https://www.facebook.com/gitowendel/posts/2033212123405836?__xts__[0]=68.ARD1Yq5U-J-K_2B_rbojFkMu31P87CyEO4_UmG-Pe9t5reIlcnC1ovPN_zMyFtvZKNbuPUt2PTT4_kys6HREjGyIRVaBU1MPlo8ji_uCfccQWFslWaUPSBaIZZHAQ88tWibzPIuUuGNSGk6Ky4kP-MyDJEFkRah17quiVngHbPOutW-idF3bFUPbO2qtj1vsd4Erdv58o3ZlOeSh8ZC4Q3E&__tn__=C-R