sábado, 2 de setembro de 2023

Reflexões

 

Talvez você já saiba, mas não custa relembrar que:
Seu dia não precisa ser menos feliz porque hoje você não tem uma relação que caiba nesse formato de casal-namoro
Lembra das outras tantas pessoas que te amam, que você ama e que te respeitam como você é
Há uma obsessão pela reafirmação da norma monogâmica, romântica, heteronormativa que busca fazer todos que não cabem nela se sentirem em falta com algo
Se essa norma fosse algo espontâneo, não precisaria pregar ininterruptamente sua verdade, seu modelo coercitivo de relação em igrejas, nas famílias, nos livros, filmes, séries
Podemos sim, amar também nesse dia, mas lembremos que muitas dessas datas são como cultos de uma certa moral cristã, capitalista, hegemônica que faz poluição sonora, visual, emocional, invadindo o tempo e espaço mesmo de quem nela não crê
Se você finalizou uma relação que não estava te trazendo saúde, você não é uma pessoa fracassada por isso
Se a palavra solteiro vem de "estar sozinho", questionemos essa ideia de que só conta como companhia a pessoa com quem se tem amor romântico
Por outro lado, sabemos que os status de relacionamentos normativos nem sempre asseguram companhia, apoio, afeto
Não é porque algo nos foi negado, que se torna algo automaticamente bom, a ser desejado e almejado
É pelo nosso imaginário que somos convencidos a desejar e a querer fazer parte da norma, apresentada como os finais felizes da vida
Mas é motivo de orgulho quando percebemos que não seguir o mesmo roteiro monotemático direcionado a bilhões de pessoas, nos abre espaço para construirmos nossas relações de infinitas outras formas, com outros termos, com outros tempos e desejos.
Não fazer parte da norma não significa que amemos menos, que nos apaixonamos menos, que não haja muita ternura e encanto em nossas vidas.
Quem se contrapõe à norma não é invejoso ou ressentido, pois já não deseja ser incluído nela, pelo contrário, festeja e afirma seu próprio desvio.
"Há críticos que, em vez de me julgarem pelo que sou, julgam-me pelo que eu não sou.
É como quem olhasse um pessegueiro e dissesse: "Mas isso não é um trator!" Mario Quintana.

Observação: Você está ciente de que não monogamia é literalmente criminalizada no código penal? Que é um pecado nas igrejas? Uma aberração nas famílias? Não existe uma lei de pessoas não mono proibindo a monogamia, nem igrejas não mono dizendo que monogamia é pecado, nenhuma família expulsa seus filhos de casa por serem monogâmicos, ninguém perde o emprego por ser monogâmico. Em nenhuma parte do texto eu digo que quem posta fotos com quem ama hoje é necessariamente cristão, hetero, monogâmico. Pelo contrário, eu literalmente disse que naturalmente podemos sim amar nesse dia. Eu obviamente sei que há pessoas dissidentes LGBTQIA+ que são monogamicas, assim como sei que muitas são cristãs, de direita, etc. A imposição de um único jeito de viver as relações é global, é evidente que também afeta comunidades dissidentes. Quem se afeta com a sexualidade alheia é a monogamia, a heteronorma, tanto por isso não existe heterofobia, cristofobia ou monofobia. Reforço, não existe imposição de não monogamia, aludir a isso é como acreditar em ditadura gay. Meu simples post refletindo sobre essas imposições coloniais tem o mesmo poder que séculos de Igreja, Estado e Família? Não existe opressão por fazer parte da norma, ninguém diz que quem faz parte dela é inferior, isso é uma inversão absurda. Fico impressionada em como mesmo essa pregação monogâmica cristã ser imposta a bilhões de pessoas, é meu posicionamento que teria o poder de fazer "o mesmo" ao contrário, rs. Quando pessoas dissidentes afirmam com alegria seu desvio da norma, isso não é um movimento para inferiorizar pessoas com identidades normativas. Pelo contrário, as identidades coloniais que necessariamente se positivam através da nossa negativação. Como diz Fanon, o sonho de dominar o mundo é um sonho branco, colonizador. E ser contra a colonização jamais será parte desse projeto, por mais que tentem se projetar em nossas lutas.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

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Reflexões

 

Talvez você já saiba, mas não custa relembrar que:
Seu dia não precisa ser menos feliz porque hoje você não tem uma relação que caiba nesse formato de casal-namoro
Lembra das outras tantas pessoas que te amam, que você ama e que te respeitam como você é
Há uma obsessão pela reafirmação da norma monogâmica, romântica, heteronormativa que busca fazer todos que não cabem nela se sentirem em falta com algo
Se essa norma fosse algo espontâneo, não precisaria pregar ininterruptamente sua verdade, seu modelo coercitivo de relação em igrejas, nas famílias, nos livros, filmes, séries
Podemos sim, amar também nesse dia, mas lembremos que muitas dessas datas são como cultos de uma certa moral cristã, capitalista, hegemônica que faz poluição sonora, visual, emocional, invadindo o tempo e espaço mesmo de quem nela não crê
Se você finalizou uma relação que não estava te trazendo saúde, você não é uma pessoa fracassada por isso
Se a palavra solteiro vem de "estar sozinho", questionemos essa ideia de que só conta como companhia a pessoa com quem se tem amor romântico
Por outro lado, sabemos que os status de relacionamentos normativos nem sempre asseguram companhia, apoio, afeto
Não é porque algo nos foi negado, que se torna algo automaticamente bom, a ser desejado e almejado
É pelo nosso imaginário que somos convencidos a desejar e a querer fazer parte da norma, apresentada como os finais felizes da vida
Mas é motivo de orgulho quando percebemos que não seguir o mesmo roteiro monotemático direcionado a bilhões de pessoas, nos abre espaço para construirmos nossas relações de infinitas outras formas, com outros termos, com outros tempos e desejos.
Não fazer parte da norma não significa que amemos menos, que nos apaixonamos menos, que não haja muita ternura e encanto em nossas vidas.
Quem se contrapõe à norma não é invejoso ou ressentido, pois já não deseja ser incluído nela, pelo contrário, festeja e afirma seu próprio desvio.
"Há críticos que, em vez de me julgarem pelo que sou, julgam-me pelo que eu não sou.
É como quem olhasse um pessegueiro e dissesse: "Mas isso não é um trator!" Mario Quintana.

Observação: Você está ciente de que não monogamia é literalmente criminalizada no código penal? Que é um pecado nas igrejas? Uma aberração nas famílias? Não existe uma lei de pessoas não mono proibindo a monogamia, nem igrejas não mono dizendo que monogamia é pecado, nenhuma família expulsa seus filhos de casa por serem monogâmicos, ninguém perde o emprego por ser monogâmico. Em nenhuma parte do texto eu digo que quem posta fotos com quem ama hoje é necessariamente cristão, hetero, monogâmico. Pelo contrário, eu literalmente disse que naturalmente podemos sim amar nesse dia. Eu obviamente sei que há pessoas dissidentes LGBTQIA+ que são monogamicas, assim como sei que muitas são cristãs, de direita, etc. A imposição de um único jeito de viver as relações é global, é evidente que também afeta comunidades dissidentes. Quem se afeta com a sexualidade alheia é a monogamia, a heteronorma, tanto por isso não existe heterofobia, cristofobia ou monofobia. Reforço, não existe imposição de não monogamia, aludir a isso é como acreditar em ditadura gay. Meu simples post refletindo sobre essas imposições coloniais tem o mesmo poder que séculos de Igreja, Estado e Família? Não existe opressão por fazer parte da norma, ninguém diz que quem faz parte dela é inferior, isso é uma inversão absurda. Fico impressionada em como mesmo essa pregação monogâmica cristã ser imposta a bilhões de pessoas, é meu posicionamento que teria o poder de fazer "o mesmo" ao contrário, rs. Quando pessoas dissidentes afirmam com alegria seu desvio da norma, isso não é um movimento para inferiorizar pessoas com identidades normativas. Pelo contrário, as identidades coloniais que necessariamente se positivam através da nossa negativação. Como diz Fanon, o sonho de dominar o mundo é um sonho branco, colonizador. E ser contra a colonização jamais será parte desse projeto, por mais que tentem se projetar em nossas lutas.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s