segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Considerações sobre a realidade psíquica.

 


A gente até sabe, "racionalmente", que é possível ser amado sem ser através da exclusividade, que a comparação, o ciúme e a inveja são narrativas que não fazem sentido para o que acreditamos.
Mas essas constatações nem sempre significam que tudo mudará a partir delas, que os sentimentos todos desaparecerão.
A pregação e colonização de séculos, as vivências que tivemos, as violências que sofremos, tudo isso faz parte de nossa história e é apenas em processo que poderemos buscar transformações.
Talvez um primeiro passo seja não subestimar a "realidade psíquica", nem a própria nem a do outro. Nem sempre ciúme, por exemplo, é da ordem de uma suposta "realidade concreta" e aquilo que não aconteceu pode ser vivido de maneira até mais real por nossas inseguranças.
"(...) Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós…
Por sobre o verde turvo do amplo rio
(...)
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
(...)" Fernando Pessoa.
Compreender que nossas emoções, sentimentos e sensações, nossos medos e angústias não estão apenas num campo binário de razão-emoção, realidade-imaginação nos ajuda a compreender a complexidade e também a beleza de uma vida para além das monoculturas.
É por isso que lutar contra as opressões também é lutar por outros sonhos, cuidar de nossas diferentes dimensões é reflorestar as muitas camadas do território que somos.
"(...)Ainda me parece sentir o mar do sonho que inundou meu quarto. Ainda sinto a onda chegando à minha cama. Ainda me volta o espanto de despertar entre móveis e paredes que eu não compreendia pudessem estar enxutos. E sem nenhum sinal dessa água que o sol secou, mas de cujo contato ainda me sinto friorento e meio úmido (...)" João Cabral de Melo Neto.
Talvez amar seja um desafio, uma ponte e uma travessia entre os vários mundos que nos habitam, todos reais à sua maneira.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s


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Considerações sobre a realidade psíquica.

 


A gente até sabe, "racionalmente", que é possível ser amado sem ser através da exclusividade, que a comparação, o ciúme e a inveja são narrativas que não fazem sentido para o que acreditamos.
Mas essas constatações nem sempre significam que tudo mudará a partir delas, que os sentimentos todos desaparecerão.
A pregação e colonização de séculos, as vivências que tivemos, as violências que sofremos, tudo isso faz parte de nossa história e é apenas em processo que poderemos buscar transformações.
Talvez um primeiro passo seja não subestimar a "realidade psíquica", nem a própria nem a do outro. Nem sempre ciúme, por exemplo, é da ordem de uma suposta "realidade concreta" e aquilo que não aconteceu pode ser vivido de maneira até mais real por nossas inseguranças.
"(...) Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós…
Por sobre o verde turvo do amplo rio
(...)
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.
(...)" Fernando Pessoa.
Compreender que nossas emoções, sentimentos e sensações, nossos medos e angústias não estão apenas num campo binário de razão-emoção, realidade-imaginação nos ajuda a compreender a complexidade e também a beleza de uma vida para além das monoculturas.
É por isso que lutar contra as opressões também é lutar por outros sonhos, cuidar de nossas diferentes dimensões é reflorestar as muitas camadas do território que somos.
"(...)Ainda me parece sentir o mar do sonho que inundou meu quarto. Ainda sinto a onda chegando à minha cama. Ainda me volta o espanto de despertar entre móveis e paredes que eu não compreendia pudessem estar enxutos. E sem nenhum sinal dessa água que o sol secou, mas de cujo contato ainda me sinto friorento e meio úmido (...)" João Cabral de Melo Neto.
Talvez amar seja um desafio, uma ponte e uma travessia entre os vários mundos que nos habitam, todos reais à sua maneira.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s