terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Ser mulher

 


Nas cartas jesuíticas, a definição de mulher era a mesma de esposa, nos mesmos termos.
Até hoje isso perdura, chamam de ex-mulher quem é ex-esposa.
É preciso que nos lembremos: mulher e homem não são descrições meramente biológicas.
Não se diz de nenhum outro bicho que são mulheres e homens, pois gênero é um atributo civilizatório que tenta colocar o humano numa hierarquia contra os demais seres.
Só se reconhecia como mulher e homem "de verdade" quem se tornava cristão.
Por isso os defensores da família não reconhecem como família nenhuma configuração que não seja homem + mulher heterocis.
Enquanto essa ficção de gênero for apregoada como uma monocultura que se alastra pelo mundo, teremos a continuidade da violência.
Deixou de ser esposa, deixou de ser mulher
Deixou de ser hetero, deixou de ser mulher
Não quis ser mãe, deixou de ser mulher
Foi mãe, mas desejou outras funções para além da maternidade, não é mais mulher
Eu não mais atuo como advogada de defesa dessa mitologia
Agora se me acusam de não ser e agir como mulher, concordo: é isso mesmo, não tem mais mulher aqui, chegou tarde, agora sou ex mulher
E quando chegarem perguntando pela mulher de quem irão cobrar que execute o roteiro que escreveram, direi: não mora mais aqui!
E quando responderem, magoados: se não é mais mulher então não poderá ter cabelos longos, nem usar saia ou batom, direi:
Engano seu, não cedi meus cabelos longos à sua tarjeta, as curvas do meu corpo não são uma prova do seu mito, não lhe devo fidelidade contratual alguma
O sistema que me chantageava a me enquadrar no ser mulher não contava com minha desistência do seu jogo pérfido
Não ser mais reconhecida como uma mulher de família é minha benção
Vou usar, ser e falar o que me fizer sentido e ainda assim não pedirei licença alguma aos supostos donos do gênero.
Mulher e homem " de verdade" não são só palavras, são sentidos de existência. Negar suas diretrizes vai além de recusar um termo, é lutar contra sua estrutura.
O vermelho do ucurum me guia.
Ex-crente, ex-mulher.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

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Ser mulher

 


Nas cartas jesuíticas, a definição de mulher era a mesma de esposa, nos mesmos termos.
Até hoje isso perdura, chamam de ex-mulher quem é ex-esposa.
É preciso que nos lembremos: mulher e homem não são descrições meramente biológicas.
Não se diz de nenhum outro bicho que são mulheres e homens, pois gênero é um atributo civilizatório que tenta colocar o humano numa hierarquia contra os demais seres.
Só se reconhecia como mulher e homem "de verdade" quem se tornava cristão.
Por isso os defensores da família não reconhecem como família nenhuma configuração que não seja homem + mulher heterocis.
Enquanto essa ficção de gênero for apregoada como uma monocultura que se alastra pelo mundo, teremos a continuidade da violência.
Deixou de ser esposa, deixou de ser mulher
Deixou de ser hetero, deixou de ser mulher
Não quis ser mãe, deixou de ser mulher
Foi mãe, mas desejou outras funções para além da maternidade, não é mais mulher
Eu não mais atuo como advogada de defesa dessa mitologia
Agora se me acusam de não ser e agir como mulher, concordo: é isso mesmo, não tem mais mulher aqui, chegou tarde, agora sou ex mulher
E quando chegarem perguntando pela mulher de quem irão cobrar que execute o roteiro que escreveram, direi: não mora mais aqui!
E quando responderem, magoados: se não é mais mulher então não poderá ter cabelos longos, nem usar saia ou batom, direi:
Engano seu, não cedi meus cabelos longos à sua tarjeta, as curvas do meu corpo não são uma prova do seu mito, não lhe devo fidelidade contratual alguma
O sistema que me chantageava a me enquadrar no ser mulher não contava com minha desistência do seu jogo pérfido
Não ser mais reconhecida como uma mulher de família é minha benção
Vou usar, ser e falar o que me fizer sentido e ainda assim não pedirei licença alguma aos supostos donos do gênero.
Mulher e homem " de verdade" não são só palavras, são sentidos de existência. Negar suas diretrizes vai além de recusar um termo, é lutar contra sua estrutura.
O vermelho do ucurum me guia.
Ex-crente, ex-mulher.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s