quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Reflexões sobre o charlatanismo "terapêutico" cristão.

 


A pregação da ideologia cristã e capitalista não se atualiza apenas nas igrejas, mas também em espaços supostamente "terapêuticos", em promessas sobre traumas, perdão e reconciliação que seguem exatamente a lógica colonial.
Sugerem que se acolha a "criança interior" e que se compreenda os pais e demais responsáveis pelas violências sofridas, pois, afinal, esses adultos teriam feito "o melhor que podiam" à época.
Se uma criança sofreu negligências e outros abusos, não há nada que justifique a conduta dos agressores/as. Acolher, de fato, seria reconhecer que toda violência é injustificável. E que as "coisas boas" não deveriam ser utilizadas como moeda de relativização.
Também é comum que culpabilizem as vítimas, incitando-as a se "responsabilizarem" por uma suposta contribuição que teriam dado à violência sofrida. Tudo isso, além de não elaborar traumas, pode agigantá-los.
É possível que, por vários motivos, perdoemos a quem nos agrediu, no entanto, essa reconciliação não deveria ser compulsória, muito menos mediada pela atenuação das violências.
Perdoar é um caminho, não é o único. É possível sim viver bem consigo sem ir por ele.
As desigualdades de gênero, raça, classe não são fruto do que, individualmente, cada pessoa "atrai". Não é a "vibração" errada a responsável por isso, é a colonização.
A culpabilização do indivíduo precisa desse gesto transcendental para forçar um sentido "por trás".
Não, nem "tudo acontece por um motivo", relações não existem em causa-efeito paralelas a uma suposta física moral. Há efeitos sem causa/culpa.
Não deveríamos ser obrigados a "ver lado bom de aprendizado" com violências, é possível aprender de outras formas.
Que essa pregação global da monocultura cristã não dos deixe esquecer que é justamente em nome do amor, da família, do perdão, do respeito, da fidelidade e outros valores morais que a maioria das violências se sustenta.
É possível construir saúde no afastamento, desobediência e desencontro.
Sustentar a afirmação da vida em sua complexidade é compreender que para muitas coisas não há origem nem destino, nem justiça transcendental, salvação ou condenação, e que, justamente por isso é que vale a pena viver.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s


Nenhum comentário:

Reflexões sobre o charlatanismo "terapêutico" cristão.

 


A pregação da ideologia cristã e capitalista não se atualiza apenas nas igrejas, mas também em espaços supostamente "terapêuticos", em promessas sobre traumas, perdão e reconciliação que seguem exatamente a lógica colonial.
Sugerem que se acolha a "criança interior" e que se compreenda os pais e demais responsáveis pelas violências sofridas, pois, afinal, esses adultos teriam feito "o melhor que podiam" à época.
Se uma criança sofreu negligências e outros abusos, não há nada que justifique a conduta dos agressores/as. Acolher, de fato, seria reconhecer que toda violência é injustificável. E que as "coisas boas" não deveriam ser utilizadas como moeda de relativização.
Também é comum que culpabilizem as vítimas, incitando-as a se "responsabilizarem" por uma suposta contribuição que teriam dado à violência sofrida. Tudo isso, além de não elaborar traumas, pode agigantá-los.
É possível que, por vários motivos, perdoemos a quem nos agrediu, no entanto, essa reconciliação não deveria ser compulsória, muito menos mediada pela atenuação das violências.
Perdoar é um caminho, não é o único. É possível sim viver bem consigo sem ir por ele.
As desigualdades de gênero, raça, classe não são fruto do que, individualmente, cada pessoa "atrai". Não é a "vibração" errada a responsável por isso, é a colonização.
A culpabilização do indivíduo precisa desse gesto transcendental para forçar um sentido "por trás".
Não, nem "tudo acontece por um motivo", relações não existem em causa-efeito paralelas a uma suposta física moral. Há efeitos sem causa/culpa.
Não deveríamos ser obrigados a "ver lado bom de aprendizado" com violências, é possível aprender de outras formas.
Que essa pregação global da monocultura cristã não dos deixe esquecer que é justamente em nome do amor, da família, do perdão, do respeito, da fidelidade e outros valores morais que a maioria das violências se sustenta.
É possível construir saúde no afastamento, desobediência e desencontro.
Sustentar a afirmação da vida em sua complexidade é compreender que para muitas coisas não há origem nem destino, nem justiça transcendental, salvação ou condenação, e que, justamente por isso é que vale a pena viver.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/?igshid=MDJmNzVkMjY%3D

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s