domingo, 25 de dezembro de 2022

Elaborarmos a culpa familiar é um dos caminhos para honrarmos a criança que fomos.

 


A "família estruturada" heteronormativa e cristã é dos piores e mais perigosos lugares para crianças crescerem.
A criança é tida como posse da família e as violências que sofre passam por algo paralelo ao "em briga de marido e mulher ninguém mexe a colher".
Ao longo de seu crescimento, muitas crianças e adolescentes são humilhados e chantageados por seus pais, como se terem alimentação e moradia fosse um grande favor recebido, como se esse "favor" comprasse o direito desses pais de punirem e controlarem todas as dimensões da vida dos filhos.
Tendo essa suposta dívida assombrando sua vida, muitos jovens se sentem insuficientes, atrasados, incapazes de "pagar" os "sacrifícios" que os pais fizeram por eles.
Ainda que isso que chamam de sacrifício, muitas vezes  era simplesmente a condição mínima de existência de uma criança, que não deveria ser culpabilizada pelas mazelas dos pais.
Essa culpa familiar tenta fazer com que os filhos se sintam culpados de se afastarem de parentes que não os respeitam. Espera-se que filhes "perdoem tudo" mesmo quando esses parentes nem sequer chegam a reconhecer as violências que cometeram.
No cruzamento de machismo e monogamia, milhões de mulheres permanecem em relações abusivas com seus maridos e tentam fazer com que seus filhos, assim como elas, também permaneçam nessas relações com o pai/padrasto.
Por vezes é justamente nesse ambiente familiar que aprendemos a amar da pior forma, acreditando que "se bateu é porque ama".
A maioria dos abusos contra crianças e mulheres acontece no ambiente doméstico e as violências são cometidas majoritariamente por familiares, parceiros e amigos.
Essa estrutura familiar é uma máquina de violências que só funciona pela sobrecarga e exploração das mulheres, só funciona porque o amor romântico continua produzindo um sonho de continuarem a formar essa mesma família, na espera de que a sua seja exceção à regra.
Honrar a criança é acolher o direito de seguirmos nosso próprio caminho, mesmo que isso decepcione e frustre pessoas importantes para nós.
"Se me ama não me faz sofrer" é uma mensagem para: só o amor da obediência é verdadeiro.
Que possamos construir outras artesanias parentais.

Geni Núñez - @genipapos no Instagram

Assista a live completa "Descatequizar para descolonizar" com Geni Núñez em meu canal no Youtube (Angela Natel).

https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2152s


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Elaborarmos a culpa familiar é um dos caminhos para honrarmos a criança que fomos.

 


A "família estruturada" heteronormativa e cristã é dos piores e mais perigosos lugares para crianças crescerem.
A criança é tida como posse da família e as violências que sofre passam por algo paralelo ao "em briga de marido e mulher ninguém mexe a colher".
Ao longo de seu crescimento, muitas crianças e adolescentes são humilhados e chantageados por seus pais, como se terem alimentação e moradia fosse um grande favor recebido, como se esse "favor" comprasse o direito desses pais de punirem e controlarem todas as dimensões da vida dos filhos.
Tendo essa suposta dívida assombrando sua vida, muitos jovens se sentem insuficientes, atrasados, incapazes de "pagar" os "sacrifícios" que os pais fizeram por eles.
Ainda que isso que chamam de sacrifício, muitas vezes  era simplesmente a condição mínima de existência de uma criança, que não deveria ser culpabilizada pelas mazelas dos pais.
Essa culpa familiar tenta fazer com que os filhos se sintam culpados de se afastarem de parentes que não os respeitam. Espera-se que filhes "perdoem tudo" mesmo quando esses parentes nem sequer chegam a reconhecer as violências que cometeram.
No cruzamento de machismo e monogamia, milhões de mulheres permanecem em relações abusivas com seus maridos e tentam fazer com que seus filhos, assim como elas, também permaneçam nessas relações com o pai/padrasto.
Por vezes é justamente nesse ambiente familiar que aprendemos a amar da pior forma, acreditando que "se bateu é porque ama".
A maioria dos abusos contra crianças e mulheres acontece no ambiente doméstico e as violências são cometidas majoritariamente por familiares, parceiros e amigos.
Essa estrutura familiar é uma máquina de violências que só funciona pela sobrecarga e exploração das mulheres, só funciona porque o amor romântico continua produzindo um sonho de continuarem a formar essa mesma família, na espera de que a sua seja exceção à regra.
Honrar a criança é acolher o direito de seguirmos nosso próprio caminho, mesmo que isso decepcione e frustre pessoas importantes para nós.
"Se me ama não me faz sofrer" é uma mensagem para: só o amor da obediência é verdadeiro.
Que possamos construir outras artesanias parentais.

Geni Núñez - @genipapos no Instagram

Assista a live completa "Descatequizar para descolonizar" com Geni Núñez em meu canal no Youtube (Angela Natel).

https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2152s