domingo, 11 de dezembro de 2022

A importância de abandonar a busca obsessiva pela verdade: acolher o mistério é poder descansar.

 


Verdade ou ilusão, essência ou aparência, superficial ou profundo?
Na lógica binária, tendemos a valorizar a verdade, essência e profundidade em detrimento dos seus opostos.

A promessa de céu, de elevação e salvação da alma precisa tentar rebaixar aquilo que seria terreno, falso e da carne para se garantir como desejada.
Talvez por isso repensar esses valores seja tão disruptivo: se começarmos a valorizar essa vida que temos e somos sem nos diminuirmos em relação ao ideal, talvez não queiramos mais pagar o alto preço do ingresso celeste.
Se em vez de, presunçosamente, tentarmos descobrir o que é verdadeiro ou falso, buscarmos acolher e adubar valores que nos promovam a vida e a alegria aqui mesmo?
Na arte, sabemos que é algo é "mentira" e nem por isso é menos digno, vivo e nutritivo. Porque não usar esse critério?
Muitas vezes, em relações abusivas, tenta se convencer a vítima de que "no fundo" o outro é alguém não violento, que "por dentro", tinha outra intenção.
E com isso se dá mais valor a uma hipótese positiva do que à violência concreta do que se vive.
Se tivermos como critério a "aparência" das coisas, podemos economizar um enorme gasto de energia, pois aparência também é essência.
Se, "aparentemente", alguém só nos trata com cuidado, gentileza, afeto, escuta, isso é toda a realidade que temos.
Se, "aparentemente" alguém só nos desrespeita, agride e diminui, essa também é toda realidade que temos disponível.
Já é muito lidar com as camadas imediatas da vida, não é nossa responsabilidade ser arqueólogo das emoções e atitudes alheias, isso não nos cabe.
Se o outro age ao contrário do que "no fundo" sente, cabe a ele elaborar o porquê de seu autoengano.
Ninguém é "trouxa" por usar como critérios aquilo que pode ver, tocar, perceber. Não é preciso ter fé na chuva se ela nos molha, nem no calor do sol se ele nos esquenta.
Há certa busca pela verdade que agride a vida: é como se o reconhecimento da força de um galho só fosse possível com sua quebra.
A obsessão pela verdade não deveria autorizar qualquer meio de obtê-la
Amar sem tentar desatar todos os mistérios é poder descansar e fruir: sabedoria é diferente de conhecimento.

Referência: Livro do professor Roberto Machado - "Nietzsche e a verdade", 2021.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

Assista a live "Descatequizar para Descolonizar", com Geni Nuñez em meu canal do Youtube (Angela Natel), na playlist "Só lives" - acesse o canal pelo link da minha Bio - https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2115s


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A importância de abandonar a busca obsessiva pela verdade: acolher o mistério é poder descansar.

 


Verdade ou ilusão, essência ou aparência, superficial ou profundo?
Na lógica binária, tendemos a valorizar a verdade, essência e profundidade em detrimento dos seus opostos.

A promessa de céu, de elevação e salvação da alma precisa tentar rebaixar aquilo que seria terreno, falso e da carne para se garantir como desejada.
Talvez por isso repensar esses valores seja tão disruptivo: se começarmos a valorizar essa vida que temos e somos sem nos diminuirmos em relação ao ideal, talvez não queiramos mais pagar o alto preço do ingresso celeste.
Se em vez de, presunçosamente, tentarmos descobrir o que é verdadeiro ou falso, buscarmos acolher e adubar valores que nos promovam a vida e a alegria aqui mesmo?
Na arte, sabemos que é algo é "mentira" e nem por isso é menos digno, vivo e nutritivo. Porque não usar esse critério?
Muitas vezes, em relações abusivas, tenta se convencer a vítima de que "no fundo" o outro é alguém não violento, que "por dentro", tinha outra intenção.
E com isso se dá mais valor a uma hipótese positiva do que à violência concreta do que se vive.
Se tivermos como critério a "aparência" das coisas, podemos economizar um enorme gasto de energia, pois aparência também é essência.
Se, "aparentemente", alguém só nos trata com cuidado, gentileza, afeto, escuta, isso é toda a realidade que temos.
Se, "aparentemente" alguém só nos desrespeita, agride e diminui, essa também é toda realidade que temos disponível.
Já é muito lidar com as camadas imediatas da vida, não é nossa responsabilidade ser arqueólogo das emoções e atitudes alheias, isso não nos cabe.
Se o outro age ao contrário do que "no fundo" sente, cabe a ele elaborar o porquê de seu autoengano.
Ninguém é "trouxa" por usar como critérios aquilo que pode ver, tocar, perceber. Não é preciso ter fé na chuva se ela nos molha, nem no calor do sol se ele nos esquenta.
Há certa busca pela verdade que agride a vida: é como se o reconhecimento da força de um galho só fosse possível com sua quebra.
A obsessão pela verdade não deveria autorizar qualquer meio de obtê-la
Amar sem tentar desatar todos os mistérios é poder descansar e fruir: sabedoria é diferente de conhecimento.

Referência: Livro do professor Roberto Machado - "Nietzsche e a verdade", 2021.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

Assista a live "Descatequizar para Descolonizar", com Geni Nuñez em meu canal do Youtube (Angela Natel), na playlist "Só lives" - acesse o canal pelo link da minha Bio - https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2115s