sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Diferente

Ninguém é dono da verdade
Por isso não posso medir os outros por mim.
Nem reconhecer maturidade
Somente em quem pensa como eu.

Discordar, divergir é natural.
Não somos robôs,
Respeito é fundamental
E deve ser também incondicional.

É preciso perceber nossos limites
Não exigir do outro alinhamento
Com meu padrão, minhas vontades, ideais,
E ignorar minha tirania de pensamento.

Sim, corro o risco de lutar contra o fascismo
Ao mesmo tempo em que cerceio a liberdade
Exigindo posturas, anulando o livre pensamento
Restringindo conversas, promovendo vaidade.

Assim, mantenho todos ao meu redor
Falando somente do que me diz respeito
Silenciando conversas de que não gosto,
Mantendo o mundo girando somente ao meu redor.

Determino o padrão a ser seguido
Em meu narcisismo ideológico.
Vejo a doença no outro, não em mim,
Mantenho o abuso psicológico.

E esse ciclo de traumas e tristezas
Se mantém vivo em minhas relações
Quando rapidamente respondo com violência
Sem cuidar para perceber as reais intenções
E possíveis interpretações.

Quando tudo o que o outro pensa,
Faz e sente é errado,
Ou provoca em mim desmerecimento
Ridicularização, silenciamento,
Quando tudo o que vejo no outro
Precisa ser corrigido
Menosprezado
Algo, sim, não está bem,
Mas se encontra dentro de mim.

Não sou deus do outro
Todos têm o direito de existir.
Todos têm o direito de escolher
Seu caminho, seu modo de agir
E de enfrentar adversidades.
Minhas reações, meus padrões
Não servem à causa alheia
Através de imposições.

Humilhar, menosprezar,
Sempre achar um defeito, um problema,
Silenciar,
São exemplos de abuso,
Ainda que se diga amar.

Por isso, é preciso que eu fale
Através de um poema
A dor que me estrangula a alma
Antes que essa dor afete minha saúde
Ou com violência me lance contra quem amo.

Essa é a forma que encontrei
Para diluir a dor e a maldade
Do meu coração.
Minhas escolhas não são perfeitas,
Mas são minhas
Somente minhas.
Elas me caracterizam, são resultado do que sou.
Meus assuntos repetitivos
Demonstram o prazer da minha alma.
E não poder falar sobre eles
Me angustia, me silencia, me dói.

As pessoas com quem decidi caminhar
São meu deleite no momento
Não importa se podem desconfigurar.
A maldade está dentro de nós,
Ninguém é isento dela,
Ninguém.

Por isso afirmo:
Sou adulta, sim, por mais que não me reconheçam,
Por não enfrentar as coisas da mesma forma,
Por funcionar diferente.
Não preciso apresentar provas
Porque tudo o que digo
É desmerecido
É inútil,
Mesmo com respaldo de profissionais.

Assim, como num espelho
Que diante de mim todos os dias se coloca
Meus limites, minhas buscas,
Minhas tentativas de sobrevivência comigo mesma
E com os outros
Todas as lições que diariamente aprendo
São genuínas, são legítimas,
E não precisam da aprovação de ninguém.

Tanto abuso, tanta humilhação,
Tanto menosprezo, ridicularização
E silenciamento,
Tanta má interpretação,
Eu coloco de lado,
E com essas linhas
Processo meu sentimento.
Para viver e deixar viver
Quem pensa, age e reage
Diferentemente de mim.

Angela Natel 

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Diferente

Ninguém é dono da verdade
Por isso não posso medir os outros por mim.
Nem reconhecer maturidade
Somente em quem pensa como eu.

Discordar, divergir é natural.
Não somos robôs,
Respeito é fundamental
E deve ser também incondicional.

É preciso perceber nossos limites
Não exigir do outro alinhamento
Com meu padrão, minhas vontades, ideais,
E ignorar minha tirania de pensamento.

Sim, corro o risco de lutar contra o fascismo
Ao mesmo tempo em que cerceio a liberdade
Exigindo posturas, anulando o livre pensamento
Restringindo conversas, promovendo vaidade.

Assim, mantenho todos ao meu redor
Falando somente do que me diz respeito
Silenciando conversas de que não gosto,
Mantendo o mundo girando somente ao meu redor.

Determino o padrão a ser seguido
Em meu narcisismo ideológico.
Vejo a doença no outro, não em mim,
Mantenho o abuso psicológico.

E esse ciclo de traumas e tristezas
Se mantém vivo em minhas relações
Quando rapidamente respondo com violência
Sem cuidar para perceber as reais intenções
E possíveis interpretações.

Quando tudo o que o outro pensa,
Faz e sente é errado,
Ou provoca em mim desmerecimento
Ridicularização, silenciamento,
Quando tudo o que vejo no outro
Precisa ser corrigido
Menosprezado
Algo, sim, não está bem,
Mas se encontra dentro de mim.

Não sou deus do outro
Todos têm o direito de existir.
Todos têm o direito de escolher
Seu caminho, seu modo de agir
E de enfrentar adversidades.
Minhas reações, meus padrões
Não servem à causa alheia
Através de imposições.

Humilhar, menosprezar,
Sempre achar um defeito, um problema,
Silenciar,
São exemplos de abuso,
Ainda que se diga amar.

Por isso, é preciso que eu fale
Através de um poema
A dor que me estrangula a alma
Antes que essa dor afete minha saúde
Ou com violência me lance contra quem amo.

Essa é a forma que encontrei
Para diluir a dor e a maldade
Do meu coração.
Minhas escolhas não são perfeitas,
Mas são minhas
Somente minhas.
Elas me caracterizam, são resultado do que sou.
Meus assuntos repetitivos
Demonstram o prazer da minha alma.
E não poder falar sobre eles
Me angustia, me silencia, me dói.

As pessoas com quem decidi caminhar
São meu deleite no momento
Não importa se podem desconfigurar.
A maldade está dentro de nós,
Ninguém é isento dela,
Ninguém.

Por isso afirmo:
Sou adulta, sim, por mais que não me reconheçam,
Por não enfrentar as coisas da mesma forma,
Por funcionar diferente.
Não preciso apresentar provas
Porque tudo o que digo
É desmerecido
É inútil,
Mesmo com respaldo de profissionais.

Assim, como num espelho
Que diante de mim todos os dias se coloca
Meus limites, minhas buscas,
Minhas tentativas de sobrevivência comigo mesma
E com os outros
Todas as lições que diariamente aprendo
São genuínas, são legítimas,
E não precisam da aprovação de ninguém.

Tanto abuso, tanta humilhação,
Tanto menosprezo, ridicularização
E silenciamento,
Tanta má interpretação,
Eu coloco de lado,
E com essas linhas
Processo meu sentimento.
Para viver e deixar viver
Quem pensa, age e reage
Diferentemente de mim.

Angela Natel