Eis as acusações:
“Nasceu preto”
“Nasceu pobre”
“Nasceu, roubou e morreu.”
“Ah, mas roubo é crime.”
Crime de morte?
Vida por vida.
Apenas isso...
Cara suspeito
Algo na mão
Só por ser preto
“Deve ser culpado”
Chicoteado
Humilhado
Torturado.
Não foi por um chocolate,
Nem que fosse um celular.
Brancos não pagam assim.
Fora das câmeras, é um padrão
“Preto é suspeito”
“Preto é ladrão”
“Preto é amaldiçoado”
“Por isso é pobre.”
“Se errou, deve morrer.”
Assim se amontoam as acusações
De quem se diz cristão...
“África pobre por causa da feitiçaria...”
E os crentes com sua hipocrisia?
E as mentiras (fake News)?
E os subornos?
As agressões?
A fofoca?
A maledicência?
A sonegação?
Os abusos?
O orgulho?
O racismo?
Alegam meritocracia –
E revelam um deus injusto e incoerente –
Seu deus dinheiro...
Dor do preto
Dor do mundo
Dor, muita dor
Que se acumula no peito
E no dia a dia da sobrevivência.
Casas destruídas,
Moradores em situação de rua
sendo encharcados por mangueiras nas calçadas
“atrapalham o comércio”,
Considerados coisas, não humanos.
Tortura, morte, degradação,
E a língua dos acusadores se afia
Defendendo uma nação “judaico-cristã”,
Um “Estado Cristão”, uma teocracia racista.
Nação judaico-cristã?
Olho por olho, dente por dente.
O que significa?
Que uma vida não pode pagar por um objeto,
Que uma vida só pode pagar por outra vida...
E as implicações?
Jesus pagou com sua vida.
Ninguém mais precisa pagar...
Morre a acusação.
Quem ainda a defende, defende o indefensável
Defende o diabo e suas acusações.
Kategoreo, palavra grega, para acusação,
Acusar,
Classificar,
Categorizar,
Colocar rótulos e determinar,
Esse deve morrer, esse deve viver,
Esse deve pagar, esse merece sofrer.
Kategoreo,
Função do diabo,
Somos seus filhos,
Filhos do diabo
Etiquetando as vidas
Que devem morrer.
Angela Natel – 05/09/2019
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