terça-feira, 21 de maio de 2019

O cristão e a oração pelas autoridades


 
"Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade". (1 Timóteo 2.1-2)
 
"Vi recentemente um debate entre cristãos sobre qual deve ser a postura de muitos em relação ao presidente e autoridades políticas em geral. Há aqueles que afirmam que deve haver um apoio incondicional da igreja, e os que defendem uma oposição incondicional. Para além das pessoas que não se enquadram nesses extremos, achei curioso uns cristãos tidos como progressistas afirmando que não oram pelo presidente, pois, na visão deles, tal oração implicaria necessariamente em apoiar o seu governo. Nesse raciocínio, orar para esse governo "dar certo" seria torcer para que suas propostas sejam aprovadas, o que prejudicaria o povo. Já os cristãos tidos como conservadores afirmam a ideia de que toda autoridade é constituída por Deus, daí a oposição ao governo é pecaminosa por ser uma ação contra a ordenança divina. Não acho que a Matemática seja tão simples em nenhum dos dois casos.
 
Na verdade, crer que toda a autoridade é constituída por Deus não é o mesmo que dar uma carta branca ao governante, que poderia contar com a resignação dos cristãos. O que legitima um governante não é o fato de ocupar um cargo de autoridade, e sim o fato de que esse cargo deve cumprir uma função, daí sim ele será uma "autoridade autorizada" e legítima. No texto de Romanos 13, a função do governo é louvar e servir quem faz o bem, e punir os malfeitores. Logo, é o cumprimento dessa função que autoriza ou não um governante, conferindo-lhe legitimidade para governar. Um governo que não garante isso à sua população não está cumprindo a sua função, o que lhe traz uma "desautorização", legitimando a oposição, visto que é a consciência do cristão que serve de base para a sua obediência, e não o medo da punição. Mas, para além disso, há outras atribuições esperadas de um governante. Em Jeremias 22, Deus afirma que cabe a quem governa promover a justiça, o que não implica apenas em um aspecto punitivo, e sim em livrar as vítimas de opressores e proteger vulneráveis como o estrangeiro, o órfão e a viúva. Essa ação do governante está diretamente associada ao seu serviço a Deus, e seu descumprimento de função é tido como traição e idolatria, pois o próprio Deus é apresentado como quem alimenta o faminto, levanta os abatidos e se opõe aos perversos (Salmo 146), sendo essa a justiça que deve servir de base a qualquer governo. Como está no texto de 1 Timóteo 2, oramos para ter uma vida tranquila e pacífica, com piedade e dignidade, e não temos como viver dessa forma enquanto um governo promove injustiças.
 
Eu oro pelo presidente, para que Deus lhe guarde e dê sabedoria, e oro para que Deus não permita a aprovação das reformas propostas pelo atual governo. Isso está longe de ser uma infantilidade como "torcer contra" (quem fala isso deve achar que um time de futebol vence em função de sua torcida, e não da qualidade do time ou da equipe técnica). Na verdade, a questão está precisamente em definir o que é "dar certo". Há quem entenda que para um governo "dar certo" ele tem que aprovar as suas propostas e promover o crescimento da economia do país. Tal pensamento está incorreto, pois um país que enriquece, e não garante o direito dos mais pobres, não está cumprindo sua função, que é, antes de tudo, promover uma justiça de restauração aos carentes. Para um governo dar certo, seu cuidado deve ser primeiramente com os mais pobres e vulneráveis social e economicamente. É nesse sentido que eu oro: para que o governo tenha sucesso na garantia de direitos aos que passam mais dificuldades. Se o governo se propõe a fazer o contrário disso, eu mantenho a minha oração, que necessariamente será contrária a quem esteja ocupando um cargo de governo.
 
Figuras como Bolsonaro, Dória, Witzel, dentre outros, são desprezíveis politicamente, pois querem por em prática políticas perversas que prejudicam diretamente os mais pobres. Ainda assim, sendo governantes, oro por eles, para que mudem de postura, e lhes faço oposição, pois enquanto mantém suas políticas desumanas eles perdem a legitimidade e o consentimento popular para continuarem seus governos. Importante dizer que qualquer apoio ou oposição a um governo não envolve necessariamente a ideologia do mesmo, e sim uma análise de como suas propostas podem promover uma vida tranquila e a liberdade à sua população, o que está de acordo com a justiça divina. Vale ressaltar que em uma Democracia a autoridade primeira não é o governante, mas o povo, que pode desautorizar e retirar do poder quem ocupa um cargo político. Se tais governantes não mudarem de postura, e mantiverem propostas contrárias à justiça divina, eu os tenho como inimigos, e farei toda oposição possível para que seus governos não realizem suas práticas perversas, mas ainda assim manterei minha oração para que Deus os abençoe e mude seus corações, mesmo que isso não ocorra, ou que seja preciso o fim do seu governo. Afinal, não devemos orar só por nossos amigos, mas também pelos nossos inimigos e pelos que nos perseguem. Quando não aceito as atrocidades de governantes, e rogo em suas vidas o amor divino, estou lhes fazendo oposição, e reconhecendo que Deus não legitima governos que não sejam promotores da vida."
 

Nenhum comentário:

O cristão e a oração pelas autoridades


 
"Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade". (1 Timóteo 2.1-2)
 
"Vi recentemente um debate entre cristãos sobre qual deve ser a postura de muitos em relação ao presidente e autoridades políticas em geral. Há aqueles que afirmam que deve haver um apoio incondicional da igreja, e os que defendem uma oposição incondicional. Para além das pessoas que não se enquadram nesses extremos, achei curioso uns cristãos tidos como progressistas afirmando que não oram pelo presidente, pois, na visão deles, tal oração implicaria necessariamente em apoiar o seu governo. Nesse raciocínio, orar para esse governo "dar certo" seria torcer para que suas propostas sejam aprovadas, o que prejudicaria o povo. Já os cristãos tidos como conservadores afirmam a ideia de que toda autoridade é constituída por Deus, daí a oposição ao governo é pecaminosa por ser uma ação contra a ordenança divina. Não acho que a Matemática seja tão simples em nenhum dos dois casos.
 
Na verdade, crer que toda a autoridade é constituída por Deus não é o mesmo que dar uma carta branca ao governante, que poderia contar com a resignação dos cristãos. O que legitima um governante não é o fato de ocupar um cargo de autoridade, e sim o fato de que esse cargo deve cumprir uma função, daí sim ele será uma "autoridade autorizada" e legítima. No texto de Romanos 13, a função do governo é louvar e servir quem faz o bem, e punir os malfeitores. Logo, é o cumprimento dessa função que autoriza ou não um governante, conferindo-lhe legitimidade para governar. Um governo que não garante isso à sua população não está cumprindo a sua função, o que lhe traz uma "desautorização", legitimando a oposição, visto que é a consciência do cristão que serve de base para a sua obediência, e não o medo da punição. Mas, para além disso, há outras atribuições esperadas de um governante. Em Jeremias 22, Deus afirma que cabe a quem governa promover a justiça, o que não implica apenas em um aspecto punitivo, e sim em livrar as vítimas de opressores e proteger vulneráveis como o estrangeiro, o órfão e a viúva. Essa ação do governante está diretamente associada ao seu serviço a Deus, e seu descumprimento de função é tido como traição e idolatria, pois o próprio Deus é apresentado como quem alimenta o faminto, levanta os abatidos e se opõe aos perversos (Salmo 146), sendo essa a justiça que deve servir de base a qualquer governo. Como está no texto de 1 Timóteo 2, oramos para ter uma vida tranquila e pacífica, com piedade e dignidade, e não temos como viver dessa forma enquanto um governo promove injustiças.
 
Eu oro pelo presidente, para que Deus lhe guarde e dê sabedoria, e oro para que Deus não permita a aprovação das reformas propostas pelo atual governo. Isso está longe de ser uma infantilidade como "torcer contra" (quem fala isso deve achar que um time de futebol vence em função de sua torcida, e não da qualidade do time ou da equipe técnica). Na verdade, a questão está precisamente em definir o que é "dar certo". Há quem entenda que para um governo "dar certo" ele tem que aprovar as suas propostas e promover o crescimento da economia do país. Tal pensamento está incorreto, pois um país que enriquece, e não garante o direito dos mais pobres, não está cumprindo sua função, que é, antes de tudo, promover uma justiça de restauração aos carentes. Para um governo dar certo, seu cuidado deve ser primeiramente com os mais pobres e vulneráveis social e economicamente. É nesse sentido que eu oro: para que o governo tenha sucesso na garantia de direitos aos que passam mais dificuldades. Se o governo se propõe a fazer o contrário disso, eu mantenho a minha oração, que necessariamente será contrária a quem esteja ocupando um cargo de governo.
 
Figuras como Bolsonaro, Dória, Witzel, dentre outros, são desprezíveis politicamente, pois querem por em prática políticas perversas que prejudicam diretamente os mais pobres. Ainda assim, sendo governantes, oro por eles, para que mudem de postura, e lhes faço oposição, pois enquanto mantém suas políticas desumanas eles perdem a legitimidade e o consentimento popular para continuarem seus governos. Importante dizer que qualquer apoio ou oposição a um governo não envolve necessariamente a ideologia do mesmo, e sim uma análise de como suas propostas podem promover uma vida tranquila e a liberdade à sua população, o que está de acordo com a justiça divina. Vale ressaltar que em uma Democracia a autoridade primeira não é o governante, mas o povo, que pode desautorizar e retirar do poder quem ocupa um cargo político. Se tais governantes não mudarem de postura, e mantiverem propostas contrárias à justiça divina, eu os tenho como inimigos, e farei toda oposição possível para que seus governos não realizem suas práticas perversas, mas ainda assim manterei minha oração para que Deus os abençoe e mude seus corações, mesmo que isso não ocorra, ou que seja preciso o fim do seu governo. Afinal, não devemos orar só por nossos amigos, mas também pelos nossos inimigos e pelos que nos perseguem. Quando não aceito as atrocidades de governantes, e rogo em suas vidas o amor divino, estou lhes fazendo oposição, e reconhecendo que Deus não legitima governos que não sejam promotores da vida."