segunda-feira, 8 de abril de 2019

80 tiros


80 tiros. "ACHO que aquele carro ali é de criminosos. Soldados, apontar... fuzilar!" 80 tiros. "Soldados, acho que me enganei. Ainda bem que o nosso rei nos protegerá." 80 tiros num trabalhador. Soldados, fardados, meninos, assassinos, treinados para matar. "Inocente sempre morrerá!" - disse o capitão e o governador. Um governo de terror, liderado por um capitão reformado por expulsão, especializado em matar. E num momento, o fuzilamento de um pai diante de sua família. Sem ordem para parar. Sem nada. A quadrilha fardada simplesmente atirou. O terror em nossas ruas, promovido também pelo governo e seu exército exterminador do seu próprio povo. De novo, governo militarizado, povo acuado. Mas agora, por escolha do povo. De novo, os militares podem tudo, até fazer 80 disparos contra um carro considerado "suspeito". "Todo direito emana dos quartéis, e todo poder." Para morrer, basta avançar uma blitz, basta estacionar um carro na vila militar, basta passar perto de soldados, meninos, assassinos, fuziladores oficiais. É fácil morrer. O moço ia, com sua família, para um chá de bebê. Não havia tiroteio, perseguição, falsa blitz de traficante, nada demais. Os criminosos oficiais atiraram porque deu vontade. Sem abordagem, sem "levante as mãos", sem nada. 80 balas achadas disparadas por meninos, assassinos, treinados para matarem seu próprio povo. Se deram esse direito. O moço era preto, portanto, suspeito, portanto, morreu executado, "para aprender a não vir preto, de novo, se houver reencarnação". "Infeliz é a nação que o deus do ódio domina", que treina tropa assassina, de novo. "E o povo como está? Tá com a corda no pescoço." "Tá osso", como diz meu menino. "Maldito seja o soldado assassino que mata seu próprio povo". Maldito seja o comandante que ordena. Maldito seja cada um que diante daquela cena procura justificativa para culpar a vítima pelo seu próprio assassinato e legitimar a ação da quadrilha oficial esverdeada. Maldita seja cada bala disparada por cada soldado assassino, por cada menino treinado para matar. E alguém ainda me dirá: "O tráfico mata todo dia!" E esse argumento colocará o exército emparelhado com o crime organizado. Não deveria ser. Para morrer, basta avançar um sinal, um gesto, ou basta fazer uma paradinha, basta passar na linha dos militares fardados, perto de meninos esverdeados treinados para disparar 80 tiros contra o carro de um cidadão. Maldita a nação que troca a paz por um satanás materializado que legitima um soldado atirar contra o seu povo. De novo. E pelo voto popular.

Isac Machado de Moura

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80 tiros


80 tiros. "ACHO que aquele carro ali é de criminosos. Soldados, apontar... fuzilar!" 80 tiros. "Soldados, acho que me enganei. Ainda bem que o nosso rei nos protegerá." 80 tiros num trabalhador. Soldados, fardados, meninos, assassinos, treinados para matar. "Inocente sempre morrerá!" - disse o capitão e o governador. Um governo de terror, liderado por um capitão reformado por expulsão, especializado em matar. E num momento, o fuzilamento de um pai diante de sua família. Sem ordem para parar. Sem nada. A quadrilha fardada simplesmente atirou. O terror em nossas ruas, promovido também pelo governo e seu exército exterminador do seu próprio povo. De novo, governo militarizado, povo acuado. Mas agora, por escolha do povo. De novo, os militares podem tudo, até fazer 80 disparos contra um carro considerado "suspeito". "Todo direito emana dos quartéis, e todo poder." Para morrer, basta avançar uma blitz, basta estacionar um carro na vila militar, basta passar perto de soldados, meninos, assassinos, fuziladores oficiais. É fácil morrer. O moço ia, com sua família, para um chá de bebê. Não havia tiroteio, perseguição, falsa blitz de traficante, nada demais. Os criminosos oficiais atiraram porque deu vontade. Sem abordagem, sem "levante as mãos", sem nada. 80 balas achadas disparadas por meninos, assassinos, treinados para matarem seu próprio povo. Se deram esse direito. O moço era preto, portanto, suspeito, portanto, morreu executado, "para aprender a não vir preto, de novo, se houver reencarnação". "Infeliz é a nação que o deus do ódio domina", que treina tropa assassina, de novo. "E o povo como está? Tá com a corda no pescoço." "Tá osso", como diz meu menino. "Maldito seja o soldado assassino que mata seu próprio povo". Maldito seja o comandante que ordena. Maldito seja cada um que diante daquela cena procura justificativa para culpar a vítima pelo seu próprio assassinato e legitimar a ação da quadrilha oficial esverdeada. Maldita seja cada bala disparada por cada soldado assassino, por cada menino treinado para matar. E alguém ainda me dirá: "O tráfico mata todo dia!" E esse argumento colocará o exército emparelhado com o crime organizado. Não deveria ser. Para morrer, basta avançar um sinal, um gesto, ou basta fazer uma paradinha, basta passar na linha dos militares fardados, perto de meninos esverdeados treinados para disparar 80 tiros contra o carro de um cidadão. Maldita a nação que troca a paz por um satanás materializado que legitima um soldado atirar contra o seu povo. De novo. E pelo voto popular.

Isac Machado de Moura

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