quinta-feira, 11 de março de 2010

Bigbrotherizando as nossas vidas

Por Alexandre Inagaki . 11.03.10 - 09h42

Bigbrotherizando as nossas vidas

Eu, que sou do tempo em que Marisa Orth apresentava o Big Brother Brasil ao lado de Pedro Bial, no cada vez mais distante ano de 2002, ainda fico estarrecido quando descubro que nada menos que 20% dos adolescentes americanos já fizeram fotos ou vídeos nus ou seminus, a fim de publicá-los online ou enviar para algum amiguinho.

Para uma geração que possui ídolos como Paris Hilton ou Vanessa Hudgens, ambas desnudadas publicamente em poses e vídeos amadores que caíram na rede para o deleite dos onanistas de plantão, compartilhar imagens do próprio corpo torna-se um comportamento cada vez mais corriqueiro. A tecnologia facilita a autoexposição, e a falta de noção generalizada nesta era de reality shows garante a produção contínua de novos conteúdos para sites como Pérolas do Orkut.

Redes sociais combinam perfeitamente com esta era, facilitando o compartilhamento de informações que deveriam ficar restritas à intimidade de certos Joselitos, que pensam que outras pessoas anseiam por saber como anda a consistência de suas fezes ou o cardápio de seu café da manhã. Comportamento temerário, em tempos nos quais tudo que você publica na internet pode ser delatado por ferramentas de busca. O que dizer de pessoas que postam no Twitter ou Facebook que seus trabalhos são chatos ou tediosos, feito Connor Riley e Kimberley Swann, e levaram um pé na bunda 2.0? Ou de gente que participa de algum processo de seleção, mas participa no Orkut de comunidades como “Eu Tenho Preguiça e Sou Feliz” ou “Eu Uso MSN no Trabalho”?

É lógico que imputar toda a culpa dessa era de autoexposição à internet e às mídias sociais em especial é como responsabilizar uma página em branco pelos crimes à literatura cometidos por autores de livros de autoajuda, ou afirmar que uma pessoa se tornou violenta porque viu muitos desenhos do Pica-Pau na infância. Porém, ao ver a quantidade de pessoas teoricamente bem esclarecidas que importunam os outros enviando todo santo dia “presentinhos” do Farmville, tuitam confidências amorosas ou informam o endereço completo de suas residências no Foursquare (rede social que inspirou a criação do site “Por Favor, Roube-me”), a conclusão a que chego é de que bom senso deixou de ser atributo default e passou a tornar-se qualidade cada vez mais rara.

Será que as escolas em breve precisarão criar disciplinas de netiqueta ensinando que não se deve aceitar balas nem e-mails com arquivos em anexo de estranhos? Ou que tudo que é publicado em uma página na internet é registrado e fica ao alcance de ferramentas de busca, podendo ser usado contra você um dia desses? Provavelmente. Afinal de contas, já vivemos uma época na qual câmeras de vigilância e sites como o Google Street View flagram nossos passos sem que percebamos. E, a partir do momento em que aplicativos como o Recognizr (um software de reconhecimento facial capaz de informar a qualquer estranho qual é o seu perfil no Facebook ou Twitter a partir de uma foto sua) tornarem-se de uso recorrente, orientar incautos a evitar o compartilhamento de certos dados pessoais em qualquer site será precaução tão importante quanto olhar para os lados antes de atravessar uma rua.

The Times They Are A-Changin’”. E, como bem afirmou Bob Dylan, “é melhor você começar a nadar ou você afundará feito uma pedra”. Saber aproveitar os novos recursos tecnológicos, a fim de fazer novos amigos e contatos em vez de carbonizar seu filme, é pré-requisito essencial em tempos nos quais o tradicional curriculum vitae está sendo substituído por um perfil no LinkedIn. Redes sociais são como cadernos em branco, que podem ser utilizados para escrever receitas de quiche, teses de doutorado, confissões sexuais ou poemas dadaístas: o meio não importa tanto quanto o conteúdo. Só não se esqueça que, ao contrário dos cadernos de celulose, tudo que você posta na Web pode cair direto na rede de qualquer pescador virtual. Uma vez pressionada a tecla “Enter”, um abraço. Neste estranho e admirável mundo novo, cada um de nós é o protagonista e o Boninho da bigbrotherização de nossas próprias vidas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não tenho nada a acrescentar a esse texto!
Incrível como a gente pensa que esses são erros cometidos por crianças inexperientes - mas, na verdade, são erros cometidos por adultos que deveriam ter juízo mas não tem.

Mal tenho Blog e olha lá!
Me recuso a entrar pra qualquer rede social - mesmo porque muitas pessoas se ofenderiam comigo ao serem rejeitadas como "amigo" virtual.
Captain Forr

SamiAguiar disse...

Sinceramente não entendo: as pessoas reclamam de liberdade, mas querem ser vistas a todo o custo! Pois é, "liberdade é escravidão", diz no livro do Big Brother. Coisas da vida.

Guria, se quiseres manter aquele papo que alinhavamos em outra oportunidade, tô por ti, só combinarmos, no horário que quiseres. Não tenho problemas com o findi, tá? Bjo!

Bigbrotherizando as nossas vidas

Por Alexandre Inagaki . 11.03.10 - 09h42

Bigbrotherizando as nossas vidas

Eu, que sou do tempo em que Marisa Orth apresentava o Big Brother Brasil ao lado de Pedro Bial, no cada vez mais distante ano de 2002, ainda fico estarrecido quando descubro que nada menos que 20% dos adolescentes americanos já fizeram fotos ou vídeos nus ou seminus, a fim de publicá-los online ou enviar para algum amiguinho.

Para uma geração que possui ídolos como Paris Hilton ou Vanessa Hudgens, ambas desnudadas publicamente em poses e vídeos amadores que caíram na rede para o deleite dos onanistas de plantão, compartilhar imagens do próprio corpo torna-se um comportamento cada vez mais corriqueiro. A tecnologia facilita a autoexposição, e a falta de noção generalizada nesta era de reality shows garante a produção contínua de novos conteúdos para sites como Pérolas do Orkut.

Redes sociais combinam perfeitamente com esta era, facilitando o compartilhamento de informações que deveriam ficar restritas à intimidade de certos Joselitos, que pensam que outras pessoas anseiam por saber como anda a consistência de suas fezes ou o cardápio de seu café da manhã. Comportamento temerário, em tempos nos quais tudo que você publica na internet pode ser delatado por ferramentas de busca. O que dizer de pessoas que postam no Twitter ou Facebook que seus trabalhos são chatos ou tediosos, feito Connor Riley e Kimberley Swann, e levaram um pé na bunda 2.0? Ou de gente que participa de algum processo de seleção, mas participa no Orkut de comunidades como “Eu Tenho Preguiça e Sou Feliz” ou “Eu Uso MSN no Trabalho”?

É lógico que imputar toda a culpa dessa era de autoexposição à internet e às mídias sociais em especial é como responsabilizar uma página em branco pelos crimes à literatura cometidos por autores de livros de autoajuda, ou afirmar que uma pessoa se tornou violenta porque viu muitos desenhos do Pica-Pau na infância. Porém, ao ver a quantidade de pessoas teoricamente bem esclarecidas que importunam os outros enviando todo santo dia “presentinhos” do Farmville, tuitam confidências amorosas ou informam o endereço completo de suas residências no Foursquare (rede social que inspirou a criação do site “Por Favor, Roube-me”), a conclusão a que chego é de que bom senso deixou de ser atributo default e passou a tornar-se qualidade cada vez mais rara.

Será que as escolas em breve precisarão criar disciplinas de netiqueta ensinando que não se deve aceitar balas nem e-mails com arquivos em anexo de estranhos? Ou que tudo que é publicado em uma página na internet é registrado e fica ao alcance de ferramentas de busca, podendo ser usado contra você um dia desses? Provavelmente. Afinal de contas, já vivemos uma época na qual câmeras de vigilância e sites como o Google Street View flagram nossos passos sem que percebamos. E, a partir do momento em que aplicativos como o Recognizr (um software de reconhecimento facial capaz de informar a qualquer estranho qual é o seu perfil no Facebook ou Twitter a partir de uma foto sua) tornarem-se de uso recorrente, orientar incautos a evitar o compartilhamento de certos dados pessoais em qualquer site será precaução tão importante quanto olhar para os lados antes de atravessar uma rua.

The Times They Are A-Changin’”. E, como bem afirmou Bob Dylan, “é melhor você começar a nadar ou você afundará feito uma pedra”. Saber aproveitar os novos recursos tecnológicos, a fim de fazer novos amigos e contatos em vez de carbonizar seu filme, é pré-requisito essencial em tempos nos quais o tradicional curriculum vitae está sendo substituído por um perfil no LinkedIn. Redes sociais são como cadernos em branco, que podem ser utilizados para escrever receitas de quiche, teses de doutorado, confissões sexuais ou poemas dadaístas: o meio não importa tanto quanto o conteúdo. Só não se esqueça que, ao contrário dos cadernos de celulose, tudo que você posta na Web pode cair direto na rede de qualquer pescador virtual. Uma vez pressionada a tecla “Enter”, um abraço. Neste estranho e admirável mundo novo, cada um de nós é o protagonista e o Boninho da bigbrotherização de nossas próprias vidas.