domingo, 7 de outubro de 2018

Chamado missionário: necessário para quem?




“Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos.
O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam;
mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos.” (Lc. 17:26 a 29)

“Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas.” (Mt. 14:28)

O mundo que nos cerca constantemente nos faz pensar que estamos vivendo os dias apocalípticos preditos por Jesus na passagem de Lucas acima. Por causa disso, líderes cristãos no mundo todo estão sendo compelidos a pregar mais ousadamente no que diz respeito a desafiar as pessoas (principalmente jovens) para o trabalho missionário. Mas a grande pergunta é: O chamado missionário é necessário para quem?
A televisão é apenas mais um meio de termos as provas do fim de nossos dias. Há guerra e rumores de guerra por todos os lados. Israel (mesmo para quem não dá muita importância para esse país e esse povo) tem chamado a atenção no cenário mundial. A cada dia que passa surge maior necessidade de um líder mundial que unifique o pensamento, a política e a economia do mundo a fim de salvar o que sobrou da humanidade. Estamos presenciando um caos generalizado. O mundo precisa de ajuda.
Como nos dias de Noé e de Ló assistimos inquietos a depravação humana mobilizada em atos públicos a influenciar gratuitamente nossos filhos. Perdemos, como Igreja, muitas vezes o sono e a voz ao tentar mudar o destino de nossa cidade, nossa nação, na esperança de ser “uma voz que clama no deserto”, como foi a voz de Noé e a voz de Abraão – o intercessor (Gn. 18) na época de Ló. Mas o que tememos nos sobrevém: poucos ouvem, e a história se repete. A Igreja precisa ser ouvida.
É por isso que surge, entre os líderes que se chamam pelo nome do Senhor, um clamor dentro das Igrejas, desafiando aqueles cujo coração arde pela transformação de nossa geração. São os apelos missionários – desafios para as pessoas (principalmente aqueles de quem se espera que vivam mais – os jovens) abrirem mão de suas famílias, seus bens e seu conforto a fim de seguir para um lugar onde a necessidade da Palavra de Deus e da pregação do Evangelho se mostre mais urgente. Com isso, nossas igrejas têm assumido uma responsabilidade há muito esquecida – a de ser testemunha simultaneamente “ tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, Samaria, até os confins da terra” (At. 1:8). Os cristãos precisam obedecer.
A partir disso, temos três personagens em nossa história do fim: o mundo afundado no pecado, a Igreja cristã como um todo e, em terceiro lugar, individualmente, cada cristão. Quem precisa desesperadamente que haja um chamado missionário? Quem precisa desse chamado?
Nos anos que o Senhor tem me dado de preparo e tantas experiências dentro e fora do Brasil, sou constrangida a dizer que quem mais precisa da urgência de um chamado sou eu, individualmente, como cristã. 
O mundo não precisa de nós. O mundo precisa de Jesus, e Ele mesmo pode Se revelar sobrenaturalmente aos perdidos, como já fez em várias ocasiões. A Igreja como um todo não precisa ser bem sucedida em seus gritos de “Arrependam-se”. Sucesso nunca foi uma questão no Reino de Deus, fidelidade sim. 
Então resta cada um de nós, cristãos, que afirmamos ter um único Senhor, Jesus, como Rei e dono de nossas vidas. Nós sim, precisamos desesperadamente de um chamado, como Pedro dentro daquele barco no meio da madrugada, a dizer: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas” (Mt. 14:28), nós precisamos urgentemente do chamado do Senhor. Precisamos desse chamado, não para fazer um favor para Deus, nem para o mundo, nem aliviar a consciência de nossos líderes ou Igrejas, mas precisamos desse chamado para, como Pedro, reconhecer quem é o Senhor no meio de tudo o que nos cerca.
Como nos dias de Noé ou nos dias de Ló, tudo ao redor deles cheirava maldade e engano, era difícil perceber a ação soberana de Deus ou mesmo reconhecer quem Deus era a despeito de toda aquela realidade. E, na madrugada dentro do barco, Pedro sentiu a necessidade de reconhecer Jesus a despeito da escuridão que o cercava. Ele precisava de um chamado, precisava de um chamado para ir ao encontro de Jesus, e tocá-lO.
Hoje, mais do que em qualquer época de minha vida, percebo o quanto o chamado missionário vem cumprir seu propósito quando, em meio a tudo o que me parece estranho, vejo Jesus como nunca O vi antes, o conheço de uma forma que em lugar nenhum no mundo eu poderia conhecê-lO, vejo-O ao andar sobre as águas, ao sair do meu barco, vencer meus medos e responder Seu chamado. 
É disso que, como cristãos, precisamos. O mundo não precisa de nós, Deus mesmo não precisa de nós, nós é que precisamos desse chamado do Senhor. Por isso eu desafio você a se colocar diante do Filho de Deus hoje e dizer como Pedro: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas”, para onde for, da maneira que for, mostra-me o teu chamado para mim, e eu irei te encontrar lá.

Angela Natel
14/11/06 – Tete – Moçambique

sábado, 6 de outubro de 2018

Farisaísmo e o fantasma do quarto 23






Iniciei minhas atividades no segundo ano da faculdade de teologia com a proposta de estagiar num lar para idosos todas as terças feiras pela manhã. O trabalho é simples, de capelania, através do qual eu e mais duas colegas somos desafiadas no contato com as mais diversas necessidades humanas.
Dentro desse ambiente, não pude deixar de notar painéis eletrônicos espalhados pelas dependências principais do lar. Já em meu segundo dia de estágio, percebi que todos piscavam continuamente o número 23. Ao indagar o significado disso, foi-me dito que a finalidade dos painéis era de avisar um morador com necessidades urgentes, chamando enfermeiros. Como o número permanecia piscando por mais de meia hora e nada se fazia, decidimos ir verificar a necessidade do morador do quarto 23.
Qual não foi a nossa surpresa quando nos deparamos com um quarto trancado, vazio. Lá estava uma incógnita. Já que não havia ninguém, por que o painel permanecia piscando esse número?
Interessante notar que a nossa conclusão foi imediata: havia um mal contato nos fios, que mantinha o painel conectado ao quarto 23. Depois virou piada entre as estagiárias, o ‘fantasma do quarto 23’, que usamos com algumas enfermeiras mais tarde, para descontrair.
No mundo natural é muito fácil nos desvencilharmos das aparências para buscar uma explicação mais aprofundada para determinada situação. Parece que o mundo está muito melhor preparado para ir além da superfície do que muitos cristãos.
Jesus abordou o problema da superficialidade em Mateus 23, quando confrontou as multidões a respeito da religiosidade:

1 Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo:
2 Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus.
3 Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam.
4 Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
5 Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos;
6 gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas,
7 das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi.
8 Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos.
9 E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus.
10 Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo.
11 Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo.
12 Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.
13 Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.
14 [Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis longas orações; por isso recebereis maior condenação.]
15 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós.
16 Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo ouro do santuário, esse fica obrigado ao que jurou.
17 Insensatos e cegos! Pois qual é o maior; o ouro, ou o santuário que santifica o ouro?
18 E: Quem jurar pelo altar, isso nada é; mas quem jurar pela oferta que está sobre o altar, esse fica obrigado ao que jurou.
19 Cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta?
20 Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo quanto sobre ele está;
21 e quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita;
22 e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.
23 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.
24 Guias cegos! que coais um mosquito, e engulis um camelo.
25 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança.
26 Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo, para que também o exterior se torne limpo.
27 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia.
28 Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.
29 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos,
30 e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o sangue dos profetas.
31 Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois filhos daqueles que mataram os profetas.
32 Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
33 Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
34 Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade;
35 para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar.
36 Em verdade vos digo que todas essas coisas hão de vir sobre esta geração.
37 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!
38 Eis aí abandonada vos é a vossa casa.
39 Pois eu vos declaro que desde agora de modo nenhum me vereis, até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

Quando Jesus aborda os princípios que agradam a Deus, deixa bem claro que a superficialidade da religião é inútil diante do verdadeiro arrependimento. Sinais externos piscando necessidades da carne, fazendo barulho e chamando a atenção, não representam um verdadeiro relacionamento com Deus e comprometimento com a verdade.
À medida em que nos aproximamos cada vez mais da vida que há em Cristo Jesus e nos submetemos a conhecer cada vez mais Suas Palavras (sem achar que nosso conhecimento básico e superficial vai nos projetar automaticamente para dentro do Reino de Deus), vamos sendo trabalhados em nosso caráter e prioridades.
Precisamos parar de julgar as pessoas pelo que achamos certo ou errado, precisamos parar de piscar nossos sinais de alerta quando uma imagem não se encaixa em nosso padrão de religiosidade. Precisamos deixar de lado essa constante mania que temos de rotular aqueles que nos rodeiam e parar de construir muros ao invés de derrubá-los.
A Igreja é para todos, assim como Jesus veio para os doentes e pecadores. O que a Bíblia deixa em aberto não deve ser a base de nossa fé e relacionamento mútuo. Somos chamados a desmascarar esse fantasma da religiosidade em nosso meio.
Um sepulcro caiado (pintado de cal – branquinho por fora, mas cheio de podridão por dentro) é como o fantasma do quarto 23 – aparenta uma coisa, mas não passa de um quarto vazio com problemas técnicos.

Angela Natel

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Inbox



There is a message for you
Somewhere out there.
You can find it if you seek
In the right places, from your heart.

You can check on your voicemail
To try to understand.
You can read it and do it right
If you’re ready to be in charge.

Don’t be afraid about the subject
Cause if you received, you're able to fulfill.
Don't be scared about the challenge
The light will shine if you just turn it on.

There is only one message for you
Where it is less expected
To teach you how to walk by faith
Through the darkness of this evil age.

Angela Natel – 31/12/2014

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Preço



Disseram-me para ficar à vontade
Mostrar quem sou e escolher.
Quiseram ver a outra metade
Aquela que tentei esconder.

Disseram que tudo era meu
Desde que pudesse pagar
Insistiram, até que o cansaço venceu
E não pude deixar de falar.

Assim que mostrei opinião
E minha face revelei
Perdi de todo o meu chão
Um gancho de esquerda levei.

Apesar de palavras bonitas
E um sorriso dissimulado
vi-me só e arrependida
foi-se quem estava ao meu lado.

Liberdade tem um preço
Que poucos querem pagar.
Viraram-me do avesso
Esqueceram-se de amar.

Angela Natel – 31/12/2014.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Ação de graças



Só tenho motivos para agradecer...
As dores não apagam as bênçãos
A tristeza não sufoca a graça.

Porque se por algum momento eu me levantar
E num ímpeto exigir o que me é por direito
Tudo o que receberei justamente
Por mérito, esforço próprio, merecimento
É a mais pura condenação.

Pensando nisso não posso reclamar
E, apesar das lágrimas que ainda insisto em derramar
Mesmo assim, como Habacuque, vou me levantar
E dizer insistentemente: Obrigada, Senhor.

Ainda que eu erre, ainda que eu tropece,
Mesmo que não haja reconhecimento,
Não receba a recompensa do trabalho duro,
Ainda que me deixem na mão
Não há nada que te faças falhar.

Ainda assim teu amor é supremo,
Tua graça me acolhe
E recebo teu favor.
Por misericórdias que de modo novo se apresentam
A cada dia para mim
Em meio às trevas um caminho se abre
E a esperança não encontra seu fim.

Mesmo com todas as críticas
E exigências de minha própria teologia
Dobro-me ante a tua presença
Porque transcendes a tudo
Não te prendes ao meu próprio entendimento.

Tenho peito para confrontar quem quer que seja
E argumentar sem medo, mesmo errando em pensamento.
Mas contigo a história muda de figura
Porque nada se compara, nada se iguala
Nem poder, nem diabos,
Ou qualquer coisa que exista
Pode equivaler-se a Ti.

Sou tão grata por ter em ti meu porto seguro,
Que não se abala nem com a minha falha teologia,
Muito menos com as besteiras que apronto
Ou com meus momentos de pura letargia.

Nada te ameaça, nada te surpreende.
E te sou tão grata,
Em ti encontro meu propósito
Em ti tenho a alma saciada.

É por isso que a ti, somente dirijo minhas preces
Para dizer-te: muito obrigada.

Angela Natel – 28/11/2014.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Encanto



O que me encanta nesta vida
Não é o urro dos bravos
Muito menos um elogio gritado
Ou pichado nas paredes do coração.

O que me encanta não são promessas vazias
Que se perdem na noite fria
Do esquecimento e da falta de perdão.

O que me encanta não são grandes feitos
E provas de um suposto amor bandido
Ou shows pirotécnicos, serenata na varanda
Muito menos um carro de som na minha porta.

O que me encanta vai muito além de joias caras
Um jantar à luz de velas,
um buquê de flores
Ou homenagens vazias de alguém que não se importa.

De todos os encantos que já tive
As coisas simples é que me atingem
Lá no fundo do coração.

É o canto dos pássaros,
um livro que me fale n’alma
uma promessa cumprida
alguém que me estenda a mão.

Sim, me encanta a vida compartilhada,
Uma dívida perdoada
Misericórdia, compreensão.

O que prossegue em me encantar
É não falar de mim para outros
Não prometer nunca sem compromisso
Procurar-me sem nenhuma intenção.

Admiro quem tem a coragem
De falar sempre a verdade
Ainda que riscos possa correr.

Sempre deslumbrada fico
Quando permanecem ao lado
Mesmo que nada eu tenha para oferecer.

Me encanta quem nunca desiste
Quem se mantém a despeito das circunstâncias
Quem não tem medo de morrer.

Por isso o encanto se desdobra
No milagre do amor que não cobra
No doar-se enquanto viver.

Angela Natel – 26/11/2014

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Desesperança



Sombra que caminha solitária
Não pode contar com ninguém
E quando lhe estendem a mão
Perde até o que não tem.

Pena que despenca da montanha
Cuja alegria não reluz
Se alguém a espera ansioso
É por interesse que lhe seduz.

Fogo que arde na floresta
Consumindo a si mesmo em dor
Ainda que alguém se aqueça
Será consumido sem seu amor.

Pedra que é posta sobre outra pedra
Trabalha, trabalha, até se cansar.
Mesmo que alguém a reconheça
Não existe quem queira lhe sustentar.

Esperança que habita em meu coração
Cresce e se agita dentro de mim
Ainda que alguém me dirija a palavra
À esperança não atende, e esta chega a seu fim.

Angela Natel – 14/11/2014.

Chamado missionário: necessário para quem?




“Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos.
O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam;
mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos.” (Lc. 17:26 a 29)

“Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas.” (Mt. 14:28)

O mundo que nos cerca constantemente nos faz pensar que estamos vivendo os dias apocalípticos preditos por Jesus na passagem de Lucas acima. Por causa disso, líderes cristãos no mundo todo estão sendo compelidos a pregar mais ousadamente no que diz respeito a desafiar as pessoas (principalmente jovens) para o trabalho missionário. Mas a grande pergunta é: O chamado missionário é necessário para quem?
A televisão é apenas mais um meio de termos as provas do fim de nossos dias. Há guerra e rumores de guerra por todos os lados. Israel (mesmo para quem não dá muita importância para esse país e esse povo) tem chamado a atenção no cenário mundial. A cada dia que passa surge maior necessidade de um líder mundial que unifique o pensamento, a política e a economia do mundo a fim de salvar o que sobrou da humanidade. Estamos presenciando um caos generalizado. O mundo precisa de ajuda.
Como nos dias de Noé e de Ló assistimos inquietos a depravação humana mobilizada em atos públicos a influenciar gratuitamente nossos filhos. Perdemos, como Igreja, muitas vezes o sono e a voz ao tentar mudar o destino de nossa cidade, nossa nação, na esperança de ser “uma voz que clama no deserto”, como foi a voz de Noé e a voz de Abraão – o intercessor (Gn. 18) na época de Ló. Mas o que tememos nos sobrevém: poucos ouvem, e a história se repete. A Igreja precisa ser ouvida.
É por isso que surge, entre os líderes que se chamam pelo nome do Senhor, um clamor dentro das Igrejas, desafiando aqueles cujo coração arde pela transformação de nossa geração. São os apelos missionários – desafios para as pessoas (principalmente aqueles de quem se espera que vivam mais – os jovens) abrirem mão de suas famílias, seus bens e seu conforto a fim de seguir para um lugar onde a necessidade da Palavra de Deus e da pregação do Evangelho se mostre mais urgente. Com isso, nossas igrejas têm assumido uma responsabilidade há muito esquecida – a de ser testemunha simultaneamente “ tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, Samaria, até os confins da terra” (At. 1:8). Os cristãos precisam obedecer.
A partir disso, temos três personagens em nossa história do fim: o mundo afundado no pecado, a Igreja cristã como um todo e, em terceiro lugar, individualmente, cada cristão. Quem precisa desesperadamente que haja um chamado missionário? Quem precisa desse chamado?
Nos anos que o Senhor tem me dado de preparo e tantas experiências dentro e fora do Brasil, sou constrangida a dizer que quem mais precisa da urgência de um chamado sou eu, individualmente, como cristã. 
O mundo não precisa de nós. O mundo precisa de Jesus, e Ele mesmo pode Se revelar sobrenaturalmente aos perdidos, como já fez em várias ocasiões. A Igreja como um todo não precisa ser bem sucedida em seus gritos de “Arrependam-se”. Sucesso nunca foi uma questão no Reino de Deus, fidelidade sim. 
Então resta cada um de nós, cristãos, que afirmamos ter um único Senhor, Jesus, como Rei e dono de nossas vidas. Nós sim, precisamos desesperadamente de um chamado, como Pedro dentro daquele barco no meio da madrugada, a dizer: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas” (Mt. 14:28), nós precisamos urgentemente do chamado do Senhor. Precisamos desse chamado, não para fazer um favor para Deus, nem para o mundo, nem aliviar a consciência de nossos líderes ou Igrejas, mas precisamos desse chamado para, como Pedro, reconhecer quem é o Senhor no meio de tudo o que nos cerca.
Como nos dias de Noé ou nos dias de Ló, tudo ao redor deles cheirava maldade e engano, era difícil perceber a ação soberana de Deus ou mesmo reconhecer quem Deus era a despeito de toda aquela realidade. E, na madrugada dentro do barco, Pedro sentiu a necessidade de reconhecer Jesus a despeito da escuridão que o cercava. Ele precisava de um chamado, precisava de um chamado para ir ao encontro de Jesus, e tocá-lO.
Hoje, mais do que em qualquer época de minha vida, percebo o quanto o chamado missionário vem cumprir seu propósito quando, em meio a tudo o que me parece estranho, vejo Jesus como nunca O vi antes, o conheço de uma forma que em lugar nenhum no mundo eu poderia conhecê-lO, vejo-O ao andar sobre as águas, ao sair do meu barco, vencer meus medos e responder Seu chamado. 
É disso que, como cristãos, precisamos. O mundo não precisa de nós, Deus mesmo não precisa de nós, nós é que precisamos desse chamado do Senhor. Por isso eu desafio você a se colocar diante do Filho de Deus hoje e dizer como Pedro: “Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas”, para onde for, da maneira que for, mostra-me o teu chamado para mim, e eu irei te encontrar lá.

Angela Natel
14/11/06 – Tete – Moçambique

Farisaísmo e o fantasma do quarto 23






Iniciei minhas atividades no segundo ano da faculdade de teologia com a proposta de estagiar num lar para idosos todas as terças feiras pela manhã. O trabalho é simples, de capelania, através do qual eu e mais duas colegas somos desafiadas no contato com as mais diversas necessidades humanas.
Dentro desse ambiente, não pude deixar de notar painéis eletrônicos espalhados pelas dependências principais do lar. Já em meu segundo dia de estágio, percebi que todos piscavam continuamente o número 23. Ao indagar o significado disso, foi-me dito que a finalidade dos painéis era de avisar um morador com necessidades urgentes, chamando enfermeiros. Como o número permanecia piscando por mais de meia hora e nada se fazia, decidimos ir verificar a necessidade do morador do quarto 23.
Qual não foi a nossa surpresa quando nos deparamos com um quarto trancado, vazio. Lá estava uma incógnita. Já que não havia ninguém, por que o painel permanecia piscando esse número?
Interessante notar que a nossa conclusão foi imediata: havia um mal contato nos fios, que mantinha o painel conectado ao quarto 23. Depois virou piada entre as estagiárias, o ‘fantasma do quarto 23’, que usamos com algumas enfermeiras mais tarde, para descontrair.
No mundo natural é muito fácil nos desvencilharmos das aparências para buscar uma explicação mais aprofundada para determinada situação. Parece que o mundo está muito melhor preparado para ir além da superfície do que muitos cristãos.
Jesus abordou o problema da superficialidade em Mateus 23, quando confrontou as multidões a respeito da religiosidade:

1 Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo:
2 Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus.
3 Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam.
4 Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
5 Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos;
6 gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas,
7 das saudações nas praças, e de serem chamados pelos homens: Rabi.
8 Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos.
9 E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus.
10 Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo.
11 Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo.
12 Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado.
13 Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.
14 [Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas das viúvas e sob pretexto fazeis longas orações; por isso recebereis maior condenação.]
15 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós.
16 Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo ouro do santuário, esse fica obrigado ao que jurou.
17 Insensatos e cegos! Pois qual é o maior; o ouro, ou o santuário que santifica o ouro?
18 E: Quem jurar pelo altar, isso nada é; mas quem jurar pela oferta que está sobre o altar, esse fica obrigado ao que jurou.
19 Cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta?
20 Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo quanto sobre ele está;
21 e quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita;
22 e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.
23 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.
24 Guias cegos! que coais um mosquito, e engulis um camelo.
25 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e do prato, mas por dentro estão cheios de rapina e de intemperança.
26 Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo, para que também o exterior se torne limpo.
27 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia.
28 Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.
29 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos,
30 e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido cúmplices no derramar o sangue dos profetas.
31 Assim, vós testemunhais contra vós mesmos que sois filhos daqueles que mataram os profetas.
32 Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
33 Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
34 Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade;
35 para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar.
36 Em verdade vos digo que todas essas coisas hão de vir sobre esta geração.
37 Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!
38 Eis aí abandonada vos é a vossa casa.
39 Pois eu vos declaro que desde agora de modo nenhum me vereis, até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

Quando Jesus aborda os princípios que agradam a Deus, deixa bem claro que a superficialidade da religião é inútil diante do verdadeiro arrependimento. Sinais externos piscando necessidades da carne, fazendo barulho e chamando a atenção, não representam um verdadeiro relacionamento com Deus e comprometimento com a verdade.
À medida em que nos aproximamos cada vez mais da vida que há em Cristo Jesus e nos submetemos a conhecer cada vez mais Suas Palavras (sem achar que nosso conhecimento básico e superficial vai nos projetar automaticamente para dentro do Reino de Deus), vamos sendo trabalhados em nosso caráter e prioridades.
Precisamos parar de julgar as pessoas pelo que achamos certo ou errado, precisamos parar de piscar nossos sinais de alerta quando uma imagem não se encaixa em nosso padrão de religiosidade. Precisamos deixar de lado essa constante mania que temos de rotular aqueles que nos rodeiam e parar de construir muros ao invés de derrubá-los.
A Igreja é para todos, assim como Jesus veio para os doentes e pecadores. O que a Bíblia deixa em aberto não deve ser a base de nossa fé e relacionamento mútuo. Somos chamados a desmascarar esse fantasma da religiosidade em nosso meio.
Um sepulcro caiado (pintado de cal – branquinho por fora, mas cheio de podridão por dentro) é como o fantasma do quarto 23 – aparenta uma coisa, mas não passa de um quarto vazio com problemas técnicos.

Angela Natel

Inbox



There is a message for you
Somewhere out there.
You can find it if you seek
In the right places, from your heart.

You can check on your voicemail
To try to understand.
You can read it and do it right
If you’re ready to be in charge.

Don’t be afraid about the subject
Cause if you received, you're able to fulfill.
Don't be scared about the challenge
The light will shine if you just turn it on.

There is only one message for you
Where it is less expected
To teach you how to walk by faith
Through the darkness of this evil age.

Angela Natel – 31/12/2014

Preço



Disseram-me para ficar à vontade
Mostrar quem sou e escolher.
Quiseram ver a outra metade
Aquela que tentei esconder.

Disseram que tudo era meu
Desde que pudesse pagar
Insistiram, até que o cansaço venceu
E não pude deixar de falar.

Assim que mostrei opinião
E minha face revelei
Perdi de todo o meu chão
Um gancho de esquerda levei.

Apesar de palavras bonitas
E um sorriso dissimulado
vi-me só e arrependida
foi-se quem estava ao meu lado.

Liberdade tem um preço
Que poucos querem pagar.
Viraram-me do avesso
Esqueceram-se de amar.

Angela Natel – 31/12/2014.

Ação de graças



Só tenho motivos para agradecer...
As dores não apagam as bênçãos
A tristeza não sufoca a graça.

Porque se por algum momento eu me levantar
E num ímpeto exigir o que me é por direito
Tudo o que receberei justamente
Por mérito, esforço próprio, merecimento
É a mais pura condenação.

Pensando nisso não posso reclamar
E, apesar das lágrimas que ainda insisto em derramar
Mesmo assim, como Habacuque, vou me levantar
E dizer insistentemente: Obrigada, Senhor.

Ainda que eu erre, ainda que eu tropece,
Mesmo que não haja reconhecimento,
Não receba a recompensa do trabalho duro,
Ainda que me deixem na mão
Não há nada que te faças falhar.

Ainda assim teu amor é supremo,
Tua graça me acolhe
E recebo teu favor.
Por misericórdias que de modo novo se apresentam
A cada dia para mim
Em meio às trevas um caminho se abre
E a esperança não encontra seu fim.

Mesmo com todas as críticas
E exigências de minha própria teologia
Dobro-me ante a tua presença
Porque transcendes a tudo
Não te prendes ao meu próprio entendimento.

Tenho peito para confrontar quem quer que seja
E argumentar sem medo, mesmo errando em pensamento.
Mas contigo a história muda de figura
Porque nada se compara, nada se iguala
Nem poder, nem diabos,
Ou qualquer coisa que exista
Pode equivaler-se a Ti.

Sou tão grata por ter em ti meu porto seguro,
Que não se abala nem com a minha falha teologia,
Muito menos com as besteiras que apronto
Ou com meus momentos de pura letargia.

Nada te ameaça, nada te surpreende.
E te sou tão grata,
Em ti encontro meu propósito
Em ti tenho a alma saciada.

É por isso que a ti, somente dirijo minhas preces
Para dizer-te: muito obrigada.

Angela Natel – 28/11/2014.

Encanto



O que me encanta nesta vida
Não é o urro dos bravos
Muito menos um elogio gritado
Ou pichado nas paredes do coração.

O que me encanta não são promessas vazias
Que se perdem na noite fria
Do esquecimento e da falta de perdão.

O que me encanta não são grandes feitos
E provas de um suposto amor bandido
Ou shows pirotécnicos, serenata na varanda
Muito menos um carro de som na minha porta.

O que me encanta vai muito além de joias caras
Um jantar à luz de velas,
um buquê de flores
Ou homenagens vazias de alguém que não se importa.

De todos os encantos que já tive
As coisas simples é que me atingem
Lá no fundo do coração.

É o canto dos pássaros,
um livro que me fale n’alma
uma promessa cumprida
alguém que me estenda a mão.

Sim, me encanta a vida compartilhada,
Uma dívida perdoada
Misericórdia, compreensão.

O que prossegue em me encantar
É não falar de mim para outros
Não prometer nunca sem compromisso
Procurar-me sem nenhuma intenção.

Admiro quem tem a coragem
De falar sempre a verdade
Ainda que riscos possa correr.

Sempre deslumbrada fico
Quando permanecem ao lado
Mesmo que nada eu tenha para oferecer.

Me encanta quem nunca desiste
Quem se mantém a despeito das circunstâncias
Quem não tem medo de morrer.

Por isso o encanto se desdobra
No milagre do amor que não cobra
No doar-se enquanto viver.

Angela Natel – 26/11/2014

Desesperança



Sombra que caminha solitária
Não pode contar com ninguém
E quando lhe estendem a mão
Perde até o que não tem.

Pena que despenca da montanha
Cuja alegria não reluz
Se alguém a espera ansioso
É por interesse que lhe seduz.

Fogo que arde na floresta
Consumindo a si mesmo em dor
Ainda que alguém se aqueça
Será consumido sem seu amor.

Pedra que é posta sobre outra pedra
Trabalha, trabalha, até se cansar.
Mesmo que alguém a reconheça
Não existe quem queira lhe sustentar.

Esperança que habita em meu coração
Cresce e se agita dentro de mim
Ainda que alguém me dirija a palavra
À esperança não atende, e esta chega a seu fim.

Angela Natel – 14/11/2014.