quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Feliz dia das bruxas! - Happy Halloween!


Essa dor



Uma dor que chegou de repente
Nem sei de onde veio
Mostra força até quando respiro.
Uma dor que me parte ao meio.

O que eu faço com essa dor
Que ora aumenta, ora diminui?
Onde a deixo para eu me recompor?
Por que é que nada a dilui?

Se eu pudesse a enveloparia
E mandava prá bem longe daqui.
Se eu pudesse, a desintegraria
Essa dor que antes nunca senti.

Mas percebo que uma dor como essa,
Física, puramente física
Não me machuca tanto, não me abala

Essa dor, ainda que me limite,
Os movimentos, a concentração,
Não me tira o pensamento,
Nem muda minha razão.

Essa dor não me afasta de ninguém,
Pelo contrário, me faz depender,
Essa dor não me causa impedimento
Na dimensão do ser.

Então, menos mal que seja essa dor
Que me atinge no momento
Prefiro esta do que a dor do coração,
De consciência e de sentimento.

Angela Natel – 08/06/2015.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Paciência e coragem


Porque viver requer muita paciência,
E amar requer coragem.
O resto a gente dá um jeito, 
Corta o cabelo pela metade,
Desliza ao som de Madonna, Angra, Cazuza, Legião e Raul...
E, claro, tem Paralamas e Zazo, o Nego, e cada um tem seu momento,
Mas ainda é preciso paciência,
E coragem,
Porque as pessoas não deixam passar,
Rotulam, desprezam,
E ainda corro o risco de ser ignorada, desprezada, rejeitada,
Como sempre.
Preferia não precisar de ninguém,
E dizer coisas que só existem em pensamento,
Brincar novamente com as palavras na dor
E na alegria me divertir com a surpresa alheia.
Mas ainda me falta paciência
E talvez um pouco mais de coragem
Prá não sentir mais pela metade
E me entregar completamente
Ao risco, ao novo, à liberdade.
Angela Natel – 06/06/2015.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Quer entender melhor o porquê de tanta resistência, de tantas denúncias e indignação?


- procure conhecer a realidade dos diferentes estados brasileiros, e não apenas de onde você mora;
- pesquise a fundo sobre o sistema prisional brasileiro;
- pesquise a fundo sobre a bancada evangélica e individualmente seus membros;
- estude com atenção a Constituição Brasileira;
- pesquise a fundo sobre a vida nas favelas brasileiras;
- pesquise a fundo sobre a História da Igreja Cristã e sua relação com os poderes políticos em cada época;
- leia os Evangelhos, na Bíblia, e pesquise em diversos comentários bíblicos sobre os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João);
- pesquise a fundo tudo o que a Bíblia diz sobre o tratamento que deve ser dado ao estrangeiro;
- não leia apenas fontes que concordam com você;
- lembre-se que Deus não é propriedade de nenhuma linha teológica;
- lembre-se que o Israel político de hoje não é a mesma coisa que o Israel citado na Bíblia;
- tenha cuidado para compreender o sentido de cada texto bíblico dentro de seu contexto antes de usá-lo;
- aprofunde-se no estudo e uso da exegese e da hermenêutica bíblica;
- cuide para não defender cegamente a ninguém;
- lembre-se que todos são pecadores.

Angela Natel

Angústia




A angústia da minh’alma
derramo agora nestas linhas
choro, tristeza e pesar.

Ainda que os caminhos
e as possibilidades apareçam,
choro, tristeza e pesar.

Me vejo cercada de limitações
físicas, financeiras e emocionais,
é incerto o meu caminho.

Para toda chance, uma dificuldade,
para toda porta, uma grade,
é incerto meu caminho.

O desrespeito de quem está perto,
o desprezo de quem diz me amar,
palavras vazias ao vento.

São promessas não cumpridas,
cobranças que lembram que estou a sobrar,
palavras vazias ao vento.

Sou peso para uns,
incômodo para outros,
sem possibilidades de sair.

A dependência que escraviza,
a incompreensão que limita,
sem possibilidades de sair.

Fazem suposições sem perguntar,
calam sem querer dialogar,
são lágrimas que sufocam.

Exigem respeito sem respeitar,
oram a Deus sem amar, 
são lágrimas que sufocam.

Por isso ainda que eu estude,
ensine, escreva e produza,
sem chances de seguir adiante.

Segurança que falta,
não posso ficar, não tenho onde ir,
sem chances de seguir adiante.

Assim, querido leitor,
a angústia que se vê nestas linhas
mostra meu coração partido.

Por fim compartilho esta dor
já que a falta de amor
é a causa deste coração partido.

Angela Natel - 19/04/2015

O Reino para o qual não ofereço nenhum tipo de resistência

"Deixei para as 17h este texto que poderá também ser o último.
Quem saberá?
Este foi um ano tenebroso. Talvez culpa da idade, 33. A mesma do Cristo na cruz, não é o que dizem?
Estou todo ferrado.
Trabalho com ONGs. Coisa de vagabundo e que serão fechadas, conforme as promessas.
Escrevi muitos textos, fáceis de serem rastreados e jogados contra mim, para me pendurarem, no madeiro brasileiro, o pau-de-arara.
Então serei escorraçado, junto à metade dos que discordam e para não sofrer danos piores, terei de escolher um país. Qual?
Me indicarão Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. Eu penderei à Portugal, seus pastéis de nata e sua Lisboa literária. Ou a um cantão africano, suas cores e cantigas, onde o tambor dita o ritmo da resistência.
Resistirei.
Aqui ou acolá.
Sempre fui assim.
Era pra morrer no parto, na pedrada, nos capotes, na malária, no assalto, várias e várias vezes e segui resistindo.
Sempre saí com um sorriso meio amarelo, torto, fraco, para encarar a vida.
E cá estamos nós.
O que quer que venha. Resistirei.
Junto dos ninguéns, os esquecidos, os que são pesados em arrobas, os lixos deste mundo. Deles é o Reino de Deus não importa qual seja o governo dos homens.
E é junto deles que desejo ser achado. Em algum fim de mundo desta terra, no centro das periferias, centrado no amor.
Este poderá ser meu último texto aqui. Quem saberá?
O que é certo, porém, é que será o primeiro ato de um novo tempo de resistência e ação, afeto e amor, que esses dias odiosos me ensinaram. Para alguma coisa valeram: encorajaram-me a resistir.
E a crer na doce revolução, sem balas ou bandeiras. A única pela qual vale a pena entregar a vida.
Um Mundo Outro.
Que um rapaz de trinta e poucos anos do vilarejo de Nazaré ousou chamar de O Reino.
Nele, o menino coloca a mão da toca da serpente.
Cordeiro e leão dormem irmanados.
E a gente ama a Deus no amor ao outro, que sempre será meu próximo, mesmo que discorde de mim.
Depois de dias tenebrosos e de escuridão, o sol brilhará e trará com ele o cheiro da vida e as cores da manhã.
Então não haverá mais nada a resistir.
Me entregarei aos braços amorosos daquele que traz cicatrizes nas mãos. O torturado.
E lhe darei em definitivo o meu último, e talvez primeiro respirar depois de ter-lhe devotado a vida como o pior dos servos.
Ele é Kyrios. Senhor supremo e governa sobre mim.
Todos os outros governantes são eleitos.
Quanto a este, me elegeu para ser filho do Seu amor."

Gito Wendel

Fonte: https://www.facebook.com/gitowendel/posts/2033212123405836?__xts__[0]=68.ARD1Yq5U-J-K_2B_rbojFkMu31P87CyEO4_UmG-Pe9t5reIlcnC1ovPN_zMyFtvZKNbuPUt2PTT4_kys6HREjGyIRVaBU1MPlo8ji_uCfccQWFslWaUPSBaIZZHAQ88tWibzPIuUuGNSGk6Ky4kP-MyDJEFkRah17quiVngHbPOutW-idF3bFUPbO2qtj1vsd4Erdv58o3ZlOeSh8ZC4Q3E&__tn__=C-R

domingo, 28 de outubro de 2018

Morte à Arte, Morte às Vidas




A segunda imagem na foto é a de meu primeiro quadro em tinta acrílica, de quando comecei a aprender a técnica em 2009. Lembro que enfrentei inúmeros questionamentos a respeito da escolha da imagem: algo obscuro, uma Igreja, um cemitério, uma forca...
Gostei da imagem e a escolhi, dentre muitas outras opções. O objetivo era aprender a pintar em tela, e para primeiro quadro, pareceu-me um bom desafio.
Hoje me senti compelida a escrever a respeito, depois da notícia da selvageria que destruiu obras de arte de valor inestimável para a humanidade no museu da cidade de Mossul, no norte do Iraque, por fundamentalistas religiosos (primeira imagem).
É claro que não há comparação entre as obras destruídas no Iraque e meu primeiro quadro em tinta acrílica, pintado em 2009. Mas há algo em comum entre essas obras: todas foram destruídas sob argumentação religiosa.
Sim, esse quadro inofensivo foi destruído. Eu o guardava como uma relíquia, já que se tratava do primeiro de uma série que vim a produzir. A arte me ajudou em diferentes aspectos: emocional, social, criativo, entre muitos outros. Era um lembrete de que eu poderia ir sempre além, alcançar novos horizontes e superar o medo do desconhecido. Creio que a maioria das pessoas compreende este sentimento com relação a determinados objetos que lhe são caros, não pelo valor de mercado que se lhes atribui, mas pelo valor sentimental e subjetivo que eles representam em uma questão pessoal.
Certo dia, um amigo insistiu para que eu lhe desse de presente este quadro, exatamente pelo que ele representava: meu primeiro quadro. Apesar da relutância interior, pesei o valor do amigo a despeito do valor do quadro, e presenteei-lhe. Por muito tempo encontrei o quadro em um lugar de destaque na sala de jantar da casa deste meu amigo, e me alegrava ver não a imagem ou a peça sendo valorizada, mas minha pessoa, bem como minha constante recordação na casa de um amigo querido.
Até que um dia, em um lugar público, meu amigo contou-me, sem o menor remorso, que uma conhecida autodenominada missionária, ao visitá-lo deu de cara com meu quadro na parede e atribuiu-lhe uma presença supostamente demoníaca, por causa do teor da imagem retratada nele. Diante desta manifestação, e a pedido da religiosa, meu amigo entregou-lhe o quadro, para que fosse destruído.
No momento em que ele me contou, não sabia se ria ou chorava. A única lembrança que tenho do quadro é a imagem da foto – pelo menos, a mania de fotografar tudo o que faço me deu uma vantagem desta vez -, parecia-me inconcebível tal ato e eu não sabia explicar o porquê deste sentimento que se instalou dentro de mim que representava tanta tristeza e tanta indignação.
Eu não sabia até o dia de hoje, quando me deparei com a outra imagem, da destruição das obras de arte no Iraque. Ao ler um comentário de outro amigo, referindo-se à matança de pessoas, compreendi uma frase de Heine que li há muito tempo atrás: “Onde se lançam livros às chamas, acaba-se por queimar também os homens” (prefácio de ‘Fahrenheit 451’ – Ray Bradbury – p.20). A arte é muito mais do que objetos lançados ao mundo, fruto do trabalho humano. A arte é a extensão do homem, de sua criatividade, é a produção cultural do ser humano, a maneira como o ser humano se eterniza e faz história. Quem é capaz de destruir a produção cultural humana, é capaz de destruir um ser humano.
Não é exagero pensar que quando uma pessoa se levanta para queimar livros, cds, imagens ou qualquer produção artística, sob o argumento que for, poderá não distinguir o valor de uma vida quando sua argumentação chegar a âmbitos equivalentes. Quem é capaz de queimar um quadro, pode massacrar uma pessoa, seja com palavras ou atitudes, seja física, emocional ou espiritualmente.
As religiões do mundo não possuem base suficiente para respaldar atos como os descritos acima. Tais atitudes revelam o perigoso fundamentalismo que não enxerga além de seus estatutos, e que por isso os tem acima do valor da vida humana.
Essa é a razão porque senti urgência em deflagrar atos como este, não menosprezando as vidas que se perdem por causa da perseguição religiosa, muito pelo contrário, alertando para o fato de que atitudes como as descritas aqui são o prenúncio de que coisas muito piores podem estar por vir.
Não sei se aquele amigo compreende a profundidade do que aconteceu, e não o culpo por isso. O que me entristece é o descaso para com as implicações de atos tão trágicos como estes.

Angela Natel
27/02/2015

sábado, 27 de outubro de 2018

Preço e Valor



Nesta vida, nem tudo se paga com dinheiro. Eu posso pagar caro por minhas escolhas erradas, pagar pato, pagar prá ver. Nem sempre amor com amor se paga e ainda nem sempre estou disposta a pagar o preço para avançar em minhas conquistas.
É uma pena que muitas pessoas ignorem o quanto me fazem pagar por inúmeras situações que lhes desagradam pelo simples fato de não concordarem comigo. Além disso, quem paga minhas contas se acha no direito de controlar minha vida e, quando se recusam a pagar, eu digo: ‘Você pode não pagar minhas contas, mas eu continuo pagando por sua ignorância.”
Dinheiro é uma bênção e uma maldição, mas o amor ao dinheiro é sempre desastroso. Quando decido que o dinheiro vale mais que uma amizade, quando passo por cima da educação e do respeito a fim de cobrar uma dívida, quando, mesmo em meu direito, ultrapasso as linhas da misericórdia e do convívio, todos pagam, e pagam caro por isso.
Às vezes, para se manter um relacionamento, é preciso pagar, seja ouvindo desaforos, sendo abusado, desrespeitado. Mas que tipo de preço é este? Vale tudo isso?
Então percebo que preço e valor são duas coisas bem diferentes. O que vale e o que eu pago. Não se trata de consumo, capitalismo, troca, trata-se de valor, ética, respeito, doação e renúncia. Quanto vale um amigo para mim? Qual é o preço que estou disposta a pagar para manter esse relacionamento?
Eis o real valor das coisas: quando eu não tiver mais por perto, me arrependerei do que estou fazendo hoje com respeito às pessoas? Sim, o valor está nas pessoas, mas o preço que estou disposta a pagar é decisão minha.

Angela Natel – 07/02/2015

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Espiritualidade irrelevante: cérebro de macaco, espírito de porco

Em dias cujas principais manchetes giram em torno da amputação da vida devida à intolerância, seja na França, na Nigéria ou em qualquer lugar onde a vida e a dignidade humana perderam seu valor prioritário, não me assustam notícias a respeito de afirmações como a mencionada na ilustração – de que os seres humanos não passam de fruto do intercurso de macacos com porcos.
Os primatas há muito são considerados por diversos segmentos da sociedade a raça originária da humanidade. Apesar de suas habilidades capazes de realizar complexas atividades, estes seres ainda estão aquém do que um ser humano é capaz de fazer. Essas limitações se estendem desde o plano físico até o que podemos chamar de espiritualidade ou mística – a busca pelo transcendente.
Quanto aos suínos, sua fama com relação às preferências higiênicas resultou na famosa expressão ‘espírito de porco’ que, de forma básica, pode ser compreendida para se referir a uma pessoa cruel, ranzinza, que se especializa em complicar situações ou em causar constrangimentos .
Devido a essas características, ainda que minha opinião pessoal com relação à afirmação de alguns cientistas não venha agora ao caso, não posso deixar de rir e concordar que nossa espécie está mais para confirmar do que desabonar tal afirmação, principalmente no que diz respeito à espiritualidade.
Qualquer pessoa, independentemente de se dizer crente em algo, lida com o transcendente de acordo com sua cosmovisão – a maneira que interpreta a si mesma e o que a cerca. Para tanto, pode-se autodenominar ateu, monoteísta, politeísta, henoteísta , de acordo com a referência de divindade que possui. Estas questões não deviam nos incomodar tanto, já que o resultado desta espiritualidade individual é que precisa ser refletida de maneira saudável na sociedade como um todo.
Seja a pessoa portadora de convicções e crenças aceitáveis para maioria ou não, todo tipo de espiritualidade precisa ajudá-la na compreensão de si mesma e, principalmente, no trato com o outro (Outro como transcendente ou outro como semelhante, porém diverso de si, para além de si). A espiritualidade que se resume a ritos que se concentrem na satisfação de si mesmo e que tenham como único fim a autoafirmação e reiteração de determinadas crenças e códigos, além de irrelevante pode tornar-se extremamente prejudicial à sociedade.
Dito isto, não cabe aqui estabelecer ou determinar que tipos de espiritualidade são relevantes ou não. Mas é possível, a cada um, exercer uma autocrítica consciente a fim de se policiar nos fins justificativos das ações que exercemos para concretizar esta espiritualidade. Para tanto, pensemos sobre nossas práticas, os locais onde costumamos nos reunir, nossos objetivos pessoais e comuns, os ritos e liturgias que seguimos, os manuais que temos como bases para nosso código de ética pessoal. Estes itens podem sinalizar se o que buscamos e a influência que efetivamente exercemos na sociedade têm sido mais relevantes do que prejudiciais.
Algumas perguntas podem nos ajudar nesse sentido: Será que nossas ‘reuniões’, nossos programas e grupos aos quais pertencemos têm valorizado e proporcionado à vida daquele que é diferente maior dignidade e possibilidade de subsistência? Será que nossos ritos têm nos ajudado a ter maior consciência do outro e de suas necessidades e de como podemos supri-las ou têm apenas reforçado ideias que não saem do plano do discurso vazio? Será que nossa espiritualidade ou maneira de vivenciar o que acreditamos tem nos ajudado a construir uma sociedade livre, com menos armas defensivas contra argumentos e críticas e mais disposição para o diálogo e a busca pela compreensão das razões do outro? Será que os benefícios de nossas crenças são apenas privilégios para os que pensam como nós? Será que não estamos mais propensos a defender nossas ideias do que a vida humana?
A estes questionamentos juntam-se a minha indignação com a atitude de pessoas que usam a própria religiosidade para se autopromover, ao mesmo tempo em que ignoram sua necessidade de estabelecer pontes de relacionamento com aqueles que discordam de suas ideias e posturas. Pessoas que parecem exemplo aos que distante estão, mas que entre familiares subjugam, oprimem, destratam e não são capazes de admitir seus próprios erros. Líderes – religiosos ou não – que impõem a própria vontade a outros, mas que são incapazes de servir aos que julga inferiores a si mesmo sem esperar nenhum tipo de retribuição.
Estes, não tenho receio em afirmar, são os perfeitos protótipos resultantes da coabitação entre macacos e porcos: limitam-se a si mesmos em uma mentalidade defensivamente instintiva e agem de forma cruel com o próximo, a despeito de seu valor intrínseco como ser humano. São cérebros de macaco com espírito de porco ambulantes, santos do paoco , cães que perseguem a própria cauda, cuja vida tem seu fim em si mesmo, sem a mínima intenção de sair perdendo em nada.
E ao surgirem as crises relativas a ataques contra a vida e a dignidade humana, como as que temos presenciado em nossos dias, este tipo de espiritualidade fica mais evidente, quando os ritos não fazem nenhuma diferença, quando as práticas se tornam tão vazias que não constroem nenhum tipo de ponte para a solidariedade – apenas incitam a mais retaliação.
Se minha espiritualidade só me leva a condenar e a ameaçar a vida alheia, ou pior, se esta espiritualidade gira apenas em torno de mim mesma, ignorando o outro e a possibilidade de renunciar minhas necessidades e desejos em favor do próximo, sou obrigada a concordar que não passo do produto de uma mentalidade primata com um espírito suíno.
Angela Natel – 16/01/2015

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O deus de Frankenstein



O deus mais adorado em nossos dias é o deus de Frankenstein. Parece loucura, mas não é. Pode-se observar facilmente como nossa busca pelo transcendente tem caído num antropomorfismo exacerbado.
Isso significa que em nosso desespero por algo além de nós mesmos acabamos por criar uma divindade ou um ser transcendente que não passa de um produto de nossa própria imaginação, um deus 'à nossa imagem e semelhança' e não o contrário.
Trata-se de uma divindade cujas características que reconhecemos são as que nos são convenientes - escolho na Bíblia ou em outras literaturas religiosas somente aquilo que entendo, concordo e aceito, e monto meu deus de Frankenstein conforme minhas necessidades, anseios e lógicas.
Não se trata de um Criador, mas de uma criatura de minha própria imaginação. Posso pensar nesse deus como uma força ao mesmo tempo em que, incoerentemente, me reconheço como sua imagem e semelhança. Falo dele como salvador, poderoso, ao mesmo tempo em que o trato como um gênio da lâmpada totalmente a meu dispôr. Posso reconhecer sua existência e divindade, mas na prática lido com ele como se fosse meu servo, um Papai Noel do ano todo, punindo os maus e recompensando os bons.
Dessa forma, monto meu deus de Frankenstein com peças de inúmeras teologias, mitos e fontes religiosas, sem nem ao menos elaborar uma noção coerente do que pode ser uma divindade.
Um deus que me é conveniente, que atenda às minhas necessidades sem comprometer minhas vontades, um deus construído a partir de minha imagem e limitações.
Sim, e ainda posso querer defendê-lo perante outros, pois é inadmissível para minha teologia qualquer tipo de questionamento.
Este é o deus de Frankenstein, que mais se parece comigo do que eu com ele, apesar de ter sido construído de partes diferentes do espaço e do tempo no imaginário humano. Um deus que nada tem em comum com uma divindade específica dentro de uma unidade de fé - seja cristã, muçulmana, judaica, hindu, animista, etc. 
Por si só é uma incoerência existencial, assim como o monstro de Frankenstein, criado a partir do ser humano, sem a possibilidade de interagir de modo saudável com o mesmo, devido às suas inúmeras limitações.
Um deus de Frankenstein é limitado e confuso, incapaz de preencher as lacunas da alma humana, exatamente porque se restringe a ela. Sua dimensão não alcança os limites do inexplicável.
Infelizmente, por ser muito comum em nossos dias, o deus de Frankenstein toma o espaço do transcendente em nossas vidas - nos dá conforto, alivia momentaneamente a consciência, tapa alguns buracos no sistema explicatório de nossa cosmovisão. Sistematizamos facilmente esta divindade, porque cabe em nossa mente, podemos sondá-lo em todas as suas dimensões. Assim, fica mais difícil sairmos da zona de conforto em busca de algo maior do que nós mesmos - um Deus inexplicável, pessoal, diferente e acima de todas as coisas criadas.

Sempre gostei da história do monstro de Frankenstein. Só nunca antes tinha imaginado que pudéssemos nos dobrar a uma divindade semelhante a ele.
Por esta razão decidi de uma vez por todas que prefiro mil vezes ser compreendida a compreender, e me dobro ante o inexplicável.
Que meus monstros interiores não tomem o lugar que só a Deus pertence, e que este Deus inexplicável nunca se limite ao tamanho de minha teologia.

Angela Natel - 02/12/2014.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Minhas decepções e casos sem solução derramo aqui.



Iludi-me sem a ajuda de ninguém.
Assumo que carreguei por anos o mal do falso ensino de que deveria viver às custas dos outros para servir, sem me preocupar com o verdadeiro preço de ser discípulo de Cristo.

Achava que poderia interpretar a Bíblia de acordo com meu limitado conhecimento, mesmo sem entendimento do contexto e das implicações de cada passagem.
Pensei e ensinei por anos mentiras e desilusões em meio a algumas verdades, que não deixaram de ter valor devido à minha irresponsabilidade.

E, ao refletir sobre esses erros e enganos, tanto de minha parte quanto naquilo que ensinei e - pesarosamente confesso - reproduzi de errado na vida de muitas pessoas, tentei ir a outro extremo, e trabalhar vivendo de meu próprio esforço e mérito.

Descobri as injustiças de trabalhar sem receber, ser enganada, ludibriada, repetidamente esquecida e me vendo esforçando-me sem retorno.
Deixei muitos queridos na mão devido a não sei o quê, deixei-os sem explicação.

Busquei tratamento, ajuda, estudo, trabalho. Busquei uma vida 'normal' para não mais viver às custas dos outros. Mas descobri a existência de 'outros' que exigem um certo compromisso para comigo mas não suportam serem exigidos de mim. 
'Queimo meu filme', ao tentar exigir direitos que, por caminhos bem delineados, me são negados.

Não sei mais o que é viver pela fé, a não ser que está bem longe de ter algum tipo de relação com a meritocracia. 

Por isso este desabafo. Porque não suporto viver sob as máscaras de um sorriso maquiado dissimulando uma harmonia que desconheço. Porque não consigo evitar as náuseas ao observar aqueles que conviviam comigo repetindo os mesmos erros, ensinando os mesmos enganos que aprenderam de mim. Enganos estes tanto em relação à suposta 'vida pela fé' quanto à própria interpretação herética de inúmeros textos bíblicos para justificar dogmas humanos infiltrados na mensagem cristã.

Me perdoem, não era prá ser assim.

E não há muito o que fazer a respeito, já que por inteira dependo da graça e da misericórdia de Deus. Da mesma forma peço misericórdia, confesso meus enganos e comprometo-me a continuar tentando, e restituindo a todos que, de alguma forma, prejudiquei.

Angela Natel

nov/2014

Posicionamento político

Não adianta se dizer contra a corrupção e:

intimidar quem pensa diferente de você,
não se importar em espalhar mentiras,
cometer crime eleitoral ao indicar candidato em culto religioso,
defender seu candidato acima da verdade,
apontar para o erro do outro sem considerar o seu,
achar que só o outro pode estar errado,
desumanizar e/ou demonizar pessoas,
defender seu candidato antes de amar.

Porque corrupção não se resume a dinheiro. Todos possuem uma alma corrompida, contra a qual lutam diariamente. Ignorar isso faz com que pensemos que nunca podemos nos enganar.

Reconhecer nossa corrupção é olhar para o outro como alguém por quem Cristo também morreu, e tratá-lo como tal.

Por isso, escolha, como presidente, aquele que melhor te representa, dentro das funções próprias que cabem a um presidente, que deve estar apto para governar todos os brasileiros, não somente um grupo.

O presidente não representa Deus, não é capaz de legislar sobre o corpo nem sobre a consciência de ninguém. Por isso pesquise suas atribuições, os planos de governo de cada candidato e cuide em buscar fontes confiáveis para as informações.

Como já afirmei, não discuto meu posicionamento político pessoal em redes sociais. Quem me julga é Deus, e diante dEle é que responderei pelos meus atos e escolhas segundo meu amor por Ele e pelo próximo.
Quem paga o preço de caminhar perto de mim me conhece e não me cobra explicações.

Agradeço o respeito e a compreensão de todos.

Angela Natel .

terça-feira, 23 de outubro de 2018

31 de outubro: Responsabilizando-nos pelas máscaras que usamos



Tenho lido várias postagens a respeito do Halloween, com explicações bem superficiais e um tanto quanto gerais, afirmando que Deus abomina essas coisas, etc.
Bom, tendo por base o texto da Bíblia para afirmar o que Deus abomina, é possível também afirmar que toda hipocrisia, falso testemunho, idolatria, egoísmo, avareza, mentira e, principalmente, toda tentativa de se colocar como Deus, bem como afirmar conseguir perscrutar os pensamentos de Deus não são atitudes lá agradáveis a Ele, porque tomam o lugar que é só dEle.
Além disso, falar e divulgar que Halloween é a mesma coisa que comunicar-se diretamente com os mortos, como também já li em alguns textos, não passa de falso testemunho. Muitas são as razões para que se pense duas vezes antes de demonizar tal festa no Ocidente. Uma delas é o fato de que, na prática atual, não tem passado de um divertido baile de máscaras moderno, regado a muitos doces. Há, inclusive, para simplificar a explicação, a base histórica e cultural europeia desta celebração que é o fundamento para o uso de máscaras e fantasias, de utilizá-las exatamente por medo de serem reconhecidos como seres humanos, e assim protegerem-se do ataque de seres não-humanos.
Nesse sentido, a prática não é nada diferente dos usos e costumes que se acumulam em toda a sociedade ocidental, inclusive no meio dito evangélico, no que diz respeito a utilizar-se de ‘máscaras’, atitudes assumidamente falsas na representação social a fim de que não se sofra nenhum tipo de retaliação, como no caso de se assumir a verdade.
Dessa forma, falar de Halloween não é mais demoníaco do que endeusar reformadores que nunca tiveram a intenção de serem tidos como super-homens da história cristã, nem mais demoníaco do que inverter valores, agir preconceituosamente, valorizar a forma em detrimento da essência das coisas, defender hipocritamente festas como Natal (de origem não menos pagã que o Halloween) e ainda usar de argumentos com um sentido tal que faça com que pessoas menos informadas acreditem que a voz que ouvem é a de Deus e não a de um ser humano tão falho quanto elas, com suas limitações, preconceitos e também falta de informação.
Dessa maneira, não tomo para mim como se falando ‘em nome de Deus’, mas levanto um questionamento para que se olhe em direção a Jesus, no sentido de condenar mais a hipocrisia do que fontes pagãs, chamando a atenção para a justiça, o amor e a misericórdia mais do que um levante contra culturas humanas que nada mais são do que um reflexo delas mesmas.
Me alegro com a Reforma Protestante, sim, mas não me atrevo a encarar as pessoas envolvidas neste processo (que, de modo algum foi mérito de um só homem) como superiores a qualquer pequenino que volte seu coração para a verdade.
É por isso que considero o Halloween uma ótima oportunidade de reflexão e decisão para significativas mudanças em minha vida pessoal, principalmente no que diz respeito a uma vida de integridade e transparência. Também não ignoro o Natal mas, da mesma forma que no caso do Halloween, ressignifico o que me parece conveniente, já que, como ser humano que sou, posso usar de minha criatividade e trabalhar no desenvolvimento da cultura que me cerca, sem agir de forma incoerente (demonizando uma festa pagã e celebrando outra, ou até mesmo agindo sincreticamente na adaptação de outras festas do calendário denominado pagão às celebrações na Igreja, como tenho observado em muitas falas e ações ditas evangélicas).
Sou, sim, passiva de erro, mas nem por isso deixo de me expor, uma vez que também possuo o direito à liberdade de expressão. Penso ser de bom proveito dar a oportunidade dos leitores de refletir e questionar antes de condenar quem quer que seja. Não condeno quem pensa e age diferente de mim, da mesma forma que espero não ser condenada por isso, uma vez que, creio eu, somente Deus pode, de fato, determinar a condenação de alguém.

Sou grata pela misericórdia de Deus que nos alcança e que torna possível nossa transformação mesmo em meio às culturas imperfeitas que produzimos.

Nesse sentido, com o Halloween, celebro a queda das máscaras de nossa hipocrisia, o fim dessa atitude idólatra de nos colocarmos como deus de nossa sociedade (ao determinarmos quem é salvo e quem deve ser condenado), dessa postura de quem acha que consegue ler os pensamentos e as intenções das pessoas e até mesmo determinar os pensamentos de Deus. 
Celebro o fim da fantasia megalomaníaca de quem assume o nome de Cristo sem tentar seguir Seus passos nem se parecer com Ele em suas atitudes. Esta é a verdadeira Reforma que necessitamos: um chamado à mudança de nossas estruturas, talvez menos reforma e mais desconstrução de nós mesmos para que um novo ser humano nasça com uma nova natureza - Cristo vivendo em nós e através de nós, sem máscaras, sem condenações, sem hipocrisia, sem meias verdades e sem dois pesos e duas medidas. Esse tipo de ‘reforma’ com certeza incomodaria por demais muitos dos que defendem a comemoração da tão aclamada ‘Reforma Protestante’ e demonizam o Halloween.
Assim, prefiro apresentar Cristo às pessoas do que tentar convencê-las de seus pecados (já que essa é uma tarefa do próprio Deus e eu não sou Ele). Prefiro apontar para o exemplo de Jesus do que lutar contra culturas humanas que não são, na realidade, ameaças à verdade. Acredito que a luz brilha na escuridão, e por mais densa que esta seja, não impedirá a verdade de resplandecer.
É isso que nossa sociedade precisa: largar as máscaras do medo de ser retalhado por falar a verdade que é Cristo, cheio de graça e de misericórdia, numa justiça que não ataca o outro como justiceiro mascarado, mas que ensina através do sofrimento, da renúncia e do repartir de si mesmo com o outro, independentemente de quem ele seja.
Quando as pessoas perceberem que vivemos num constante Halloween, usando máscaras no dia-a-dia para fugir do que tememos e não assumir nossas verdadeiras responsabilidades, esta ‘festa pagã’ assumirá um novo significado para a nossa cultura e nossa história. Quando as pessoas perceberem que não necessitamos mais de uma reforma, mas sim de um novo nascimento, iremos experimentar mais do que Jesus Cristo realmente viveu e ensinou.

E boas festas a todos!

Angela Natel – outubro de 2014.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

(C)Omissão



Hoje li um dizer de Eduardo Galeano: "Temos guardado um silêncio bastante parecido com estupidez" (Eduardo Galeano, do livro "As Veias abertas da América Latina")

Isso me impulsionou a não manter-me mais em silêncio diante das injustiças, dos abusos, da opressão e da intimidação que tenho presenciado.
São pessoas que se dizem ‘de confiança’, mas anunciam publicamente informações confidenciadas, humilham e em seguida dizem que se trata de brincadeira, exploram os subordinados ‘por amizade’...
Pessoas que ocupam a maior parte do tempo em assuntos que gravitem em torno de si mesmos, deixando e pondo de lado o que importa ao outro.
São pessoas que não pensam antes de comentar nossos erros, de dar nomes às nossas falhas e explicar nossas faltas, mas que falam e agem como se fossem os ‘donos da verdade’, ainda que fundamentem a maior parte de sua opinião no que veem e ouvem na televisão.
São pessoas que cobram presença, reclamam de serem ‘os últimos a saber das coisas’, vivem competindo e intimidando, e ainda fazem questão de anunciar nossas falhas, mesmo as que cometemos na infância.
São pessoas controladoras, manipuladoras, falsas, intolerantes, que mantém seus subordinados no cabresto, exigindo e determinando as escolhas alheias.
São pessoas que pedem coisas ‘para ontem’, mas não têm pressa alguma em ajudar quando requisitados.
São pessoas que vivem reclamando de sua condição, mas quando ouvem uma reclamação, tratam-na com insignificância, comparando a dor alheia com algo que julgam pior, para que o outro se envergonhe de ter reclamado.
São pessoas que consideram as bandeiras que defendem como únicas e melhores, ignorando que os outros podem servir e atuar em diferentes áreas sem o seu conhecimento.
São pessoas que se autoproclamam profetas de Deus, mas baseiam suas palavras e atitudes em fontes duvidosas – seja uma distorção clara de textos bíblicos, seja em informações obtidas em ‘entrevistas com demônios’, seja em material extra bíblico – muito até mesmo de cunho ocultista.
São líderes, pastores, amigos, familiares, profetas, chefes, diretores, secretários, professores, pessoas de todas as idades, credos, posturas e perfis, cujo objetivo é servir ao seu próprio umbigo, lutar por um controle da situação e do outro, e que não sabem perder. 
São pessoas que ensinam torcendo a verdade, que buscam um bode expiatório prá tudo, que não reconhecem o próprio erro, não cedem, não mudam, preferem manter sua postura e forçar o outro a mudar, não perdoam, não compreendem, não deixam passar.
Pessoas que exigem explicação para tudo, que não aceitam a correção, que perdem a oportunidade da comunhão pelo simples fato de priorizarem as relações que lhes trarão maior retribuição.
Pessoas que defendem o ‘profeta’ a despeito da verdade, incoerentes que querem liberdade de expressão somente quando a manifestação não atingir suas crenças pessoais.
Pessoas que falam e agem como se conhecessem o coração alheio, como se fossem Deus.
Sim, denuncio quem quer que se apresente, ainda que sutilmente, manifestando estes comportamentos.
Uma denúncia, um desabafo, um ato de liberdade. Não consigo mais me calar, não posso, não quero e não vou mais me conformar.
Desfaço-me do silêncio e, com isso, desta estupidez.

Angela Natel – outubro/2014

domingo, 21 de outubro de 2018

Engano



Engana-se quem pensa que ajuda o próximo evitando falar-lhe pessoalmente, diretamente e em ambiente privado. A intimidade é assustadora, mas quando buscada, todos saem ganhando.

Engana-se quem pensa que faz justiça ao forçar o outro a agir conforme sua vontade. Mesmo que esteja com a razão, o modo como se age também requer ética e respeito.

Engana-se quem pensa que pode dizer o que quer, como quer. Palavras permanecem, ainda que momentaneamente ignoradas. Elas machucam, mesmo que passem sem nenhum tipo de justificativa. 

Engana-se quem pensa que pode se ausentar de repente da história de alguém e achar que isso não terá efeito algum no coração de ambos.

Engana-se.

Engana-se quem pensa que pode utilizar do outro para o que lhe interessa e, com a mesma facilidade, descartá-lo, quando lhe aprouver, sem que isso também traga sérias consequências, seja exterior, seja interiormente, em alguém.

Engana-se quem não se coloca no lugar do outro antes de tentar defender seus direitos.

Engana-se quem coloca coisas à frente de pessoas, é egoísta, tem a intenção de machucar. 

Engana-se quem pensa que minha missão é ensinar... vivo de aprender e de mudar. Sou constantemente desafiada a me deixar transformar: seja pelo bem, seja pelo mal que me sucede.

Engana-se quem pensa que não posso mudar de opinião, traçar o caminho em outra direção, delimitar minhas escolhas. Uma notícia não significa um futuro cristalizado... não passa de mais uma possibilidade...

Angela Natel - set/2014

sábado, 20 de outubro de 2018

Gosto de Halloween:



Gosto de Halloween porque me dá uma grande oportunidade de reflexão a respeito dos medos e verdadeiros inimigos da humanidade. Muitos se levantam armados dos pés à cabeça contra vampiros, lobisomens, máscaras e fantasias nesta época, mas admitem durante todo o ano a falsidade, a omissão de socorro, a hipocrisia e as pequenas corrupções do dia-a-dia.

Quem são nossos verdadeiros inimigos? O que mais corrompe nossas crianças: os brinquedos em forma de monstros do imaginários folclórico-cultural ou nossa falta de caráter e mau exemplo nas atitudes para com o próximo, esteja ele ou não de acordo com nossa opinião?

Fácil é queimar brinquedos e livros, censurar a arte e a cultura. Difícil é extirpar o mal de dentro de nós, amputar a ambição e a maldade, o preconceito e o julgamento precipitado, baseado na aparência.
Fácil é levantar a bandeira contra uma celebração anual, sabotar uma marca, criar um evento. Difícil é demonstrar amor ao diferente, ao que diverge da gente e estender a mão ao que menos se mostra a nós atraente.

Fácil é amar quem nos ama, sorrir a quem concorda conosco, ajudar o que se faz belo aos nossos próprios olhos. Difícil é ter uma postura mais crítica quanto a nós mesmos, ser misericordioso e pacificador neste mundo, ter fome e sede de justiça (a justiça de Deus, não a nossa - que não passamos de justiceiros cegos), amar e agir em favor de quem nos persegue.

Mas agir como Jesus é demais para nós. Por isso o Halloween se torna, muitas vezes, a válvula de escape dos inquisidores, e os monstros invisíveis (mais fáceis de exorcizar), nossos mais visados inimigos.

Enquanto isso, saímos às escuras para prosseguir em nossas práticas contra o próximo. Falsificamos, extorquimos, corrompemos, fazemos "justiça" com as próprias mãos, violamos o direito e buscamos nossos interesses acima do alheio. Somos gatos pardos na noite de nosso filme de terror chamado 'vida', e escapamos ilesos da condenação do evangelho distorcido que pregamos, num faz de conta que não passa de um belo baile de máscaras bem parecido com as celebrações de Halloween.

Angela Natel

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Abrindo-me para possibilidades...

Ironia é uma arma perigosa, principalmente para quem não sabe usá-la. Torna-se um perigo tanto para quem usa quanto para quem não a entende, porque leva a vida a 'ferro e fogo', sem a possibilidade do diálogo.

Claro que é mais fácil 'vomitar' nossas decepções no outro, sem ao menos tentar compreender suas razões. Exigimos justiça somente quando esta nos favorece - triste verdade.

É por isso que nesta manhã vale uma breve reflexão: será que não tenho nada a aprender com o que se passa? Será que as únicas lições que devo aprender estão nos livros didáticos e no conteúdo das ementas? Ou será que há algumas lições escondidas e inteligentemente encaixadas nas estruturas de nossos relacionamentos, nas decepções e supostos mal entendidos?

Será que as lições mais importantes das nossas vidas não se encontram exatamente onde as circunstâncias parecem conspirar contra nós?

Será que as atitudes alheias que mais nos incomodam não fazem parte de um jogo de ensino-aprendizagem que a vida, o destino, o transcendente - ou como você prefira chamar - prepararam para nosso crescimento, amadurecimento e proveito?

Quem realmente me conhece sabe que não me considero, nem de longe, a pessoa mais inteligente e esperta deste mundo, mas amo ironias - exatamente porque elas nos permitem transpor fronteiras e testar nossos limites. Aprendo com elas.

A interpretação de mundo é, portanto, um óculos crucial quando a escolha está entre exigir nossos direitos e aprender com aqueles que nos decepcionam.

Por isso, me dobro ante a possibilidade de aprender, e reconheço que posso ser mal interpretada em toda e qualquer situação.

Mesmo assim, minha decisão nesta manhã é aprender com tudo isso, não me justificar, compreender as decepções como lições e oferecer o que mais desejo neste mundo: amor.


Angela Natel

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Cruz: o lugar do encontro



Já imaginou um lugar onde as barreiras não existem, onde só há liberdade de ser, coragem de ser, vida em abundância e criatividade sem limites?

Já imaginou um lugar onde sofrer também tem suas vantagens, onde se pode crescer e criar pontes ao invés de muros?

Já imaginou um lugar onde não há espaço para religiosidade, fundamentalismos, falsos moralismos ou conformismos, onde o céu é o limite e a jornada está apenas começando?

Imagine comigo este lugar, cuja localização não é um espaço geográfico, mas um estado de espírito, uma estrada que nos ajuda a sair de nós mesmos para alcançar o outro.

Este lugar tão somente é como uma cruz, cuja essência é o encontro com o transcendente (linha vertical) e com o outro (linha horizontal), cujo caminho me ajuda a sair de meu mundo, meus dogmas, de mim mesma com meus pressupostos de certo e errado.

Sou levada a conhecer novas perspectivas, a calçar os sapatos do outro, desembaraçando-me das fôrmas que me comprimem a vida e a liberdade. Sou desprendida do medo e da insegurança.

Caminho por entre as linhas verticais desta cruz e encontro-me com o Outro capaz de libertar-me com Sua verdade. Sou iluminada e inspirada a prosseguir sem oprimir, assim como não sou por Ele oprimida. 

Sou conduzida, então, a amar sem medida, e atravessar as linhas horizontais desta cruz, onde me vejo estendendo a mão para quem precisa tanto quanto eu de misericórdia e graça - porque não sou melhor do que ninguém - e o faço não por constrangimento externo.

Amo porque sou amada sem exigências. E sem exigências quero amar.

Aceito porque sou aceita.

Estendo a mão porque da mesma maneira fui resgatada. 

E, se porventura me exigem além de meus limites, retorno ao encontro dAquele que não me exige nada, para reaprender a perdoar e a continuar, sem a necessidade de dar por tudo explicações - porque o Outro me entende, foi o único que já calçou meus sapatos e é o único que nada pede de mim.

Posso confiar neste lugar de encontro. Posso seguir neste estado de espírito sem medo, sem constrangimento. Não me envergonho de trilhar este caminho porque é o único onde vejo e sou vista como sou.

Isto é liberdade, é coragem de ser e se desprender, coragem de se relacionar e aprender. E é neste lugar que desejo permanecer.

Angela Natel - agosto/2014.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Livros



Os livros ajudam a reconstruir-me
Quando sou feita em pedaços.
Sou reconstruída a partir daqueles
Que já não são mais
Mas deixaram um legado.

Sou reconstruída sobre os que já não são
Cujas memórias remontam um tempo
que já não existe.
São pensamentos, vivências,
Experiências
De interioridade que os olhos não vão alcançar.

Interpretações da verdade,
Ideias e ideais
Permeadas de mística e religiosidade.
São críticas afiadas
Que me desafiam
A soltar as amarras de minha própria alma.

Livros me ajudam porque estabelecem uma ponte
Com aqueles cujo pensamento me atinge de longe.
Os reconheço
Trabalho com eles
E vivo cercada por tais testemunhas
que mesmo após a morte me ajudam
na reconstrução de minha própria identidade.

Sou reconstruída
A cada dia de uma maneira diferente
Pois são diversas as leituras
Infinitas as possibilidades,
Interpretações da verdade,
Do Deus que me molda,
Que justifica minha busca.

Livros, meu legado.
O que deixarei após minha morte
Partes de mim que compartilho a outros
Os mesmos pedaços que me reconstroem
Diariamente
E sob cujas páginas escondem tesouros
Da eternidade.

Angela Natel – 27/08/2014

terça-feira, 16 de outubro de 2018

A culpa é dele!

Depois de um evento tão impactante como o que assistimos pela TV paranaense a respeito do menino, filmado no zoológico pelo pai, correndo em frente a um tigre e se arriscando... até ter seu braço amputado após o ataque do animal, fico imaginando algumas implicações a respeito de meus próprios atos...
Quantas vezes brinco com o que devo deixar quieto, persisto em situações que não deveriam mais ocupar meu tempo e esforço... continuo me arriscando junto a pessoas que mais fazem mal do que bem ao me expôr, condenar, tentar medir minha 'espiritualidade' sem o menor conhecimento de causa, muito menos conhecimento da minha pessoa?
Quantas vezes, após ser ferida, maltratada, supostamente injustiçada, aponto o dedo sem o mínimo de hesitação, gritando:
'A culpa é do Diabo!', 'Foi o demônio!', 'Foi o outro que começou, que me atacou!'
'A culpa é dele, toda dele!'
E, ao gritar, nem me passa pela cabeça as horas em que me deleitei montando o cenário para que o desastre acontecesse, como que correndo em frente a um tigre faminto, sendo assistida por quem me ama, agindo inconsequente e sem nenhum tipo de aviso ou cuidado de quem talvez tenha mais experiência.
Fácil é agora querer sacrificar o tigre, querer exorcizar o demônio, culpa o diabo e criar toda a personificação da maldade necessária a fim de me isentar da responsabilidade por meus próprios atos.
Fácil é afirmar que foi só uma brincadeira, que o outro não precisava ter reagido como lhe é natural, que o outro é que deveria medir suas palavras e atitudes... quando comigo... foi só brincadeira.
Fácil é querer crucificar o outro e não a nossos próprios instintos zombeteiros para com o perigo, nossa autossuficiência e nosso suposto 'domínio da situação'.
Fácil é assistir de camarote enquanto o outro se arrisca... e ainda chamar gente prá comentar a cena, expondo e transformando a inconsequência alheia num espetáculo de circo.
Fácil é comentar com terceiros a respeito do que consideramos errado no outro, sem nem ao menos nos darmos ao trabalho de ir diretamente à pessoa e avisá-la do perigo.
Por isso, fácil é matar o tigre e botar panos quentes na consciência, enquanto se obriga a viver amputado de vigor e confiança na vida.
Afinal, a culpa é do diabo, é ele que merece o inferno - não eu - não é verdade?
Angela Natel - 02/08/2014

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Quando... - Dia do Professor




Quando mais aprendo
e me desafio constantemente.
Quando tento ultrapassar limites
e ser alguém mais, para exemplificar.
Quando me desdobro para ser compreendida
e traduzir ideias, conceitos, de maneiras diversas
tentando alcançar as diferenças em quem me ouve
e, de múltiplas maneiras, ser ouvida.
Quando me realizo, o tempo pára,
e naquele instante, toco a eternidade.
Quando sou ministrada, e minha falta de discernimento
é alcançada, ali não me sinto sozinha.
Quando minha vida faz sentido
e todo o trabalho é recompensado.
Quando sou aluna ao ensinar
e repartir de mim aos que ouvem.
É nesse instante que sou curada.
Sim, lecionar, para mim, é isso.
Cada aula, cada oportunidade,
uma chance de ser transformada.

Angela Natel - 15/10/2018

domingo, 14 de outubro de 2018

We're all sinners! - #Somostodospecadores



O dia se inicia numa sexta-feira fria em Curitiba. Estou em casa. Sinto-me em casa. Relaxo um pouco depois de uma semana cheia de turbulências. E que semana!
Sexta passada um monstro da literatura brasileira se foi: João Ubaldo Ribeiro. No sábado, foi a vez da despedida de Rubem Alves. Na quarta, Ariano Suassuna deu seu último suspiro e nos deixou. 
Em meio às perdas literárias, já se passam mais de 15 dias em que o mundo acompanha as notícias de centenas de mortes em Gaza, fruto de um embate cuja explicação contém sempre muitos hiatos, muitas reticências.
Ainda nesta semana de turbulências, participei de um ato em solidariedade às vítimas palestinas na região do conflito em Gaza - pela vida, pela paz, pelo consolo às famílias enlutadas.
Porém, o que mais me surpreende é a repercussão e o desvio que muito do discurso em favor da paz pode assumir, uma verdadeira subversão aos verdadeiros propósitos da defesa dos Direitos Humanos: a demonização do outro.
Independentemente da posição que se assuma em qualquer situação, o que permite o diálogo e a busca pela paz e soluções plausíveis dentro do respeito aos Direitos Humanos nunca envolve a violência como resposta, muito menos o discurso de ódio, a despeito da atitude alheia.
É muito fácil, em nossos dias, com o pouco de informação e experiência ao nosso alcance, assumirmos um discurso belo e formoso que em pouco tempo se transforma numa campanha em favor do aniquilamento de quem nos agride, seja manchando seu nome, sua reputação, ou incitando a violência contra ele. 
Não se trata de defender a agressão nem omitir justiça, trata-se de reconhecer a humanidade de toda e qualquer pessoa, seja quem ela for, bem como seus direitos como tal. Apontar o dedo e gritar: "Assassino!" é relativamente fácil. Difícil é perceber a repercussão que nosso discurso tem nos ouvidos dos incautos, e toda a inconsequência que se segue gerando novos atos de violência como resposta.
Não sei bem como essa reflexão chegará aos ouvidos e corações de muitas pessoas, mas não posso me omitir. 
Quando muitos me veem segurando uma bandeira palestina numa foto, abraçando líderes judeus, dialogando com ateus e teólogos cristãos e me envolvendo em discussões e pesquisas teológicas e em Direitos Humanos, sempre corro o risco de ser mal compreendida.
Por isso, quando me recordo da narrativa do evento de Jesus diante da mulher adúltera (João 8:1-11), quando sua fala permitiu aos ouvintes uma tomada de postura autocrítica, fico realmente imaginando-me na cena, se me considero com autonomia tal que possa atirar a pedra que for no outro que me ofende em palavras, atitudes ou ataques às minhas mais sinceras convicções.
Justiça precisa ser feita, mas de maneira humana e digna, sem que se assuma os mesmos meios de violência e ataque através dos quais se sofre a ação de outrem.
Vingança e discurso de ódio se auto reproduzem por si só, e precisam ser neutralizados com misericórdia, justiça, firmeza e solidariedade. Essa ideia é uma verdadeira revolução subversiva ao sistema que está há tanto enraizado em nossos corações. Somos imersos numa sociedade justiceira, que se manifesta quando se sente ameaçada.
É por isso que, mesmo em se tratando de uma reflexão pessoal como tantas outras que me permito fazer, desejo, de coração, que os leitores sejam desafiados da mesma maneira que estou sendo nesta semana de tantos embates internos e externos. Somos desafiados a repensar nossa maneira de responder às injustiças sofridas, a questionar nosso hábito de demonizar a pessoa humana, quando sua atitude nos agride de alguma maneira. 
Quem, neste mundo, se habilita a ser juiz do erro alheio, da falta de caráter e de amor? Quem, em todo este mundo, é perfeitamente capaz de, imparcialmente, distanciar-se de uma situação de injustiça e morte, e julgar o outro, exigindo do mesmo que pague com a própria vida, saúde, reputação ou dignidade, pelo mal feito a terceiros? Quem é capaz de determinar uma pena perfeitamente justa àquele que tira a vida de outro, sem recorrer à mesma atitude homicida?
São questionamentos que venho me fazendo nesta semana de milhares de perdas por todo o mundo.
Me solidarizo com as famílias enlutadas, não somente em Gaza, mas também em Angola, na Venezuela, na Colômbia, na Coréia do Norte, na Ucrânia, na Eritreia, na Síria, no Brasil, na Nigéria, nos Estados Unidos, na China, na Rússia, em Moçambique, e em tantos outros lugares. Como escrevi num poema, a morte nunca chega bem, mesmo quando vem silenciosa.
Mas não precisamos combater a morte com mais morte. Podemos levantar nossas vozes num discurso diferente, um discurso de paz, de vida, de ação consciente, de cuidado com as palavras que pronunciamos, porque inevitavelmente elas geram vida ou morte naqueles que a ouvem.
São palavras, que lanço numa tentativa de refletir mais a respeito, sem a pretensão de encerrar questões tão complexas como as que se nos apresentam.
Trata-se de uma reflexão humana, para corações humanos, passível de erro, como qualquer outra ação humana.

Angela Natel - 25 de julho de 2014.

sábado, 13 de outubro de 2018

Identificação


Todo o movimento do qual tenho feito parte, onde me identifico e pelo qual tenho lutado não diz respeito a justificar uns em detrimento de outros.
Minha luta pessoal tem sido no sentido de cessar a demonização do outro, da maneira que for. Não são palestinos os inimigos de Israel, não é Israel o inimigo da Palestina. Cada um é inimigo de si mesmo, quando desumaniza o outro, quando uma vida se torna apenas estatística, quando me atenho a números divulgados pela mídia para decidir de que lado vou ficar.
Minha luta é a favor da vida, de quem quer que seja, é a favor da paz. 
Tenho percebido que mais de 80% dos judeus não concordam com as decisões do governo de Israel. Tenho observado que há muito mais por detrás das notícias que precisamos saber.
Independentemente do tipo de informação que se recebe, uma vida que se vai é motivo suficiente para gerar tristeza e indignação. 
Por isso, seja a violência na Venezuela, a escravidão ainda existente no Brasil, o massacre dos indígenas brasileiros, ou o atual genocídio em Gaza, a imagem de Deus na humanidade precisa ser restaurada. A luta pela dignidade humana precisa ser abraçada com unhas e dentes.
Somos todos da mesma raça: a raça humana! Somos todos carentes de graça e misericórdia. Somos irmãos!
Eu me levanto pela paz, por uma justiça sem violência.
Minhas orações e minha luta é em favor de meus irmãos, árabes, judeus, cristãos, ateus, budistas, palestinos, israelenses, hinduístas, seja de qual raça, religião ou etnia for.
São meus irmãos, por quem vivo e quero lutar.

Angela Natel

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Essa é a vida! - Feliz dia das crianças!


Nesse dia das crianças, quero lembrar a mim mesma e a cada um de vocês algo de suma importância: a vida é assim!
Como a expressão idiomática que coloquei ao lado , na foto, e que significa "é a vida!", numa brincadeira com a literalidade das palavras e a imagem, precisamos lembrar que a vida é singular e nos apresenta desafios e oportunidades de aprendizado e mudança. Estamos constantemente sendo transformados através de nosso ambiente, nossas conversas e contatos, através de nossas leituras e experiências, sejam elas boas ou ruins.
Fato é que precisamos nos dar conta e pensar se estas mudanças são para melhor ou pior, se não devemos tomar algumas decisões que nos aperfeiçoem em nossos relacionamentos e trabalho. Será que não é um bom tempo para repensarmos nossos valores e verificarmos se não estamos alimentando o que há de pior em nós em vez de nos confrontar com a verdade, que pode nos libertar?
Como crianças, na simplicidade e na honestidade de nossa incompetência, -sim, porque crianças sabem reconhecer sua incapacidade - precisamos baixar a bola e delegar a razão, o controle e a compreensão do que está acontecendo para quem melhor entende das coisas.
É preciso reconhecer que não sabemos tudo, é preciso aprender a confiar no outro, dando-lhe algum crédito, e duvidarmos de nós mesmos de vez em quando.
Porque ser como criança é pré requisito fundamental para fazer parte do Reino de Deus.
Vamos aproveitar o dia de hoje para nos permitir reconhecer que a vida é assim, que precisamos uns dos outros, que estamos todos aprendendo e que somente Deus pode nos libertar de nós mesmos e de ,nossa auto-suficiência.
Feliz dia das crianças!
Angela Natel

Feliz dia das bruxas! - Happy Halloween!


Essa dor



Uma dor que chegou de repente
Nem sei de onde veio
Mostra força até quando respiro.
Uma dor que me parte ao meio.

O que eu faço com essa dor
Que ora aumenta, ora diminui?
Onde a deixo para eu me recompor?
Por que é que nada a dilui?

Se eu pudesse a enveloparia
E mandava prá bem longe daqui.
Se eu pudesse, a desintegraria
Essa dor que antes nunca senti.

Mas percebo que uma dor como essa,
Física, puramente física
Não me machuca tanto, não me abala

Essa dor, ainda que me limite,
Os movimentos, a concentração,
Não me tira o pensamento,
Nem muda minha razão.

Essa dor não me afasta de ninguém,
Pelo contrário, me faz depender,
Essa dor não me causa impedimento
Na dimensão do ser.

Então, menos mal que seja essa dor
Que me atinge no momento
Prefiro esta do que a dor do coração,
De consciência e de sentimento.

Angela Natel – 08/06/2015.

Paciência e coragem


Porque viver requer muita paciência,
E amar requer coragem.
O resto a gente dá um jeito, 
Corta o cabelo pela metade,
Desliza ao som de Madonna, Angra, Cazuza, Legião e Raul...
E, claro, tem Paralamas e Zazo, o Nego, e cada um tem seu momento,
Mas ainda é preciso paciência,
E coragem,
Porque as pessoas não deixam passar,
Rotulam, desprezam,
E ainda corro o risco de ser ignorada, desprezada, rejeitada,
Como sempre.
Preferia não precisar de ninguém,
E dizer coisas que só existem em pensamento,
Brincar novamente com as palavras na dor
E na alegria me divertir com a surpresa alheia.
Mas ainda me falta paciência
E talvez um pouco mais de coragem
Prá não sentir mais pela metade
E me entregar completamente
Ao risco, ao novo, à liberdade.
Angela Natel – 06/06/2015.

Quer entender melhor o porquê de tanta resistência, de tantas denúncias e indignação?


- procure conhecer a realidade dos diferentes estados brasileiros, e não apenas de onde você mora;
- pesquise a fundo sobre o sistema prisional brasileiro;
- pesquise a fundo sobre a bancada evangélica e individualmente seus membros;
- estude com atenção a Constituição Brasileira;
- pesquise a fundo sobre a vida nas favelas brasileiras;
- pesquise a fundo sobre a História da Igreja Cristã e sua relação com os poderes políticos em cada época;
- leia os Evangelhos, na Bíblia, e pesquise em diversos comentários bíblicos sobre os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João);
- pesquise a fundo tudo o que a Bíblia diz sobre o tratamento que deve ser dado ao estrangeiro;
- não leia apenas fontes que concordam com você;
- lembre-se que Deus não é propriedade de nenhuma linha teológica;
- lembre-se que o Israel político de hoje não é a mesma coisa que o Israel citado na Bíblia;
- tenha cuidado para compreender o sentido de cada texto bíblico dentro de seu contexto antes de usá-lo;
- aprofunde-se no estudo e uso da exegese e da hermenêutica bíblica;
- cuide para não defender cegamente a ninguém;
- lembre-se que todos são pecadores.

Angela Natel

Angústia




A angústia da minh’alma
derramo agora nestas linhas
choro, tristeza e pesar.

Ainda que os caminhos
e as possibilidades apareçam,
choro, tristeza e pesar.

Me vejo cercada de limitações
físicas, financeiras e emocionais,
é incerto o meu caminho.

Para toda chance, uma dificuldade,
para toda porta, uma grade,
é incerto meu caminho.

O desrespeito de quem está perto,
o desprezo de quem diz me amar,
palavras vazias ao vento.

São promessas não cumpridas,
cobranças que lembram que estou a sobrar,
palavras vazias ao vento.

Sou peso para uns,
incômodo para outros,
sem possibilidades de sair.

A dependência que escraviza,
a incompreensão que limita,
sem possibilidades de sair.

Fazem suposições sem perguntar,
calam sem querer dialogar,
são lágrimas que sufocam.

Exigem respeito sem respeitar,
oram a Deus sem amar, 
são lágrimas que sufocam.

Por isso ainda que eu estude,
ensine, escreva e produza,
sem chances de seguir adiante.

Segurança que falta,
não posso ficar, não tenho onde ir,
sem chances de seguir adiante.

Assim, querido leitor,
a angústia que se vê nestas linhas
mostra meu coração partido.

Por fim compartilho esta dor
já que a falta de amor
é a causa deste coração partido.

Angela Natel - 19/04/2015

O Reino para o qual não ofereço nenhum tipo de resistência

"Deixei para as 17h este texto que poderá também ser o último.
Quem saberá?
Este foi um ano tenebroso. Talvez culpa da idade, 33. A mesma do Cristo na cruz, não é o que dizem?
Estou todo ferrado.
Trabalho com ONGs. Coisa de vagabundo e que serão fechadas, conforme as promessas.
Escrevi muitos textos, fáceis de serem rastreados e jogados contra mim, para me pendurarem, no madeiro brasileiro, o pau-de-arara.
Então serei escorraçado, junto à metade dos que discordam e para não sofrer danos piores, terei de escolher um país. Qual?
Me indicarão Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. Eu penderei à Portugal, seus pastéis de nata e sua Lisboa literária. Ou a um cantão africano, suas cores e cantigas, onde o tambor dita o ritmo da resistência.
Resistirei.
Aqui ou acolá.
Sempre fui assim.
Era pra morrer no parto, na pedrada, nos capotes, na malária, no assalto, várias e várias vezes e segui resistindo.
Sempre saí com um sorriso meio amarelo, torto, fraco, para encarar a vida.
E cá estamos nós.
O que quer que venha. Resistirei.
Junto dos ninguéns, os esquecidos, os que são pesados em arrobas, os lixos deste mundo. Deles é o Reino de Deus não importa qual seja o governo dos homens.
E é junto deles que desejo ser achado. Em algum fim de mundo desta terra, no centro das periferias, centrado no amor.
Este poderá ser meu último texto aqui. Quem saberá?
O que é certo, porém, é que será o primeiro ato de um novo tempo de resistência e ação, afeto e amor, que esses dias odiosos me ensinaram. Para alguma coisa valeram: encorajaram-me a resistir.
E a crer na doce revolução, sem balas ou bandeiras. A única pela qual vale a pena entregar a vida.
Um Mundo Outro.
Que um rapaz de trinta e poucos anos do vilarejo de Nazaré ousou chamar de O Reino.
Nele, o menino coloca a mão da toca da serpente.
Cordeiro e leão dormem irmanados.
E a gente ama a Deus no amor ao outro, que sempre será meu próximo, mesmo que discorde de mim.
Depois de dias tenebrosos e de escuridão, o sol brilhará e trará com ele o cheiro da vida e as cores da manhã.
Então não haverá mais nada a resistir.
Me entregarei aos braços amorosos daquele que traz cicatrizes nas mãos. O torturado.
E lhe darei em definitivo o meu último, e talvez primeiro respirar depois de ter-lhe devotado a vida como o pior dos servos.
Ele é Kyrios. Senhor supremo e governa sobre mim.
Todos os outros governantes são eleitos.
Quanto a este, me elegeu para ser filho do Seu amor."

Gito Wendel

Fonte: https://www.facebook.com/gitowendel/posts/2033212123405836?__xts__[0]=68.ARD1Yq5U-J-K_2B_rbojFkMu31P87CyEO4_UmG-Pe9t5reIlcnC1ovPN_zMyFtvZKNbuPUt2PTT4_kys6HREjGyIRVaBU1MPlo8ji_uCfccQWFslWaUPSBaIZZHAQ88tWibzPIuUuGNSGk6Ky4kP-MyDJEFkRah17quiVngHbPOutW-idF3bFUPbO2qtj1vsd4Erdv58o3ZlOeSh8ZC4Q3E&__tn__=C-R

Morte à Arte, Morte às Vidas




A segunda imagem na foto é a de meu primeiro quadro em tinta acrílica, de quando comecei a aprender a técnica em 2009. Lembro que enfrentei inúmeros questionamentos a respeito da escolha da imagem: algo obscuro, uma Igreja, um cemitério, uma forca...
Gostei da imagem e a escolhi, dentre muitas outras opções. O objetivo era aprender a pintar em tela, e para primeiro quadro, pareceu-me um bom desafio.
Hoje me senti compelida a escrever a respeito, depois da notícia da selvageria que destruiu obras de arte de valor inestimável para a humanidade no museu da cidade de Mossul, no norte do Iraque, por fundamentalistas religiosos (primeira imagem).
É claro que não há comparação entre as obras destruídas no Iraque e meu primeiro quadro em tinta acrílica, pintado em 2009. Mas há algo em comum entre essas obras: todas foram destruídas sob argumentação religiosa.
Sim, esse quadro inofensivo foi destruído. Eu o guardava como uma relíquia, já que se tratava do primeiro de uma série que vim a produzir. A arte me ajudou em diferentes aspectos: emocional, social, criativo, entre muitos outros. Era um lembrete de que eu poderia ir sempre além, alcançar novos horizontes e superar o medo do desconhecido. Creio que a maioria das pessoas compreende este sentimento com relação a determinados objetos que lhe são caros, não pelo valor de mercado que se lhes atribui, mas pelo valor sentimental e subjetivo que eles representam em uma questão pessoal.
Certo dia, um amigo insistiu para que eu lhe desse de presente este quadro, exatamente pelo que ele representava: meu primeiro quadro. Apesar da relutância interior, pesei o valor do amigo a despeito do valor do quadro, e presenteei-lhe. Por muito tempo encontrei o quadro em um lugar de destaque na sala de jantar da casa deste meu amigo, e me alegrava ver não a imagem ou a peça sendo valorizada, mas minha pessoa, bem como minha constante recordação na casa de um amigo querido.
Até que um dia, em um lugar público, meu amigo contou-me, sem o menor remorso, que uma conhecida autodenominada missionária, ao visitá-lo deu de cara com meu quadro na parede e atribuiu-lhe uma presença supostamente demoníaca, por causa do teor da imagem retratada nele. Diante desta manifestação, e a pedido da religiosa, meu amigo entregou-lhe o quadro, para que fosse destruído.
No momento em que ele me contou, não sabia se ria ou chorava. A única lembrança que tenho do quadro é a imagem da foto – pelo menos, a mania de fotografar tudo o que faço me deu uma vantagem desta vez -, parecia-me inconcebível tal ato e eu não sabia explicar o porquê deste sentimento que se instalou dentro de mim que representava tanta tristeza e tanta indignação.
Eu não sabia até o dia de hoje, quando me deparei com a outra imagem, da destruição das obras de arte no Iraque. Ao ler um comentário de outro amigo, referindo-se à matança de pessoas, compreendi uma frase de Heine que li há muito tempo atrás: “Onde se lançam livros às chamas, acaba-se por queimar também os homens” (prefácio de ‘Fahrenheit 451’ – Ray Bradbury – p.20). A arte é muito mais do que objetos lançados ao mundo, fruto do trabalho humano. A arte é a extensão do homem, de sua criatividade, é a produção cultural do ser humano, a maneira como o ser humano se eterniza e faz história. Quem é capaz de destruir a produção cultural humana, é capaz de destruir um ser humano.
Não é exagero pensar que quando uma pessoa se levanta para queimar livros, cds, imagens ou qualquer produção artística, sob o argumento que for, poderá não distinguir o valor de uma vida quando sua argumentação chegar a âmbitos equivalentes. Quem é capaz de queimar um quadro, pode massacrar uma pessoa, seja com palavras ou atitudes, seja física, emocional ou espiritualmente.
As religiões do mundo não possuem base suficiente para respaldar atos como os descritos acima. Tais atitudes revelam o perigoso fundamentalismo que não enxerga além de seus estatutos, e que por isso os tem acima do valor da vida humana.
Essa é a razão porque senti urgência em deflagrar atos como este, não menosprezando as vidas que se perdem por causa da perseguição religiosa, muito pelo contrário, alertando para o fato de que atitudes como as descritas aqui são o prenúncio de que coisas muito piores podem estar por vir.
Não sei se aquele amigo compreende a profundidade do que aconteceu, e não o culpo por isso. O que me entristece é o descaso para com as implicações de atos tão trágicos como estes.

Angela Natel
27/02/2015

Preço e Valor



Nesta vida, nem tudo se paga com dinheiro. Eu posso pagar caro por minhas escolhas erradas, pagar pato, pagar prá ver. Nem sempre amor com amor se paga e ainda nem sempre estou disposta a pagar o preço para avançar em minhas conquistas.
É uma pena que muitas pessoas ignorem o quanto me fazem pagar por inúmeras situações que lhes desagradam pelo simples fato de não concordarem comigo. Além disso, quem paga minhas contas se acha no direito de controlar minha vida e, quando se recusam a pagar, eu digo: ‘Você pode não pagar minhas contas, mas eu continuo pagando por sua ignorância.”
Dinheiro é uma bênção e uma maldição, mas o amor ao dinheiro é sempre desastroso. Quando decido que o dinheiro vale mais que uma amizade, quando passo por cima da educação e do respeito a fim de cobrar uma dívida, quando, mesmo em meu direito, ultrapasso as linhas da misericórdia e do convívio, todos pagam, e pagam caro por isso.
Às vezes, para se manter um relacionamento, é preciso pagar, seja ouvindo desaforos, sendo abusado, desrespeitado. Mas que tipo de preço é este? Vale tudo isso?
Então percebo que preço e valor são duas coisas bem diferentes. O que vale e o que eu pago. Não se trata de consumo, capitalismo, troca, trata-se de valor, ética, respeito, doação e renúncia. Quanto vale um amigo para mim? Qual é o preço que estou disposta a pagar para manter esse relacionamento?
Eis o real valor das coisas: quando eu não tiver mais por perto, me arrependerei do que estou fazendo hoje com respeito às pessoas? Sim, o valor está nas pessoas, mas o preço que estou disposta a pagar é decisão minha.

Angela Natel – 07/02/2015

Espiritualidade irrelevante: cérebro de macaco, espírito de porco

Em dias cujas principais manchetes giram em torno da amputação da vida devida à intolerância, seja na França, na Nigéria ou em qualquer lugar onde a vida e a dignidade humana perderam seu valor prioritário, não me assustam notícias a respeito de afirmações como a mencionada na ilustração – de que os seres humanos não passam de fruto do intercurso de macacos com porcos.
Os primatas há muito são considerados por diversos segmentos da sociedade a raça originária da humanidade. Apesar de suas habilidades capazes de realizar complexas atividades, estes seres ainda estão aquém do que um ser humano é capaz de fazer. Essas limitações se estendem desde o plano físico até o que podemos chamar de espiritualidade ou mística – a busca pelo transcendente.
Quanto aos suínos, sua fama com relação às preferências higiênicas resultou na famosa expressão ‘espírito de porco’ que, de forma básica, pode ser compreendida para se referir a uma pessoa cruel, ranzinza, que se especializa em complicar situações ou em causar constrangimentos .
Devido a essas características, ainda que minha opinião pessoal com relação à afirmação de alguns cientistas não venha agora ao caso, não posso deixar de rir e concordar que nossa espécie está mais para confirmar do que desabonar tal afirmação, principalmente no que diz respeito à espiritualidade.
Qualquer pessoa, independentemente de se dizer crente em algo, lida com o transcendente de acordo com sua cosmovisão – a maneira que interpreta a si mesma e o que a cerca. Para tanto, pode-se autodenominar ateu, monoteísta, politeísta, henoteísta , de acordo com a referência de divindade que possui. Estas questões não deviam nos incomodar tanto, já que o resultado desta espiritualidade individual é que precisa ser refletida de maneira saudável na sociedade como um todo.
Seja a pessoa portadora de convicções e crenças aceitáveis para maioria ou não, todo tipo de espiritualidade precisa ajudá-la na compreensão de si mesma e, principalmente, no trato com o outro (Outro como transcendente ou outro como semelhante, porém diverso de si, para além de si). A espiritualidade que se resume a ritos que se concentrem na satisfação de si mesmo e que tenham como único fim a autoafirmação e reiteração de determinadas crenças e códigos, além de irrelevante pode tornar-se extremamente prejudicial à sociedade.
Dito isto, não cabe aqui estabelecer ou determinar que tipos de espiritualidade são relevantes ou não. Mas é possível, a cada um, exercer uma autocrítica consciente a fim de se policiar nos fins justificativos das ações que exercemos para concretizar esta espiritualidade. Para tanto, pensemos sobre nossas práticas, os locais onde costumamos nos reunir, nossos objetivos pessoais e comuns, os ritos e liturgias que seguimos, os manuais que temos como bases para nosso código de ética pessoal. Estes itens podem sinalizar se o que buscamos e a influência que efetivamente exercemos na sociedade têm sido mais relevantes do que prejudiciais.
Algumas perguntas podem nos ajudar nesse sentido: Será que nossas ‘reuniões’, nossos programas e grupos aos quais pertencemos têm valorizado e proporcionado à vida daquele que é diferente maior dignidade e possibilidade de subsistência? Será que nossos ritos têm nos ajudado a ter maior consciência do outro e de suas necessidades e de como podemos supri-las ou têm apenas reforçado ideias que não saem do plano do discurso vazio? Será que nossa espiritualidade ou maneira de vivenciar o que acreditamos tem nos ajudado a construir uma sociedade livre, com menos armas defensivas contra argumentos e críticas e mais disposição para o diálogo e a busca pela compreensão das razões do outro? Será que os benefícios de nossas crenças são apenas privilégios para os que pensam como nós? Será que não estamos mais propensos a defender nossas ideias do que a vida humana?
A estes questionamentos juntam-se a minha indignação com a atitude de pessoas que usam a própria religiosidade para se autopromover, ao mesmo tempo em que ignoram sua necessidade de estabelecer pontes de relacionamento com aqueles que discordam de suas ideias e posturas. Pessoas que parecem exemplo aos que distante estão, mas que entre familiares subjugam, oprimem, destratam e não são capazes de admitir seus próprios erros. Líderes – religiosos ou não – que impõem a própria vontade a outros, mas que são incapazes de servir aos que julga inferiores a si mesmo sem esperar nenhum tipo de retribuição.
Estes, não tenho receio em afirmar, são os perfeitos protótipos resultantes da coabitação entre macacos e porcos: limitam-se a si mesmos em uma mentalidade defensivamente instintiva e agem de forma cruel com o próximo, a despeito de seu valor intrínseco como ser humano. São cérebros de macaco com espírito de porco ambulantes, santos do paoco , cães que perseguem a própria cauda, cuja vida tem seu fim em si mesmo, sem a mínima intenção de sair perdendo em nada.
E ao surgirem as crises relativas a ataques contra a vida e a dignidade humana, como as que temos presenciado em nossos dias, este tipo de espiritualidade fica mais evidente, quando os ritos não fazem nenhuma diferença, quando as práticas se tornam tão vazias que não constroem nenhum tipo de ponte para a solidariedade – apenas incitam a mais retaliação.
Se minha espiritualidade só me leva a condenar e a ameaçar a vida alheia, ou pior, se esta espiritualidade gira apenas em torno de mim mesma, ignorando o outro e a possibilidade de renunciar minhas necessidades e desejos em favor do próximo, sou obrigada a concordar que não passo do produto de uma mentalidade primata com um espírito suíno.
Angela Natel – 16/01/2015

O deus de Frankenstein



O deus mais adorado em nossos dias é o deus de Frankenstein. Parece loucura, mas não é. Pode-se observar facilmente como nossa busca pelo transcendente tem caído num antropomorfismo exacerbado.
Isso significa que em nosso desespero por algo além de nós mesmos acabamos por criar uma divindade ou um ser transcendente que não passa de um produto de nossa própria imaginação, um deus 'à nossa imagem e semelhança' e não o contrário.
Trata-se de uma divindade cujas características que reconhecemos são as que nos são convenientes - escolho na Bíblia ou em outras literaturas religiosas somente aquilo que entendo, concordo e aceito, e monto meu deus de Frankenstein conforme minhas necessidades, anseios e lógicas.
Não se trata de um Criador, mas de uma criatura de minha própria imaginação. Posso pensar nesse deus como uma força ao mesmo tempo em que, incoerentemente, me reconheço como sua imagem e semelhança. Falo dele como salvador, poderoso, ao mesmo tempo em que o trato como um gênio da lâmpada totalmente a meu dispôr. Posso reconhecer sua existência e divindade, mas na prática lido com ele como se fosse meu servo, um Papai Noel do ano todo, punindo os maus e recompensando os bons.
Dessa forma, monto meu deus de Frankenstein com peças de inúmeras teologias, mitos e fontes religiosas, sem nem ao menos elaborar uma noção coerente do que pode ser uma divindade.
Um deus que me é conveniente, que atenda às minhas necessidades sem comprometer minhas vontades, um deus construído a partir de minha imagem e limitações.
Sim, e ainda posso querer defendê-lo perante outros, pois é inadmissível para minha teologia qualquer tipo de questionamento.
Este é o deus de Frankenstein, que mais se parece comigo do que eu com ele, apesar de ter sido construído de partes diferentes do espaço e do tempo no imaginário humano. Um deus que nada tem em comum com uma divindade específica dentro de uma unidade de fé - seja cristã, muçulmana, judaica, hindu, animista, etc. 
Por si só é uma incoerência existencial, assim como o monstro de Frankenstein, criado a partir do ser humano, sem a possibilidade de interagir de modo saudável com o mesmo, devido às suas inúmeras limitações.
Um deus de Frankenstein é limitado e confuso, incapaz de preencher as lacunas da alma humana, exatamente porque se restringe a ela. Sua dimensão não alcança os limites do inexplicável.
Infelizmente, por ser muito comum em nossos dias, o deus de Frankenstein toma o espaço do transcendente em nossas vidas - nos dá conforto, alivia momentaneamente a consciência, tapa alguns buracos no sistema explicatório de nossa cosmovisão. Sistematizamos facilmente esta divindade, porque cabe em nossa mente, podemos sondá-lo em todas as suas dimensões. Assim, fica mais difícil sairmos da zona de conforto em busca de algo maior do que nós mesmos - um Deus inexplicável, pessoal, diferente e acima de todas as coisas criadas.

Sempre gostei da história do monstro de Frankenstein. Só nunca antes tinha imaginado que pudéssemos nos dobrar a uma divindade semelhante a ele.
Por esta razão decidi de uma vez por todas que prefiro mil vezes ser compreendida a compreender, e me dobro ante o inexplicável.
Que meus monstros interiores não tomem o lugar que só a Deus pertence, e que este Deus inexplicável nunca se limite ao tamanho de minha teologia.

Angela Natel - 02/12/2014.

Minhas decepções e casos sem solução derramo aqui.



Iludi-me sem a ajuda de ninguém.
Assumo que carreguei por anos o mal do falso ensino de que deveria viver às custas dos outros para servir, sem me preocupar com o verdadeiro preço de ser discípulo de Cristo.

Achava que poderia interpretar a Bíblia de acordo com meu limitado conhecimento, mesmo sem entendimento do contexto e das implicações de cada passagem.
Pensei e ensinei por anos mentiras e desilusões em meio a algumas verdades, que não deixaram de ter valor devido à minha irresponsabilidade.

E, ao refletir sobre esses erros e enganos, tanto de minha parte quanto naquilo que ensinei e - pesarosamente confesso - reproduzi de errado na vida de muitas pessoas, tentei ir a outro extremo, e trabalhar vivendo de meu próprio esforço e mérito.

Descobri as injustiças de trabalhar sem receber, ser enganada, ludibriada, repetidamente esquecida e me vendo esforçando-me sem retorno.
Deixei muitos queridos na mão devido a não sei o quê, deixei-os sem explicação.

Busquei tratamento, ajuda, estudo, trabalho. Busquei uma vida 'normal' para não mais viver às custas dos outros. Mas descobri a existência de 'outros' que exigem um certo compromisso para comigo mas não suportam serem exigidos de mim. 
'Queimo meu filme', ao tentar exigir direitos que, por caminhos bem delineados, me são negados.

Não sei mais o que é viver pela fé, a não ser que está bem longe de ter algum tipo de relação com a meritocracia. 

Por isso este desabafo. Porque não suporto viver sob as máscaras de um sorriso maquiado dissimulando uma harmonia que desconheço. Porque não consigo evitar as náuseas ao observar aqueles que conviviam comigo repetindo os mesmos erros, ensinando os mesmos enganos que aprenderam de mim. Enganos estes tanto em relação à suposta 'vida pela fé' quanto à própria interpretação herética de inúmeros textos bíblicos para justificar dogmas humanos infiltrados na mensagem cristã.

Me perdoem, não era prá ser assim.

E não há muito o que fazer a respeito, já que por inteira dependo da graça e da misericórdia de Deus. Da mesma forma peço misericórdia, confesso meus enganos e comprometo-me a continuar tentando, e restituindo a todos que, de alguma forma, prejudiquei.

Angela Natel

nov/2014

Posicionamento político

Não adianta se dizer contra a corrupção e:

intimidar quem pensa diferente de você,
não se importar em espalhar mentiras,
cometer crime eleitoral ao indicar candidato em culto religioso,
defender seu candidato acima da verdade,
apontar para o erro do outro sem considerar o seu,
achar que só o outro pode estar errado,
desumanizar e/ou demonizar pessoas,
defender seu candidato antes de amar.

Porque corrupção não se resume a dinheiro. Todos possuem uma alma corrompida, contra a qual lutam diariamente. Ignorar isso faz com que pensemos que nunca podemos nos enganar.

Reconhecer nossa corrupção é olhar para o outro como alguém por quem Cristo também morreu, e tratá-lo como tal.

Por isso, escolha, como presidente, aquele que melhor te representa, dentro das funções próprias que cabem a um presidente, que deve estar apto para governar todos os brasileiros, não somente um grupo.

O presidente não representa Deus, não é capaz de legislar sobre o corpo nem sobre a consciência de ninguém. Por isso pesquise suas atribuições, os planos de governo de cada candidato e cuide em buscar fontes confiáveis para as informações.

Como já afirmei, não discuto meu posicionamento político pessoal em redes sociais. Quem me julga é Deus, e diante dEle é que responderei pelos meus atos e escolhas segundo meu amor por Ele e pelo próximo.
Quem paga o preço de caminhar perto de mim me conhece e não me cobra explicações.

Agradeço o respeito e a compreensão de todos.

Angela Natel .

31 de outubro: Responsabilizando-nos pelas máscaras que usamos



Tenho lido várias postagens a respeito do Halloween, com explicações bem superficiais e um tanto quanto gerais, afirmando que Deus abomina essas coisas, etc.
Bom, tendo por base o texto da Bíblia para afirmar o que Deus abomina, é possível também afirmar que toda hipocrisia, falso testemunho, idolatria, egoísmo, avareza, mentira e, principalmente, toda tentativa de se colocar como Deus, bem como afirmar conseguir perscrutar os pensamentos de Deus não são atitudes lá agradáveis a Ele, porque tomam o lugar que é só dEle.
Além disso, falar e divulgar que Halloween é a mesma coisa que comunicar-se diretamente com os mortos, como também já li em alguns textos, não passa de falso testemunho. Muitas são as razões para que se pense duas vezes antes de demonizar tal festa no Ocidente. Uma delas é o fato de que, na prática atual, não tem passado de um divertido baile de máscaras moderno, regado a muitos doces. Há, inclusive, para simplificar a explicação, a base histórica e cultural europeia desta celebração que é o fundamento para o uso de máscaras e fantasias, de utilizá-las exatamente por medo de serem reconhecidos como seres humanos, e assim protegerem-se do ataque de seres não-humanos.
Nesse sentido, a prática não é nada diferente dos usos e costumes que se acumulam em toda a sociedade ocidental, inclusive no meio dito evangélico, no que diz respeito a utilizar-se de ‘máscaras’, atitudes assumidamente falsas na representação social a fim de que não se sofra nenhum tipo de retaliação, como no caso de se assumir a verdade.
Dessa forma, falar de Halloween não é mais demoníaco do que endeusar reformadores que nunca tiveram a intenção de serem tidos como super-homens da história cristã, nem mais demoníaco do que inverter valores, agir preconceituosamente, valorizar a forma em detrimento da essência das coisas, defender hipocritamente festas como Natal (de origem não menos pagã que o Halloween) e ainda usar de argumentos com um sentido tal que faça com que pessoas menos informadas acreditem que a voz que ouvem é a de Deus e não a de um ser humano tão falho quanto elas, com suas limitações, preconceitos e também falta de informação.
Dessa maneira, não tomo para mim como se falando ‘em nome de Deus’, mas levanto um questionamento para que se olhe em direção a Jesus, no sentido de condenar mais a hipocrisia do que fontes pagãs, chamando a atenção para a justiça, o amor e a misericórdia mais do que um levante contra culturas humanas que nada mais são do que um reflexo delas mesmas.
Me alegro com a Reforma Protestante, sim, mas não me atrevo a encarar as pessoas envolvidas neste processo (que, de modo algum foi mérito de um só homem) como superiores a qualquer pequenino que volte seu coração para a verdade.
É por isso que considero o Halloween uma ótima oportunidade de reflexão e decisão para significativas mudanças em minha vida pessoal, principalmente no que diz respeito a uma vida de integridade e transparência. Também não ignoro o Natal mas, da mesma forma que no caso do Halloween, ressignifico o que me parece conveniente, já que, como ser humano que sou, posso usar de minha criatividade e trabalhar no desenvolvimento da cultura que me cerca, sem agir de forma incoerente (demonizando uma festa pagã e celebrando outra, ou até mesmo agindo sincreticamente na adaptação de outras festas do calendário denominado pagão às celebrações na Igreja, como tenho observado em muitas falas e ações ditas evangélicas).
Sou, sim, passiva de erro, mas nem por isso deixo de me expor, uma vez que também possuo o direito à liberdade de expressão. Penso ser de bom proveito dar a oportunidade dos leitores de refletir e questionar antes de condenar quem quer que seja. Não condeno quem pensa e age diferente de mim, da mesma forma que espero não ser condenada por isso, uma vez que, creio eu, somente Deus pode, de fato, determinar a condenação de alguém.

Sou grata pela misericórdia de Deus que nos alcança e que torna possível nossa transformação mesmo em meio às culturas imperfeitas que produzimos.

Nesse sentido, com o Halloween, celebro a queda das máscaras de nossa hipocrisia, o fim dessa atitude idólatra de nos colocarmos como deus de nossa sociedade (ao determinarmos quem é salvo e quem deve ser condenado), dessa postura de quem acha que consegue ler os pensamentos e as intenções das pessoas e até mesmo determinar os pensamentos de Deus. 
Celebro o fim da fantasia megalomaníaca de quem assume o nome de Cristo sem tentar seguir Seus passos nem se parecer com Ele em suas atitudes. Esta é a verdadeira Reforma que necessitamos: um chamado à mudança de nossas estruturas, talvez menos reforma e mais desconstrução de nós mesmos para que um novo ser humano nasça com uma nova natureza - Cristo vivendo em nós e através de nós, sem máscaras, sem condenações, sem hipocrisia, sem meias verdades e sem dois pesos e duas medidas. Esse tipo de ‘reforma’ com certeza incomodaria por demais muitos dos que defendem a comemoração da tão aclamada ‘Reforma Protestante’ e demonizam o Halloween.
Assim, prefiro apresentar Cristo às pessoas do que tentar convencê-las de seus pecados (já que essa é uma tarefa do próprio Deus e eu não sou Ele). Prefiro apontar para o exemplo de Jesus do que lutar contra culturas humanas que não são, na realidade, ameaças à verdade. Acredito que a luz brilha na escuridão, e por mais densa que esta seja, não impedirá a verdade de resplandecer.
É isso que nossa sociedade precisa: largar as máscaras do medo de ser retalhado por falar a verdade que é Cristo, cheio de graça e de misericórdia, numa justiça que não ataca o outro como justiceiro mascarado, mas que ensina através do sofrimento, da renúncia e do repartir de si mesmo com o outro, independentemente de quem ele seja.
Quando as pessoas perceberem que vivemos num constante Halloween, usando máscaras no dia-a-dia para fugir do que tememos e não assumir nossas verdadeiras responsabilidades, esta ‘festa pagã’ assumirá um novo significado para a nossa cultura e nossa história. Quando as pessoas perceberem que não necessitamos mais de uma reforma, mas sim de um novo nascimento, iremos experimentar mais do que Jesus Cristo realmente viveu e ensinou.

E boas festas a todos!

Angela Natel – outubro de 2014.

(C)Omissão



Hoje li um dizer de Eduardo Galeano: "Temos guardado um silêncio bastante parecido com estupidez" (Eduardo Galeano, do livro "As Veias abertas da América Latina")

Isso me impulsionou a não manter-me mais em silêncio diante das injustiças, dos abusos, da opressão e da intimidação que tenho presenciado.
São pessoas que se dizem ‘de confiança’, mas anunciam publicamente informações confidenciadas, humilham e em seguida dizem que se trata de brincadeira, exploram os subordinados ‘por amizade’...
Pessoas que ocupam a maior parte do tempo em assuntos que gravitem em torno de si mesmos, deixando e pondo de lado o que importa ao outro.
São pessoas que não pensam antes de comentar nossos erros, de dar nomes às nossas falhas e explicar nossas faltas, mas que falam e agem como se fossem os ‘donos da verdade’, ainda que fundamentem a maior parte de sua opinião no que veem e ouvem na televisão.
São pessoas que cobram presença, reclamam de serem ‘os últimos a saber das coisas’, vivem competindo e intimidando, e ainda fazem questão de anunciar nossas falhas, mesmo as que cometemos na infância.
São pessoas controladoras, manipuladoras, falsas, intolerantes, que mantém seus subordinados no cabresto, exigindo e determinando as escolhas alheias.
São pessoas que pedem coisas ‘para ontem’, mas não têm pressa alguma em ajudar quando requisitados.
São pessoas que vivem reclamando de sua condição, mas quando ouvem uma reclamação, tratam-na com insignificância, comparando a dor alheia com algo que julgam pior, para que o outro se envergonhe de ter reclamado.
São pessoas que consideram as bandeiras que defendem como únicas e melhores, ignorando que os outros podem servir e atuar em diferentes áreas sem o seu conhecimento.
São pessoas que se autoproclamam profetas de Deus, mas baseiam suas palavras e atitudes em fontes duvidosas – seja uma distorção clara de textos bíblicos, seja em informações obtidas em ‘entrevistas com demônios’, seja em material extra bíblico – muito até mesmo de cunho ocultista.
São líderes, pastores, amigos, familiares, profetas, chefes, diretores, secretários, professores, pessoas de todas as idades, credos, posturas e perfis, cujo objetivo é servir ao seu próprio umbigo, lutar por um controle da situação e do outro, e que não sabem perder. 
São pessoas que ensinam torcendo a verdade, que buscam um bode expiatório prá tudo, que não reconhecem o próprio erro, não cedem, não mudam, preferem manter sua postura e forçar o outro a mudar, não perdoam, não compreendem, não deixam passar.
Pessoas que exigem explicação para tudo, que não aceitam a correção, que perdem a oportunidade da comunhão pelo simples fato de priorizarem as relações que lhes trarão maior retribuição.
Pessoas que defendem o ‘profeta’ a despeito da verdade, incoerentes que querem liberdade de expressão somente quando a manifestação não atingir suas crenças pessoais.
Pessoas que falam e agem como se conhecessem o coração alheio, como se fossem Deus.
Sim, denuncio quem quer que se apresente, ainda que sutilmente, manifestando estes comportamentos.
Uma denúncia, um desabafo, um ato de liberdade. Não consigo mais me calar, não posso, não quero e não vou mais me conformar.
Desfaço-me do silêncio e, com isso, desta estupidez.

Angela Natel – outubro/2014

Engano



Engana-se quem pensa que ajuda o próximo evitando falar-lhe pessoalmente, diretamente e em ambiente privado. A intimidade é assustadora, mas quando buscada, todos saem ganhando.

Engana-se quem pensa que faz justiça ao forçar o outro a agir conforme sua vontade. Mesmo que esteja com a razão, o modo como se age também requer ética e respeito.

Engana-se quem pensa que pode dizer o que quer, como quer. Palavras permanecem, ainda que momentaneamente ignoradas. Elas machucam, mesmo que passem sem nenhum tipo de justificativa. 

Engana-se quem pensa que pode se ausentar de repente da história de alguém e achar que isso não terá efeito algum no coração de ambos.

Engana-se.

Engana-se quem pensa que pode utilizar do outro para o que lhe interessa e, com a mesma facilidade, descartá-lo, quando lhe aprouver, sem que isso também traga sérias consequências, seja exterior, seja interiormente, em alguém.

Engana-se quem não se coloca no lugar do outro antes de tentar defender seus direitos.

Engana-se quem coloca coisas à frente de pessoas, é egoísta, tem a intenção de machucar. 

Engana-se quem pensa que minha missão é ensinar... vivo de aprender e de mudar. Sou constantemente desafiada a me deixar transformar: seja pelo bem, seja pelo mal que me sucede.

Engana-se quem pensa que não posso mudar de opinião, traçar o caminho em outra direção, delimitar minhas escolhas. Uma notícia não significa um futuro cristalizado... não passa de mais uma possibilidade...

Angela Natel - set/2014

Gosto de Halloween:



Gosto de Halloween porque me dá uma grande oportunidade de reflexão a respeito dos medos e verdadeiros inimigos da humanidade. Muitos se levantam armados dos pés à cabeça contra vampiros, lobisomens, máscaras e fantasias nesta época, mas admitem durante todo o ano a falsidade, a omissão de socorro, a hipocrisia e as pequenas corrupções do dia-a-dia.

Quem são nossos verdadeiros inimigos? O que mais corrompe nossas crianças: os brinquedos em forma de monstros do imaginários folclórico-cultural ou nossa falta de caráter e mau exemplo nas atitudes para com o próximo, esteja ele ou não de acordo com nossa opinião?

Fácil é queimar brinquedos e livros, censurar a arte e a cultura. Difícil é extirpar o mal de dentro de nós, amputar a ambição e a maldade, o preconceito e o julgamento precipitado, baseado na aparência.
Fácil é levantar a bandeira contra uma celebração anual, sabotar uma marca, criar um evento. Difícil é demonstrar amor ao diferente, ao que diverge da gente e estender a mão ao que menos se mostra a nós atraente.

Fácil é amar quem nos ama, sorrir a quem concorda conosco, ajudar o que se faz belo aos nossos próprios olhos. Difícil é ter uma postura mais crítica quanto a nós mesmos, ser misericordioso e pacificador neste mundo, ter fome e sede de justiça (a justiça de Deus, não a nossa - que não passamos de justiceiros cegos), amar e agir em favor de quem nos persegue.

Mas agir como Jesus é demais para nós. Por isso o Halloween se torna, muitas vezes, a válvula de escape dos inquisidores, e os monstros invisíveis (mais fáceis de exorcizar), nossos mais visados inimigos.

Enquanto isso, saímos às escuras para prosseguir em nossas práticas contra o próximo. Falsificamos, extorquimos, corrompemos, fazemos "justiça" com as próprias mãos, violamos o direito e buscamos nossos interesses acima do alheio. Somos gatos pardos na noite de nosso filme de terror chamado 'vida', e escapamos ilesos da condenação do evangelho distorcido que pregamos, num faz de conta que não passa de um belo baile de máscaras bem parecido com as celebrações de Halloween.

Angela Natel

Abrindo-me para possibilidades...

Ironia é uma arma perigosa, principalmente para quem não sabe usá-la. Torna-se um perigo tanto para quem usa quanto para quem não a entende, porque leva a vida a 'ferro e fogo', sem a possibilidade do diálogo.

Claro que é mais fácil 'vomitar' nossas decepções no outro, sem ao menos tentar compreender suas razões. Exigimos justiça somente quando esta nos favorece - triste verdade.

É por isso que nesta manhã vale uma breve reflexão: será que não tenho nada a aprender com o que se passa? Será que as únicas lições que devo aprender estão nos livros didáticos e no conteúdo das ementas? Ou será que há algumas lições escondidas e inteligentemente encaixadas nas estruturas de nossos relacionamentos, nas decepções e supostos mal entendidos?

Será que as lições mais importantes das nossas vidas não se encontram exatamente onde as circunstâncias parecem conspirar contra nós?

Será que as atitudes alheias que mais nos incomodam não fazem parte de um jogo de ensino-aprendizagem que a vida, o destino, o transcendente - ou como você prefira chamar - prepararam para nosso crescimento, amadurecimento e proveito?

Quem realmente me conhece sabe que não me considero, nem de longe, a pessoa mais inteligente e esperta deste mundo, mas amo ironias - exatamente porque elas nos permitem transpor fronteiras e testar nossos limites. Aprendo com elas.

A interpretação de mundo é, portanto, um óculos crucial quando a escolha está entre exigir nossos direitos e aprender com aqueles que nos decepcionam.

Por isso, me dobro ante a possibilidade de aprender, e reconheço que posso ser mal interpretada em toda e qualquer situação.

Mesmo assim, minha decisão nesta manhã é aprender com tudo isso, não me justificar, compreender as decepções como lições e oferecer o que mais desejo neste mundo: amor.


Angela Natel

Cruz: o lugar do encontro



Já imaginou um lugar onde as barreiras não existem, onde só há liberdade de ser, coragem de ser, vida em abundância e criatividade sem limites?

Já imaginou um lugar onde sofrer também tem suas vantagens, onde se pode crescer e criar pontes ao invés de muros?

Já imaginou um lugar onde não há espaço para religiosidade, fundamentalismos, falsos moralismos ou conformismos, onde o céu é o limite e a jornada está apenas começando?

Imagine comigo este lugar, cuja localização não é um espaço geográfico, mas um estado de espírito, uma estrada que nos ajuda a sair de nós mesmos para alcançar o outro.

Este lugar tão somente é como uma cruz, cuja essência é o encontro com o transcendente (linha vertical) e com o outro (linha horizontal), cujo caminho me ajuda a sair de meu mundo, meus dogmas, de mim mesma com meus pressupostos de certo e errado.

Sou levada a conhecer novas perspectivas, a calçar os sapatos do outro, desembaraçando-me das fôrmas que me comprimem a vida e a liberdade. Sou desprendida do medo e da insegurança.

Caminho por entre as linhas verticais desta cruz e encontro-me com o Outro capaz de libertar-me com Sua verdade. Sou iluminada e inspirada a prosseguir sem oprimir, assim como não sou por Ele oprimida. 

Sou conduzida, então, a amar sem medida, e atravessar as linhas horizontais desta cruz, onde me vejo estendendo a mão para quem precisa tanto quanto eu de misericórdia e graça - porque não sou melhor do que ninguém - e o faço não por constrangimento externo.

Amo porque sou amada sem exigências. E sem exigências quero amar.

Aceito porque sou aceita.

Estendo a mão porque da mesma maneira fui resgatada. 

E, se porventura me exigem além de meus limites, retorno ao encontro dAquele que não me exige nada, para reaprender a perdoar e a continuar, sem a necessidade de dar por tudo explicações - porque o Outro me entende, foi o único que já calçou meus sapatos e é o único que nada pede de mim.

Posso confiar neste lugar de encontro. Posso seguir neste estado de espírito sem medo, sem constrangimento. Não me envergonho de trilhar este caminho porque é o único onde vejo e sou vista como sou.

Isto é liberdade, é coragem de ser e se desprender, coragem de se relacionar e aprender. E é neste lugar que desejo permanecer.

Angela Natel - agosto/2014.

Livros



Os livros ajudam a reconstruir-me
Quando sou feita em pedaços.
Sou reconstruída a partir daqueles
Que já não são mais
Mas deixaram um legado.

Sou reconstruída sobre os que já não são
Cujas memórias remontam um tempo
que já não existe.
São pensamentos, vivências,
Experiências
De interioridade que os olhos não vão alcançar.

Interpretações da verdade,
Ideias e ideais
Permeadas de mística e religiosidade.
São críticas afiadas
Que me desafiam
A soltar as amarras de minha própria alma.

Livros me ajudam porque estabelecem uma ponte
Com aqueles cujo pensamento me atinge de longe.
Os reconheço
Trabalho com eles
E vivo cercada por tais testemunhas
que mesmo após a morte me ajudam
na reconstrução de minha própria identidade.

Sou reconstruída
A cada dia de uma maneira diferente
Pois são diversas as leituras
Infinitas as possibilidades,
Interpretações da verdade,
Do Deus que me molda,
Que justifica minha busca.

Livros, meu legado.
O que deixarei após minha morte
Partes de mim que compartilho a outros
Os mesmos pedaços que me reconstroem
Diariamente
E sob cujas páginas escondem tesouros
Da eternidade.

Angela Natel – 27/08/2014

A culpa é dele!

Depois de um evento tão impactante como o que assistimos pela TV paranaense a respeito do menino, filmado no zoológico pelo pai, correndo em frente a um tigre e se arriscando... até ter seu braço amputado após o ataque do animal, fico imaginando algumas implicações a respeito de meus próprios atos...
Quantas vezes brinco com o que devo deixar quieto, persisto em situações que não deveriam mais ocupar meu tempo e esforço... continuo me arriscando junto a pessoas que mais fazem mal do que bem ao me expôr, condenar, tentar medir minha 'espiritualidade' sem o menor conhecimento de causa, muito menos conhecimento da minha pessoa?
Quantas vezes, após ser ferida, maltratada, supostamente injustiçada, aponto o dedo sem o mínimo de hesitação, gritando:
'A culpa é do Diabo!', 'Foi o demônio!', 'Foi o outro que começou, que me atacou!'
'A culpa é dele, toda dele!'
E, ao gritar, nem me passa pela cabeça as horas em que me deleitei montando o cenário para que o desastre acontecesse, como que correndo em frente a um tigre faminto, sendo assistida por quem me ama, agindo inconsequente e sem nenhum tipo de aviso ou cuidado de quem talvez tenha mais experiência.
Fácil é agora querer sacrificar o tigre, querer exorcizar o demônio, culpa o diabo e criar toda a personificação da maldade necessária a fim de me isentar da responsabilidade por meus próprios atos.
Fácil é afirmar que foi só uma brincadeira, que o outro não precisava ter reagido como lhe é natural, que o outro é que deveria medir suas palavras e atitudes... quando comigo... foi só brincadeira.
Fácil é querer crucificar o outro e não a nossos próprios instintos zombeteiros para com o perigo, nossa autossuficiência e nosso suposto 'domínio da situação'.
Fácil é assistir de camarote enquanto o outro se arrisca... e ainda chamar gente prá comentar a cena, expondo e transformando a inconsequência alheia num espetáculo de circo.
Fácil é comentar com terceiros a respeito do que consideramos errado no outro, sem nem ao menos nos darmos ao trabalho de ir diretamente à pessoa e avisá-la do perigo.
Por isso, fácil é matar o tigre e botar panos quentes na consciência, enquanto se obriga a viver amputado de vigor e confiança na vida.
Afinal, a culpa é do diabo, é ele que merece o inferno - não eu - não é verdade?
Angela Natel - 02/08/2014

Quando... - Dia do Professor




Quando mais aprendo
e me desafio constantemente.
Quando tento ultrapassar limites
e ser alguém mais, para exemplificar.
Quando me desdobro para ser compreendida
e traduzir ideias, conceitos, de maneiras diversas
tentando alcançar as diferenças em quem me ouve
e, de múltiplas maneiras, ser ouvida.
Quando me realizo, o tempo pára,
e naquele instante, toco a eternidade.
Quando sou ministrada, e minha falta de discernimento
é alcançada, ali não me sinto sozinha.
Quando minha vida faz sentido
e todo o trabalho é recompensado.
Quando sou aluna ao ensinar
e repartir de mim aos que ouvem.
É nesse instante que sou curada.
Sim, lecionar, para mim, é isso.
Cada aula, cada oportunidade,
uma chance de ser transformada.

Angela Natel - 15/10/2018

We're all sinners! - #Somostodospecadores



O dia se inicia numa sexta-feira fria em Curitiba. Estou em casa. Sinto-me em casa. Relaxo um pouco depois de uma semana cheia de turbulências. E que semana!
Sexta passada um monstro da literatura brasileira se foi: João Ubaldo Ribeiro. No sábado, foi a vez da despedida de Rubem Alves. Na quarta, Ariano Suassuna deu seu último suspiro e nos deixou. 
Em meio às perdas literárias, já se passam mais de 15 dias em que o mundo acompanha as notícias de centenas de mortes em Gaza, fruto de um embate cuja explicação contém sempre muitos hiatos, muitas reticências.
Ainda nesta semana de turbulências, participei de um ato em solidariedade às vítimas palestinas na região do conflito em Gaza - pela vida, pela paz, pelo consolo às famílias enlutadas.
Porém, o que mais me surpreende é a repercussão e o desvio que muito do discurso em favor da paz pode assumir, uma verdadeira subversão aos verdadeiros propósitos da defesa dos Direitos Humanos: a demonização do outro.
Independentemente da posição que se assuma em qualquer situação, o que permite o diálogo e a busca pela paz e soluções plausíveis dentro do respeito aos Direitos Humanos nunca envolve a violência como resposta, muito menos o discurso de ódio, a despeito da atitude alheia.
É muito fácil, em nossos dias, com o pouco de informação e experiência ao nosso alcance, assumirmos um discurso belo e formoso que em pouco tempo se transforma numa campanha em favor do aniquilamento de quem nos agride, seja manchando seu nome, sua reputação, ou incitando a violência contra ele. 
Não se trata de defender a agressão nem omitir justiça, trata-se de reconhecer a humanidade de toda e qualquer pessoa, seja quem ela for, bem como seus direitos como tal. Apontar o dedo e gritar: "Assassino!" é relativamente fácil. Difícil é perceber a repercussão que nosso discurso tem nos ouvidos dos incautos, e toda a inconsequência que se segue gerando novos atos de violência como resposta.
Não sei bem como essa reflexão chegará aos ouvidos e corações de muitas pessoas, mas não posso me omitir. 
Quando muitos me veem segurando uma bandeira palestina numa foto, abraçando líderes judeus, dialogando com ateus e teólogos cristãos e me envolvendo em discussões e pesquisas teológicas e em Direitos Humanos, sempre corro o risco de ser mal compreendida.
Por isso, quando me recordo da narrativa do evento de Jesus diante da mulher adúltera (João 8:1-11), quando sua fala permitiu aos ouvintes uma tomada de postura autocrítica, fico realmente imaginando-me na cena, se me considero com autonomia tal que possa atirar a pedra que for no outro que me ofende em palavras, atitudes ou ataques às minhas mais sinceras convicções.
Justiça precisa ser feita, mas de maneira humana e digna, sem que se assuma os mesmos meios de violência e ataque através dos quais se sofre a ação de outrem.
Vingança e discurso de ódio se auto reproduzem por si só, e precisam ser neutralizados com misericórdia, justiça, firmeza e solidariedade. Essa ideia é uma verdadeira revolução subversiva ao sistema que está há tanto enraizado em nossos corações. Somos imersos numa sociedade justiceira, que se manifesta quando se sente ameaçada.
É por isso que, mesmo em se tratando de uma reflexão pessoal como tantas outras que me permito fazer, desejo, de coração, que os leitores sejam desafiados da mesma maneira que estou sendo nesta semana de tantos embates internos e externos. Somos desafiados a repensar nossa maneira de responder às injustiças sofridas, a questionar nosso hábito de demonizar a pessoa humana, quando sua atitude nos agride de alguma maneira. 
Quem, neste mundo, se habilita a ser juiz do erro alheio, da falta de caráter e de amor? Quem, em todo este mundo, é perfeitamente capaz de, imparcialmente, distanciar-se de uma situação de injustiça e morte, e julgar o outro, exigindo do mesmo que pague com a própria vida, saúde, reputação ou dignidade, pelo mal feito a terceiros? Quem é capaz de determinar uma pena perfeitamente justa àquele que tira a vida de outro, sem recorrer à mesma atitude homicida?
São questionamentos que venho me fazendo nesta semana de milhares de perdas por todo o mundo.
Me solidarizo com as famílias enlutadas, não somente em Gaza, mas também em Angola, na Venezuela, na Colômbia, na Coréia do Norte, na Ucrânia, na Eritreia, na Síria, no Brasil, na Nigéria, nos Estados Unidos, na China, na Rússia, em Moçambique, e em tantos outros lugares. Como escrevi num poema, a morte nunca chega bem, mesmo quando vem silenciosa.
Mas não precisamos combater a morte com mais morte. Podemos levantar nossas vozes num discurso diferente, um discurso de paz, de vida, de ação consciente, de cuidado com as palavras que pronunciamos, porque inevitavelmente elas geram vida ou morte naqueles que a ouvem.
São palavras, que lanço numa tentativa de refletir mais a respeito, sem a pretensão de encerrar questões tão complexas como as que se nos apresentam.
Trata-se de uma reflexão humana, para corações humanos, passível de erro, como qualquer outra ação humana.

Angela Natel - 25 de julho de 2014.

Identificação


Todo o movimento do qual tenho feito parte, onde me identifico e pelo qual tenho lutado não diz respeito a justificar uns em detrimento de outros.
Minha luta pessoal tem sido no sentido de cessar a demonização do outro, da maneira que for. Não são palestinos os inimigos de Israel, não é Israel o inimigo da Palestina. Cada um é inimigo de si mesmo, quando desumaniza o outro, quando uma vida se torna apenas estatística, quando me atenho a números divulgados pela mídia para decidir de que lado vou ficar.
Minha luta é a favor da vida, de quem quer que seja, é a favor da paz. 
Tenho percebido que mais de 80% dos judeus não concordam com as decisões do governo de Israel. Tenho observado que há muito mais por detrás das notícias que precisamos saber.
Independentemente do tipo de informação que se recebe, uma vida que se vai é motivo suficiente para gerar tristeza e indignação. 
Por isso, seja a violência na Venezuela, a escravidão ainda existente no Brasil, o massacre dos indígenas brasileiros, ou o atual genocídio em Gaza, a imagem de Deus na humanidade precisa ser restaurada. A luta pela dignidade humana precisa ser abraçada com unhas e dentes.
Somos todos da mesma raça: a raça humana! Somos todos carentes de graça e misericórdia. Somos irmãos!
Eu me levanto pela paz, por uma justiça sem violência.
Minhas orações e minha luta é em favor de meus irmãos, árabes, judeus, cristãos, ateus, budistas, palestinos, israelenses, hinduístas, seja de qual raça, religião ou etnia for.
São meus irmãos, por quem vivo e quero lutar.

Angela Natel

Essa é a vida! - Feliz dia das crianças!


Nesse dia das crianças, quero lembrar a mim mesma e a cada um de vocês algo de suma importância: a vida é assim!
Como a expressão idiomática que coloquei ao lado , na foto, e que significa "é a vida!", numa brincadeira com a literalidade das palavras e a imagem, precisamos lembrar que a vida é singular e nos apresenta desafios e oportunidades de aprendizado e mudança. Estamos constantemente sendo transformados através de nosso ambiente, nossas conversas e contatos, através de nossas leituras e experiências, sejam elas boas ou ruins.
Fato é que precisamos nos dar conta e pensar se estas mudanças são para melhor ou pior, se não devemos tomar algumas decisões que nos aperfeiçoem em nossos relacionamentos e trabalho. Será que não é um bom tempo para repensarmos nossos valores e verificarmos se não estamos alimentando o que há de pior em nós em vez de nos confrontar com a verdade, que pode nos libertar?
Como crianças, na simplicidade e na honestidade de nossa incompetência, -sim, porque crianças sabem reconhecer sua incapacidade - precisamos baixar a bola e delegar a razão, o controle e a compreensão do que está acontecendo para quem melhor entende das coisas.
É preciso reconhecer que não sabemos tudo, é preciso aprender a confiar no outro, dando-lhe algum crédito, e duvidarmos de nós mesmos de vez em quando.
Porque ser como criança é pré requisito fundamental para fazer parte do Reino de Deus.
Vamos aproveitar o dia de hoje para nos permitir reconhecer que a vida é assim, que precisamos uns dos outros, que estamos todos aprendendo e que somente Deus pode nos libertar de nós mesmos e de ,nossa auto-suficiência.
Feliz dia das crianças!
Angela Natel