sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Marcas



Marcas na pele já fiz
sangue vertendo, dor escorrendo
busca de dor por fora eu quis
e longe da dor da alma me vendo.

Marcas do desespero eu sinto
não foi para chamar a atenção
quando conto da dor eu não minto
me encontrei de repente sem solução.

Marcas revelam minha humanidade
O medo, a lembrança, a fuga sem lei
Um retorno à dura insanidade
Rompante de busca pelo que nada sei.

Marcas de dor, tentativa frustrada
Mostra de falta de coragem e de amor
O que quer que se fez não deu em nada
Mas o que permanece constante é a dor.

Angela Natel – 18/05/2012

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Tarefa Inacabada



Eu não passo de uma tarefa inacabada
quadro meio pintado
página meio virada.

Sou carro que parou no meio da estrada
toque quase sentido
pele ainda não bronzeada.

Estrofe da música não toda cantada
curso interrompido
a bala na arma emperrada.

Casamento que acaba e não dá em nada
emprego que satura
comida entalada.

É uma pia cheia de louça por lavar
uma prova meio feita
viagem que fiz mas não pude ficar.

Não passo de uma tarefa inacabada.
Vontade de desistir
Coisas por fazer, coisas prá falar.

Casas onde vivi mas não consegui permanecer
amizades perdidas
igreja que não aceitou me receber.

Carteira de motorista vencida
contas que não consigo pagar
visão parcial da vida.

Parei no espaço e no tempo
série que deixei de baixar e assistir
vontade de lançar tudo ao vento
e me deixar por inteiro sucumbir.

Angela Natel - 25/04/2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Procuro um homem...




Há 2.000 anos, o filósofo grego Diógenes saiu de casa com uma lanterna na mão. O sol brilhava naquela manhã, todos perguntavam a ele a razão de levar uma lanterna e por que fazia isso. Diógenes respondia: "Procuro um homem". Segundo ele, não havia nenhum homem nas ruas e nos lugares públicos. Diz a lenda que não encontrou nenhum, todos eram incompetentes ou corruptos.
E hoje, o mais antigo adágio se comprova: Não há um sequer!
Porém, para muitos, é ainda mais importante falar, publicar, postar, compartilhar, incitar, ainda que com fontes duvidosas, ainda que possam ser notícias falsas, é mais urgente que se faça barulho.
É preciso manter o ódio. Assim o medo pode aumentar e determinar as ações, assim não se dá espaço e tempo para a justiça, assim não se calam as vozes para aquietar o coração em busca da verdade.
Menos orações são feitas, menos reflexões ponderadas, mais barulho, mais urgência se pede, assim menos consciência se tem, menos humanidade, menos verdade.
Há mais medo de monstros que se criam em torno de pessoas e situações do que medo de se errar, assim mais e mais vítimas são criadas, vítimas de nosso ódio gratuito, de nosso muito falar, nosso pouco ajudar.
"Procuro um homem." Procuro alguém... honesto, bom, misericordioso, com mãos estendidas para ajudar, não para apontar, procuro...

O jogo que as pessoas jogam



Todas as caras que as pessoas fazem
sua atenção e gentileza voltados para mim
será que não passam de jogos de manipulação
para que eu faça o que eles querem?

Será paranoia da minha parte
ou faz parte de seus jogos
as máscaras que usam
e que não sou capaz de decifrar.

Sei que não posso julgar as intenções
e seus sentimentos me são ocultos
mas vejo jogadas ensaiadas
que culminam em um xeque-mate.

As orações que são feitas
que propósito tem?
Me levar a algum lugar
ou me tirar algum bem?

São palavras, gestos e expressões
que me excluem caso não não aceite seu jogo
regras sociais mentirosas
que controlam e mantém o seu posto.

Sim, estou falando do que vejo ao meu redor
das caras e bocas que faça
só para manter meu espaço
e poder sobreviver.

Estou falando das oportunidades perdidas
porque recusei seguir um padrão estético
porque dei minha opinião
e, mesmo dentro da lei, decidi me manifestar.

Estou falando de uma marca que recebi
por ter escolhido a sanidade
e as guerras que irei comprar
enchendo a consciência com a verdade.

Como se não bastasse, inconscientemente,
pedem-me constantemente
para que eu prove quem sou
e o que sou capaz de fazer.

Preciso provar que valorizo o que ganho?
Preciso provar que não sou igual a meus pais?
Preciso provar que sou diferente, 
que não estou ali para julgar ninguém?

Entristeço, nesse jogo que as pessoas costumam jogar
umas com as outras
e se escrevo sou recriminada
já fui punida, não perco mais nada.

Hoje a dor vem anestesiada
pelos comprimidos e pelo cansaço 
porque não tenho 
que provar mais nada.

E se nada tenho é porque não quero mais jogar
com essas regras inúteis 
esse jogo mesquinho
de máscaras e manipulações.

Pois quem me julga ainda quer controlar
e decidir, e determinar
e é tão infeliz quanto aqueles que já condenou.

Será que essas atitudes ao meu redor
 não passam de um joguinho barato
em um tabuleiro de barro
que em breve vai se espatifar?


Angela Natel - 21/04/2012

terça-feira, 28 de agosto de 2018

João 4



Sol escaldante no céu
Sede tomando conta de mim
Dor na alma, falta de amor
Carência e dor que não tem fim.

Assombro que me faz recuar
Alguém estranho a olhar para mim
Alguém que nunca poderia me amar
Dirigiu-me a palavra e me disse ‘sim’.

Facada de amor recebi ao ouvir
Não fui recriminada, nem tirou sarro de mim
A certeza se fez presente em meu coração
Achei o Libertador, até que enfim!

Larguei tudo o que viera fazer
Não poderia guardar só para mim
Corri e a todos O fiz conhecer
Superando minha fama ruim.

Bebi da água da vida
Água que o Bom Pastor deu para mim
Descanso e O sigo aonde quer que Ele vá
Pois foi exatamente para isso que eu vim.

05/05/2012 – Angela Natel

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Desejo



Queria ir ao teatro
Mas agora vou à pé
Chuva molha meu telhado
Sem saber de onde ela é.

Sou alérgica a criança
Me arrepio só de ver
Já se apagou a tal lembrança
E me fiz logo crescer.

Rosto bonito já não me engana
Digo não prá ser lembrada
Mulher de trinta ainda se inflama
Mas escolhe bem a sua estrada.

Estendo a mão prá ser tocada
Calor na pele, desejo em flor
Diga-me, imploro, se sou amada
Porque amar é choro se não amada for.

Agora quero ver o mar
E rir de meus erros como rio dos teus
Não, nunca hei de me calar
A não ser que me veja diante do próprio Deus.

Angela Natel – 05/04/2012

domingo, 26 de agosto de 2018

Madrugada



Marcas de meus pés sobre a areia
Luz da lua reluzindo em mim
Rastro de estrelas circundando a ceia
Noite que justifica porque vim.

Não me envergonho de minha humanidade
Selvagem e serena, sou livre a lutar
Me olho no espelho da pura verdade
Estilhaços da imagem que eu preciso mostrar.

Me deito na areia, são horas de amor
O choro me pega, me calo a esperar
Não ouço mais nada, buscando o porquê
É uma nova estrada, só penso em você.

Ondas que vão, ondas que vêm
Como erros e acertos que todos têm
O mar testemunha meu novo apreço
Por alguém que não tenho muito acesso.

Mente que brilha, fala correta
Conhece, argumenta, logo acerta
Sorriso assim só me traz confiança
Beleza que nunca se vê semelhança.

Molho os meus pés prá lavar minha alma
Difícil caminho que não me acalma
tanto perdi que já não mais sinto
e depois de tudo sei que não minto.

Lua no céu, em meus pés, areia
O mar providenciando a trilha sonora
Bebo de cada imagem que me rodeia
Esqueço o passado, vivo o agora.

Por isso, não me tire dessa realidade
Troquei a Lei pelo Caminho de Cristo
Busco relacionamentos, não barganhar com a divindade
E sigo um roteiro jamais visto.

Por isso não retorno sobre minhas pegadas
Quero o novo, e o quero sem demora
Que me julguem, são páginas viradas
Por isso mudo no despertar da aurora.

Novas marcas dos meus pés posso fazer
Na areia reluzente pelo sol aquecida
Temor dentro de mim vejo crescer
Porque vida que vale a pena tem que ser sofrida.

Angela Natel – 04/04/2012

sábado, 25 de agosto de 2018

Pai Nosso



Pai, meu Pai
Tu és meu, meu Pai
Não, Tu és nosso
Pai Nosso.

Pai Nosso, 
não meu
estás no céu
Tu és Deus.

Acima de todos
melhor que eu
Pai Nosso
que estás no céu.

santificado
nome santo
seja teu nome
Nosso Pai.

Pai Nosso
que estás no céu
santificado
seja o teu nome.

É o teu nome que importa
não é o meu
Pai Nosso
que estás no céu.

Seja feita a tua vontade
não o que eu quero
mas o que tu queres
assim na terra como no céu.

Pai Nosso
Teu nome
tua vontade
nada meu.

O pão nosso de cada dia
dá a nós hoje.
Pai Nosso,
Pão nosso.

Tu és nosso alimento
Pai Nosso,
a cada dia
seja o nosso pão.

Não nos deixes cair em tentação
livra a nós do mal
Pai Nosso, 
livra-nos.

Pois o reino é teu
o nome é teu
a vontade é tua,
nada é meu.

Tua presença e teu poder
são de fato reconhecíveis
e nenhum deles tem fim
Pai Nosso.

Reconhecer quem tu és
me coloca em meu lugar
nos coloca aos teus pés
para uns aos outros olhar.

Angela Natel - 06/03/2012

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Busca de paz



Som que se ouve longe a ecoar
na minh'alma vibra sem parar
inquietações acabam por nascer
justaposições de poder.

Não quero ouvir tais malefícios
nem tampouco meço os prejuízos
busco paz sem fim a todo instante
e um distanciamento no semblante.

Toque que me faz calar
som que agita o corpo
vista ao meu paladar
como um desejo torto.

São sons e emoções furtivas
confusa ando a carregá-las.
São cenas por demais inventivas
que não me encoraja compartilhá-las.

Quero ser livre e buscar a paz
sem viver a mendigar.
Que é, pois, isso que ela traz?
É cheiro de vida pelo ar.

Angela Natel - 06/03/2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Todos nós



Todos nós temos
nossa carga de passionalidade.
É por isso que ando na chuva,
que não me envergonho da saudade.

Todos nós temos
nosso peso de responsabilidade.
É por isso que me reconstruo
sem perder a sensibilidade.

Todos nós temos
a nossa versão da verdade.
É por isso que escrevo
ainda que me custe grandes amizades.

Todos nós temos
nosso peso de intencionalidade.
É por isso que me desmascaro
prá não viver pela metade.

01/03/2012 - Angela Natel

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Fé negociada


Venham, venham
abracem o mundo
alcancem tudo
o que o coração desejar.

Venham, venham
paguem o preço
tragam dinheiro
prá sua fome matar.

Venham, não percam
porque é só para hoje
que a bênção promete
o culto é às nove
não pode faltar.

Venham, venham
prá cura e dinheiro
sempre dá-se um jeito
prá se prosperar.

Venham, venham
aqui há prá todos
o preço é barato
se for comparar.

Venham, não faltem
demônio não aguenta
a fome afugenta
sua vida esquenta
se puderes pagar.

Angela Natel - 24/02/2012

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Não



Não venha me dizer que não pode
Que não quer, que está ocupado
Não me venha com desculpas e agendas
São só maneiras de me dizer que não se preocupa.

Não queira me convencer que me ama
Que me quer e me deseja
Que ainda me reconhece, me entende
E que à noite me busca ainda que eu não veja.

São palavras vazias na noite fria
São intenções escondidas da atitude
Não vejo amor, vejo letargia
Não vejo nada além dessa negritude.

Não me sorria se não caminha ao meu lado
Não me prometa se não cumpre o que diz
Não me toque se não respeita o meu passo
Não me exija nada como juiz.

Angela Natel – 07/02/2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Obra de arte



Na arte que expresso
me expresso
revelo
me mostro
me prostro
intento de ser.

Arte que julga
grita sem culpa
seca água turva
me fazendo crescer.

Pintando e criando
escrevo uma prosa
nas paredes da História.
São luzes e rimas
cavalos sem crinas
voando em minha memória.

Um beijo perdido
passou despercebido
porque não aconteceu.

Encontro o sentido
no encontro vivido
que não deve ser repetido
porque não sou eu.
Desencontro.

Ouço Cazuza
porque me inspira
ninguém me acusa
minh'alma conspira.

Sou procurada
vida criada
para informar e entreter.
Sou obra de arte
na vida e na morte
poema prá ler.

(Angela Natel - 01/02/2012)

domingo, 19 de agosto de 2018

Páginas na vida



Neste Livro,
que recebemos junto com a VIDA,
e as páginas em branco,
o que cada um de nós
devemos escrever nele?

São imagens que vemos
ofuscadas pelo desconhecido.
São miragens do que temos
por perto de mais querido.

Primeiros passos, desenhos
vou colorindo essas páginas
com mudanças, vitórias
que revelam-se mais práticas.

Então saio a correr
e desenho meu caminho.
mais tarde terei de escolher
se o seguirei sozinho.

Então vou me deparar
com as linhas que Deus já fez
decido as minhas abandonar
e ando onde pisou Seus pés.

Livro da minha vida,
com linhas feitas por Deus
conta toda a minha lida
em seguir os passos Seus.

Por causa dessa configuração
trata-se de outro livro,
portanto páginas da História de Deus são
que Ele realiza em mim, por Seu crivo.

Angela Natel - 22/08/2011.

sábado, 18 de agosto de 2018

Imerecida salvação



Todos precisam de salvação
mas ninguém a merece
todos se desviaram
dobraram o caminho
erraram o alvo
mudaram de direção.

Não há como conquistar
tamanha libertação
não há como apagar
a desgraça de tal perdição.

São obras e esforços
todos inúteis e inoperantes
são vícios e pecados
que nos tornam inconstantes.

Por isso não há salvação
além da que foi proposta
Deus tanto nos amou
que não nos deixou sem resposta.

Enviou Seu próprio Filho,
Jesus Cristo, singularmente santo
que morreu em nosso lugar
e silenciou nosso pranto.

Pois não foi para o mundo condenar
que Jesus veio a este mundo
mas foi exatamente para o salvar
devido ao seu amor profundo.

Angela Natel - 22/08/2011

Marcas



Marcas na pele já fiz
sangue vertendo, dor escorrendo
busca de dor por fora eu quis
e longe da dor da alma me vendo.

Marcas do desespero eu sinto
não foi para chamar a atenção
quando conto da dor eu não minto
me encontrei de repente sem solução.

Marcas revelam minha humanidade
O medo, a lembrança, a fuga sem lei
Um retorno à dura insanidade
Rompante de busca pelo que nada sei.

Marcas de dor, tentativa frustrada
Mostra de falta de coragem e de amor
O que quer que se fez não deu em nada
Mas o que permanece constante é a dor.

Angela Natel – 18/05/2012

Tarefa Inacabada



Eu não passo de uma tarefa inacabada
quadro meio pintado
página meio virada.

Sou carro que parou no meio da estrada
toque quase sentido
pele ainda não bronzeada.

Estrofe da música não toda cantada
curso interrompido
a bala na arma emperrada.

Casamento que acaba e não dá em nada
emprego que satura
comida entalada.

É uma pia cheia de louça por lavar
uma prova meio feita
viagem que fiz mas não pude ficar.

Não passo de uma tarefa inacabada.
Vontade de desistir
Coisas por fazer, coisas prá falar.

Casas onde vivi mas não consegui permanecer
amizades perdidas
igreja que não aceitou me receber.

Carteira de motorista vencida
contas que não consigo pagar
visão parcial da vida.

Parei no espaço e no tempo
série que deixei de baixar e assistir
vontade de lançar tudo ao vento
e me deixar por inteiro sucumbir.

Angela Natel - 25/04/2012

Procuro um homem...




Há 2.000 anos, o filósofo grego Diógenes saiu de casa com uma lanterna na mão. O sol brilhava naquela manhã, todos perguntavam a ele a razão de levar uma lanterna e por que fazia isso. Diógenes respondia: "Procuro um homem". Segundo ele, não havia nenhum homem nas ruas e nos lugares públicos. Diz a lenda que não encontrou nenhum, todos eram incompetentes ou corruptos.
E hoje, o mais antigo adágio se comprova: Não há um sequer!
Porém, para muitos, é ainda mais importante falar, publicar, postar, compartilhar, incitar, ainda que com fontes duvidosas, ainda que possam ser notícias falsas, é mais urgente que se faça barulho.
É preciso manter o ódio. Assim o medo pode aumentar e determinar as ações, assim não se dá espaço e tempo para a justiça, assim não se calam as vozes para aquietar o coração em busca da verdade.
Menos orações são feitas, menos reflexões ponderadas, mais barulho, mais urgência se pede, assim menos consciência se tem, menos humanidade, menos verdade.
Há mais medo de monstros que se criam em torno de pessoas e situações do que medo de se errar, assim mais e mais vítimas são criadas, vítimas de nosso ódio gratuito, de nosso muito falar, nosso pouco ajudar.
"Procuro um homem." Procuro alguém... honesto, bom, misericordioso, com mãos estendidas para ajudar, não para apontar, procuro...

O jogo que as pessoas jogam



Todas as caras que as pessoas fazem
sua atenção e gentileza voltados para mim
será que não passam de jogos de manipulação
para que eu faça o que eles querem?

Será paranoia da minha parte
ou faz parte de seus jogos
as máscaras que usam
e que não sou capaz de decifrar.

Sei que não posso julgar as intenções
e seus sentimentos me são ocultos
mas vejo jogadas ensaiadas
que culminam em um xeque-mate.

As orações que são feitas
que propósito tem?
Me levar a algum lugar
ou me tirar algum bem?

São palavras, gestos e expressões
que me excluem caso não não aceite seu jogo
regras sociais mentirosas
que controlam e mantém o seu posto.

Sim, estou falando do que vejo ao meu redor
das caras e bocas que faça
só para manter meu espaço
e poder sobreviver.

Estou falando das oportunidades perdidas
porque recusei seguir um padrão estético
porque dei minha opinião
e, mesmo dentro da lei, decidi me manifestar.

Estou falando de uma marca que recebi
por ter escolhido a sanidade
e as guerras que irei comprar
enchendo a consciência com a verdade.

Como se não bastasse, inconscientemente,
pedem-me constantemente
para que eu prove quem sou
e o que sou capaz de fazer.

Preciso provar que valorizo o que ganho?
Preciso provar que não sou igual a meus pais?
Preciso provar que sou diferente, 
que não estou ali para julgar ninguém?

Entristeço, nesse jogo que as pessoas costumam jogar
umas com as outras
e se escrevo sou recriminada
já fui punida, não perco mais nada.

Hoje a dor vem anestesiada
pelos comprimidos e pelo cansaço 
porque não tenho 
que provar mais nada.

E se nada tenho é porque não quero mais jogar
com essas regras inúteis 
esse jogo mesquinho
de máscaras e manipulações.

Pois quem me julga ainda quer controlar
e decidir, e determinar
e é tão infeliz quanto aqueles que já condenou.

Será que essas atitudes ao meu redor
 não passam de um joguinho barato
em um tabuleiro de barro
que em breve vai se espatifar?


Angela Natel - 21/04/2012

João 4



Sol escaldante no céu
Sede tomando conta de mim
Dor na alma, falta de amor
Carência e dor que não tem fim.

Assombro que me faz recuar
Alguém estranho a olhar para mim
Alguém que nunca poderia me amar
Dirigiu-me a palavra e me disse ‘sim’.

Facada de amor recebi ao ouvir
Não fui recriminada, nem tirou sarro de mim
A certeza se fez presente em meu coração
Achei o Libertador, até que enfim!

Larguei tudo o que viera fazer
Não poderia guardar só para mim
Corri e a todos O fiz conhecer
Superando minha fama ruim.

Bebi da água da vida
Água que o Bom Pastor deu para mim
Descanso e O sigo aonde quer que Ele vá
Pois foi exatamente para isso que eu vim.

05/05/2012 – Angela Natel

Desejo



Queria ir ao teatro
Mas agora vou à pé
Chuva molha meu telhado
Sem saber de onde ela é.

Sou alérgica a criança
Me arrepio só de ver
Já se apagou a tal lembrança
E me fiz logo crescer.

Rosto bonito já não me engana
Digo não prá ser lembrada
Mulher de trinta ainda se inflama
Mas escolhe bem a sua estrada.

Estendo a mão prá ser tocada
Calor na pele, desejo em flor
Diga-me, imploro, se sou amada
Porque amar é choro se não amada for.

Agora quero ver o mar
E rir de meus erros como rio dos teus
Não, nunca hei de me calar
A não ser que me veja diante do próprio Deus.

Angela Natel – 05/04/2012

Madrugada



Marcas de meus pés sobre a areia
Luz da lua reluzindo em mim
Rastro de estrelas circundando a ceia
Noite que justifica porque vim.

Não me envergonho de minha humanidade
Selvagem e serena, sou livre a lutar
Me olho no espelho da pura verdade
Estilhaços da imagem que eu preciso mostrar.

Me deito na areia, são horas de amor
O choro me pega, me calo a esperar
Não ouço mais nada, buscando o porquê
É uma nova estrada, só penso em você.

Ondas que vão, ondas que vêm
Como erros e acertos que todos têm
O mar testemunha meu novo apreço
Por alguém que não tenho muito acesso.

Mente que brilha, fala correta
Conhece, argumenta, logo acerta
Sorriso assim só me traz confiança
Beleza que nunca se vê semelhança.

Molho os meus pés prá lavar minha alma
Difícil caminho que não me acalma
tanto perdi que já não mais sinto
e depois de tudo sei que não minto.

Lua no céu, em meus pés, areia
O mar providenciando a trilha sonora
Bebo de cada imagem que me rodeia
Esqueço o passado, vivo o agora.

Por isso, não me tire dessa realidade
Troquei a Lei pelo Caminho de Cristo
Busco relacionamentos, não barganhar com a divindade
E sigo um roteiro jamais visto.

Por isso não retorno sobre minhas pegadas
Quero o novo, e o quero sem demora
Que me julguem, são páginas viradas
Por isso mudo no despertar da aurora.

Novas marcas dos meus pés posso fazer
Na areia reluzente pelo sol aquecida
Temor dentro de mim vejo crescer
Porque vida que vale a pena tem que ser sofrida.

Angela Natel – 04/04/2012

Pai Nosso



Pai, meu Pai
Tu és meu, meu Pai
Não, Tu és nosso
Pai Nosso.

Pai Nosso, 
não meu
estás no céu
Tu és Deus.

Acima de todos
melhor que eu
Pai Nosso
que estás no céu.

santificado
nome santo
seja teu nome
Nosso Pai.

Pai Nosso
que estás no céu
santificado
seja o teu nome.

É o teu nome que importa
não é o meu
Pai Nosso
que estás no céu.

Seja feita a tua vontade
não o que eu quero
mas o que tu queres
assim na terra como no céu.

Pai Nosso
Teu nome
tua vontade
nada meu.

O pão nosso de cada dia
dá a nós hoje.
Pai Nosso,
Pão nosso.

Tu és nosso alimento
Pai Nosso,
a cada dia
seja o nosso pão.

Não nos deixes cair em tentação
livra a nós do mal
Pai Nosso, 
livra-nos.

Pois o reino é teu
o nome é teu
a vontade é tua,
nada é meu.

Tua presença e teu poder
são de fato reconhecíveis
e nenhum deles tem fim
Pai Nosso.

Reconhecer quem tu és
me coloca em meu lugar
nos coloca aos teus pés
para uns aos outros olhar.

Angela Natel - 06/03/2012

Busca de paz



Som que se ouve longe a ecoar
na minh'alma vibra sem parar
inquietações acabam por nascer
justaposições de poder.

Não quero ouvir tais malefícios
nem tampouco meço os prejuízos
busco paz sem fim a todo instante
e um distanciamento no semblante.

Toque que me faz calar
som que agita o corpo
vista ao meu paladar
como um desejo torto.

São sons e emoções furtivas
confusa ando a carregá-las.
São cenas por demais inventivas
que não me encoraja compartilhá-las.

Quero ser livre e buscar a paz
sem viver a mendigar.
Que é, pois, isso que ela traz?
É cheiro de vida pelo ar.

Angela Natel - 06/03/2012

Todos nós



Todos nós temos
nossa carga de passionalidade.
É por isso que ando na chuva,
que não me envergonho da saudade.

Todos nós temos
nosso peso de responsabilidade.
É por isso que me reconstruo
sem perder a sensibilidade.

Todos nós temos
a nossa versão da verdade.
É por isso que escrevo
ainda que me custe grandes amizades.

Todos nós temos
nosso peso de intencionalidade.
É por isso que me desmascaro
prá não viver pela metade.

01/03/2012 - Angela Natel

Fé negociada


Venham, venham
abracem o mundo
alcancem tudo
o que o coração desejar.

Venham, venham
paguem o preço
tragam dinheiro
prá sua fome matar.

Venham, não percam
porque é só para hoje
que a bênção promete
o culto é às nove
não pode faltar.

Venham, venham
prá cura e dinheiro
sempre dá-se um jeito
prá se prosperar.

Venham, venham
aqui há prá todos
o preço é barato
se for comparar.

Venham, não faltem
demônio não aguenta
a fome afugenta
sua vida esquenta
se puderes pagar.

Angela Natel - 24/02/2012

Não



Não venha me dizer que não pode
Que não quer, que está ocupado
Não me venha com desculpas e agendas
São só maneiras de me dizer que não se preocupa.

Não queira me convencer que me ama
Que me quer e me deseja
Que ainda me reconhece, me entende
E que à noite me busca ainda que eu não veja.

São palavras vazias na noite fria
São intenções escondidas da atitude
Não vejo amor, vejo letargia
Não vejo nada além dessa negritude.

Não me sorria se não caminha ao meu lado
Não me prometa se não cumpre o que diz
Não me toque se não respeita o meu passo
Não me exija nada como juiz.

Angela Natel – 07/02/2012

Obra de arte



Na arte que expresso
me expresso
revelo
me mostro
me prostro
intento de ser.

Arte que julga
grita sem culpa
seca água turva
me fazendo crescer.

Pintando e criando
escrevo uma prosa
nas paredes da História.
São luzes e rimas
cavalos sem crinas
voando em minha memória.

Um beijo perdido
passou despercebido
porque não aconteceu.

Encontro o sentido
no encontro vivido
que não deve ser repetido
porque não sou eu.
Desencontro.

Ouço Cazuza
porque me inspira
ninguém me acusa
minh'alma conspira.

Sou procurada
vida criada
para informar e entreter.
Sou obra de arte
na vida e na morte
poema prá ler.

(Angela Natel - 01/02/2012)

Páginas na vida



Neste Livro,
que recebemos junto com a VIDA,
e as páginas em branco,
o que cada um de nós
devemos escrever nele?

São imagens que vemos
ofuscadas pelo desconhecido.
São miragens do que temos
por perto de mais querido.

Primeiros passos, desenhos
vou colorindo essas páginas
com mudanças, vitórias
que revelam-se mais práticas.

Então saio a correr
e desenho meu caminho.
mais tarde terei de escolher
se o seguirei sozinho.

Então vou me deparar
com as linhas que Deus já fez
decido as minhas abandonar
e ando onde pisou Seus pés.

Livro da minha vida,
com linhas feitas por Deus
conta toda a minha lida
em seguir os passos Seus.

Por causa dessa configuração
trata-se de outro livro,
portanto páginas da História de Deus são
que Ele realiza em mim, por Seu crivo.

Angela Natel - 22/08/2011.

Imerecida salvação



Todos precisam de salvação
mas ninguém a merece
todos se desviaram
dobraram o caminho
erraram o alvo
mudaram de direção.

Não há como conquistar
tamanha libertação
não há como apagar
a desgraça de tal perdição.

São obras e esforços
todos inúteis e inoperantes
são vícios e pecados
que nos tornam inconstantes.

Por isso não há salvação
além da que foi proposta
Deus tanto nos amou
que não nos deixou sem resposta.

Enviou Seu próprio Filho,
Jesus Cristo, singularmente santo
que morreu em nosso lugar
e silenciou nosso pranto.

Pois não foi para o mundo condenar
que Jesus veio a este mundo
mas foi exatamente para o salvar
devido ao seu amor profundo.

Angela Natel - 22/08/2011