segunda-feira, 27 de junho de 2016

Desejo

Quero firmar meu passo ao lado de quem me ama.
Olhar mais nos olhos de quem não tem vergonha de mim.
Perceber as lições de vida de quem me aguenta em meio à dor.
E sentir-me mais parte do mundo daquele que não foge de meus monstros interiores.

Quero ouvir com atenção as palavras de quem me diz a verdade,
e caminhar ao lado dos que me estendem a mão e não me ignoram.
Abraçar os que não perdem a paciência com meus limites
e passar mais tempo ajudando quem, de fato, reconhece sua necessidade.

Quero me dedicar a quem não me trata com desprezo,
e conversar um bom tempo com quem nem sempre quer ter razão.
E assim viver muito bem cada momento
trazendo em tempo a esperança ao coração.

Angela Natel - 27/06/2015.

sábado, 25 de junho de 2016

Escola Sem Partido: Doutrinação comunista, Coelho da Páscoa e Papai Noel

Leonardo Sakamoto

O bicho está pegando na educação. É tanto problema que você pode montar o seu combo: roubo de merenda, escolas ocupadas, universidades em greve (e quebradas), proposta de teto orçamentário ameaçando investimentos na área, Plano Nacional de Educação completando dois anos sem NENHUMA meta cumprida e por aí vai.
Mas a julgar pelo que se passa na Congresso Nacional e na mídia, o grande mal da educação brasileira tem outro nome: “Doutrinação Político-Partidária”.
A questão é a bandeira principal do movimento Escola Sem Partido, aquele mesmo defendido por um dos maiores especialistas em Pedagogia (FROTA, Alexandre), em encontro com o ministro Mendonça Filho no fim do mês passado.
O ESP não consta da pauta de reivindicações ao titular interino do MEC, como mostrou a agência Lupa. Mesmo assim, o papo descontraído agradou o presidente do movimento, o advogado e procurador do Estado de São Paulo Miguel Nagib.Veja o recadinho em seu Facebook: “Quero agradecer publicamente ao Alexandre Frota por haver defendido o Projeto Escola sem Partido em sua audiência com o Ministério da Educação. Não exigimos atestado de bons antecedentes.”
Fico pensando em que mundo essa turma vive para achar que as escolas brasileiras – “em todos os níveis, do ensino básico ao superior” – sofrem de “contaminação político-ideológica” comandada por “um exército organizado de militantes travestidos de professores” (é sério, gente, tá tudo no site do movimentohttp://www.escolasempartido.org/).
A doutrinação na educação é um bichinho pequeno, mas o Escola Sem Partido joga um forte holofote sobre ele e pede que olhemos a sombra – monstruosa, assustadora – projetada na parede.
Uma boa reportagem publicada, nesta sexta (24), no site da Nova Escola confirma essa impressão. São perguntas e respostas que apontam o óbvio: não há evidência consistente do problema.
O Escola Sem Partido afirma ter um batalhão de denúncias de doutrinação, mas publica apenas 33 em seu site (detalhe: o Brasil tem 45 milhões de estudantes). São elas, e uma pesquisa encomendada pela revista Veja em 2008, que sustentam as ações do movimento.
Isso está muito longe de configurar uma tendência, que precisa de dados mais robustos e outros estudos comprovado que confirmem a hipótese. E tem uma outra coisinha: se existe doutrinação esquerdista, ela está dando muito, mas muito errado. E uma pesquisa Datafolha de dois anos atrás e o próprio mapa eleitoral das últimas eleições registram um avanço da direita e um recuo da esquerda.
A reportagem também mostra que de “Sem Partido” o ESP não tem nada. O levantamento dos projetos de lei inspirados nas ideias do movimento mostra um claro predomínio dos partidos de direita e de centro. O campeão é o PSC, com cinco proponentes. Outro dado que ilustra o caráter “independente'' é a vinculação religiosa: 11 dos 19 proponentes de projetos inspirados pelo ESP são ligados a alguma igreja.
As propostas do movimento são perigosas para o pensamento livre. Além dos projetos de lei contra a militância partidária, o ESP disponibiliza uma notificação extrajudicial que ameaça processar professores que abordarem sexualidade e diversidade de gênero. Além de configurar constrangimento ao exercício profissional, é uma baita contradição para quem diz defender a “pluralidade” e o caminho oposto dos países de alto desempenho em educação: Estados Unidos (em que alguns estados oferecem educação sexual desde o século 19), Nova Zelândia, Suécia e Finlândia, França. Ontário, no Canadá, tem currículo que discute relacionamento homoafetivo e identidade de gênero. Aqui, querem interditar o debate.
Mesma coisa com os estudos indígenas e africanos, classificados como porta de entrada para favorecer “movimentos sociais”. Já na Noruega, o currículo é generoso com o povo sami, habitantes originais do norte da Escandinávia. “Doutrinação”, por lá, chama-se respeito à diversidade e às raízes da história do país.
Suspeito que por trás da gritaria esteja uma enorme confusão conceitual. O Escola Sem Partido elege o marxismo como chaga principal, sem sequer se preocupar em definir que raios quer dizer com isso.
Fica nas entrelinhas o entendimento de que joga no mesmo balaio as ideias de Marx, o fracasso do socialismo real e as atrocidades imperdoáveis dos regimes comunistas.
Dessa forma, fica mais fácil ilustrar a tal sombra monstruosa e aterrorizante que “domina as universidades brasileiras” – outra afirmação sem nenhuma evidência.
Aliás, queria muito conhecer essa universidade. Fiz minha graduação em Jornalismo e mestrado e doutorado em Ciência Política na Universidade de São Paulo. E, definitivamente, lá não é. Pelo contrário, a New School, universidade que me recebeu como pesquisador visitante, é bem mais progressista que minha querida USP. E, ironicamente, fica numa cidade comunista (Nova Iorque) de um país comunista, os Estados Unidos.
Para piorar, o principal evangelista dessa Bíblia do Mal, na opinião do movimento seria ninguém mais, ninguém menos do que Paulo Freire. Justo ele, pacifista convicto e obsessivo pela ideia de que as pessoas deveriam pensar livremente.
Coisa de quem nunca leu uma linha sequer do educador brasileiro mais respeitado no mundo. Ou, se leu, não entendeu nada.
O baixo nível do debate, aliás, é o mais triste. Com tanta coisa importante para discutir, com tanta ação urgente para tomar, nos pegamos imobilizados numa falsa questão, sustentada por argumentos frágeis e para lá de questionáveis.
Presos na cortina de fumaça da suposta doutrinação, empobrecemos um pouco mais o debate sobre educação. Ganha quem aposta na confusão e na contenção dos pequenos avanços civilizatórios da área nos últimos anos.

E o futuro, aquele que nunca chega, vai ficando a cada dia mais distante.

Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/06/24/escola-sem-partido-doutrinacao-comunista-coelho-da-pascoa-e-papai-noel/

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Admirável Gado Novo


Admirável Gado Novo
― Zé Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Ilustração: Capirotinho

Fonte: https://www.facebook.com/fujadakaverna/?fref=nf




domingo, 12 de junho de 2016

Amar



Palavras não são amor.
Muito menos promessas vazias.
Falar sem pensar só traz dor
E solidão na noite fria.

Desejar-me um casamento
Nem sempre é querer o melhor para mim.
A cura de um desapontamento
Parece um processo sem fim.

Querer que eu emagreça
Não significa desejar-me saúde.
Quero que a estética desapareça
E que a moral sobre ela se anule.

Por isso neste dia dos namorados
Quero amar verdadeiramente
E celebrar o amor ao lado
De quem me ama incondicionalmente.

Esqueça as palavras
E as promessas
Não busque palmas
Nem vire às avessas.

Se quer amor, é preciso mudar
E pensar do jeito certo
Sinto informar
Mas amor é um verbo.


Angela Natel – 12/06/2016.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Morrendo



Morrer é ser esquecido
Partir definitivamente
Ainda que respirando
Desaparecer.

Às vezes sinto-me morrendo
Sendo esquecida
Apagada da mente
E do coração.

Pessoas com quem não tenho contato
Aqueles que me deixam no vácuo
Ou simplesmente ignoram
Sem nenhuma reação.

Há os que prontamente respondem,
Demonstram preocupação.
Porém logo silenciam
Como se nada tivesse acontecido.

Ainda há os que me fizeram promessas,
Falam de amor
Porém não possibilitam uma conversa saudável
Sem acusações.

E finalmente aqueles
Para quem devo algo,
É como se por causa disso
Eu deixasse de existir.

Estou morta para os que me vêem
somente pelo que posso fazer,
Pelo que posso oferecer.
Para estes não existo.

Morro quando sou lembrada
Somente quando sou útil
E quando sou ignorada
Desapareci.

E ao compartilhar algo
Não vejo empatia
Apenas competição
Ou uma distorcida relação.

Assim vou morrendo aos poucos
Sendo esquecida
Sem lar aqui nem lá
Sou pó.


Angela Natel – 08/06/2016.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Confronto



Teus olhos revelam
Só incompreensão.
Confusa eu sinto
Tua reprovação.

Diariamente
Sou confrontada
Não te compadeces
Por ti sou calada.

Me acusas, me julgas,
E mostras meus erros.
Não me elogias,
Me viras do avesso.

Sem dó ou amor
Te encaro em minha dor.
Tortura é viver
Em companhia te ter.

Se eu pudesse, um dia,
Sozinha seguia
Mas tu me persegues
Sem mim não consegues.

Sou aprisionada
À tua visão.
Postura que amarga
A minha emoção.

Por isso eu busco
Me libertar.
Um dia, de um susto,
Irei te quebrar.

Com um soco, em tempo
Vou te estilhaçar,
Maldito espelho
A me revelar.


Angela Natel – 05/06/2016.

Desejo

Quero firmar meu passo ao lado de quem me ama.
Olhar mais nos olhos de quem não tem vergonha de mim.
Perceber as lições de vida de quem me aguenta em meio à dor.
E sentir-me mais parte do mundo daquele que não foge de meus monstros interiores.

Quero ouvir com atenção as palavras de quem me diz a verdade,
e caminhar ao lado dos que me estendem a mão e não me ignoram.
Abraçar os que não perdem a paciência com meus limites
e passar mais tempo ajudando quem, de fato, reconhece sua necessidade.

Quero me dedicar a quem não me trata com desprezo,
e conversar um bom tempo com quem nem sempre quer ter razão.
E assim viver muito bem cada momento
trazendo em tempo a esperança ao coração.

Angela Natel - 27/06/2015.

Escola Sem Partido: Doutrinação comunista, Coelho da Páscoa e Papai Noel

Leonardo Sakamoto

O bicho está pegando na educação. É tanto problema que você pode montar o seu combo: roubo de merenda, escolas ocupadas, universidades em greve (e quebradas), proposta de teto orçamentário ameaçando investimentos na área, Plano Nacional de Educação completando dois anos sem NENHUMA meta cumprida e por aí vai.
Mas a julgar pelo que se passa na Congresso Nacional e na mídia, o grande mal da educação brasileira tem outro nome: “Doutrinação Político-Partidária”.
A questão é a bandeira principal do movimento Escola Sem Partido, aquele mesmo defendido por um dos maiores especialistas em Pedagogia (FROTA, Alexandre), em encontro com o ministro Mendonça Filho no fim do mês passado.
O ESP não consta da pauta de reivindicações ao titular interino do MEC, como mostrou a agência Lupa. Mesmo assim, o papo descontraído agradou o presidente do movimento, o advogado e procurador do Estado de São Paulo Miguel Nagib.Veja o recadinho em seu Facebook: “Quero agradecer publicamente ao Alexandre Frota por haver defendido o Projeto Escola sem Partido em sua audiência com o Ministério da Educação. Não exigimos atestado de bons antecedentes.”
Fico pensando em que mundo essa turma vive para achar que as escolas brasileiras – “em todos os níveis, do ensino básico ao superior” – sofrem de “contaminação político-ideológica” comandada por “um exército organizado de militantes travestidos de professores” (é sério, gente, tá tudo no site do movimentohttp://www.escolasempartido.org/).
A doutrinação na educação é um bichinho pequeno, mas o Escola Sem Partido joga um forte holofote sobre ele e pede que olhemos a sombra – monstruosa, assustadora – projetada na parede.
Uma boa reportagem publicada, nesta sexta (24), no site da Nova Escola confirma essa impressão. São perguntas e respostas que apontam o óbvio: não há evidência consistente do problema.
O Escola Sem Partido afirma ter um batalhão de denúncias de doutrinação, mas publica apenas 33 em seu site (detalhe: o Brasil tem 45 milhões de estudantes). São elas, e uma pesquisa encomendada pela revista Veja em 2008, que sustentam as ações do movimento.
Isso está muito longe de configurar uma tendência, que precisa de dados mais robustos e outros estudos comprovado que confirmem a hipótese. E tem uma outra coisinha: se existe doutrinação esquerdista, ela está dando muito, mas muito errado. E uma pesquisa Datafolha de dois anos atrás e o próprio mapa eleitoral das últimas eleições registram um avanço da direita e um recuo da esquerda.
A reportagem também mostra que de “Sem Partido” o ESP não tem nada. O levantamento dos projetos de lei inspirados nas ideias do movimento mostra um claro predomínio dos partidos de direita e de centro. O campeão é o PSC, com cinco proponentes. Outro dado que ilustra o caráter “independente'' é a vinculação religiosa: 11 dos 19 proponentes de projetos inspirados pelo ESP são ligados a alguma igreja.
As propostas do movimento são perigosas para o pensamento livre. Além dos projetos de lei contra a militância partidária, o ESP disponibiliza uma notificação extrajudicial que ameaça processar professores que abordarem sexualidade e diversidade de gênero. Além de configurar constrangimento ao exercício profissional, é uma baita contradição para quem diz defender a “pluralidade” e o caminho oposto dos países de alto desempenho em educação: Estados Unidos (em que alguns estados oferecem educação sexual desde o século 19), Nova Zelândia, Suécia e Finlândia, França. Ontário, no Canadá, tem currículo que discute relacionamento homoafetivo e identidade de gênero. Aqui, querem interditar o debate.
Mesma coisa com os estudos indígenas e africanos, classificados como porta de entrada para favorecer “movimentos sociais”. Já na Noruega, o currículo é generoso com o povo sami, habitantes originais do norte da Escandinávia. “Doutrinação”, por lá, chama-se respeito à diversidade e às raízes da história do país.
Suspeito que por trás da gritaria esteja uma enorme confusão conceitual. O Escola Sem Partido elege o marxismo como chaga principal, sem sequer se preocupar em definir que raios quer dizer com isso.
Fica nas entrelinhas o entendimento de que joga no mesmo balaio as ideias de Marx, o fracasso do socialismo real e as atrocidades imperdoáveis dos regimes comunistas.
Dessa forma, fica mais fácil ilustrar a tal sombra monstruosa e aterrorizante que “domina as universidades brasileiras” – outra afirmação sem nenhuma evidência.
Aliás, queria muito conhecer essa universidade. Fiz minha graduação em Jornalismo e mestrado e doutorado em Ciência Política na Universidade de São Paulo. E, definitivamente, lá não é. Pelo contrário, a New School, universidade que me recebeu como pesquisador visitante, é bem mais progressista que minha querida USP. E, ironicamente, fica numa cidade comunista (Nova Iorque) de um país comunista, os Estados Unidos.
Para piorar, o principal evangelista dessa Bíblia do Mal, na opinião do movimento seria ninguém mais, ninguém menos do que Paulo Freire. Justo ele, pacifista convicto e obsessivo pela ideia de que as pessoas deveriam pensar livremente.
Coisa de quem nunca leu uma linha sequer do educador brasileiro mais respeitado no mundo. Ou, se leu, não entendeu nada.
O baixo nível do debate, aliás, é o mais triste. Com tanta coisa importante para discutir, com tanta ação urgente para tomar, nos pegamos imobilizados numa falsa questão, sustentada por argumentos frágeis e para lá de questionáveis.
Presos na cortina de fumaça da suposta doutrinação, empobrecemos um pouco mais o debate sobre educação. Ganha quem aposta na confusão e na contenção dos pequenos avanços civilizatórios da área nos últimos anos.

E o futuro, aquele que nunca chega, vai ficando a cada dia mais distante.

Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/06/24/escola-sem-partido-doutrinacao-comunista-coelho-da-pascoa-e-papai-noel/

Admirável Gado Novo


Admirável Gado Novo
― Zé Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Ilustração: Capirotinho

Fonte: https://www.facebook.com/fujadakaverna/?fref=nf




Amar



Palavras não são amor.
Muito menos promessas vazias.
Falar sem pensar só traz dor
E solidão na noite fria.

Desejar-me um casamento
Nem sempre é querer o melhor para mim.
A cura de um desapontamento
Parece um processo sem fim.

Querer que eu emagreça
Não significa desejar-me saúde.
Quero que a estética desapareça
E que a moral sobre ela se anule.

Por isso neste dia dos namorados
Quero amar verdadeiramente
E celebrar o amor ao lado
De quem me ama incondicionalmente.

Esqueça as palavras
E as promessas
Não busque palmas
Nem vire às avessas.

Se quer amor, é preciso mudar
E pensar do jeito certo
Sinto informar
Mas amor é um verbo.


Angela Natel – 12/06/2016.

Morrendo



Morrer é ser esquecido
Partir definitivamente
Ainda que respirando
Desaparecer.

Às vezes sinto-me morrendo
Sendo esquecida
Apagada da mente
E do coração.

Pessoas com quem não tenho contato
Aqueles que me deixam no vácuo
Ou simplesmente ignoram
Sem nenhuma reação.

Há os que prontamente respondem,
Demonstram preocupação.
Porém logo silenciam
Como se nada tivesse acontecido.

Ainda há os que me fizeram promessas,
Falam de amor
Porém não possibilitam uma conversa saudável
Sem acusações.

E finalmente aqueles
Para quem devo algo,
É como se por causa disso
Eu deixasse de existir.

Estou morta para os que me vêem
somente pelo que posso fazer,
Pelo que posso oferecer.
Para estes não existo.

Morro quando sou lembrada
Somente quando sou útil
E quando sou ignorada
Desapareci.

E ao compartilhar algo
Não vejo empatia
Apenas competição
Ou uma distorcida relação.

Assim vou morrendo aos poucos
Sendo esquecida
Sem lar aqui nem lá
Sou pó.


Angela Natel – 08/06/2016.

Confronto



Teus olhos revelam
Só incompreensão.
Confusa eu sinto
Tua reprovação.

Diariamente
Sou confrontada
Não te compadeces
Por ti sou calada.

Me acusas, me julgas,
E mostras meus erros.
Não me elogias,
Me viras do avesso.

Sem dó ou amor
Te encaro em minha dor.
Tortura é viver
Em companhia te ter.

Se eu pudesse, um dia,
Sozinha seguia
Mas tu me persegues
Sem mim não consegues.

Sou aprisionada
À tua visão.
Postura que amarga
A minha emoção.

Por isso eu busco
Me libertar.
Um dia, de um susto,
Irei te quebrar.

Com um soco, em tempo
Vou te estilhaçar,
Maldito espelho
A me revelar.


Angela Natel – 05/06/2016.