sábado, 30 de junho de 2018

Necessidade


Este frio me gera fome
fome que traz consigo a vontade
vontade que me inquieta a alma
alma que derruba meus argumentos.

Não adianta cobrir um corpo cansado
não há amor que me estenda o braço de fato
não há justiça que sacie
nem verdade que acalme o coração.

É falta, é vazio, é frio, é necessidade
que ninguém pode ou quer ajudar a suprir.
Um teto, uma ajuda, respostas e um ombro amigo
de quem não acha que me favorece quando olha prá mim.

Angela Natel - 29/08/2013

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Para quem está em Curitiba:



Estarei neste evento, que contribuirá para meu sustento e trabalho missionário. Garanta seu(s) convite(s) com antecedência diretamente com minha mãe Aglair (telefone 41-99903-8650).

Aos que falam de mim


Todos falam
todos sempre vão falar
por que estou aqui e não lá
por que disse isto ou aquilo
e por que eles não podem dizer e fazer o mesmo.

Falam sem saber
agem sem sentir
medem sem régua
por parâmetros invisíveis
cada um pela sua própria medida
Impossível de se seguir.

Falam demais
se metem demais
não perguntam primeiro
diretamente
não querem informação
já chegam com a condenação.

Prá esses e prá todos os demais
Façam tudo o que eu fiz
passem por tudo o que passei
depois conversamos.
Beijo.

Angela Natel - 18/08/2013

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Não quero


Eu não quero que ninguém dite meus passos
nem aprove meus caminhos
sejam pontes, sejam laços.

Eu não quero um convite prá sair
nem convidar ninguém
quero liberdade de ir e vir.

Eu não quero me vender por bagatela
nem trabalhar como escrava
trancafiada numa cela.

Eu não quero limitar a minha arte
sufocar em espaço e tempo
engolindo meu alarde.

Eu não quero só promessas
planos falsos, inconstantes
de quem só anda, mas me apressa.

Quero espalhar pedaços de mim
e no meu ritmo fazer história
que nunca encontre o seu fim.

Angela Natel - 18/07/2013

quarta-feira, 27 de junho de 2018

QUANDO A GENTE RESOLVE IR EMBORA



A gente perde o nascimento dos sobrinhos, a gente perde de ver a turma de amigos aumentando com a chegada dos filhos, não estamos presentes nos casamentos dos melhores amigos. Dói e muito não estar ao lado dos amigos quando o pior acontece: divórcio, morte, depressão, demissão, perrengue.
Perdemos pessoas amadas sem termos a chance de nos despedirmos pela última vez, simplesmente porque é inviável financeiramente subir em um avião para dar o último adeus, para consolar quem ficou. Choramos por dentro e de longe, muito longe.
E a vida segue: vemos os sobrinhos crescendo pela câmera, pelas fotos sem movimentos, sem voz postadas no facebook, tentamos imaginar como foi aquele momento. Jamais adivinharemos.
Avôs se transformam em uma tela de computador ou de celular. Não tem beijo, abraço, só vontade de apertar e de abraçar quem está longe mas sempre perto no coração.
Ninguém vai encontrar a gente nas festas de família. Ninguém vai precisar se preocupar em preparar aquela sobremesa que você tanto gosta e talvez nunca mais experimente de novo. Você não sabe quando e se reencontrará novamente pessoas que você ama profundamente.
A sua família se transforma nos seus amigos. Eles estão mais presentes na sua vida do que qualquer parente de sangue. Porque são eles que vivem o dia a dia com você aqui, que te socorrem, que fazem você se sentir mais em casa e menos estrangeiro.
Você vai ter filhos que demorarão anos para conhecerem a sua família. Se um dia conhecerem, tem gente que nunca mais volta. Se voltar, você vai precisar ser tradutor/intérprete dos seus filhos.
Pagamos um preço bem alto para estarmos no campo porém, isso jamais será um fardo. Abrimos mão de muita coisa que a maioria das pessoas jamais seria capaz sem perder junto o equilíbrio, a sanidade e o juízo. Tem gente que enlouquece. É difícil ir embora, começar do zero, transformar um apartamento vazio em lar.
Só quem tem coragem de ir embora sabe que as escolhas mais valiosas que você pode fazer na vida são as mais caras.
A vida é feita de escolhas, as vezes escolhemos perder pra ganhar e no entanto sabemos que nem sempre ou pode ser que nunca nossos ganhos serão aqui.
Não canso de repetir vai valer a pena, vai valer a pena, vai valer a pena...

Romil Costa

terça-feira, 26 de junho de 2018

Sonho

Tive um sonho numa noite friorenta
Super lua desfilando pelo céu
Segurança de um abraço que me esquenta
Segredos de um leitor sob o meu véu.

Apesar de me sentir injustiçada
Colho os frutos de uma fonte inesgotável
Caminho ereta e não sou envergonhada
Aliando-me somente ao que é amável.

Mudo a cena e já não corro mais
Não há medo, luto, fome ou tristeza
Apesar da escuridão só reina a paz
E nada pode abalar minha certeza.

Me vejo agora por entre as páginas de um livro
Em seu apelo subliminar e subversivo
Sou aprovada em todo o seu crivo
Descubro, então, por que é que vivo.

Volto prá casa cheia de saudades
Posso guardar todo o meu tesouro
Ignorando nossas maldades
Somos família que vale ouro.

Angela Natel – 25/06/2013

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Me perdoe se...


Há tempos esse início de discurso me incomoda. Algo acontece, a pessoa demonstra chateação, tristeza, revolta. O outro, que de alguma forma causou tal reação, inicia: ‘Me perdoa se...” 
O discurso pode se dar de diversas formas: ‘Me perdoa se eu te fiz algum mal’; ‘me perdoa se você se magoou’; me perdoa se te causei tristeza’; ‘me perdoa se te prejudiquei’; etc. Mas o começo é sempre igual. 
O que me incomoda em tais situações é que o pedido vem com uma condicional: ‘se...’, e isso pode apresentar algumas dificuldades. Primeiro, existe arrependimento de quem causou a ação quando o pedido está condicionado ao sentimento de quem sofreu a ação? 
Segundo, o pedido de perdão é somente para que o outro ‘se sinta melhor’? Nesse caso, poderia ser somente para botar panos quentes na situação, deixar para lá, sem necessidade de comprometimento para que a situação não se repita. Só refletindo...
Outro fator inquietante seria que se a pessoa não percebe ou não concorda que errou, não parece hipocrisia ou até sarcasmo formalizar um pedido de perdão sob este formato, parecendo que a razão do pedido é de inteira responsabilidade de quem sofreu a ação?
Defendo, com esta reflexão, que este tipo de discurso é totalmente desnecessário. Uma vez percebida a atitude errada, e com a disposição de mudar, pede-se perdão pelo que aconteceu. Caso não se concorde que tenha errado, é bom questionar se a maneira como foi colocada a situação não seria a causa do desentendimento. Nem sempre o que digo está errado, porém como digo pode ofender. Nesse caso, posso concordar que errei na maneira de me expressar, e por isso me desculpar. 
Agora, pedir perdão ‘se’ fiz algo errado, ou o famoso ‘desculpa qualquer coisa’, soa vago, desinteressado e genuinamente despreocupado com o outro, um discurso ‘prá fazer média’, prá aliviar consciência, egoísta.
De qualquer modo, lanço esta reflexão. E ‘se’ ofendi alguém com isso, ‘desculpa qualquer coisa’.

Angela Natel – 01/06/2014.


sábado, 23 de junho de 2018

É hora de parar para falar sobre isso

"Hannah Arendt questionou como o nazismo foi possível... Como o nazismo surgiu em uma sociedade aparentemente bem ordenada. Como o totalitarismo se consolidou em meio a gente que filosofava sobre a verdade, sobre a justiça, sobre a paz perpétua... Você mata? Você que me lê.. mata? Nós, enquanto sujeitos, somos maus? Fazemos vilanias? Se, em grandes números, a resposta é negativa - e, atentando para estatísticas, tenho minhas dúvidas -, como é possível? Como é possível que, em conjunto, produzamos uma sociedade assim tão asquerosa, com práticas tão ignóbeis? De onde surge e se consolida esse estado de coisas em que crianças devem "saber" o que vestir, para que possam continuar a viver? Que estado de coisas é esse em que mães têm que velar seus filhos, por terem sido "confundidos" com "bandidos"? São crianças, meu Deus. E, mesmo que não fossem, são gente!!! E, mesmo que fossem adultos bandidos, são cidadãos. Não são e não podem ser apenas números. Não são, nem podem ser, o alvo corriqueiro de autos de resistência forjados. Não são, nem podem ser, escravizados por um sistema que teima em agir como "capitães do mato" -- capitães do mato que matam --, eliminando as "vidas secas", por mais produtivas que sejam e são. Não são apenas os Marcos Vinícius. São todos aqueles que, por uma lógica de gueto, apenas conhecem o Estado policialesco. Aquele Estado que aplaude execuções mais do que provisórias... execuções sumárias por parte de Dredds - um misto de policial, juiz e carrasco -, que decidem quem vive e quem morre, sem direito a apelo. Um Estado que mata e nega às suas vítimas até mesmo uma cova e um nome. Um Estado que simplesmente imagina que "passagem na polícia" seja razão suficiente para o extermínio. Policiais matam e morrem... Matam e morrem - e morrem!!, enfatizo - em meio à reprodução de lógica belicista... Como se o Estado vivesse em guerra... Uma guerra em que não há leis..., nem mesmo a de Genebra. Apenas um discurso retórico, em que "autoridades" legitimam o sangue no asfalto... A culpa é de quem aperta o gatilho? Mas, quem tanto aperta o gatilho? Quem mantém e consolida essa estrutura? Sinto dizê-lo: somos nós. Nós todos. Nós que nos omitimos. Nós que permitimos a existência de um Estado-centauro --- com discurso humanista e práticas autoritárias ---, cada vez mais convertido em um Estado-cavalo, em que até mesmo o discurso humanista cínico tem sido jogado fora. Sequer os adornos retóricos iluministas são invocados... Só resta o extermínio... Um país em que mulheres têm fundado medo de serem violentadas no transporte coletivo... Um país em que crianças temem ser mortas pelo aparato de "proteção" policial. Um país em que brasileiros "cordiais" matam por conta da cor da camiseta da vítima... Um Estado em que há "autoridades" falando em "excesso" de garantismo e de garantias..., talvez sem notar que, com a promessa de proteger uns contra outros, por vezes faz com que o Estado se torne o grande carrasco, assaltando à noite aquilo que disse ter protegido durante o dia... Um Estado em que o Iluminismo ainda não chegou..., em que o anjo da História, alvo das letras de Benjamin, acumulando seus cadáveres na margem do progresso, apenas encontra o entorpecimento coletivo... de tão acostumado que o mundo está com tanto sadismo coletivo. Como é possível? Talvez, nem Hannah tivesse a resposta. Um Estado em que mães têm que justificar o direito à vida do filho, abrindo a mochila escolar, de modo a gritar: "meu filho era um trabalhador!" Um Estado que nos desonra, enquanto sociedade... Mas, o Estado somos nós... Não uma idealidade hegeliana. Não uma abstração. O Estado somos nós... Então, você se importa? Mas, se nos importamos - e eu me importo!!! -, como é que isso se mantém e se reproduz? Em uma sociedade em que crianças são mortas ou enjauladas... E enjauladas pelos "defensores" mundiais da "democracia"... Como já escreveu Brecht, "Que tempos são esses, quando falar sobre flores é quase um crime.... pois significa silenciar sobre tanta injustiça?" Um tempo em que há tantos "atiradores do muro de Berlim"... sobrevoando nossas favelas e escolhendo quem vive... e os Marcos Vinícius que morrem. Triste. E ainda há quem fale em "Brasil: democracia racial"... Seria sinal de ingenuidade, não fosse grotesco cinismo."
Flavio Antônio da Cruz

Hermenêutica



E se eu tivesse um vislumbre do futuro
E visse as águas agitarem sobre mim
E se eu visse cair por terra o grande muro
Para que tudo em todo o tempo eu compreenda, enfim?

E se eu julgar que toda verdade vem de Deus
Seja em Marx, Freud, Sócrates, Maquiavel
Se eu entender que todos os planos são seus
E que até o diabo nisso tudo tem o seu papel?

E se eu converter tudo ao serviço do Senhor
ainda que provenha do diabo
Se eu buscar a filosofia que for
Para manter a fé sempre ao meu lado?

E se eu descobrisse que sou fábrica de deuses
Que multiplica os sentidos de todo texto
Se as metáforas se transformam em teses
Para que eu faça argumentação com o resto?

E se eu não captar o sentido teológico
Do que realmente diz o texto lido
Se eu não conseguir ver o sentido exegético
Nem ter um olhar histórico-crítico?

E se eu tivesse um vislumbre do presente
Sob uma ótica límpida e elevada
Se eu enxergasse o mundo sob a luz de outra lente
Experimentaria uma teologia atualizada?

Angela Natel – 25/06/2013

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Ei, você!



Ei, você que sabe o que quer
Venha e mostre o meu erro
Desentorte o meu caminho
Sem saber como me sinto.

Ei, você em seus sapatos
Atire em mim a sua pedra
Repita vez após vez a mesma falha
E me lembre de que não tenho valor.

Ei, você que é tão experiente
Mais velho, mais sábio e inteligente
Continue me humilhando
E me calando toda vez que me encontrar.

Ei, você que parou de falar comigo
Ou que nunca fez questão de falar
Ou até falou, mas foi para comparar
Afinal, quem sou eu para ser alguma coisa?

Ei, você que só me trata como mercadoria
Serviço prestado, dicionário ambulante
Só me procura quando precisa
De um dos meus serviços prestados.

Ei, você que me encontra e diz: que saudade!
Que bom te ver por aqui, quanto tempo!
Mas nunca moveu um passo em minha direção
Nem ligou, nem escreveu, nem procurou.

Ei, você, sim, você mesmo
Acorde prá sua vida,
você não faz parte da minha
então siga seu caminho para longe de mim.

Angela Natel – 22/06/2013

quinta-feira, 21 de junho de 2018

The Cranberries - Zombie (Live) Legendado em PT/ENG





Que "o senhor da guerra não gosta de crianças", a gente já sabia...
porque a vida delas nunca importou, mesmo... Falar contra o "demônio marxista é que importa".
EUA é que manda! Bando de ZOMBIES!

https://www.youtube.com/watch?v=Q5euXd-3LlE

Teologia




Deus é sempre o maior
Pois ainda que não exista
Será a maior ilusão.

Crer na existência de Deus
É sempre a melhor opção
Se existe sai-se no ganho
Se não nada se perde.

Para ser teologia
Parte-se de Deus
Objeto impossível de ser
Plenamente conhecido.

Teologia relacional
Feita pelo Grande Teólogo.
Deus que se diz ser EU SOU
Unipluralmente amando.

Teologia absoluta
Autoconhecimento de Deus.
Teologia relativa
Limites expostos ao léu.

Deus que se revelou
Infalível, insondável
Escolhe os pequeninos
Por isso é tão admirável.

Angela Natel  - 04/06/2013

quarta-feira, 20 de junho de 2018

É nisso que nos tornamos?

Então, o próximo passo para com os que discordam, incomodam, ferem nossa ditadura, é o enjaulamento de menores de idade, esterilização forçada, generalização de tratamento, trauma após trauma?
Bela sociedade demoníaca nos tornamos: matar, roubar e destruir virou nosso mote, nosso hobbie - e tudo em nome de "Deus".
Usamos a Bíblia sem exegese nem hermenêutica, lutamos contra o "humanismo" para nos tornarmos gnósticos, ignoramos os erros cometidos na história para cometermos atrocidades piores.
Sem ter Cristo como referência, nos dizemos cristãos, e nos tornamos os porta-vozes do anti-reino de Deus, o próprio anticristo de nossa geração.
Duvida? Que tal estudar, ler, pesquisar, se informar, antes de emitir opinião ou repetir discurso só porque, no momento, é lógico ou faz sentido?
Que tal analisar com calma as complexidades e nuanças de cada situação?
É cristão? Que tal voltar seus olhos para Cristo antes de a qualquer um que diz representá-lo?
Angela Natel

terça-feira, 19 de junho de 2018

Testamento



Quero semear a bondade
Derramar um pouco de mim
Encarnar toda a mensagem
Mostrar prá que foi que eu vim.

Distribuindo presentes
Vou selando amizades
Aliados consistentes
Nas adversidades.

Quero deixar uma herança
Melhor do que bens ou dinheiro
Ter todos comigo na dança
A vida viver por inteiro.

Sendo exemplo eu sigo
Contagiando de amor
Ensino somente o que vivo
Modelo que aprende na dor.

Deixo em meu testamento
Livros, brinquedos e histórias
Fotos de grandes momentos
Pedaços de mim nas memórias.

Angela Natel – 04/06/2013

Necessidade


Este frio me gera fome
fome que traz consigo a vontade
vontade que me inquieta a alma
alma que derruba meus argumentos.

Não adianta cobrir um corpo cansado
não há amor que me estenda o braço de fato
não há justiça que sacie
nem verdade que acalme o coração.

É falta, é vazio, é frio, é necessidade
que ninguém pode ou quer ajudar a suprir.
Um teto, uma ajuda, respostas e um ombro amigo
de quem não acha que me favorece quando olha prá mim.

Angela Natel - 29/08/2013

Para quem está em Curitiba:



Estarei neste evento, que contribuirá para meu sustento e trabalho missionário. Garanta seu(s) convite(s) com antecedência diretamente com minha mãe Aglair (telefone 41-99903-8650).

Aos que falam de mim


Todos falam
todos sempre vão falar
por que estou aqui e não lá
por que disse isto ou aquilo
e por que eles não podem dizer e fazer o mesmo.

Falam sem saber
agem sem sentir
medem sem régua
por parâmetros invisíveis
cada um pela sua própria medida
Impossível de se seguir.

Falam demais
se metem demais
não perguntam primeiro
diretamente
não querem informação
já chegam com a condenação.

Prá esses e prá todos os demais
Façam tudo o que eu fiz
passem por tudo o que passei
depois conversamos.
Beijo.

Angela Natel - 18/08/2013

Não quero


Eu não quero que ninguém dite meus passos
nem aprove meus caminhos
sejam pontes, sejam laços.

Eu não quero um convite prá sair
nem convidar ninguém
quero liberdade de ir e vir.

Eu não quero me vender por bagatela
nem trabalhar como escrava
trancafiada numa cela.

Eu não quero limitar a minha arte
sufocar em espaço e tempo
engolindo meu alarde.

Eu não quero só promessas
planos falsos, inconstantes
de quem só anda, mas me apressa.

Quero espalhar pedaços de mim
e no meu ritmo fazer história
que nunca encontre o seu fim.

Angela Natel - 18/07/2013

QUANDO A GENTE RESOLVE IR EMBORA



A gente perde o nascimento dos sobrinhos, a gente perde de ver a turma de amigos aumentando com a chegada dos filhos, não estamos presentes nos casamentos dos melhores amigos. Dói e muito não estar ao lado dos amigos quando o pior acontece: divórcio, morte, depressão, demissão, perrengue.
Perdemos pessoas amadas sem termos a chance de nos despedirmos pela última vez, simplesmente porque é inviável financeiramente subir em um avião para dar o último adeus, para consolar quem ficou. Choramos por dentro e de longe, muito longe.
E a vida segue: vemos os sobrinhos crescendo pela câmera, pelas fotos sem movimentos, sem voz postadas no facebook, tentamos imaginar como foi aquele momento. Jamais adivinharemos.
Avôs se transformam em uma tela de computador ou de celular. Não tem beijo, abraço, só vontade de apertar e de abraçar quem está longe mas sempre perto no coração.
Ninguém vai encontrar a gente nas festas de família. Ninguém vai precisar se preocupar em preparar aquela sobremesa que você tanto gosta e talvez nunca mais experimente de novo. Você não sabe quando e se reencontrará novamente pessoas que você ama profundamente.
A sua família se transforma nos seus amigos. Eles estão mais presentes na sua vida do que qualquer parente de sangue. Porque são eles que vivem o dia a dia com você aqui, que te socorrem, que fazem você se sentir mais em casa e menos estrangeiro.
Você vai ter filhos que demorarão anos para conhecerem a sua família. Se um dia conhecerem, tem gente que nunca mais volta. Se voltar, você vai precisar ser tradutor/intérprete dos seus filhos.
Pagamos um preço bem alto para estarmos no campo porém, isso jamais será um fardo. Abrimos mão de muita coisa que a maioria das pessoas jamais seria capaz sem perder junto o equilíbrio, a sanidade e o juízo. Tem gente que enlouquece. É difícil ir embora, começar do zero, transformar um apartamento vazio em lar.
Só quem tem coragem de ir embora sabe que as escolhas mais valiosas que você pode fazer na vida são as mais caras.
A vida é feita de escolhas, as vezes escolhemos perder pra ganhar e no entanto sabemos que nem sempre ou pode ser que nunca nossos ganhos serão aqui.
Não canso de repetir vai valer a pena, vai valer a pena, vai valer a pena...

Romil Costa

Sonho

Tive um sonho numa noite friorenta
Super lua desfilando pelo céu
Segurança de um abraço que me esquenta
Segredos de um leitor sob o meu véu.

Apesar de me sentir injustiçada
Colho os frutos de uma fonte inesgotável
Caminho ereta e não sou envergonhada
Aliando-me somente ao que é amável.

Mudo a cena e já não corro mais
Não há medo, luto, fome ou tristeza
Apesar da escuridão só reina a paz
E nada pode abalar minha certeza.

Me vejo agora por entre as páginas de um livro
Em seu apelo subliminar e subversivo
Sou aprovada em todo o seu crivo
Descubro, então, por que é que vivo.

Volto prá casa cheia de saudades
Posso guardar todo o meu tesouro
Ignorando nossas maldades
Somos família que vale ouro.

Angela Natel – 25/06/2013

Me perdoe se...


Há tempos esse início de discurso me incomoda. Algo acontece, a pessoa demonstra chateação, tristeza, revolta. O outro, que de alguma forma causou tal reação, inicia: ‘Me perdoa se...” 
O discurso pode se dar de diversas formas: ‘Me perdoa se eu te fiz algum mal’; ‘me perdoa se você se magoou’; me perdoa se te causei tristeza’; ‘me perdoa se te prejudiquei’; etc. Mas o começo é sempre igual. 
O que me incomoda em tais situações é que o pedido vem com uma condicional: ‘se...’, e isso pode apresentar algumas dificuldades. Primeiro, existe arrependimento de quem causou a ação quando o pedido está condicionado ao sentimento de quem sofreu a ação? 
Segundo, o pedido de perdão é somente para que o outro ‘se sinta melhor’? Nesse caso, poderia ser somente para botar panos quentes na situação, deixar para lá, sem necessidade de comprometimento para que a situação não se repita. Só refletindo...
Outro fator inquietante seria que se a pessoa não percebe ou não concorda que errou, não parece hipocrisia ou até sarcasmo formalizar um pedido de perdão sob este formato, parecendo que a razão do pedido é de inteira responsabilidade de quem sofreu a ação?
Defendo, com esta reflexão, que este tipo de discurso é totalmente desnecessário. Uma vez percebida a atitude errada, e com a disposição de mudar, pede-se perdão pelo que aconteceu. Caso não se concorde que tenha errado, é bom questionar se a maneira como foi colocada a situação não seria a causa do desentendimento. Nem sempre o que digo está errado, porém como digo pode ofender. Nesse caso, posso concordar que errei na maneira de me expressar, e por isso me desculpar. 
Agora, pedir perdão ‘se’ fiz algo errado, ou o famoso ‘desculpa qualquer coisa’, soa vago, desinteressado e genuinamente despreocupado com o outro, um discurso ‘prá fazer média’, prá aliviar consciência, egoísta.
De qualquer modo, lanço esta reflexão. E ‘se’ ofendi alguém com isso, ‘desculpa qualquer coisa’.

Angela Natel – 01/06/2014.


É hora de parar para falar sobre isso

"Hannah Arendt questionou como o nazismo foi possível... Como o nazismo surgiu em uma sociedade aparentemente bem ordenada. Como o totalitarismo se consolidou em meio a gente que filosofava sobre a verdade, sobre a justiça, sobre a paz perpétua... Você mata? Você que me lê.. mata? Nós, enquanto sujeitos, somos maus? Fazemos vilanias? Se, em grandes números, a resposta é negativa - e, atentando para estatísticas, tenho minhas dúvidas -, como é possível? Como é possível que, em conjunto, produzamos uma sociedade assim tão asquerosa, com práticas tão ignóbeis? De onde surge e se consolida esse estado de coisas em que crianças devem "saber" o que vestir, para que possam continuar a viver? Que estado de coisas é esse em que mães têm que velar seus filhos, por terem sido "confundidos" com "bandidos"? São crianças, meu Deus. E, mesmo que não fossem, são gente!!! E, mesmo que fossem adultos bandidos, são cidadãos. Não são e não podem ser apenas números. Não são, nem podem ser, o alvo corriqueiro de autos de resistência forjados. Não são, nem podem ser, escravizados por um sistema que teima em agir como "capitães do mato" -- capitães do mato que matam --, eliminando as "vidas secas", por mais produtivas que sejam e são. Não são apenas os Marcos Vinícius. São todos aqueles que, por uma lógica de gueto, apenas conhecem o Estado policialesco. Aquele Estado que aplaude execuções mais do que provisórias... execuções sumárias por parte de Dredds - um misto de policial, juiz e carrasco -, que decidem quem vive e quem morre, sem direito a apelo. Um Estado que mata e nega às suas vítimas até mesmo uma cova e um nome. Um Estado que simplesmente imagina que "passagem na polícia" seja razão suficiente para o extermínio. Policiais matam e morrem... Matam e morrem - e morrem!!, enfatizo - em meio à reprodução de lógica belicista... Como se o Estado vivesse em guerra... Uma guerra em que não há leis..., nem mesmo a de Genebra. Apenas um discurso retórico, em que "autoridades" legitimam o sangue no asfalto... A culpa é de quem aperta o gatilho? Mas, quem tanto aperta o gatilho? Quem mantém e consolida essa estrutura? Sinto dizê-lo: somos nós. Nós todos. Nós que nos omitimos. Nós que permitimos a existência de um Estado-centauro --- com discurso humanista e práticas autoritárias ---, cada vez mais convertido em um Estado-cavalo, em que até mesmo o discurso humanista cínico tem sido jogado fora. Sequer os adornos retóricos iluministas são invocados... Só resta o extermínio... Um país em que mulheres têm fundado medo de serem violentadas no transporte coletivo... Um país em que crianças temem ser mortas pelo aparato de "proteção" policial. Um país em que brasileiros "cordiais" matam por conta da cor da camiseta da vítima... Um Estado em que há "autoridades" falando em "excesso" de garantismo e de garantias..., talvez sem notar que, com a promessa de proteger uns contra outros, por vezes faz com que o Estado se torne o grande carrasco, assaltando à noite aquilo que disse ter protegido durante o dia... Um Estado em que o Iluminismo ainda não chegou..., em que o anjo da História, alvo das letras de Benjamin, acumulando seus cadáveres na margem do progresso, apenas encontra o entorpecimento coletivo... de tão acostumado que o mundo está com tanto sadismo coletivo. Como é possível? Talvez, nem Hannah tivesse a resposta. Um Estado em que mães têm que justificar o direito à vida do filho, abrindo a mochila escolar, de modo a gritar: "meu filho era um trabalhador!" Um Estado que nos desonra, enquanto sociedade... Mas, o Estado somos nós... Não uma idealidade hegeliana. Não uma abstração. O Estado somos nós... Então, você se importa? Mas, se nos importamos - e eu me importo!!! -, como é que isso se mantém e se reproduz? Em uma sociedade em que crianças são mortas ou enjauladas... E enjauladas pelos "defensores" mundiais da "democracia"... Como já escreveu Brecht, "Que tempos são esses, quando falar sobre flores é quase um crime.... pois significa silenciar sobre tanta injustiça?" Um tempo em que há tantos "atiradores do muro de Berlim"... sobrevoando nossas favelas e escolhendo quem vive... e os Marcos Vinícius que morrem. Triste. E ainda há quem fale em "Brasil: democracia racial"... Seria sinal de ingenuidade, não fosse grotesco cinismo."
Flavio Antônio da Cruz

Hermenêutica



E se eu tivesse um vislumbre do futuro
E visse as águas agitarem sobre mim
E se eu visse cair por terra o grande muro
Para que tudo em todo o tempo eu compreenda, enfim?

E se eu julgar que toda verdade vem de Deus
Seja em Marx, Freud, Sócrates, Maquiavel
Se eu entender que todos os planos são seus
E que até o diabo nisso tudo tem o seu papel?

E se eu converter tudo ao serviço do Senhor
ainda que provenha do diabo
Se eu buscar a filosofia que for
Para manter a fé sempre ao meu lado?

E se eu descobrisse que sou fábrica de deuses
Que multiplica os sentidos de todo texto
Se as metáforas se transformam em teses
Para que eu faça argumentação com o resto?

E se eu não captar o sentido teológico
Do que realmente diz o texto lido
Se eu não conseguir ver o sentido exegético
Nem ter um olhar histórico-crítico?

E se eu tivesse um vislumbre do presente
Sob uma ótica límpida e elevada
Se eu enxergasse o mundo sob a luz de outra lente
Experimentaria uma teologia atualizada?

Angela Natel – 25/06/2013

Ei, você!



Ei, você que sabe o que quer
Venha e mostre o meu erro
Desentorte o meu caminho
Sem saber como me sinto.

Ei, você em seus sapatos
Atire em mim a sua pedra
Repita vez após vez a mesma falha
E me lembre de que não tenho valor.

Ei, você que é tão experiente
Mais velho, mais sábio e inteligente
Continue me humilhando
E me calando toda vez que me encontrar.

Ei, você que parou de falar comigo
Ou que nunca fez questão de falar
Ou até falou, mas foi para comparar
Afinal, quem sou eu para ser alguma coisa?

Ei, você que só me trata como mercadoria
Serviço prestado, dicionário ambulante
Só me procura quando precisa
De um dos meus serviços prestados.

Ei, você que me encontra e diz: que saudade!
Que bom te ver por aqui, quanto tempo!
Mas nunca moveu um passo em minha direção
Nem ligou, nem escreveu, nem procurou.

Ei, você, sim, você mesmo
Acorde prá sua vida,
você não faz parte da minha
então siga seu caminho para longe de mim.

Angela Natel – 22/06/2013

The Cranberries - Zombie (Live) Legendado em PT/ENG





Que "o senhor da guerra não gosta de crianças", a gente já sabia...
porque a vida delas nunca importou, mesmo... Falar contra o "demônio marxista é que importa".
EUA é que manda! Bando de ZOMBIES!

https://www.youtube.com/watch?v=Q5euXd-3LlE

Teologia




Deus é sempre o maior
Pois ainda que não exista
Será a maior ilusão.

Crer na existência de Deus
É sempre a melhor opção
Se existe sai-se no ganho
Se não nada se perde.

Para ser teologia
Parte-se de Deus
Objeto impossível de ser
Plenamente conhecido.

Teologia relacional
Feita pelo Grande Teólogo.
Deus que se diz ser EU SOU
Unipluralmente amando.

Teologia absoluta
Autoconhecimento de Deus.
Teologia relativa
Limites expostos ao léu.

Deus que se revelou
Infalível, insondável
Escolhe os pequeninos
Por isso é tão admirável.

Angela Natel  - 04/06/2013

É nisso que nos tornamos?

Então, o próximo passo para com os que discordam, incomodam, ferem nossa ditadura, é o enjaulamento de menores de idade, esterilização forçada, generalização de tratamento, trauma após trauma?
Bela sociedade demoníaca nos tornamos: matar, roubar e destruir virou nosso mote, nosso hobbie - e tudo em nome de "Deus".
Usamos a Bíblia sem exegese nem hermenêutica, lutamos contra o "humanismo" para nos tornarmos gnósticos, ignoramos os erros cometidos na história para cometermos atrocidades piores.
Sem ter Cristo como referência, nos dizemos cristãos, e nos tornamos os porta-vozes do anti-reino de Deus, o próprio anticristo de nossa geração.
Duvida? Que tal estudar, ler, pesquisar, se informar, antes de emitir opinião ou repetir discurso só porque, no momento, é lógico ou faz sentido?
Que tal analisar com calma as complexidades e nuanças de cada situação?
É cristão? Que tal voltar seus olhos para Cristo antes de a qualquer um que diz representá-lo?
Angela Natel

Testamento



Quero semear a bondade
Derramar um pouco de mim
Encarnar toda a mensagem
Mostrar prá que foi que eu vim.

Distribuindo presentes
Vou selando amizades
Aliados consistentes
Nas adversidades.

Quero deixar uma herança
Melhor do que bens ou dinheiro
Ter todos comigo na dança
A vida viver por inteiro.

Sendo exemplo eu sigo
Contagiando de amor
Ensino somente o que vivo
Modelo que aprende na dor.

Deixo em meu testamento
Livros, brinquedos e histórias
Fotos de grandes momentos
Pedaços de mim nas memórias.

Angela Natel – 04/06/2013