segunda-feira, 25 de junho de 2018

Me perdoe se...


Há tempos esse início de discurso me incomoda. Algo acontece, a pessoa demonstra chateação, tristeza, revolta. O outro, que de alguma forma causou tal reação, inicia: ‘Me perdoa se...” 
O discurso pode se dar de diversas formas: ‘Me perdoa se eu te fiz algum mal’; ‘me perdoa se você se magoou’; me perdoa se te causei tristeza’; ‘me perdoa se te prejudiquei’; etc. Mas o começo é sempre igual. 
O que me incomoda em tais situações é que o pedido vem com uma condicional: ‘se...’, e isso pode apresentar algumas dificuldades. Primeiro, existe arrependimento de quem causou a ação quando o pedido está condicionado ao sentimento de quem sofreu a ação? 
Segundo, o pedido de perdão é somente para que o outro ‘se sinta melhor’? Nesse caso, poderia ser somente para botar panos quentes na situação, deixar para lá, sem necessidade de comprometimento para que a situação não se repita. Só refletindo...
Outro fator inquietante seria que se a pessoa não percebe ou não concorda que errou, não parece hipocrisia ou até sarcasmo formalizar um pedido de perdão sob este formato, parecendo que a razão do pedido é de inteira responsabilidade de quem sofreu a ação?
Defendo, com esta reflexão, que este tipo de discurso é totalmente desnecessário. Uma vez percebida a atitude errada, e com a disposição de mudar, pede-se perdão pelo que aconteceu. Caso não se concorde que tenha errado, é bom questionar se a maneira como foi colocada a situação não seria a causa do desentendimento. Nem sempre o que digo está errado, porém como digo pode ofender. Nesse caso, posso concordar que errei na maneira de me expressar, e por isso me desculpar. 
Agora, pedir perdão ‘se’ fiz algo errado, ou o famoso ‘desculpa qualquer coisa’, soa vago, desinteressado e genuinamente despreocupado com o outro, um discurso ‘prá fazer média’, prá aliviar consciência, egoísta.
De qualquer modo, lanço esta reflexão. E ‘se’ ofendi alguém com isso, ‘desculpa qualquer coisa’.

Angela Natel – 01/06/2014.


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Me perdoe se...


Há tempos esse início de discurso me incomoda. Algo acontece, a pessoa demonstra chateação, tristeza, revolta. O outro, que de alguma forma causou tal reação, inicia: ‘Me perdoa se...” 
O discurso pode se dar de diversas formas: ‘Me perdoa se eu te fiz algum mal’; ‘me perdoa se você se magoou’; me perdoa se te causei tristeza’; ‘me perdoa se te prejudiquei’; etc. Mas o começo é sempre igual. 
O que me incomoda em tais situações é que o pedido vem com uma condicional: ‘se...’, e isso pode apresentar algumas dificuldades. Primeiro, existe arrependimento de quem causou a ação quando o pedido está condicionado ao sentimento de quem sofreu a ação? 
Segundo, o pedido de perdão é somente para que o outro ‘se sinta melhor’? Nesse caso, poderia ser somente para botar panos quentes na situação, deixar para lá, sem necessidade de comprometimento para que a situação não se repita. Só refletindo...
Outro fator inquietante seria que se a pessoa não percebe ou não concorda que errou, não parece hipocrisia ou até sarcasmo formalizar um pedido de perdão sob este formato, parecendo que a razão do pedido é de inteira responsabilidade de quem sofreu a ação?
Defendo, com esta reflexão, que este tipo de discurso é totalmente desnecessário. Uma vez percebida a atitude errada, e com a disposição de mudar, pede-se perdão pelo que aconteceu. Caso não se concorde que tenha errado, é bom questionar se a maneira como foi colocada a situação não seria a causa do desentendimento. Nem sempre o que digo está errado, porém como digo pode ofender. Nesse caso, posso concordar que errei na maneira de me expressar, e por isso me desculpar. 
Agora, pedir perdão ‘se’ fiz algo errado, ou o famoso ‘desculpa qualquer coisa’, soa vago, desinteressado e genuinamente despreocupado com o outro, um discurso ‘prá fazer média’, prá aliviar consciência, egoísta.
De qualquer modo, lanço esta reflexão. E ‘se’ ofendi alguém com isso, ‘desculpa qualquer coisa’.

Angela Natel – 01/06/2014.