Vemos
coincidência no cotidiano quando dois eventos acontecem ao mesmo tempo, ou são
muito próximos, ou muito semelhantes, etc.
Dentre os muitos tipos de coincidência, darei ênfase aqui àquela que diz
respeito ao tempo.
"Estava pensando naquela pessoa e ela me mandou mensagem na mesma
hora" é um exemplo de coincidência pela simultaneidade.
Nesse caso, é justamente pela incidência compartilhada do tempo que entendemos
que houve ali uma conexão, afinal, se a mensagem chegasse anos depois, talvez
não tivéssemos essa mesma impressão.
Em outras situações, como a do ciúme ou inveja algo semelhante pode acontecer.
Atrelamos a postura de outra pessoa a nós, como se fosse, necessariamente,
algum tipo de provocação.
E é a partir dessa proximidade excessiva que temos com o contexto que a
comparação acontece: por que fez isso com aquela pessoa e não comigo? Por que
já está desse jeito e não de outro?
Se nos distanciamos e pensamos que a mensagem que a pessoa enviou a outra, o
beijo, o sorriso, a lágrima, talvez não tenham tanto assim a ver conosco,
conseguimos nos desobrigar um pouco desse fardo.
Mesmo quando há relação conosco, ainda há uma parte muito íntima no modo cada
pessoa sente e vive suas próprias questões.
Esse movimento de nos colocarmos como ponto de referência para o que acontece
no mundo, uma espécie de terraplanismo sutil, pode ser acompanhado inclusive de
muita culpa, porque daí passamos a atribuir a nós mesmos a causa e o efeito de
tudo de ruim que nos acontece.
Mas e se em vez de criarmos conexões apenas de mão dupla conosco, exercitarmos
uma expansão?
Uma teia infinita de pontos de contato?
Poderemos pensar que, mais do que uma predestinação (de tempo, de espaço, de
pessoa), mais que uma coerência interna ou uma lógica na vida, só poderemos
degustar nossas alegrias sem buscar nelas tanto sentido.
Em vez de só ver graça em olhar para o céu quando coincide de aparecer uma
estrela cadente, há que se admirá-lo mesmo antes, mesmo depois dela passar.
Não é preciso tanta coincidência para se amar a vida.
Geni Nuñez -
@genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

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