Nas cartas jesuítas havia
uma divisão entre "verdadeiras aparições" e "falsas
aparições".
As primeiras seriam aquelas em que haveria
manifestação de santos e as segundas seriam aquelas em que apareceriam
"outros seres", nomeados como diabólicos. O racismo religioso no
âmago sempre.
Essa mesma noção de verdadeiro para si e falso
para os outros (racializados) continua presente em todos os discursos
coloniais.
Nas mesmas cartas, a não monogamia é fortemente
combatida, sendo que a "lectura contextual de las expresiones de los
Guaraní permite detectar que paraellos es ante todo una forma esencial y
tradicional de cultura” (Melià, 1988).
Para os jesuítas, os casamentos indígenas eram
narrados como falsos, pois neles não havia a obrigatoriedade do "pra
sempre" nem a imposição de se relacionar com apenas 1 pessoa.
Os padres afirmavam que a tradição indígena não
poderia conciliar-se com o “único, perfeito e verdadeirocasamento cristão”.
A catequização é o outro nome da colonização,
que é o outro nome do etnocídio. O discurso colonial não é apenas a defesa de
uma fé, de um modo de ser, é a imposição, violenta, de sua maneira a todo o
mundo.
Hoje temos pessoas com os mesmos discursos dos
jesuítas, dizendo que só monogamia é afeto de verdade, que não mono é coisa de
gente suja, incivilizada.
Reconhecer que defender monogamia é defender um
discurso crente e colonial é o primeiro passo para transformação.
E antes que digam que poligamia é violenta,
pesquisem e aprendam que não monogamia não é a mesma coisa que poligamia (que,
nos países ocidentais, é apenas uma monogamia extendida).
Antes de buscarem continentes e períodos
históricos que desconhecem para defender o indefensável, notem que estou
falando deste nosso território, dos últimos 500 anos em que o jeito de amar
cristão tem se mantido à custa de muito sangue derramado, especialmente de
mulheres cis e pessoas trans.
Não monogamia não é sobre quantidade de pessoas,
é sobre poder escolher - sem punições, chantagens nem nenhum tipo de
constrangimento psicológico - se quer ficar com 1, nenhuma ou mais pessoas.
Monogamia é um pacto antiético, pois não se
combina, nem se acorda a terceirização da própria autonomia.
Geni Nuñez
Fonte: https://www.instagram.com/p/CKUQoqNHWRj/?igshid=MDJmNzVkMjY=
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