terça-feira, 7 de junho de 2022

Monogamia a forma cristã de amar

 


Nas cartas jesuítas havia uma divisão entre "verdadeiras aparições" e "falsas aparições".
As primeiras seriam aquelas em que haveria manifestação de santos e as segundas seriam aquelas em que apareceriam "outros seres", nomeados como diabólicos. O racismo religioso no âmago sempre.
Essa mesma noção de verdadeiro para si e falso para os outros (racializados) continua presente em todos os discursos coloniais.
Nas mesmas cartas, a não monogamia é fortemente combatida, sendo que a "lectura contextual de las expresiones de los Guaraní permite detectar que paraellos es ante todo una forma esencial y tradicional de cultura” (Melià, 1988).
Para os jesuítas, os casamentos indígenas eram narrados como falsos, pois neles não havia a obrigatoriedade do "pra sempre" nem a imposição de se relacionar com apenas 1 pessoa.
Os padres afirmavam que a tradição indígena não poderia conciliar-se com o “único, perfeito e verdadeirocasamento cristão”.
A catequização é o outro nome da colonização, que é o outro nome do etnocídio. O discurso colonial não é apenas a defesa de uma fé, de um modo de ser, é a imposição, violenta, de sua maneira a todo o mundo.
Hoje temos pessoas com os mesmos discursos dos jesuítas, dizendo que só monogamia é afeto de verdade, que não mono é coisa de gente suja, incivilizada.
Reconhecer que defender monogamia é defender um discurso crente e colonial é o primeiro passo para transformação.
E antes que digam que poligamia é violenta, pesquisem e aprendam que não monogamia não é a mesma coisa que poligamia (que, nos países ocidentais, é apenas uma monogamia extendida).
Antes de buscarem continentes e períodos históricos que desconhecem para defender o indefensável, notem que estou falando deste nosso território, dos últimos 500 anos em que o jeito de amar cristão tem se mantido à custa de muito sangue derramado, especialmente de mulheres cis e pessoas trans.
Não monogamia não é sobre quantidade de pessoas, é sobre poder escolher - sem punições, chantagens nem nenhum tipo de constrangimento psicológico - se quer ficar com 1, nenhuma ou mais pessoas.
Monogamia é um pacto antiético, pois não se combina, nem se acorda a terceirização da própria autonomia.

Geni Nuñez

Fonte: https://www.instagram.com/p/CKUQoqNHWRj/?igshid=MDJmNzVkMjY=


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Monogamia a forma cristã de amar

 


Nas cartas jesuítas havia uma divisão entre "verdadeiras aparições" e "falsas aparições".
As primeiras seriam aquelas em que haveria manifestação de santos e as segundas seriam aquelas em que apareceriam "outros seres", nomeados como diabólicos. O racismo religioso no âmago sempre.
Essa mesma noção de verdadeiro para si e falso para os outros (racializados) continua presente em todos os discursos coloniais.
Nas mesmas cartas, a não monogamia é fortemente combatida, sendo que a "lectura contextual de las expresiones de los Guaraní permite detectar que paraellos es ante todo una forma esencial y tradicional de cultura” (Melià, 1988).
Para os jesuítas, os casamentos indígenas eram narrados como falsos, pois neles não havia a obrigatoriedade do "pra sempre" nem a imposição de se relacionar com apenas 1 pessoa.
Os padres afirmavam que a tradição indígena não poderia conciliar-se com o “único, perfeito e verdadeirocasamento cristão”.
A catequização é o outro nome da colonização, que é o outro nome do etnocídio. O discurso colonial não é apenas a defesa de uma fé, de um modo de ser, é a imposição, violenta, de sua maneira a todo o mundo.
Hoje temos pessoas com os mesmos discursos dos jesuítas, dizendo que só monogamia é afeto de verdade, que não mono é coisa de gente suja, incivilizada.
Reconhecer que defender monogamia é defender um discurso crente e colonial é o primeiro passo para transformação.
E antes que digam que poligamia é violenta, pesquisem e aprendam que não monogamia não é a mesma coisa que poligamia (que, nos países ocidentais, é apenas uma monogamia extendida).
Antes de buscarem continentes e períodos históricos que desconhecem para defender o indefensável, notem que estou falando deste nosso território, dos últimos 500 anos em que o jeito de amar cristão tem se mantido à custa de muito sangue derramado, especialmente de mulheres cis e pessoas trans.
Não monogamia não é sobre quantidade de pessoas, é sobre poder escolher - sem punições, chantagens nem nenhum tipo de constrangimento psicológico - se quer ficar com 1, nenhuma ou mais pessoas.
Monogamia é um pacto antiético, pois não se combina, nem se acorda a terceirização da própria autonomia.

Geni Nuñez

Fonte: https://www.instagram.com/p/CKUQoqNHWRj/?igshid=MDJmNzVkMjY=