terça-feira, 21 de junho de 2022

Estereótipos

 


Cresci aprendendo em casa
que é vergonhoso mostrar quem sou
o que penso, o que sei, do que gosto,
uma completa humilhação.

Aprendi a me calar perto dos donos da razão
Permitindo-lhes tomar conta do cenário
Serem protagonistas de suas fantasiosas vidas
Enquanto pisam e anulam todos ao redor.

Cresci aprendendo a me expressar somente para quem me respeita
Como pessoa, indivíduo, caracterizada especificamente.
E, depois de tantos anos, perceber quem são
Meus verdadeiros amigos.

 Expressar-me para quem me trata como gente
Autônoma, capaz de decidir
E não para quem decide as coisas por mim
Ignorando que tenho minha própria vontade.

Ser quem somos custa caro.
As pessoas não perdoam nossa individualidade
Nem nossas diferenças.
Não perdoam nossa liberdade.

Assim criam estereótipos,
Nos classificam como nocivos,
Perigosos, contagiosos.
Somos postos sob uma placa de ‘Perigo!’

Então riem de nosso penteado (ou falta dele),
Criticam nossa roupa,
Nosso linguajar,
Nossos gestos enquanto falamos
Censuram nosso trabalho.

E quando reclamamos, somos taxados
De exagerados, mal-agradecidos,
Acovardados.
E, para todos os efeitos, devemos sofrer calados.

Sempre tratados como incapazes
Necessitados de cuidados
Sem poder expressar vontades
Nem manifestar contrariedades.

Ouvindo comentários maldosos
A respeito do que esperam ou não esperam de nós,
Somos encaixotados em imagens preconcebidas
Do que é ou não aceitável
Num sistema de crenças mal fundamentado.

E a hipocrisia segue…
Quem diz ter sido oprimido, oprime.
Quem diz seguir a verdade, mente.
Quem diz preocupar-se com o próximo, fere.
Anula-se, assim, a vida multiformemente existente.

Angela Natel


Nenhum comentário:

Estereótipos

 


Cresci aprendendo em casa
que é vergonhoso mostrar quem sou
o que penso, o que sei, do que gosto,
uma completa humilhação.

Aprendi a me calar perto dos donos da razão
Permitindo-lhes tomar conta do cenário
Serem protagonistas de suas fantasiosas vidas
Enquanto pisam e anulam todos ao redor.

Cresci aprendendo a me expressar somente para quem me respeita
Como pessoa, indivíduo, caracterizada especificamente.
E, depois de tantos anos, perceber quem são
Meus verdadeiros amigos.

 Expressar-me para quem me trata como gente
Autônoma, capaz de decidir
E não para quem decide as coisas por mim
Ignorando que tenho minha própria vontade.

Ser quem somos custa caro.
As pessoas não perdoam nossa individualidade
Nem nossas diferenças.
Não perdoam nossa liberdade.

Assim criam estereótipos,
Nos classificam como nocivos,
Perigosos, contagiosos.
Somos postos sob uma placa de ‘Perigo!’

Então riem de nosso penteado (ou falta dele),
Criticam nossa roupa,
Nosso linguajar,
Nossos gestos enquanto falamos
Censuram nosso trabalho.

E quando reclamamos, somos taxados
De exagerados, mal-agradecidos,
Acovardados.
E, para todos os efeitos, devemos sofrer calados.

Sempre tratados como incapazes
Necessitados de cuidados
Sem poder expressar vontades
Nem manifestar contrariedades.

Ouvindo comentários maldosos
A respeito do que esperam ou não esperam de nós,
Somos encaixotados em imagens preconcebidas
Do que é ou não aceitável
Num sistema de crenças mal fundamentado.

E a hipocrisia segue…
Quem diz ter sido oprimido, oprime.
Quem diz seguir a verdade, mente.
Quem diz preocupar-se com o próximo, fere.
Anula-se, assim, a vida multiformemente existente.

Angela Natel