Cresci testemunhando violência doméstica de inúmeras formas, sempre com o aval da Igreja Evangélica e de pastores que usam o nome de Deus para manter mulheres apanhando dentro de casa, "em oração" por seus maridos.
Cresci vendo o descaso, a cumplicidade masculina e os tribunais que colocam sobre as mulheres toda a responsabilidade pela manutenção da "paz" a qualquer preço de suas famílias.
A instituição religiosa é mantida como um circo de horrores, sobre o fundamento da violência, do silenciamento e da opressão. O texto bíblico, as confissões de fé, os dogmas, a liturgia e a tradição são usados para manter esse circo.
Quando fugi da situação de violência no casamento e assumi o rótulo de divorciada, passei a ser tratada como pária e endemoninhada, desviada, herege e rebelde.
Até hoje vejo nas mulheres da família as sequelas dos abusos sofridos por uma vida inteira sob a violência doméstica, sob a bênção de líderes criminosos que constroem seus ministérios sobre a desgraça alheia.
Não aceito nenhum tipo de defesa da igreja evangélica, nem de militantes que vestem a capa de santidade usando esse mesmo sistema corrupto e homicida, fundamentado sobre dogmas, confissões de fé e estruturas litúrgicas responsáveis pelo derramamento de sangue e a destruição da vida de inúmeras mulheres.
O mesmo padrão que culpabiliza as vítimas se mostra em pedidos de perdão/desculpa em que se afirma "se alguém entendeu errado", "se alguém se ofendeu", sem assumir a responsabilidade pelo erro e somente se retratando para não perder o status e o dinheiro.
Não é possível defender quem é financiado por essas estruturas. Não é possível aceitar desculpas esfarrapadas nem palavras de "não generalize" de quem ignora a essência desse movimento e seu histórico.
Quem se promove através do movimento evangélico é tão cúmplice quanto esses líderes responsáveis pelo aniquilamento de vidas debaixo de seus narizes e sob suas bênçãos.
Angela Natel
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