Reflexão sobre o que é idolatria com base no Salmo 115
Idolatria é todo culto – com ou sem imagens – que nos torna
insensíveis e omissos para com os vulneráveis e oprimidos da sociedade, que não
nos faz ver as injustiças, nem ouvir os gritos dos injustiçados, e que não nos
leva a solidarizarmo-nos com eles, é todo culto que nos intimida quando nos
colocamos no lugar dos vulneráveis e oprimidos e lutamos contra as estruturas
de poder que utilizam o nome de Divindades para tentar legitimar seus atos de
violência.
Nos tornamos idólatras, no sentido dos textos mais antigos
da Bíblia, quando nos assemelhamos a imagens sem vida, incapazes de agir em
favor de quem necessita, quando nos fazemos de estátuas diante de situações de
injustiça, desigualdade e opressão.
É o ritualismo, o culto desligado da vida, fechado em si
mesmo, vazio e incoerente, que acontece em igrejas que se negam a saírem de si
mesmas e se consideram donas do monopólio da graça divina.
É a postura de pessoas que querem mudar o mundo mas se
recusam a mudar a si mesmas, que estão tão apegadas ao discurso que vivem
repetindo que não se dispõem a questionar seus fundamentos desumanizantes e
preconceituosos.
É a necessidade que impera de criar ‘bodes expiatórios’,
figuras demoníacas e malignas a fim de jogar sobre elas a culpa pelas
injustiças e assim se isentar de agir ao modo dos profetas antigos que não eram
pagos – não eram comprados – pelo rei (as estruturas de poder político de sua
época).
É a necessidade de se criar uma imagem de uma Divindade que
deseja o mal e que pune quem não se comporta como a nossa moral pessoal aprova,
que pune quem não segue a cartilha da nossa doutrina que chamamos ‘ortodoxia’
(a doutrina correta), é a necessidade de um Deus que joga no inferno quem não
repete nosso credo.
Angela Natel – janeiro de 2022.
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