Que perfeito seria um mundo sem amor!
Muitas vezes acredita-se que o que falta no mundo é amor, mas penso que este amor hegemônico se constitui justamente da falta. Quanto mais único/exclusivo, mais especial. Somos construídos pra achar desconfortável ouvir "te amo como amo todo mundo/te amo tanto quanto amo a milhares de pessoas".
O valor deste amor colonial vem da escassez, ou melhor, da concentração.
Que se tenha muito amor, mas que este amor seja só por x pessoa, na lógica da renda e a propriedade privada.
Devemos nos importar, cuidar e amar daquilo que é 'nosso', pra fora disso, a sensibilização cai mil degraus.
"Ah, mas e se expandirmos o amor para quem ele não chega?"
Se expandirmos em máxima potência ele deixa de existir, me parece, porque precisa do contraste. Novamente me lembra o dinheiro: se todo mundo tiver bilhões, ninguém terá bilhões, porque perde o valor que se dá justamente pela desigualdade brutal na concentração.
Então o desejo de ser incluído no amor colonial por vezes ou entra na lógica da exceção ou na da substituição, do descarte.
Também como o dinheiro, este tipo de amor é um privilégio que articulado com posições sociais, reifica lugares de importância no mundo.
Estamos muitas vezes com medo de perder o (pouco) amor que temos, mas penso que se nos vinculássemos de outras formas, não precisaríamos mais ter medo algum.
Se o direito à saúde, ao prazer, à dignidade não estivessem condicionados ao merecimento (no qual entra forte esse amor), penso que nossas relações conosco e com o mundo seriam muito mais leves.
Afetos singulares não são hierárquicos, muito menos homogêneos, são sobre uma diferença radical, da impossibilidade de submeter a uma competição coisas como chuva, capivara e tomate.
Não quero um mundo com mais vagas no céu, mas um mundo sem céu nem inferno.
Que nosso caminho esteja na saúde dos nossos vínculos e no afeto (de carinho e afetação).
O brilho do sol não é lindo porque o amo
Nem tampouco o arco-íris é espetacular porque o amamos
O valor de cada existência não deveria ser medido pelo tanto que é amada
Cada coisa tem em si a dignidade de sua existência e não há nada mais precioso que isso.
Geni Núñez
Fonte: https://www.instagram.com/p/CXugMy2toD1/
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