terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Noções de culpa, pecado e perdão

 


Segundo a tradição cristã, todas as pessoas já chegariam ao mundo pecadoras, herança recebida de Eva.

Essa dívida teria sido paga por Jesus, que com seu sangue e sacrifício teria nos comprado. 

Ao quitar essa dívida, melhor dizendo, ao renegociá-la, instaura-se uma outra ainda maior, agora com aquele que pagou o débito anterior. Essa quitação não vem de graça, pelo contrário. Uma vez comprados, teríamos perdido o direito a nós mesmos, (já não sois propriedade de si mesmos; fostes comprados e pagos, I Corintios 6:19). Esse amor incondicional é, paradoxalmente, o que mais coloca condições.

No cristianismo, o amor ao pecador, é um amor de transição. No trajeto em que deixa de ser pecadora e se arrepende é que a pessoa é amada.

Nessa etapa se usa uma pedagogia em duas vias: promessas de coisas massa que acontecerão se o pecador se arrepender e ameaças do que acontecerá caso não se arrependa.

Há duas grandes categorias de pecado: os que não são para a morte (menos graves) e os pecados mortais, estes imperdoáveis. "A blasfêmia contra o Espírito são será perdoada, nem neste século nem no futuro" (Mateus, 12:31). Se o principal mandamento do cristianismo é amar a esse deus sobre todas as coisas, o simples fato de nele não crer já é uma blasfêmia. 

É uma ideologia que demoniza todos que nela não creem.

Esse deus ama o pecador (que se arrepende), é sobre conversão, cura do que não é doença.

A partir do momento que o pecador se afirma reincidindo em seu pecado grave, ele deixa de ser amado e passa a ser odiado, condenado ao inferno. Na lista de quem não entraria no céu, essa moral equipara ser um assassino com ser adúltero, ser assassino com se prostituir.

É por isso que, como nos ensina Nietzsche, precisamos transvalorar os valores. Antes de cumpri-los ou não, questionarmos sua base ética.

Aceitar o perdão antes dos perguntarmos sobre o que de fato estamos devendo é uma armadilha.

Me recuso a ser perdoada pelo que não fiz de errado, pois aceitar esse perdão seria assumir como verdade aquilo que não pactuo.

Se o batismo limpa os pecados, o desbatismo nos limpa da culpa inventada.

Geni Núñez

Fonte: https://www.instagram.com/p/CXq_qfXLCrd/

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Noções de culpa, pecado e perdão

 


Segundo a tradição cristã, todas as pessoas já chegariam ao mundo pecadoras, herança recebida de Eva.

Essa dívida teria sido paga por Jesus, que com seu sangue e sacrifício teria nos comprado. 

Ao quitar essa dívida, melhor dizendo, ao renegociá-la, instaura-se uma outra ainda maior, agora com aquele que pagou o débito anterior. Essa quitação não vem de graça, pelo contrário. Uma vez comprados, teríamos perdido o direito a nós mesmos, (já não sois propriedade de si mesmos; fostes comprados e pagos, I Corintios 6:19). Esse amor incondicional é, paradoxalmente, o que mais coloca condições.

No cristianismo, o amor ao pecador, é um amor de transição. No trajeto em que deixa de ser pecadora e se arrepende é que a pessoa é amada.

Nessa etapa se usa uma pedagogia em duas vias: promessas de coisas massa que acontecerão se o pecador se arrepender e ameaças do que acontecerá caso não se arrependa.

Há duas grandes categorias de pecado: os que não são para a morte (menos graves) e os pecados mortais, estes imperdoáveis. "A blasfêmia contra o Espírito são será perdoada, nem neste século nem no futuro" (Mateus, 12:31). Se o principal mandamento do cristianismo é amar a esse deus sobre todas as coisas, o simples fato de nele não crer já é uma blasfêmia. 

É uma ideologia que demoniza todos que nela não creem.

Esse deus ama o pecador (que se arrepende), é sobre conversão, cura do que não é doença.

A partir do momento que o pecador se afirma reincidindo em seu pecado grave, ele deixa de ser amado e passa a ser odiado, condenado ao inferno. Na lista de quem não entraria no céu, essa moral equipara ser um assassino com ser adúltero, ser assassino com se prostituir.

É por isso que, como nos ensina Nietzsche, precisamos transvalorar os valores. Antes de cumpri-los ou não, questionarmos sua base ética.

Aceitar o perdão antes dos perguntarmos sobre o que de fato estamos devendo é uma armadilha.

Me recuso a ser perdoada pelo que não fiz de errado, pois aceitar esse perdão seria assumir como verdade aquilo que não pactuo.

Se o batismo limpa os pecados, o desbatismo nos limpa da culpa inventada.

Geni Núñez

Fonte: https://www.instagram.com/p/CXq_qfXLCrd/