Hoje acordei com o corpo pesado, talvez porque finalmente consegui relaxar, após uma semana de substituição de aulas na Faculdade, meu siso nascendo, dor de garganta, febre e, para fechar a semana com chave de ouro: Show do Guns N’ Roses em Curitiba (debaixo de chuva).
Ainda cambaleando, me arrastei para fora da cama, obrigando-me a acordar. Dor pelo corpo, peso na cabeça, sono sem fim. Tem coisas que a gente passa e nem sabe bem o porquê, então ouve alguém dizer: ‘Você se acostuma’. Essa frase se encaixa em qualquer situação, talvez como um tipo de prêmio de consolação, talvez não. Só sei que já ouvi isso muitas vezes, de pessoas e em lugares bem diferentes.
Hoje é primeiro de Abril, o famoso ‘dia da mentira’, em que as pessoas se dividem nas opiniões e manifestações pelas redes sociais. Há os que aproveitam e brincam à bessa. É divertido. Você se acostuma rápido. A mentira é tida como um ato de liberdade humana, parte da natureza. Há os que levantam a bandeira contra o ‘pai da mentira’, num discurso farisaico de que esse dia não será entregue em suas mãos. Você se acostuma com os versículos bíblicos que exaltam a verdade e condenam a mentira, citados aos montes em sua timeline.
Há a ação dos ‘justiceiros’, que ainda mostra resquícios nas menções de falta de postes diante das injustiças. Você se acostuma a ver as imagens de pessoas amarradas como animais nesses postes, de sangue no asfalto, imagens de violência para pagar pela violência. Você se acostuma.
E agora a febre do momento é a indignação contra ideia que por muito tempo se manteve velada a respeito da culpabilidade das vítimas de estupro. Você se acostuma a pensar e a repetir o discurso, sem pensar em suas implicações, sem levar em conta o ser humano dentro de cada casca, você simplesmente se acostuma.
E o princípio atinge as camadas mais pessoais da minha vida, quando as pessoas fazem seus comentários preconceituosos do tipo ‘ela só quer aparecer’, ou ‘é bipolar’ após um comentário ou exposição de minha parte. Você se acostuma.
Você se acostuma a ser cobrado por coisas que não são fundamentais na vida, se acostuma a viver tentando suprir as expectativas da maioria, a trabalhar para preencher vazios cuja procedência nada nem ninguém consegue explicar.
Você se acostuma com a injustiça, com a falta de misericórdia, com dois pesos, duas medidas, se acostuma a procurar sempre uma explicação plausível prá tudo, sem levar em conta a singularidade do momento, das pessoas, das circunstâncias. É fácil se acostumar com bordões numa época como a nossa: “Deus me falou”, “eu profetizo na tua vida”, “tudo vai acabar bem”, “tudo coopera para o seu bem”, justificando nossos desejos, anseios, esperanças e o peso de nossa alma em palavras vazias de sentido, pois não expressam mais o mesmo de suas fontes.
E você se acostuma a receber tudo pronto, seja da TV, aula ou microondas, sem questionar o que se ouve nos púlpitos e palanques da vida. Você se acostuma a não ser compreendido e se cala, num mar de desilusão.
Hoje li que “Pior do que contar uma mentira é viver uma mentira” (Hermes Carvalho Fernandes), e fui repentinamente chacoalhada por dentro desse marasmo interior. Não quero e não vou me acostumar.
Não vou me acostumar a ser pau mandado, nem papagaio num mar de discursos desconexos. Não vou me acostumar a ser parasita religioso, sugando ideias, doutrinas, vida dos que bebem diretamente das fontes da salvação.
Não quero e não vou me acostumar com a injustiça, com os rótulos, com o descaso diante da desumanidade de quem pode e deve se posicionar. Não vou me acostumar a ser silenciada só porque acham que quero aparecer quando manifesto opinião, quando coloco minha posição ou decido me expor. Não sou vítima das situações, quero ser agente coerente e responsável, que olha o nu e decide agir em favor, não contra, que entende que a “ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tiago 1:20).
Não vou me acostumar com cobranças inúteis que não me ajudam a melhorar, só acrescentam mais peso sobre meus ombros, um peso morto que não estou disposta a carregar.
Como se vê, nem sempre acordo com o melhor dos humores, e num dia pesado como este, em que meu corpo não responde tão rápido como eu desejaria, quando o cansaço decide mostrar sua verdadeira face, quando me sinto exausta de tentar dar tanta explicação, decido não me acostumar com nada disso, e melhor do que falar a verdade quero vivê-la, nem que prá isso eu tenha por companheiro um eterno desconforto.
Ainda cambaleando, me arrastei para fora da cama, obrigando-me a acordar. Dor pelo corpo, peso na cabeça, sono sem fim. Tem coisas que a gente passa e nem sabe bem o porquê, então ouve alguém dizer: ‘Você se acostuma’. Essa frase se encaixa em qualquer situação, talvez como um tipo de prêmio de consolação, talvez não. Só sei que já ouvi isso muitas vezes, de pessoas e em lugares bem diferentes.
Hoje é primeiro de Abril, o famoso ‘dia da mentira’, em que as pessoas se dividem nas opiniões e manifestações pelas redes sociais. Há os que aproveitam e brincam à bessa. É divertido. Você se acostuma rápido. A mentira é tida como um ato de liberdade humana, parte da natureza. Há os que levantam a bandeira contra o ‘pai da mentira’, num discurso farisaico de que esse dia não será entregue em suas mãos. Você se acostuma com os versículos bíblicos que exaltam a verdade e condenam a mentira, citados aos montes em sua timeline.
Há a ação dos ‘justiceiros’, que ainda mostra resquícios nas menções de falta de postes diante das injustiças. Você se acostuma a ver as imagens de pessoas amarradas como animais nesses postes, de sangue no asfalto, imagens de violência para pagar pela violência. Você se acostuma.
E agora a febre do momento é a indignação contra ideia que por muito tempo se manteve velada a respeito da culpabilidade das vítimas de estupro. Você se acostuma a pensar e a repetir o discurso, sem pensar em suas implicações, sem levar em conta o ser humano dentro de cada casca, você simplesmente se acostuma.
E o princípio atinge as camadas mais pessoais da minha vida, quando as pessoas fazem seus comentários preconceituosos do tipo ‘ela só quer aparecer’, ou ‘é bipolar’ após um comentário ou exposição de minha parte. Você se acostuma.
Você se acostuma a ser cobrado por coisas que não são fundamentais na vida, se acostuma a viver tentando suprir as expectativas da maioria, a trabalhar para preencher vazios cuja procedência nada nem ninguém consegue explicar.
Você se acostuma com a injustiça, com a falta de misericórdia, com dois pesos, duas medidas, se acostuma a procurar sempre uma explicação plausível prá tudo, sem levar em conta a singularidade do momento, das pessoas, das circunstâncias. É fácil se acostumar com bordões numa época como a nossa: “Deus me falou”, “eu profetizo na tua vida”, “tudo vai acabar bem”, “tudo coopera para o seu bem”, justificando nossos desejos, anseios, esperanças e o peso de nossa alma em palavras vazias de sentido, pois não expressam mais o mesmo de suas fontes.
E você se acostuma a receber tudo pronto, seja da TV, aula ou microondas, sem questionar o que se ouve nos púlpitos e palanques da vida. Você se acostuma a não ser compreendido e se cala, num mar de desilusão.
Hoje li que “Pior do que contar uma mentira é viver uma mentira” (Hermes Carvalho Fernandes), e fui repentinamente chacoalhada por dentro desse marasmo interior. Não quero e não vou me acostumar.
Não vou me acostumar a ser pau mandado, nem papagaio num mar de discursos desconexos. Não vou me acostumar a ser parasita religioso, sugando ideias, doutrinas, vida dos que bebem diretamente das fontes da salvação.
Não quero e não vou me acostumar com a injustiça, com os rótulos, com o descaso diante da desumanidade de quem pode e deve se posicionar. Não vou me acostumar a ser silenciada só porque acham que quero aparecer quando manifesto opinião, quando coloco minha posição ou decido me expor. Não sou vítima das situações, quero ser agente coerente e responsável, que olha o nu e decide agir em favor, não contra, que entende que a “ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tiago 1:20).
Não vou me acostumar com cobranças inúteis que não me ajudam a melhorar, só acrescentam mais peso sobre meus ombros, um peso morto que não estou disposta a carregar.
Como se vê, nem sempre acordo com o melhor dos humores, e num dia pesado como este, em que meu corpo não responde tão rápido como eu desejaria, quando o cansaço decide mostrar sua verdadeira face, quando me sinto exausta de tentar dar tanta explicação, decido não me acostumar com nada disso, e melhor do que falar a verdade quero vivê-la, nem que prá isso eu tenha por companheiro um eterno desconforto.
Angela Natel
Crônicas de uma Divorciada - Abril de 2014
Crônicas de uma Divorciada - Abril de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário