Quão indignado fico
Pelos vidros quebrados
Documentos queimados
Fumaça e pedras por todo
lado.
Me entristeço pela cor
vermelha
Nas camisas, nas bandeiras
e tanto tumulto nas ruas
só podem ser vândalos nessa
depredação.
O que menos importa nesse
momento
São os prédios derrubados
com gente dentro
E as pessoas sem direito de
sustento.
Muito menos quem perdeu uma
mão.
Não, não importa a violência
sistemática
Os genocídios indígenas
As terras roubadas
Nem meninas estupradas.
Não importa, não.
Mesmo que votem as reformas
São as próximas gerações que
sofrerão
Eu me vejo seguro nesse
momento
Apenas incomodado com o
barulho.
Não quero ouvir opiniões
contrárias
Vou esfregar na cara minha
formação e experiência
Porque a quebra das leis, de
fato, não é o que interessa
O Estado Democrático de Direito
deve servir só a mim.
Não importa a coerência de
meus atos
Nem se o Deus a quem digo
servir não pensa assim
Eu vou dizer ‘bem feito’ a
todo o que for retaliado
E vou espalhar divisão e
ódio ao redor de mim.
Pois somente o que é
injustificável
são os atos de quem não
simpatizo
a corrupção, o extermínio e
a generalização
sistematizados
não vem ao caso, não
valorizo.
Prefiro manipular grupos
segundo meus interesses
E dizer que isso é vontade
de Deus
Generalizar as coisas,
achando-me infalível
Não promover o diálogo, não
ver os limites meus.
Se estão desrespeitando
cidadãos
Se as leis estão quebradas
Se reformas são injustas
Não interessa
Devo pregar resignação
E que as pessoas aprendam a
sofrer caladas
E a aceitar o fatalismo e o
determinismo
De minha seletiva
indignação.
Angela Natel – 25/05/2017
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