terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Madonna..."mas ela é uma prostituta!"


Algumas pessoas já me perguntaram se nunca me envolvi em um relacionamento virtual.
Bem, após tudo o que me aconteceu nesses últimos dez anos, tornei-me um tipo de 'gato escaldado' - uma pessoa cada vez mais desconfiada dos outros e de mim mesma, de meus próprios instintos e intuições.
Não gosto de falar ao telefone. Não sei o porquê disso, mas conversas ao telefone e bate-papos via chat me causam irritação, uma sensação de incapacidade, talvez impotência. Até hoje não consigo receber bem a substituição da presença de uma pessoa por uma conversa à distância. É por isso que costumo usar os meios de comunicação (redes sociais, principalmente), para produzir arte, mandar informação e resolver problemas, nunca para manter um relacionamento. A meu ver, certas coisas são insubstituíveis, mas podem ser mascaradas com algum tipo de placebo virtual.
Mesmo assim, há mais de dois anos acabei mantendo conversa com alguém via inbox no Facebook, alguém que puxou papo e, dentro do que eu entendo como respeitoso, tentou se aproximar.
Mesmo sabendo de todas as coisas que podem ser mascaradas pela internet, fui conversando diariamente, aos poucos com essa pessoa, percebendo suas tentativas de demonstrar carinho e chamar minha atenção.
De fato, não acreditava como alguém poderia me elogiar tanto sem me conhecer o mínimo mas, enfim, deixei que meu ego fosse massageado por algum tempo.
As conversas diárias continuaram até o dia em que começamos a falar de gosto musical. Ao revelar que sou fã de carteirinha (e desde a infância) de Madonna, a frase digitada do outro lado foi: "mas ela é uma prostituta!" Tentei conversar e ver o que exatamente ele queria dizer com isso, até compreender que era exatamente o que tinha afirmado.
Para mim, aquele foi o momento exato do fim desse relacionamento que mal começara. Interessante lembrar disso e tentar entender o que foi processado dentro de mim, que atitude extrema essa simples afirmação causou que não pudesse ser revertida, trabalhada.
Talvez porque eu tenha ignorado tantos sinais em meu período de namoro e noivado, que antecederam meu traumático casamento marcado por violência e abuso, talvez porque eu tenha me tornado outra após tantas decepções, de qualquer maneira uma afirmação tão contundente sobre alguém com quem não se tem muito contato foi como um sinal de alerta piscando em minha cabeça.
"Mas ela é uma prostituta!" - Como afirmar isso a respeito de alguém? E se for? O que isso afeta em sua humanidade, criatividade e qualidade artística? O que me coloca no direito de rejeitar alguém ou seu trabalho com tal justificativa?
Apesar de ser fã de carteirinha e de seguir Madonna na maior parte das redes sociais, duvido muito que ela tenha consciência de minha existência. Portanto, nada do que eu fale ou faça terá alguma influência sobre sua vida. Não me sinto no dever de defendê-la, muito menos julgá-la.
O que se rompeu dentro de mim naquele dia, ao ler a frase daquele relacionamento em potencial foi a esperança de encontrar nele uma certa coerência de vida para uma postura que se dizia valorizar as pessoas e buscar o melhor para elas.
Sim, Madonna salvou-me de mais uma cilada. E ainda que ela nem saiba que existo, creio que olhar para as pessoas com honestidade e respeito é uma lição que todos poderiam aprender com ela, principalmente aquela criatura do relacionamento virtual, de quem nunca mais ouvi falar.

Angela Natel - 20/12/2016.

Leia as outras Crônicas de uma divorciada emhttps://www.facebook.com/pg/angelanatel.escritora/photos/?tab=album&album_id=367482390057660

Cada imagem acompanha um texto.


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Madonna..."mas ela é uma prostituta!"


Algumas pessoas já me perguntaram se nunca me envolvi em um relacionamento virtual.
Bem, após tudo o que me aconteceu nesses últimos dez anos, tornei-me um tipo de 'gato escaldado' - uma pessoa cada vez mais desconfiada dos outros e de mim mesma, de meus próprios instintos e intuições.
Não gosto de falar ao telefone. Não sei o porquê disso, mas conversas ao telefone e bate-papos via chat me causam irritação, uma sensação de incapacidade, talvez impotência. Até hoje não consigo receber bem a substituição da presença de uma pessoa por uma conversa à distância. É por isso que costumo usar os meios de comunicação (redes sociais, principalmente), para produzir arte, mandar informação e resolver problemas, nunca para manter um relacionamento. A meu ver, certas coisas são insubstituíveis, mas podem ser mascaradas com algum tipo de placebo virtual.
Mesmo assim, há mais de dois anos acabei mantendo conversa com alguém via inbox no Facebook, alguém que puxou papo e, dentro do que eu entendo como respeitoso, tentou se aproximar.
Mesmo sabendo de todas as coisas que podem ser mascaradas pela internet, fui conversando diariamente, aos poucos com essa pessoa, percebendo suas tentativas de demonstrar carinho e chamar minha atenção.
De fato, não acreditava como alguém poderia me elogiar tanto sem me conhecer o mínimo mas, enfim, deixei que meu ego fosse massageado por algum tempo.
As conversas diárias continuaram até o dia em que começamos a falar de gosto musical. Ao revelar que sou fã de carteirinha (e desde a infância) de Madonna, a frase digitada do outro lado foi: "mas ela é uma prostituta!" Tentei conversar e ver o que exatamente ele queria dizer com isso, até compreender que era exatamente o que tinha afirmado.
Para mim, aquele foi o momento exato do fim desse relacionamento que mal começara. Interessante lembrar disso e tentar entender o que foi processado dentro de mim, que atitude extrema essa simples afirmação causou que não pudesse ser revertida, trabalhada.
Talvez porque eu tenha ignorado tantos sinais em meu período de namoro e noivado, que antecederam meu traumático casamento marcado por violência e abuso, talvez porque eu tenha me tornado outra após tantas decepções, de qualquer maneira uma afirmação tão contundente sobre alguém com quem não se tem muito contato foi como um sinal de alerta piscando em minha cabeça.
"Mas ela é uma prostituta!" - Como afirmar isso a respeito de alguém? E se for? O que isso afeta em sua humanidade, criatividade e qualidade artística? O que me coloca no direito de rejeitar alguém ou seu trabalho com tal justificativa?
Apesar de ser fã de carteirinha e de seguir Madonna na maior parte das redes sociais, duvido muito que ela tenha consciência de minha existência. Portanto, nada do que eu fale ou faça terá alguma influência sobre sua vida. Não me sinto no dever de defendê-la, muito menos julgá-la.
O que se rompeu dentro de mim naquele dia, ao ler a frase daquele relacionamento em potencial foi a esperança de encontrar nele uma certa coerência de vida para uma postura que se dizia valorizar as pessoas e buscar o melhor para elas.
Sim, Madonna salvou-me de mais uma cilada. E ainda que ela nem saiba que existo, creio que olhar para as pessoas com honestidade e respeito é uma lição que todos poderiam aprender com ela, principalmente aquela criatura do relacionamento virtual, de quem nunca mais ouvi falar.

Angela Natel - 20/12/2016.

Leia as outras Crônicas de uma divorciada emhttps://www.facebook.com/pg/angelanatel.escritora/photos/?tab=album&album_id=367482390057660

Cada imagem acompanha um texto.