E lá vamos nós assistir ao filme que tem dado o que falar
há muito tempo. Spoilers à parte, a
crítica já tinha previsto um desastre de bilheteria, e os quadrinhos prepararam
para o que iríamos ver.
Acabei me apaixonando pelo vilão – como de costume – muito bem
delineado, com diálogos brilhantes e muito Nietzsche por detrás.
Mas a polarização de forças chamou a atenção de qualquer
maneira, mostrando uma manipulação ferrenha que bem poderia ser chamada de República
Federativa do Brasil.
Sim, eu vou falar de política, bem como de teologia. O
Filme Batman X Superman é um retrato
bem colocado de nossa situação. No fim das contas há os que torcem para o de
vermelho e os demais, porém tudo muito bem arquitetado por alguém por debaixo
dos panos (que não aparenta torcer para ninguém além dele mesmo).
E o que me assusta mais, nessa situação, é o ódio ferrenho
que observo nos ataques verbais aparentemente justificados. Até parece que a
teologia tem se reduzido a uma posição política, uma vez que quem decide se
posicionar como lhe é de direito, mas não concorda com boa parte do grupo, é
automaticamente lançado na fogueira da inquisição hipócrita que assola os que
se esquecem que nossa salvação não se relaciona de forma alguma com o posicionamento
político que assumimos. Não, não se relaciona. Aliás, se fôssemos realmente
analisar, a anarquia é a forma que mais se adequaria aos interesses do Reino de
Deus – diga-se de passagem.
Mas por aí vai: uns gritam para matar o de vermelho, outros
querem uma solução sobrenatural (como se Deus vestisse a camisa de algum
partido ou juiz humano), outros ainda só querem ver o circo pegar fogo – ops,
não tem Coringa nessa história.
E, de repente, o inesperado acontece: o nome da mãe do
Batman é Martha – assim como o nome da mãe (adotiva) do Superman!
Sim, esse foi o turning
point da história: temos, afinal, a mesma mãe!
E, simples assim, a história muda de rumo, de foco, de
intensidade até. Aliás, foi só depois disso que a Mulher Maravilha decide
ajudar – ah, a esperteza das mulheres!
Então, penso que parte da solução para nossos óculos turvos
da hipocrisia, da desumanidade em nossos argumentos e da falta de senso ao não
permitir a livre expressão do outro encontra-se na conscientização de que
temos, afinal, os mesmos progenitores – somos todos filhos de Eva – a nossa
Martha - e por isso nosso inimigo é
comum.
Não nos cabe, portanto, jogar a primeira pedra, como se
fôssemos os reis da cocada preta.
Não nos cabe argumentar com o outro sem levarmos em conta
que nossa posição diante de Deus é a mesma, e que nenhum posicionamento
político é capaz de melhorar nossa condição de pecadores.
Não nos cabe reduzir o bem ou o mal a uma cor – não, o
diabo não veste vermelho – nem um acerto definir uma única pessoa como
salvadora da pátria.
Ao lembrarmos de nossa mãe Eva em comum, nos
conscientizemos de que o mundo não é polarizado em duas vertentes, mas que
todos estamos sujeitos a uma manipulação que nos carregaria ao precipício da
destruição mútua.
Só espero que o arrependimento e a mudança de conduta para
com quem pensa diferente não aconteça num ponto em que estragos maiores já
tenham sido feitos. Nesse caso, toda uma vida de bom testemunho pode ser jogada
fora quando o discurso político se torna mais importante que os valores do Reino
de Deus – e digo isso no sentido de evitarmos condenar alguém por causa de sua
posição política – ou apenas condenar, já que esta não é uma tarefa que nos
cabe.
Todos possuem o direito à livre expressão de pensamento, e
o direito de não ser condenado por isso. Negar esse direito é desumanizar o
outro, endeusar-se a si mesmo e colocar-se acima da lei.
Temos a mesma mãe, olhemos para o inimigo comum: o que poda
nosso direito de compartilhar o solo de nossa pátria com liberdade.
Ofensas e discurso de ódio e condenação apenas revelam
nosso ímpeto em atirar a primeira pedra, sem levarmos em conta o Único que tem
o direito de fazê-lo: Cristo.
Angela Natel – 05/04/2016
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