Mapa que o Irgun divulgava sobre o projeto de Erez Israel, na década de 1930 - e que manteve-se fiel a ele em 1940.
A história do Irgun remete ao sionismo revisionista de Ze'ev
Jabotinsky. Na formação do sionismo político israelense após 1917, Jabotisnky
liderou um grupo de sionistas que contestava o pragmatismo de líderes como Ben
Gurion. Para eles, a Palestina deveria ser conquistada...
...militarmente. E isso implicava (nos anos 1930, ao menos)
num governo militarista e autoritário. Jabotinsky era um grande admirador do
fascismo italiano e de Benito Mussolini. Mas para além da conquista da
Palestina, Jabotinsky defendia a criação da "Grande Israel".
(ou Erez Israel) Nos anos 1940, isso significava tomar todos
os protetorados ingleses na região, incluindo Palestina e Transjordânia. Em
alguns mapas, inclui uma pequena parte da Arábia Saudita e até mesmo partes do
Iraque.
Os revisionistas consideravam que tinham sido traídos pelos
britânicos e que as promessas de Balfour, em 1917 (a da criação de um Estado
judeu na Palestina), tinham sido traídas. Seus braços militares eram o Irgun e
o Lehi.
Na concepção do Irgun, os britânicos eram o mal maior.
Jabotinsky morreu em 1940, mas quem assumiu foi Menachem Begin (guardem esse
nome!). O Irgun tratou os britânicos como inimigo primordial na Segunda Guerra.
E antes mesmo do conflito árabe-israelense, cometeram atentados.
Aliás, pausa aqui: o Irgun cometeu atentados à bomba contra
árabes e ingleses. Muitos. Mas o mais célebre foi o atentado ao hotel Rei Davi
em julho de 1946, matando 91 pessoas. O alvo eram oficiais britânicos, mas o
ataque matou não só 28 britânicos, mas 41 árabes e 17 judeus.
Durante a Guerra Árabe-Israelense (1947-1948), os soldados
do Irgun foram sendo incorporados a recém criada IDF (Forças de Defesa de
Israel). Ainda assim, tropas do Irgun e do Lehi massacraram 107 aldeões árabes
em Deir Yassin, em 1948. 55 eram crianças.
O massacre foi tão brutal que até mesmo a comunidade judia
internacional condenou os atos cometidos pelas forças paramilitares. Mas em
vão. Os militantes do Irgun...
...não sofreram represálias. E, de fato, após a guerra, o
Irgun passou a ter uma representação política partidária própria em Israel:
Herut. O fundador? Menachem Begin. Aquele mesmo. O Herut mais tarde foi a força
majoritária que criou um outro partido importante: o Likud.
Entre 1967 e 1973 foi um momento de expansão das ideias
revisionistas. O controle das colinas de Golan, o avanço sobre Gaza, tudo isso
retomou as ideias de Erez-Israel, da conquista da Grande Israel que se
vislumbrava antes.
A Jordânia deixou de ser alvo preferencial - especialmente
após 1970, quando a monarquia jordaniana rompeu com a OLP em definitivo. Mas
quando Menachem Begin se tornou primeiro ministro de Israel, em 1977, as
ambições de expansão territorial ganharam novo fôlego.
A essa altura, tanto a Guerra dos Seis Dias (1967) quanto a
Guerra do Yom Kippur (1973) já tinham ampliado o território israelense. Begin
agiu diplomaticamente para consolidar esses ganhos enquanto abriu alas para
novos ataques na Síria e no Líbano.
Em 1982, Israel declarou guerra ao Líbano, acusando o país
de abrigar forças da OLP. Em 1983, Begin renunciou, mas o Likud já era uma
força ímpar em Israel - Ariel Sharon e, futuramente, Benjamin Netanyahu se
tornaram seus principais nomes.
Há uma discussão aí que é importante e que a
faz muito bem: o projeto sionista, independente das suas
vertentes, sempre acreditou na expansão territorial de Israel e na colonização
das terras desertas (leia-se, "habitadas por palestinos"). Isso é
fato.
Mas é também fato que o projeto sionista revisionista se
tornou o projeto hegemônico do sionismo israelense e, como tal, ele ambiciona,
sim, a expansão territorial. O massacre em Gaza dá carta branca para colonos
avançarem na Cisjordânia. Bombardeios na Síria e no Líbano.
Por onde se olhe, o projeto do Irgun é, hoje, hegemônico.
Afirmar isso, convém salientar, não é antissemitismo - talvez para quem é muito
imbecil, ou muito mal intencionado. Sequer é antissionista.
O Haganah se tornou a base das IDFs, mas os demais grupos
paramilitares foram incorporados no Exército. Ao mesmo tempo, o comando
político desses grupos se vinculou ao sistema partidário israelense. vejam
Erez-Israel mencionada nas citações dos criadores do movimento sionista no
final de 1800, e o que eles planejavam os para população Palestina:
Fonte:
https://twitter.com/louverture1984/status/1713756213605695755
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