terça-feira, 31 de outubro de 2023

Um pouco de história documentada:

 Mapa que o Irgun divulgava sobre o projeto de Erez Israel, na década de 1930 - e que manteve-se fiel a ele em 1940.


 

A história do Irgun remete ao sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky. Na formação do sionismo político israelense após 1917, Jabotisnky liderou um grupo de sionistas que contestava o pragmatismo de líderes como Ben Gurion. Para eles, a Palestina deveria ser conquistada...


...militarmente. E isso implicava (nos anos 1930, ao menos) num governo militarista e autoritário. Jabotinsky era um grande admirador do fascismo italiano e de Benito Mussolini. Mas para além da conquista da Palestina, Jabotinsky defendia a criação da "Grande Israel".


(ou Erez Israel) Nos anos 1940, isso significava tomar todos os protetorados ingleses na região, incluindo Palestina e Transjordânia. Em alguns mapas, inclui uma pequena parte da Arábia Saudita e até mesmo partes do Iraque.


Os revisionistas consideravam que tinham sido traídos pelos britânicos e que as promessas de Balfour, em 1917 (a da criação de um Estado judeu na Palestina), tinham sido traídas. Seus braços militares eram o Irgun e o Lehi.


Na concepção do Irgun, os britânicos eram o mal maior. Jabotinsky morreu em 1940, mas quem assumiu foi Menachem Begin (guardem esse nome!). O Irgun tratou os britânicos como inimigo primordial na Segunda Guerra. E antes mesmo do conflito árabe-israelense, cometeram atentados.


Aliás, pausa aqui: o Irgun cometeu atentados à bomba contra árabes e ingleses. Muitos. Mas o mais célebre foi o atentado ao hotel Rei Davi em julho de 1946, matando 91 pessoas. O alvo eram oficiais britânicos, mas o ataque matou não só 28 britânicos, mas 41 árabes e 17 judeus.


Durante a Guerra Árabe-Israelense (1947-1948), os soldados do Irgun foram sendo incorporados a recém criada IDF (Forças de Defesa de Israel). Ainda assim, tropas do Irgun e do Lehi massacraram 107 aldeões árabes em Deir Yassin, em 1948. 55 eram crianças.


O massacre foi tão brutal que até mesmo a comunidade judia internacional condenou os atos cometidos pelas forças paramilitares. Mas em vão. Os militantes do Irgun...


...não sofreram represálias. E, de fato, após a guerra, o Irgun passou a ter uma representação política partidária própria em Israel: Herut. O fundador? Menachem Begin. Aquele mesmo. O Herut mais tarde foi a força majoritária que criou um outro partido importante: o Likud.


Entre 1967 e 1973 foi um momento de expansão das ideias revisionistas. O controle das colinas de Golan, o avanço sobre Gaza, tudo isso retomou as ideias de Erez-Israel, da conquista da Grande Israel que se vislumbrava antes.


A Jordânia deixou de ser alvo preferencial - especialmente após 1970, quando a monarquia jordaniana rompeu com a OLP em definitivo. Mas quando Menachem Begin se tornou primeiro ministro de Israel, em 1977, as ambições de expansão territorial ganharam novo fôlego.


A essa altura, tanto a Guerra dos Seis Dias (1967) quanto a Guerra do Yom Kippur (1973) já tinham ampliado o território israelense. Begin agiu diplomaticamente para consolidar esses ganhos enquanto abriu alas para novos ataques na Síria e no Líbano.


Em 1982, Israel declarou guerra ao Líbano, acusando o país de abrigar forças da OLP. Em 1983, Begin renunciou, mas o Likud já era uma força ímpar em Israel - Ariel Sharon e, futuramente, Benjamin Netanyahu se tornaram seus principais nomes.


Há uma discussão aí que é importante e que a

@safbf

faz muito bem: o projeto sionista, independente das suas vertentes, sempre acreditou na expansão territorial de Israel e na colonização das terras desertas (leia-se, "habitadas por palestinos"). Isso é fato. 



Mas é também fato que o projeto sionista revisionista se tornou o projeto hegemônico do sionismo israelense e, como tal, ele ambiciona, sim, a expansão territorial. O massacre em Gaza dá carta branca para colonos avançarem na Cisjordânia. Bombardeios na Síria e no Líbano.



 

Por onde se olhe, o projeto do Irgun é, hoje, hegemônico. Afirmar isso, convém salientar, não é antissemitismo - talvez para quem é muito imbecil, ou muito mal intencionado. Sequer é antissionista.

O Haganah se tornou a base das IDFs, mas os demais grupos paramilitares foram incorporados no Exército. Ao mesmo tempo, o comando político desses grupos se vinculou ao sistema partidário israelense. vejam Erez-Israel mencionada nas citações dos criadores do movimento sionista no final de 1800, e o que eles planejavam os para população Palestina:


Fonte:

https://twitter.com/louverture1984/status/1713756213605695755


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Um pouco de história documentada:

 Mapa que o Irgun divulgava sobre o projeto de Erez Israel, na década de 1930 - e que manteve-se fiel a ele em 1940.


 

A história do Irgun remete ao sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky. Na formação do sionismo político israelense após 1917, Jabotisnky liderou um grupo de sionistas que contestava o pragmatismo de líderes como Ben Gurion. Para eles, a Palestina deveria ser conquistada...


...militarmente. E isso implicava (nos anos 1930, ao menos) num governo militarista e autoritário. Jabotinsky era um grande admirador do fascismo italiano e de Benito Mussolini. Mas para além da conquista da Palestina, Jabotinsky defendia a criação da "Grande Israel".


(ou Erez Israel) Nos anos 1940, isso significava tomar todos os protetorados ingleses na região, incluindo Palestina e Transjordânia. Em alguns mapas, inclui uma pequena parte da Arábia Saudita e até mesmo partes do Iraque.


Os revisionistas consideravam que tinham sido traídos pelos britânicos e que as promessas de Balfour, em 1917 (a da criação de um Estado judeu na Palestina), tinham sido traídas. Seus braços militares eram o Irgun e o Lehi.


Na concepção do Irgun, os britânicos eram o mal maior. Jabotinsky morreu em 1940, mas quem assumiu foi Menachem Begin (guardem esse nome!). O Irgun tratou os britânicos como inimigo primordial na Segunda Guerra. E antes mesmo do conflito árabe-israelense, cometeram atentados.


Aliás, pausa aqui: o Irgun cometeu atentados à bomba contra árabes e ingleses. Muitos. Mas o mais célebre foi o atentado ao hotel Rei Davi em julho de 1946, matando 91 pessoas. O alvo eram oficiais britânicos, mas o ataque matou não só 28 britânicos, mas 41 árabes e 17 judeus.


Durante a Guerra Árabe-Israelense (1947-1948), os soldados do Irgun foram sendo incorporados a recém criada IDF (Forças de Defesa de Israel). Ainda assim, tropas do Irgun e do Lehi massacraram 107 aldeões árabes em Deir Yassin, em 1948. 55 eram crianças.


O massacre foi tão brutal que até mesmo a comunidade judia internacional condenou os atos cometidos pelas forças paramilitares. Mas em vão. Os militantes do Irgun...


...não sofreram represálias. E, de fato, após a guerra, o Irgun passou a ter uma representação política partidária própria em Israel: Herut. O fundador? Menachem Begin. Aquele mesmo. O Herut mais tarde foi a força majoritária que criou um outro partido importante: o Likud.


Entre 1967 e 1973 foi um momento de expansão das ideias revisionistas. O controle das colinas de Golan, o avanço sobre Gaza, tudo isso retomou as ideias de Erez-Israel, da conquista da Grande Israel que se vislumbrava antes.


A Jordânia deixou de ser alvo preferencial - especialmente após 1970, quando a monarquia jordaniana rompeu com a OLP em definitivo. Mas quando Menachem Begin se tornou primeiro ministro de Israel, em 1977, as ambições de expansão territorial ganharam novo fôlego.


A essa altura, tanto a Guerra dos Seis Dias (1967) quanto a Guerra do Yom Kippur (1973) já tinham ampliado o território israelense. Begin agiu diplomaticamente para consolidar esses ganhos enquanto abriu alas para novos ataques na Síria e no Líbano.


Em 1982, Israel declarou guerra ao Líbano, acusando o país de abrigar forças da OLP. Em 1983, Begin renunciou, mas o Likud já era uma força ímpar em Israel - Ariel Sharon e, futuramente, Benjamin Netanyahu se tornaram seus principais nomes.


Há uma discussão aí que é importante e que a

@safbf

faz muito bem: o projeto sionista, independente das suas vertentes, sempre acreditou na expansão territorial de Israel e na colonização das terras desertas (leia-se, "habitadas por palestinos"). Isso é fato. 



Mas é também fato que o projeto sionista revisionista se tornou o projeto hegemônico do sionismo israelense e, como tal, ele ambiciona, sim, a expansão territorial. O massacre em Gaza dá carta branca para colonos avançarem na Cisjordânia. Bombardeios na Síria e no Líbano.



 

Por onde se olhe, o projeto do Irgun é, hoje, hegemônico. Afirmar isso, convém salientar, não é antissemitismo - talvez para quem é muito imbecil, ou muito mal intencionado. Sequer é antissionista.

O Haganah se tornou a base das IDFs, mas os demais grupos paramilitares foram incorporados no Exército. Ao mesmo tempo, o comando político desses grupos se vinculou ao sistema partidário israelense. vejam Erez-Israel mencionada nas citações dos criadores do movimento sionista no final de 1800, e o que eles planejavam os para população Palestina:


Fonte:

https://twitter.com/louverture1984/status/1713756213605695755