Entre, mas não repare a bagunça
Te ofereço café em uma caneca que gosto muito
Não precisa se preocupar, você diz
E eu respondo que não é trabalho nenhum, que quero que você se sinta em casa
Pergunto antes se você toma com ou sem açúcar o seu café, porque depois que eu
o ofereço, ele já não é mais meu, é seu
Talvez em suas primeiras visitas eu corra a fazer uma limpeza maior na casa,
para que você se sinta melhor, para que eu me sinta melhor imaginando que sua
visão de mim talvez assim fique mais bonita e limpa como a casa
Depois, já não me preocupo tanto, confio que você irá entender que nem sempre
tenho tudo arrumado e no lugar, nem sempre sei onde as coisas devem estar
Mas ainda assim separo, em meio a alguma bagunça, um lugar onde você possa
estar, onde possa ficar no tempo que me visita
Depois de um tempo é você que me faz o café e já sabe onde ficam os copos, as
colheres
E eu descanso sabendo que a confiança que te dei você não usará para me
invadir, mesmo estando tão perto de mim
Que não irá perguntar quem veio antes de você, quem virá depois
Que não terá a arrogância de achar que pode reparar/consertar todas as minhas
bagunças, mas conseguirá reparar/notar quando eu te pedir ajuda.
Comentamos do tempo, que do nada esfria, como o café passado
Mas enquanto isso, você o degusta, a ele e a minha companhia, sabendo que minha
hospitalidade, esse laço e esse abrir da casa-ser é o que você precisa para se
sentir bem-vindo em minha vida.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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