terça-feira, 5 de setembro de 2023

Desejo e entrega: fronteiras éticas entre a fantasia e a realidade.

 


"Sou totalmente seu, completamente sua, pode fazer o que quiser comigo" ou "quero que você seja minha, que você seja meu" - frases assim podem ser comuns em dinâmicas eróticas, românticas e/ou sexuais.
Nem sempre essas narrativas são abusivas e violentas, é comum que se sinta com elas, pelo contrário, uma grande sensação de entrega, um grande prazer, um êxtase.
Esse tipo de desejo pode estar presente nas paixões, nas relações amorosas mais recentes e também nas de longo prazo.
Não se trata de nos envergonharmos desses desejos, nem de moralizá-los, mas de compreender que, se podem ser saudáveis e gostosos em determinadas cenas e contextos, em outras podem se tornar, sim, violentos.
E talvez aí tenhamos uma grande diferença entre monogamia e não monogamia, no sentido que na monogamia, realmente se acredita socialmente que a pessoa é dona na outra, que realmente ela pode decidir o que, como, quando e com quem a outra poderá estar, se relacionar, etc. Que caso uma ouse ter autonomia sobre si mesma, a outra se sentirá no direito de se sentir enganada, traída, ofendida.
Na não monogamia e em outras possibilidades não normativas de sexualidade e afetividade, esses desejos de entrega, essas fantasias de dominação, de submissão podem estar presentes, mas fora de um lugar de verdade, de realidade.
Quando essas fantasias estão num campo de negociação, de cenas, performances situadas, elas podem ser muito instigantes e criativas.
É curioso observar que as pessoas que aderem modelos coercitivos/controladores de relação costumam ser as mesmas que moralizam fantasias, jogos, encenações. Justo elas, que as materializam a nível de realidade e não de ficção.
Agora, se no campo do dia a dia, do cotidiano, realmente acreditamos que nossa vida e nosso desejo e autonomia pertencem por direito a outra pessoa, aí sim temos um problema.
Se alguém confiar em nós para brincar, imaginar, desejar, gozar com sua entrega e se for recíproco a vontade por esse vínculo, que tenhamos a responsabilidade de não levar isso ao pé da letra.
De acreditar ali, naquele momento, mas não para sempre. Não até que a morte os separe,  mas em um amor e um prazer que só podem ser e estar no enquanto.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s


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Desejo e entrega: fronteiras éticas entre a fantasia e a realidade.

 


"Sou totalmente seu, completamente sua, pode fazer o que quiser comigo" ou "quero que você seja minha, que você seja meu" - frases assim podem ser comuns em dinâmicas eróticas, românticas e/ou sexuais.
Nem sempre essas narrativas são abusivas e violentas, é comum que se sinta com elas, pelo contrário, uma grande sensação de entrega, um grande prazer, um êxtase.
Esse tipo de desejo pode estar presente nas paixões, nas relações amorosas mais recentes e também nas de longo prazo.
Não se trata de nos envergonharmos desses desejos, nem de moralizá-los, mas de compreender que, se podem ser saudáveis e gostosos em determinadas cenas e contextos, em outras podem se tornar, sim, violentos.
E talvez aí tenhamos uma grande diferença entre monogamia e não monogamia, no sentido que na monogamia, realmente se acredita socialmente que a pessoa é dona na outra, que realmente ela pode decidir o que, como, quando e com quem a outra poderá estar, se relacionar, etc. Que caso uma ouse ter autonomia sobre si mesma, a outra se sentirá no direito de se sentir enganada, traída, ofendida.
Na não monogamia e em outras possibilidades não normativas de sexualidade e afetividade, esses desejos de entrega, essas fantasias de dominação, de submissão podem estar presentes, mas fora de um lugar de verdade, de realidade.
Quando essas fantasias estão num campo de negociação, de cenas, performances situadas, elas podem ser muito instigantes e criativas.
É curioso observar que as pessoas que aderem modelos coercitivos/controladores de relação costumam ser as mesmas que moralizam fantasias, jogos, encenações. Justo elas, que as materializam a nível de realidade e não de ficção.
Agora, se no campo do dia a dia, do cotidiano, realmente acreditamos que nossa vida e nosso desejo e autonomia pertencem por direito a outra pessoa, aí sim temos um problema.
Se alguém confiar em nós para brincar, imaginar, desejar, gozar com sua entrega e se for recíproco a vontade por esse vínculo, que tenhamos a responsabilidade de não levar isso ao pé da letra.
De acreditar ali, naquele momento, mas não para sempre. Não até que a morte os separe,  mas em um amor e um prazer que só podem ser e estar no enquanto.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
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