Assim como uma
planta de maracujá quando cresce vai se espalhando, quando começamos a amar
alguém também nos alastramos na construção de memórias.
Nisso, vamos deixando um pouco de nós, um pouco de história em uma xícara, em
uma almofada, em um tipo de comida, em músicas, em expressões faciais,
trocadilhos, etc.
Quando, por algum motivo (conhecido ou não), aquela relação finaliza um ciclo,
nos vemos na tarefa de recolher os pedacinhos de nós que deixamos naqueles
objetos, lugares, sons.
Esse retorno, embora possa ser acompanhado de alguma tristeza ou melancolia, é
importante para fazermos uma retrospectiva da história de cada pequena ou
grande memória.
São as histórias vividas que fazem com que uma caneta deixe de ser só uma
caneta qualquer, que um sabor de sorvete seja apenas um dentre muitos, que uma
música seja mais especial do que outras.
Algumas pessoas preferem nunca mais ouvir aquela música, não usar mais aquela
caneta, não tomar mais aquele sorvete, pois acreditam que se afastando dos objetos
se afastarão também das emoções e sensações que despertam. Mas na verdade,
sabemos, não está na caneta, música ou no sorvete em si.
Portanto o afastamento, a despedida não é necessariamente geográfica, mas
emocional.
Não há linearidade nessa elaboração, cada pessoa terá seu percurso. Pode ser
que em algum dia qualquer venha mais nítido alguma dessas lembranças e sintamos
uma saudade mais intensa.
Mas ela também, assim como veio, irá.
Não é que a gente esquece completamente as pessoas que um dia amamos, mas é que
lembramos de outra forma. E aí aos poucos, já nem achamos mais aquela música
tão bonita, a caneta e a cadeira, voltam a ser só caneta e cadeira.
Até não serem mais, até serem parte de novas memórias, de novas impressões.
Parafraseando François Muleka: floresce só para despetalar de novo, e florescer
de novo e despetalar, num espiral infinito.
Ao invés de pedir para alguém prometer permanecer a vida toda, que tal
convidá-la a ficar uma estação? Da seguinte, não sabemos, é refazenda.
"Abacateiro
Teu recolhimento é justamente o significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão" Gilberto Gil.
Geni Nuñez -
@genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

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