sábado, 19 de agosto de 2023

Lançar e recolher memória, abrindo e encerrando ciclos.

 


Assim como uma planta de maracujá quando cresce vai se espalhando, quando começamos a amar alguém também nos alastramos na construção de memórias.
Nisso, vamos deixando um pouco de nós, um pouco de história em uma xícara, em uma almofada, em um tipo de comida, em músicas, em expressões faciais, trocadilhos, etc.
Quando, por algum motivo (conhecido ou não), aquela relação finaliza um ciclo, nos vemos na tarefa de recolher os pedacinhos de nós que deixamos naqueles objetos, lugares, sons.
Esse retorno, embora possa ser acompanhado de alguma tristeza ou melancolia, é importante para fazermos uma retrospectiva da história de cada pequena ou grande memória.
São as histórias vividas que fazem com que uma caneta deixe de ser só uma caneta qualquer, que um sabor de sorvete seja apenas um dentre muitos, que uma música seja mais especial do que outras.
Algumas pessoas preferem nunca mais ouvir aquela música, não usar mais aquela caneta, não tomar mais aquele sorvete, pois acreditam que se afastando dos objetos se afastarão também das emoções e sensações que despertam. Mas na verdade, sabemos, não está na caneta, música ou no sorvete em si.
Portanto o afastamento, a despedida não é necessariamente geográfica, mas emocional.
Não há linearidade nessa elaboração, cada pessoa terá seu percurso. Pode ser que em algum dia qualquer venha mais nítido alguma dessas lembranças e sintamos uma saudade mais intensa.
Mas ela também, assim como veio, irá.
Não é que a gente esquece completamente as pessoas que um dia amamos, mas é que lembramos de outra forma. E aí aos poucos, já nem achamos mais aquela música tão bonita, a caneta e a cadeira, voltam a ser só caneta e cadeira.
Até não serem mais, até serem parte de novas memórias, de novas impressões.
Parafraseando François Muleka: floresce só para despetalar de novo, e florescer de novo e despetalar, num espiral infinito.
Ao invés de pedir para alguém prometer permanecer a vida toda, que tal convidá-la a ficar uma estação? Da seguinte, não sabemos, é refazenda.
"Abacateiro
Teu recolhimento é justamente o significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão" Gilberto Gil.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s


Nenhum comentário:

Lançar e recolher memória, abrindo e encerrando ciclos.

 


Assim como uma planta de maracujá quando cresce vai se espalhando, quando começamos a amar alguém também nos alastramos na construção de memórias.
Nisso, vamos deixando um pouco de nós, um pouco de história em uma xícara, em uma almofada, em um tipo de comida, em músicas, em expressões faciais, trocadilhos, etc.
Quando, por algum motivo (conhecido ou não), aquela relação finaliza um ciclo, nos vemos na tarefa de recolher os pedacinhos de nós que deixamos naqueles objetos, lugares, sons.
Esse retorno, embora possa ser acompanhado de alguma tristeza ou melancolia, é importante para fazermos uma retrospectiva da história de cada pequena ou grande memória.
São as histórias vividas que fazem com que uma caneta deixe de ser só uma caneta qualquer, que um sabor de sorvete seja apenas um dentre muitos, que uma música seja mais especial do que outras.
Algumas pessoas preferem nunca mais ouvir aquela música, não usar mais aquela caneta, não tomar mais aquele sorvete, pois acreditam que se afastando dos objetos se afastarão também das emoções e sensações que despertam. Mas na verdade, sabemos, não está na caneta, música ou no sorvete em si.
Portanto o afastamento, a despedida não é necessariamente geográfica, mas emocional.
Não há linearidade nessa elaboração, cada pessoa terá seu percurso. Pode ser que em algum dia qualquer venha mais nítido alguma dessas lembranças e sintamos uma saudade mais intensa.
Mas ela também, assim como veio, irá.
Não é que a gente esquece completamente as pessoas que um dia amamos, mas é que lembramos de outra forma. E aí aos poucos, já nem achamos mais aquela música tão bonita, a caneta e a cadeira, voltam a ser só caneta e cadeira.
Até não serem mais, até serem parte de novas memórias, de novas impressões.
Parafraseando François Muleka: floresce só para despetalar de novo, e florescer de novo e despetalar, num espiral infinito.
Ao invés de pedir para alguém prometer permanecer a vida toda, que tal convidá-la a ficar uma estação? Da seguinte, não sabemos, é refazenda.
"Abacateiro
Teu recolhimento é justamente o significado
Da palavra temporão
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão" Gilberto Gil.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s