sábado, 1 de julho de 2023

Reflexões sobre egoísmo, individualismo e não monogamia.

 


Egoísmo, no senso comum, é uma prática de alguém que só pensa em si mesmo e nos próprios desejos, negligenciando as demais pessoas.
Para além disso, há contextos em que essa noção é distorcida e usada para fins moralistas, misóginos, racistas.
É comum que mulheres mães, por exemplo, quando demandam um descanso para si sejam taxadas de egoístas.
Qualquer pessoa marginalizada pelo racismo ou outras opressões em algum momento vai ser rotulada de egoísta se não colocar a si mesma e às suas propriedades pessoais em último lugar.
Pessoas não brancas sempre estivemos no trabalho de cuidado coletivo, inclusive compulsoriamente.
Para nós, o exercício é poder dedicar-se a si sem tanta culpa, sem tanto receio de sermos vistos como egoístas.
Já pessoas brancas, em especial homens brancos hetero, estão tão acostumados ao autocentramento e a serem cuidados por trabalhos alheios que é o exercício do cuidado coletivo que lhes desafia.
Porque parece tão óbvio que alguém que queira exercer o direito à própria sexualidade seja marcado como egoísta?
Não poderíamos olhar ao contrário e pensar que talvez quem controle a sexualidade alheia é quem pratica egoísmo?
No senso comum, se alguém faz algo que deixa outra pessoa triste, incomodada ou magoada, isso significa que essa ação foi equivocada, egoísta, violenta.
Mas há casos em que não é o comportamento da pessoa que precisa ser repensado, é o incômodo alheio que precisa ser elaborado.
Esse é o caso de muitos dos incômodos moralistas com a sexualidade alheia.
Por isso é importante avaliarmos caso a caso que lógicas são mobilizadas.
Quem se sente desconfortável, enciumado com a sexualidade/afetividade alheia, precisa também de acolhimento, mas isso não se faz demandando que o outro abra mão de sua autonomia, pois não há nela nada de violento, em si.
É um exercício de coragem reconhecer que talvez nomear a autonomia afetivo-sexual do outro como egoísmo ou falta de responsabilidade afetiva seja um jeito da gente evitar elaborar nosso próprio incômodo.
Que a gente possa exercitar o cuidado coletivo, de escuta, de redistribuição de tarefas e de acolhimento às nossas vulnerabilidades para além das monoculturas.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s 


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Reflexões sobre egoísmo, individualismo e não monogamia.

 


Egoísmo, no senso comum, é uma prática de alguém que só pensa em si mesmo e nos próprios desejos, negligenciando as demais pessoas.
Para além disso, há contextos em que essa noção é distorcida e usada para fins moralistas, misóginos, racistas.
É comum que mulheres mães, por exemplo, quando demandam um descanso para si sejam taxadas de egoístas.
Qualquer pessoa marginalizada pelo racismo ou outras opressões em algum momento vai ser rotulada de egoísta se não colocar a si mesma e às suas propriedades pessoais em último lugar.
Pessoas não brancas sempre estivemos no trabalho de cuidado coletivo, inclusive compulsoriamente.
Para nós, o exercício é poder dedicar-se a si sem tanta culpa, sem tanto receio de sermos vistos como egoístas.
Já pessoas brancas, em especial homens brancos hetero, estão tão acostumados ao autocentramento e a serem cuidados por trabalhos alheios que é o exercício do cuidado coletivo que lhes desafia.
Porque parece tão óbvio que alguém que queira exercer o direito à própria sexualidade seja marcado como egoísta?
Não poderíamos olhar ao contrário e pensar que talvez quem controle a sexualidade alheia é quem pratica egoísmo?
No senso comum, se alguém faz algo que deixa outra pessoa triste, incomodada ou magoada, isso significa que essa ação foi equivocada, egoísta, violenta.
Mas há casos em que não é o comportamento da pessoa que precisa ser repensado, é o incômodo alheio que precisa ser elaborado.
Esse é o caso de muitos dos incômodos moralistas com a sexualidade alheia.
Por isso é importante avaliarmos caso a caso que lógicas são mobilizadas.
Quem se sente desconfortável, enciumado com a sexualidade/afetividade alheia, precisa também de acolhimento, mas isso não se faz demandando que o outro abra mão de sua autonomia, pois não há nela nada de violento, em si.
É um exercício de coragem reconhecer que talvez nomear a autonomia afetivo-sexual do outro como egoísmo ou falta de responsabilidade afetiva seja um jeito da gente evitar elaborar nosso próprio incômodo.
Que a gente possa exercitar o cuidado coletivo, de escuta, de redistribuição de tarefas e de acolhimento às nossas vulnerabilidades para além das monoculturas.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s