Egoísmo, no
senso comum, é uma prática de alguém que só pensa em si mesmo e nos próprios
desejos, negligenciando as demais pessoas.
Para além disso, há contextos em que essa noção é distorcida e usada para fins
moralistas, misóginos, racistas.
É comum que mulheres mães, por exemplo, quando demandam um descanso para si
sejam taxadas de egoístas.
Qualquer pessoa marginalizada pelo racismo ou outras opressões em algum momento
vai ser rotulada de egoísta se não colocar a si mesma e às suas propriedades
pessoais em último lugar.
Pessoas não brancas sempre estivemos no trabalho de cuidado coletivo, inclusive
compulsoriamente.
Para nós, o exercício é poder dedicar-se a si sem tanta culpa, sem tanto receio
de sermos vistos como egoístas.
Já pessoas brancas, em especial homens brancos hetero, estão tão acostumados ao
autocentramento e a serem cuidados por trabalhos alheios que é o exercício do
cuidado coletivo que lhes desafia.
Porque parece tão óbvio que alguém que queira exercer o direito à própria
sexualidade seja marcado como egoísta?
Não poderíamos olhar ao contrário e pensar que talvez quem controle a
sexualidade alheia é quem pratica egoísmo?
No senso comum, se alguém faz algo que deixa outra pessoa triste, incomodada ou
magoada, isso significa que essa ação foi equivocada, egoísta, violenta.
Mas há casos em que não é o comportamento da pessoa que precisa ser repensado,
é o incômodo alheio que precisa ser elaborado.
Esse é o caso de muitos dos incômodos moralistas com a sexualidade alheia.
Por isso é importante avaliarmos caso a caso que lógicas são mobilizadas.
Quem se sente desconfortável, enciumado com a sexualidade/afetividade alheia,
precisa também de acolhimento, mas isso não se faz demandando que o outro abra
mão de sua autonomia, pois não há nela nada de violento, em si.
É um exercício de coragem reconhecer que talvez nomear a autonomia
afetivo-sexual do outro como egoísmo ou falta de responsabilidade afetiva seja
um jeito da gente evitar elaborar nosso próprio incômodo.
Que a gente possa exercitar o cuidado coletivo, de escuta, de redistribuição de
tarefas e de acolhimento às nossas vulnerabilidades para além das monoculturas.
Geni Nuñez -
@genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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