sábado, 29 de julho de 2023

Acolhendo as ambivalências emocionais através da confiança.

 


A gente não nasce sabendo lidar com tudo e mesmo ao longo da vida esse aprendizado segue em curso.
Quando pequeninos, ainda não temos repertório de experiências nem vocabulário para nomear e processar o que estamos sentindo e o que nos resta diante do desconforto com o que parece desconhecido/ameaçador é chorar, espernear, gritar.
Depois, quando a pessoa cuidadora não deixa a criança fazer algo que ela quer, é comum que muitas retruquem dizendo "te odeio muito, você é a pior mãe do mundo, nunca mais quero te ver". E ela diz isso porque não consegue lidar com as ambivalências, não porque de fato odeie a mãe.
A sociedade dominante, em suas monoculturas do pensamento, segue nos ensinando que não é possível haver concomitância, que tudo é uma coisa ou outra, que se alguém deseja ou ama outras pessoas está nos enganando, mentindo, sendo mau.
Quando adultos, continuamos a passar por situações que, mesmo não sendo violentas, nos dão a sensação de estranhamento, desamparo e desconforto, ainda mais quando não temos muitas referências de como reagir, como é o caso da não monogamia. 
Nisso, quando nos sentimos em perigo (real ou imaginado), podemos ter impulsos como o da fuga ou do ataque. E nos vemos "odiando" e nos afastando da pessoa que nos frustrou, pois isso é menos difícil que ponderar e reconhecer que não é porque alguém que amamos agiu de um jeito que a gente não gostou, que necessariamente isso faz dela alguém ruim.
Diante de um mundo de incertezas e de mistérios, é fundamental que possamos construir relações em que haja uma sólida confiança, porque é a partir disso que aquilo que é desconhecido, frustrante ou novo deixa de ser aterrorizante ou apavorante para ser mais uma das experimentações que tornam a vida o que ela é.
É pela confiança que a gente lembra que, embora nossos medos cogitem cenas catastróficas, o que é construído na realidade, com cuidado e amparo, é como raízes que nos mantém firmes diante do medo, da incerteza, da mudança.
Confiar é seguir acreditando na vida mesmo em suas ambivalências.

Referência sobre o tema da ambivalência: artigo "Duas formas de experimentar o mundo", de Audrey Setton Lopes de Souza, 2014.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s 


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Acolhendo as ambivalências emocionais através da confiança.

 


A gente não nasce sabendo lidar com tudo e mesmo ao longo da vida esse aprendizado segue em curso.
Quando pequeninos, ainda não temos repertório de experiências nem vocabulário para nomear e processar o que estamos sentindo e o que nos resta diante do desconforto com o que parece desconhecido/ameaçador é chorar, espernear, gritar.
Depois, quando a pessoa cuidadora não deixa a criança fazer algo que ela quer, é comum que muitas retruquem dizendo "te odeio muito, você é a pior mãe do mundo, nunca mais quero te ver". E ela diz isso porque não consegue lidar com as ambivalências, não porque de fato odeie a mãe.
A sociedade dominante, em suas monoculturas do pensamento, segue nos ensinando que não é possível haver concomitância, que tudo é uma coisa ou outra, que se alguém deseja ou ama outras pessoas está nos enganando, mentindo, sendo mau.
Quando adultos, continuamos a passar por situações que, mesmo não sendo violentas, nos dão a sensação de estranhamento, desamparo e desconforto, ainda mais quando não temos muitas referências de como reagir, como é o caso da não monogamia. 
Nisso, quando nos sentimos em perigo (real ou imaginado), podemos ter impulsos como o da fuga ou do ataque. E nos vemos "odiando" e nos afastando da pessoa que nos frustrou, pois isso é menos difícil que ponderar e reconhecer que não é porque alguém que amamos agiu de um jeito que a gente não gostou, que necessariamente isso faz dela alguém ruim.
Diante de um mundo de incertezas e de mistérios, é fundamental que possamos construir relações em que haja uma sólida confiança, porque é a partir disso que aquilo que é desconhecido, frustrante ou novo deixa de ser aterrorizante ou apavorante para ser mais uma das experimentações que tornam a vida o que ela é.
É pela confiança que a gente lembra que, embora nossos medos cogitem cenas catastróficas, o que é construído na realidade, com cuidado e amparo, é como raízes que nos mantém firmes diante do medo, da incerteza, da mudança.
Confiar é seguir acreditando na vida mesmo em suas ambivalências.

Referência sobre o tema da ambivalência: artigo "Duas formas de experimentar o mundo", de Audrey Setton Lopes de Souza, 2014.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s