quinta-feira, 29 de junho de 2023

Elaborações sobre alguns posicionamentos contrários ou críticos à não monogamia - parte 2

 


Uma não monogamia indígena compreende que a lógica da propriedade privada não era presente em nosso território.
Não nos vemos donos da terra, dos rios ou das demais gentes.
É, portanto, um debate que faz parte de outro maior, que é a descolonização.
O padre Nóbrega e Vespúcio (1501) "retrata a ausência de propriedade privada em favor do coletivo e da repartição dos produtos disponíveis na natureza sem intenções de acúmulo".
Tudo que alça visibilidade corre risco de ser cooptado pela branquitude e pelo capitalismo e a não monogamia não foge à regra.
Não faz sentido ser não monogâmico e não ser também anticapitalista, antirracista, anticolonial.
Embora a colonialidade nos perpasse, é preciso, no mínimo, lutar por redução de danos.
Me preocupa que olhem com desconfiança apenas para os "esquerdomachos não mono", esquecendo a letalidade dos esquerdo e direitomachos monogâmicos. Por menos machos e mais bichos e bich4s.
Por acaso a monogamia não é neoliberal?
Não é exatamente nela que há falta de retribuição de trabalho doméstico, desigualdade na experimentação sexual, abandono paterno?
Mas dizer-se não monogâmico não traz, automaticamente, ética a ninguém. Isso é trabalho de um exercício cotidiano, de uma vida toda.
Para quem diz que há uma "seita" em torno do tema e no meu trabalho, torno a dizer: parem de projetar sua catequização em nós indígenas. Quem tem o sonho de dominar o mundo é o branco (Fanon). A não monogamia é uma reivindicação do próprio corpo, não tem como isso ser imposição.
Diferentemente de uma seita, sabem o que acontecerá com quem deixar de seguir minha página e ler meus textos? Absolutamente nada.
Diferente da monogamia, que impõe sua lei na igreja, na família, na economia, no Estado. Há literalmente uma criminalização da bigamia no código penal (aqui eu compartilho pequenas reflexões, mas quem quiser ter acesso ao meu trabalho científico, peço que acesse minha dissertação de mestrado, minha tese de doutorado, artigos científicos e capítulos de livro que publiquei nos quais há maior contextualização de minha pesquisa).
Quem se diz não monogâmico, que lute conosco pela demarcação de nossos territórios ou não use nossos saberes.

Referência que citei está no artigo: “Que proveja isto com temor, pois nós outros não podemos por amor: a ação catequética do Padre Manuel da Nóbrega nos Trópicos entre 1549-1559". Autoria de Ana Sales de Lima e Sezinando Menezes, na revista Tempos Históricos, 2008. A referência que eles fazem à fala do Américo Vespúcio está em: VESPUCIO, Américo. Diários da descoberta da América. Porto Alegro:
LPM.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s 


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Elaborações sobre alguns posicionamentos contrários ou críticos à não monogamia - parte 2

 


Uma não monogamia indígena compreende que a lógica da propriedade privada não era presente em nosso território.
Não nos vemos donos da terra, dos rios ou das demais gentes.
É, portanto, um debate que faz parte de outro maior, que é a descolonização.
O padre Nóbrega e Vespúcio (1501) "retrata a ausência de propriedade privada em favor do coletivo e da repartição dos produtos disponíveis na natureza sem intenções de acúmulo".
Tudo que alça visibilidade corre risco de ser cooptado pela branquitude e pelo capitalismo e a não monogamia não foge à regra.
Não faz sentido ser não monogâmico e não ser também anticapitalista, antirracista, anticolonial.
Embora a colonialidade nos perpasse, é preciso, no mínimo, lutar por redução de danos.
Me preocupa que olhem com desconfiança apenas para os "esquerdomachos não mono", esquecendo a letalidade dos esquerdo e direitomachos monogâmicos. Por menos machos e mais bichos e bich4s.
Por acaso a monogamia não é neoliberal?
Não é exatamente nela que há falta de retribuição de trabalho doméstico, desigualdade na experimentação sexual, abandono paterno?
Mas dizer-se não monogâmico não traz, automaticamente, ética a ninguém. Isso é trabalho de um exercício cotidiano, de uma vida toda.
Para quem diz que há uma "seita" em torno do tema e no meu trabalho, torno a dizer: parem de projetar sua catequização em nós indígenas. Quem tem o sonho de dominar o mundo é o branco (Fanon). A não monogamia é uma reivindicação do próprio corpo, não tem como isso ser imposição.
Diferentemente de uma seita, sabem o que acontecerá com quem deixar de seguir minha página e ler meus textos? Absolutamente nada.
Diferente da monogamia, que impõe sua lei na igreja, na família, na economia, no Estado. Há literalmente uma criminalização da bigamia no código penal (aqui eu compartilho pequenas reflexões, mas quem quiser ter acesso ao meu trabalho científico, peço que acesse minha dissertação de mestrado, minha tese de doutorado, artigos científicos e capítulos de livro que publiquei nos quais há maior contextualização de minha pesquisa).
Quem se diz não monogâmico, que lute conosco pela demarcação de nossos territórios ou não use nossos saberes.

Referência que citei está no artigo: “Que proveja isto com temor, pois nós outros não podemos por amor: a ação catequética do Padre Manuel da Nóbrega nos Trópicos entre 1549-1559". Autoria de Ana Sales de Lima e Sezinando Menezes, na revista Tempos Históricos, 2008. A referência que eles fazem à fala do Américo Vespúcio está em: VESPUCIO, Américo. Diários da descoberta da América. Porto Alegro:
LPM.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s