Uma não
monogamia indígena compreende que a lógica da propriedade privada não era
presente em nosso território.
Não nos vemos donos da terra, dos rios ou das demais gentes.
É, portanto, um debate que faz parte de outro maior, que é a descolonização.
O padre Nóbrega e Vespúcio (1501) "retrata a ausência de propriedade
privada em favor do coletivo e da repartição dos produtos disponíveis na
natureza sem intenções de acúmulo".
Tudo que alça visibilidade corre risco de ser cooptado pela branquitude e pelo
capitalismo e a não monogamia não foge à regra.
Não faz sentido ser não monogâmico e não ser também anticapitalista,
antirracista, anticolonial.
Embora a colonialidade nos perpasse, é preciso, no mínimo, lutar por redução de
danos.
Me preocupa que olhem com desconfiança apenas para os "esquerdomachos não
mono", esquecendo a letalidade dos esquerdo e direitomachos monogâmicos.
Por menos machos e mais bichos e bich4s.
Por acaso a monogamia não é neoliberal?
Não é exatamente nela que há falta de retribuição de trabalho doméstico,
desigualdade na experimentação sexual, abandono paterno?
Mas dizer-se não monogâmico não traz, automaticamente, ética a ninguém. Isso é
trabalho de um exercício cotidiano, de uma vida toda.
Para quem diz que há uma "seita" em torno do tema e no meu trabalho,
torno a dizer: parem de projetar sua catequização em nós indígenas. Quem tem o
sonho de dominar o mundo é o branco (Fanon). A não monogamia é uma
reivindicação do próprio corpo, não tem como isso ser imposição.
Diferentemente de uma seita, sabem o que acontecerá com quem deixar de seguir
minha página e ler meus textos? Absolutamente nada.
Diferente da monogamia, que impõe sua lei na igreja, na família, na economia,
no Estado. Há literalmente uma criminalização da bigamia no código penal (aqui
eu compartilho pequenas reflexões, mas quem quiser ter acesso ao meu trabalho
científico, peço que acesse minha dissertação de mestrado, minha tese de
doutorado, artigos científicos e capítulos de livro que publiquei nos quais há
maior contextualização de minha pesquisa).
Quem se diz não monogâmico, que lute conosco pela demarcação de nossos
territórios ou não use nossos saberes.
Referência que
citei está no artigo: “Que proveja isto com temor, pois nós outros não podemos
por amor: a ação catequética do Padre Manuel da Nóbrega nos Trópicos entre
1549-1559". Autoria de Ana Sales de Lima e Sezinando Menezes, na revista
Tempos Históricos, 2008. A referência que eles fazem à fala do Américo Vespúcio
está em: VESPUCIO, Américo. Diários da descoberta da América. Porto Alegro:
LPM.
Geni Nuñez -
@genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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