quarta-feira, 28 de junho de 2023

Elaborações sobre alguns posicionamentos contrários ou críticos à não monogamia - parte 1

 


Com o aumento da visibilidade sobre não monogamia, crescem também os posicionamentos contrários a ela.
Já podemos dizer que há várias não monogamias, então minha escrita será a partir das ponderações que meu trabalho, em específico, recebe.
Fico muito grata e feliz em perceber que para a maioria das pessoas que me acompanha, há um grande carinho e respeito, inclusive nas discordâncias.
Os diferentes retornos que recebo me ajudam muito a aprender, a repensar.
É um exercício, para mim, buscar separar o que é crítica ou perspectiva diferente do que é racismo, mas vou tentar aqui elaborar um pouco disso.
Percebo que há, especialmente por parte de universitários brancos, um aprendizado de que revolução, radicalidade e "luta material" é algo que só encontram em autores brancos europeus de séculos passados.
Eu não cito esses autores não por falta de leitura neles, mas porque não concordo com muitas de suas premissas e não acho que vai ser com eles que aprenderei sobre revolução em um contexto em que tenho os mestres indígenas e quilombolas.
A divisão "material e concreto" e "subjetivo e simbólico" não faz sentido para mim, mas mesmo que fosse operar por essas noções, diria que não há nada mais revolucionário que as lutas originárias, as lutas anticoloniais.
A dimensão psicossocial é tão importante quanto as demais.
Para muitos brancos, há sempre outras lutas mais importantes que a luta anticolonial (que confundem com as teorias decoloniais, um sintoma de sua falta de aprofundamento).
Para nós, povos indígenas, a luta anticolonial abarca a luta anticapitalista e as demais.
Talvez seja mais fácil para alguns se posicionarem apenas contra o capitalismo, porque se afirmarem a luta anticolonial terão de se haver com o colonizador que lhes habita.
Embora a visibilidade do tema não monogamia tenha aumentado nos últimos anos, a resistência indígena a essa imposição já vem desde 1500 - um fato histórico registrado nas cartas jesuíticas.
Então todos os demais grupos que se dedicam a esse tema devem ter respeito às lutas que os antecederam, sem praticarem a "caravela epistêmica" que os faz "descobridores" do que já existia.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s 


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Elaborações sobre alguns posicionamentos contrários ou críticos à não monogamia - parte 1

 


Com o aumento da visibilidade sobre não monogamia, crescem também os posicionamentos contrários a ela.
Já podemos dizer que há várias não monogamias, então minha escrita será a partir das ponderações que meu trabalho, em específico, recebe.
Fico muito grata e feliz em perceber que para a maioria das pessoas que me acompanha, há um grande carinho e respeito, inclusive nas discordâncias.
Os diferentes retornos que recebo me ajudam muito a aprender, a repensar.
É um exercício, para mim, buscar separar o que é crítica ou perspectiva diferente do que é racismo, mas vou tentar aqui elaborar um pouco disso.
Percebo que há, especialmente por parte de universitários brancos, um aprendizado de que revolução, radicalidade e "luta material" é algo que só encontram em autores brancos europeus de séculos passados.
Eu não cito esses autores não por falta de leitura neles, mas porque não concordo com muitas de suas premissas e não acho que vai ser com eles que aprenderei sobre revolução em um contexto em que tenho os mestres indígenas e quilombolas.
A divisão "material e concreto" e "subjetivo e simbólico" não faz sentido para mim, mas mesmo que fosse operar por essas noções, diria que não há nada mais revolucionário que as lutas originárias, as lutas anticoloniais.
A dimensão psicossocial é tão importante quanto as demais.
Para muitos brancos, há sempre outras lutas mais importantes que a luta anticolonial (que confundem com as teorias decoloniais, um sintoma de sua falta de aprofundamento).
Para nós, povos indígenas, a luta anticolonial abarca a luta anticapitalista e as demais.
Talvez seja mais fácil para alguns se posicionarem apenas contra o capitalismo, porque se afirmarem a luta anticolonial terão de se haver com o colonizador que lhes habita.
Embora a visibilidade do tema não monogamia tenha aumentado nos últimos anos, a resistência indígena a essa imposição já vem desde 1500 - um fato histórico registrado nas cartas jesuíticas.
Então todos os demais grupos que se dedicam a esse tema devem ter respeito às lutas que os antecederam, sem praticarem a "caravela epistêmica" que os faz "descobridores" do que já existia.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s