Com o aumento
da visibilidade sobre não monogamia, crescem também os posicionamentos
contrários a ela.
Já podemos dizer que há várias não monogamias, então minha escrita será a
partir das ponderações que meu trabalho, em específico, recebe.
Fico muito grata e feliz em perceber que para a maioria das pessoas que me
acompanha, há um grande carinho e respeito, inclusive nas discordâncias.
Os diferentes retornos que recebo me ajudam muito a aprender, a repensar.
É um exercício, para mim, buscar separar o que é crítica ou perspectiva
diferente do que é racismo, mas vou tentar aqui elaborar um pouco disso.
Percebo que há, especialmente por parte de universitários brancos, um
aprendizado de que revolução, radicalidade e "luta material" é algo
que só encontram em autores brancos europeus de séculos passados.
Eu não cito esses autores não por falta de leitura neles, mas porque não
concordo com muitas de suas premissas e não acho que vai ser com eles que
aprenderei sobre revolução em um contexto em que tenho os mestres indígenas e
quilombolas.
A divisão "material e concreto" e "subjetivo e simbólico"
não faz sentido para mim, mas mesmo que fosse operar por essas noções, diria
que não há nada mais revolucionário que as lutas originárias, as lutas
anticoloniais.
A dimensão psicossocial é tão importante quanto as demais.
Para muitos brancos, há sempre outras lutas mais importantes que a luta
anticolonial (que confundem com as teorias decoloniais, um sintoma de sua falta
de aprofundamento).
Para nós, povos indígenas, a luta anticolonial abarca a luta anticapitalista e
as demais.
Talvez seja mais fácil para alguns se posicionarem apenas contra o capitalismo,
porque se afirmarem a luta anticolonial terão de se haver com o colonizador que
lhes habita.
Embora a visibilidade do tema não monogamia tenha aumentado nos últimos anos, a
resistência indígena a essa imposição já vem desde 1500 - um fato histórico
registrado nas cartas jesuíticas.
Então todos os demais grupos que se dedicam a esse tema devem ter respeito às
lutas que os antecederam, sem praticarem a "caravela epistêmica" que
os faz "descobridores" do que já existia.
Geni Nuñez -
@genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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