terça-feira, 30 de maio de 2023

Reflexões sobre as críticas à minha linguagem, por Geni Nuñez

 


“Ao mesmo tempo que dizem que meu trabalho é acadêmico e rebuscado demais, dizem ser muito informal.

Falam que não entenderam nada mas discordam de tudo? Um paradoxo que o racismo ajuda a explicar.

Se faço análises históricas e filosóficas dizem que ficou muito complexo, mas se escrevo em poesias acessíveis também continuam a destilar ódio.

Nenhuma linguagem que eu use lhes parece boa o suficiente.

Não apresentam nenhum argumento, nenhuma crítica consistente.

Busco diariamente tornar meu trabalho mais acessível e sei que ainda tenho muito caminho pela frente, mas penso que não é só da maneira que escrevo que essas pessoas não gostam.

Elas não gostam sobretudo é de ver o tema da não monogamia, da descolonização sendo debatido e me atacam para desqualificar a discussão junto.

O que explica pessoas sem formação acadêmica entenderem o que eu digo, mas um bando de universitários dizer que não entendeu?

Para além de criticarem meu jeito de me expressar, elaborem suas barreiras emocionais. Vocês podem encontrar defesa de cristianismo e monogamia em boa parte do planeta, aqui não vai rolar.

Os brancos adoram dizer que estamos fazendo uma nova imposição, nova catequização, seu sonho é acreditar que "no fundo somos iguais a vocês". Não somos. Não existe ditadura não mono, nem ditadura gay, trans, gorda. Todas as dissidências lutam pelo direito à autonomia e por mundos onde caibam muitos mundos.

Eu, filha de faxineira indígena, uma existência que foi literalmente escravizada pela colonização que eu sigo dizendo que não acabou, agora falo a língua de vocês.

Tentam nos humilhar dizendo que "índio mim não sabe falar", mas quando alguns poucos de nós se formam doutores na academia que vocês criaram, aí nós que somos os elitistas?

Em cada curso Descolonizando Afetos tem uma aldeia que recebe apoio, em cada uma das minhas palavras, palestras e poemas tem a luta de meu povo.

Eu seguirei tentando tornar meu trabalho mais acessível, podem me perguntar se não entenderam alguma palavra, mas peço que considerem que o jeito que falo é também quem eu sou. E é ok não gostar, não ler, mas não vou aceitar que caravelizem minha existência.

Agradeço a todes que me respeitam.”

Texto de  Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -

https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s

Nenhum comentário:

Reflexões sobre as críticas à minha linguagem, por Geni Nuñez

 


“Ao mesmo tempo que dizem que meu trabalho é acadêmico e rebuscado demais, dizem ser muito informal.

Falam que não entenderam nada mas discordam de tudo? Um paradoxo que o racismo ajuda a explicar.

Se faço análises históricas e filosóficas dizem que ficou muito complexo, mas se escrevo em poesias acessíveis também continuam a destilar ódio.

Nenhuma linguagem que eu use lhes parece boa o suficiente.

Não apresentam nenhum argumento, nenhuma crítica consistente.

Busco diariamente tornar meu trabalho mais acessível e sei que ainda tenho muito caminho pela frente, mas penso que não é só da maneira que escrevo que essas pessoas não gostam.

Elas não gostam sobretudo é de ver o tema da não monogamia, da descolonização sendo debatido e me atacam para desqualificar a discussão junto.

O que explica pessoas sem formação acadêmica entenderem o que eu digo, mas um bando de universitários dizer que não entendeu?

Para além de criticarem meu jeito de me expressar, elaborem suas barreiras emocionais. Vocês podem encontrar defesa de cristianismo e monogamia em boa parte do planeta, aqui não vai rolar.

Os brancos adoram dizer que estamos fazendo uma nova imposição, nova catequização, seu sonho é acreditar que "no fundo somos iguais a vocês". Não somos. Não existe ditadura não mono, nem ditadura gay, trans, gorda. Todas as dissidências lutam pelo direito à autonomia e por mundos onde caibam muitos mundos.

Eu, filha de faxineira indígena, uma existência que foi literalmente escravizada pela colonização que eu sigo dizendo que não acabou, agora falo a língua de vocês.

Tentam nos humilhar dizendo que "índio mim não sabe falar", mas quando alguns poucos de nós se formam doutores na academia que vocês criaram, aí nós que somos os elitistas?

Em cada curso Descolonizando Afetos tem uma aldeia que recebe apoio, em cada uma das minhas palavras, palestras e poemas tem a luta de meu povo.

Eu seguirei tentando tornar meu trabalho mais acessível, podem me perguntar se não entenderam alguma palavra, mas peço que considerem que o jeito que falo é também quem eu sou. E é ok não gostar, não ler, mas não vou aceitar que caravelizem minha existência.

Agradeço a todes que me respeitam.”

Texto de  Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -

https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s