quarta-feira, 3 de maio de 2023

Amor ou sexo, esposa ou amante: como podemos nos relacionar para além disso?

 


É bastante comum que no período de namoro se relate uma vida sexual intensa e depois do casamento uma queda vertiginosa do desejo.
Não se trata necessariamente de uma diminuição da libido como um todo, uma vez que a mesma pessoa poderá sentir pouco ou nenhum desejo por sua esposa/o, ao mesmo tempo que sentirá intensa atração por aquela com quem tem (ou deseja ter) relação extraconjugal.
Esse é um roteiro recorrente.
"O que será que ela tem que eu não tenho?
Será que casei com alguém mau?"
São questões comuns quando se vive essas situações frustrantes, uma vez que a promessa do amor romântico monogâmico é que quando há amor de "verdade", um completa o outro.
O que muitas vezes passa batido é que menos do que a beleza, inteligência ou honestidade de cada um, o que produz esse tipo de situação é a posição, o lugar pré determinado de cada um na cena monogâmica.
Por exemplo, a posição de namorada pode até abarcar o desejo, a paixão e tesão, mas a posição de esposa é a de amor, não a de sexo, afinal ela já foi "conquistada".
Quem está nessa posição de desejo sexual é a amante, o proibido que não pode ser oficial justamente para não borrar as fronteiras do binário amor ou sexo, o para transar ou para casar, etc.
A expectativa de quem aposta nesse ideial é de que será desejado e amado, que será amor e sexo, intimidade e excitação.
Mas não é isso que vemos em milhares de casos, embora haja exceções.
E não vemos não porque as pessoas, individualmente, fizeram algo de errado, mas porque há algo estrutural nas posições sociais do que é ser esposa, amante, do que deve dar tesão ou tédio.
Em vez de questionarmos a própria instituição casamento, o que vemos é a insistência nesse modelo, como se fosse apenas "a pessoa errada".
E o que fazer então?
Um caminho é parar de colocar pessoas e relações em posições pré-determinadas.
Enquanto existir "oficial" vai existir a "outra", pois são identidades relacionais e dependentes uma da outra.
É possível construir imaginários outros de amar e desejar para além desses lugares pré-definidos?
A gente não merece mais que repetir esse mesmo sistema falido?
Quem tem comparsas para experimentar esses caminhos tem sorte.

Texto de Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s 


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Amor ou sexo, esposa ou amante: como podemos nos relacionar para além disso?

 


É bastante comum que no período de namoro se relate uma vida sexual intensa e depois do casamento uma queda vertiginosa do desejo.
Não se trata necessariamente de uma diminuição da libido como um todo, uma vez que a mesma pessoa poderá sentir pouco ou nenhum desejo por sua esposa/o, ao mesmo tempo que sentirá intensa atração por aquela com quem tem (ou deseja ter) relação extraconjugal.
Esse é um roteiro recorrente.
"O que será que ela tem que eu não tenho?
Será que casei com alguém mau?"
São questões comuns quando se vive essas situações frustrantes, uma vez que a promessa do amor romântico monogâmico é que quando há amor de "verdade", um completa o outro.
O que muitas vezes passa batido é que menos do que a beleza, inteligência ou honestidade de cada um, o que produz esse tipo de situação é a posição, o lugar pré determinado de cada um na cena monogâmica.
Por exemplo, a posição de namorada pode até abarcar o desejo, a paixão e tesão, mas a posição de esposa é a de amor, não a de sexo, afinal ela já foi "conquistada".
Quem está nessa posição de desejo sexual é a amante, o proibido que não pode ser oficial justamente para não borrar as fronteiras do binário amor ou sexo, o para transar ou para casar, etc.
A expectativa de quem aposta nesse ideial é de que será desejado e amado, que será amor e sexo, intimidade e excitação.
Mas não é isso que vemos em milhares de casos, embora haja exceções.
E não vemos não porque as pessoas, individualmente, fizeram algo de errado, mas porque há algo estrutural nas posições sociais do que é ser esposa, amante, do que deve dar tesão ou tédio.
Em vez de questionarmos a própria instituição casamento, o que vemos é a insistência nesse modelo, como se fosse apenas "a pessoa errada".
E o que fazer então?
Um caminho é parar de colocar pessoas e relações em posições pré-determinadas.
Enquanto existir "oficial" vai existir a "outra", pois são identidades relacionais e dependentes uma da outra.
É possível construir imaginários outros de amar e desejar para além desses lugares pré-definidos?
A gente não merece mais que repetir esse mesmo sistema falido?
Quem tem comparsas para experimentar esses caminhos tem sorte.

Texto de Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s