Não há dúvida para Mary
Daly onde a luta pelo poder vai ser travada - no reino do significado e do
conhecimento. E enquanto a análise dela é abrangente - até mesmo cósmica - da
ordem simbólica, e uma tentativa de recuperá-la para as mulheres, havia muitas
outras feministas na época envolvidas em um processo semelhante, mesmo que elas
estivessem confinadas a preocupações um pouco mais restritas.
Uma delas foi Elaine
Morgan que, em 1972, questionou a teoria evolucionária recebida em “The Descent
of Woman” (A Descendência da Mulher). Somente um homem, obcecado em explicar a
origem do homem através do prisma do homem-caçador, poderia alguma vez ter
encontrado tais distorções das evidências, argumenta ela. Sua seção sobre a
evidência - e a forma como os homens a explicam - encerra uma leitura
hilariante (pp.4-13). Com o maior desprezo, ela zomba das opiniões consideradas
absurdas das autoridades que, se elas tivessem pensado no que as mulheres
estavam fazendo - se elas tivessem pensado nas mulheres como parte da espécie -
nunca poderiam ter tirado conclusões tão absurdas. Quase se pode ouvir Elaine
Morgan suspirar ao afirmar que
“Uma porcentagem muito
alta do pensamento sobre estes tópicos é androcêntrica [centrada no homem] da
mesma forma que o pensamento pré-Copernicano era geocêntrico. É tão difícil
para o homem quebrar o hábito de pensar em si mesmo como central para a espécie
quanto foi quebrar o hábito de pensar em si mesmo como central para o universo.
Ele se vê, inconscientemente, como a linha principal da evolução, com um
satélite feminino girando ao seu redor à medida que a lua gira ao redor do
universo.” (p.3)
Mas como Elaine Morgan
está prestes a produzir algum conhecimento centrado na mulher, "o homem
como centro" será desalojado:
“Quanto mais tempo eu
continuava lendo seus próprios livros sobre si mesmo, mais eu ansiava por
encontrar um volume que começasse: ‘Quando o primeiro ancestral da raça humana
desceu das árvores, ela ainda não tinha desenvolvido o poderoso cérebro que a
distinguisse tão nitidamente de todas as outras espécies...’ (p.3) “
Pensar em termos de
'mulher' ao invés de 'homem' foi o método que ela seguiu. Ao tomar a mulher
como seu ponto de referência, ela foi capaz de construir uma explicação muito
diferente para a evolução das espécies, uma explicação que não só explicava
muita coisa que antes era inexplicável, mas que expunha as distorções - e o
absurdo - de muita coisa que os homens tinham apresentado em sua tentativa de
reconstruir o passado com base na premissa de que a raça humana era composta
inteiramente de corajosos e viris caçadores.
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