RELAÇÕES ENTRE COLONIZAÇÃO, CRISTIANISMO Y MONOGAMIA
"Um dos primeiros registros escritos que temos da percepção dos
colonizadores a respeito da não-monogamia encontramos nos relatos dos padres
jesuítas, em cujas cartas há vastos comentários sobre o que chamavam de
“poligamia dos índios”. De acordo com a historiadora Vânia Moreira, a imposição
da monogamia foi fundamental para a implementação de todo o projeto colonial.
Ela explica que
'Em razão de ser o matrimônio monogâmico um dos sacramentos do catolicismo, a
poligamia impedia a conversão e o batismo dos adultos, comprometendo seriamente
o sucesso da obra missionária. Pode-se mesmo afirmar que superar a
poligamia dos índios se tornou uma verdadeira obsessão dos missionários dedicados
à evangelização. O combate à poligamia dos índios foi trabalho pastoral intenso
e contínuo dos jesuítas no Brasil' (MOREIRA, 2018, p. 33)
Os padres afirmavam que as tradições indígenas não poderiam conciliar-se com o
“único, perfeito e verdadeiro casamento cristão” (VAINFAS, 1997) (...)
monogamia nesse contexto é tida como sinônimo não só de algo quantitativo, mas
também qualitativo: um sistema que seria bom por ter apenas uma relação e
especial justamente por ser exclusivo. Em um contraste complementar, poligamia
também passa a aludir não só à quantidade, mas também à qualidade (ruim por
serem várias pessoas).
(...) Para além disso, cabe ressaltar que a imposição da monogamia se
estruturava - e assim permanece - em uma determinada maneira de lidar com o
tempo emocional. Nas cartas jesuíticas observamos que o repúdio dos padres às
relações indígenas não se esgotava no desagrado com envolvimentos entre mais de
duas pessoas, mas também em um desconforto quanto ao tempo que essas relações
duravam. (...) Com isso compreendemos que mesmo que uma relação fosse composta
por apenas duas pessoas, ainda assim não seria tipificada como monogâmica se a
forma de lidar com sua temporalidade não fosse correspondente ao princípio da
indissociabilidade do vínculo.
A ausência do valor de uma permanência “até que a morte os separe” também
configurava, por consequência, uma não-monogamia e uma desestabilização da
ideia de 'família normal' "
Fonte: https://www.instagram.com/p/Cm6_I6quxla/?igshid=NDdhMjNiZDg%3D
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