segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

RELAÇÕES ENTRE COLONIZAÇÃO, CRISTIANISMO Y MONOGAMIA

 


RELAÇÕES ENTRE COLONIZAÇÃO, CRISTIANISMO Y MONOGAMIA

"Um dos primeiros registros escritos que temos da percepção dos colonizadores a respeito da não-monogamia encontramos nos relatos dos padres jesuítas, em cujas cartas há vastos comentários sobre o que chamavam de “poligamia dos índios”. De acordo com a historiadora Vânia Moreira, a imposição da monogamia foi fundamental para a implementação de todo o projeto colonial. Ela explica que
'Em razão de ser o matrimônio monogâmico um dos sacramentos do catolicismo, a poligamia impedia a conversão e o batismo dos adultos, comprometendo seriamente o sucesso da obra missionária. Pode-se mesmo afirmar que superar a poligamia dos índios se tornou uma verdadeira obsessão dos missionários dedicados à evangelização. O combate à poligamia dos índios foi trabalho pastoral intenso e contínuo dos jesuítas no Brasil' (MOREIRA, 2018, p. 33)
Os padres afirmavam que as tradições indígenas não poderiam conciliar-se com o “único, perfeito e verdadeiro casamento cristão” (VAINFAS, 1997) (...) monogamia nesse contexto é tida como sinônimo não só de algo quantitativo, mas também qualitativo: um sistema que seria bom por ter apenas uma relação e especial justamente por ser exclusivo. Em um contraste complementar, poligamia também passa a aludir não só à quantidade, mas também à qualidade (ruim por serem várias pessoas).
(...) Para além disso, cabe ressaltar que a imposição da monogamia se estruturava - e assim permanece - em uma determinada maneira de lidar com o tempo emocional. Nas cartas jesuíticas observamos que o repúdio dos padres às relações indígenas não se esgotava no desagrado com envolvimentos entre mais de duas pessoas, mas também em um desconforto quanto ao tempo que essas relações duravam. (...) Com isso compreendemos que mesmo que uma relação fosse composta por apenas duas pessoas, ainda assim não seria tipificada como monogâmica se a forma de lidar com sua temporalidade não fosse correspondente ao princípio da indissociabilidade do vínculo.
A ausência do valor de uma permanência “até que a morte os separe” também configurava, por consequência, uma não-monogamia e uma desestabilização da ideia de 'família normal' "

Fonte: https://www.instagram.com/p/Cm6_I6quxla/?igshid=NDdhMjNiZDg%3D


Nenhum comentário:

RELAÇÕES ENTRE COLONIZAÇÃO, CRISTIANISMO Y MONOGAMIA

 


RELAÇÕES ENTRE COLONIZAÇÃO, CRISTIANISMO Y MONOGAMIA

"Um dos primeiros registros escritos que temos da percepção dos colonizadores a respeito da não-monogamia encontramos nos relatos dos padres jesuítas, em cujas cartas há vastos comentários sobre o que chamavam de “poligamia dos índios”. De acordo com a historiadora Vânia Moreira, a imposição da monogamia foi fundamental para a implementação de todo o projeto colonial. Ela explica que
'Em razão de ser o matrimônio monogâmico um dos sacramentos do catolicismo, a poligamia impedia a conversão e o batismo dos adultos, comprometendo seriamente o sucesso da obra missionária. Pode-se mesmo afirmar que superar a poligamia dos índios se tornou uma verdadeira obsessão dos missionários dedicados à evangelização. O combate à poligamia dos índios foi trabalho pastoral intenso e contínuo dos jesuítas no Brasil' (MOREIRA, 2018, p. 33)
Os padres afirmavam que as tradições indígenas não poderiam conciliar-se com o “único, perfeito e verdadeiro casamento cristão” (VAINFAS, 1997) (...) monogamia nesse contexto é tida como sinônimo não só de algo quantitativo, mas também qualitativo: um sistema que seria bom por ter apenas uma relação e especial justamente por ser exclusivo. Em um contraste complementar, poligamia também passa a aludir não só à quantidade, mas também à qualidade (ruim por serem várias pessoas).
(...) Para além disso, cabe ressaltar que a imposição da monogamia se estruturava - e assim permanece - em uma determinada maneira de lidar com o tempo emocional. Nas cartas jesuíticas observamos que o repúdio dos padres às relações indígenas não se esgotava no desagrado com envolvimentos entre mais de duas pessoas, mas também em um desconforto quanto ao tempo que essas relações duravam. (...) Com isso compreendemos que mesmo que uma relação fosse composta por apenas duas pessoas, ainda assim não seria tipificada como monogâmica se a forma de lidar com sua temporalidade não fosse correspondente ao princípio da indissociabilidade do vínculo.
A ausência do valor de uma permanência “até que a morte os separe” também configurava, por consequência, uma não-monogamia e uma desestabilização da ideia de 'família normal' "

Fonte: https://www.instagram.com/p/Cm6_I6quxla/?igshid=NDdhMjNiZDg%3D