A moral cristã é hegemônica no planeta e busca orientar as
diferentes formas de relação com a sexualidade.
A proibição, a punição, repressão e o controle ocupam um lugar importante no
erotismo, em que o profano e o sagrado se encontram/confrontam (Foucault).
Simbolicamente, esse repertório moral orienta um certo modo de lidar com
submissão, dominação, prazer.
Na Bíblia, a posição que os fiéis ocupam em relação a seu deus é de submissão,
de prostração e obediência:
"não posso fazer nada se Deus não permitir. Se desobedecer, ele me castiga
porque me ama, pelo meu bem. Ele é meu Senhor, é dominador de tudo, enquanto
sou um servo fraco, ele é forte".
Nesse contraste de dominação/submissão, fraqueza/força, só deus é quem pode guiar,
jamais é guiado. Ele quem disciplina, é o pai que rege seus filhos. Amá-lo é
ser temente, fiel (não se pode "trai-lo" com outros deuses),
obediente às suas leis.
Esse deus está no céu /acima, seus servos embaixo, na terra. "Aquele que
vem de cima é superior a todos" (J.3).
Esse deus maiúsculo (na grafia e no simbólico), está no alto, portanto, não
poderia ser mulher. "Cristo é o Cabeça de todo homem; o homem, o cabeça da
esposa" (Cr 11). Segundo o professor Dr. Roberto Romano (2019) "as
doutrinas cristãs ergueram um sistema hierárquico que postula a desigualdade
como fundamento e alvo político".
Ainda há um tabu em falarmos sobre o quanto essa ideologia se reflete no
erotismo de muitos.
O prazer sexual em levar/dar tapas, em ser dominado, punido e disciplinado, o
alívio em ser xingado, em se entregar; bem como o prazer de ter o controle, de
dominar etc, tudo isso é profundamente atravessado nas relações de gênero.
É possível ter prazer com essas cenas de maneira saudável, consensual, desde
que essas performances/jogos sejam reconhecidas como ficções. Não é o que
acontece nas normatividades: nessas estruturas, essas lógicas não são vistas
como uma brincadeira em cenas específicas, mas como a realidade. E aí sim,
abrem porta para que relações abusivas se fortaleçam.
Reconhecer, acolher e elaborar nossos desejos para além dos tabus da moral
cristã é um exercício fundamental para uma relação mais saudável consigo e com
os demais.
Referências: "As razões medievais da extrema
direita", Roberto Romano, 2019. Professor titular de Ética e Filosofia,
PUC. História da Sexualidade, Michel Foucault, 1988.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni
Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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