segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

O erotismo da moral cristã: as controvérsias simbólicas da dominação, submissão e disciplina.

 


A moral cristã é hegemônica no planeta e busca orientar as diferentes formas de relação com a sexualidade.
A proibição, a punição, repressão e o controle ocupam um lugar importante no erotismo, em que o profano e o sagrado se encontram/confrontam (Foucault).
Simbolicamente, esse repertório moral orienta um certo modo de lidar com submissão, dominação, prazer.
Na Bíblia, a posição que os fiéis ocupam em relação a seu deus é de submissão, de prostração e obediência:
"não posso fazer nada se Deus não permitir. Se desobedecer, ele me castiga porque me ama, pelo meu bem. Ele é meu Senhor, é dominador de tudo, enquanto sou um servo fraco, ele é forte".
Nesse contraste de dominação/submissão, fraqueza/força, só deus é quem pode guiar, jamais é guiado. Ele quem disciplina, é o pai que rege seus filhos. Amá-lo é ser temente, fiel (não se pode "trai-lo" com outros deuses), obediente às suas leis.
Esse deus está no céu /acima, seus servos embaixo, na terra. "Aquele que vem de cima é superior a todos" (J.3).
Esse deus maiúsculo (na grafia e no simbólico), está no alto, portanto, não poderia ser mulher. "Cristo é o Cabeça de todo homem; o homem, o cabeça da esposa" (Cr 11). Segundo o professor Dr. Roberto Romano (2019) "as doutrinas cristãs ergueram um sistema hierárquico que postula a desigualdade como fundamento e alvo político".
Ainda há um tabu em falarmos sobre o quanto essa ideologia se reflete no erotismo de muitos.
O prazer sexual em levar/dar tapas, em ser dominado, punido e disciplinado, o alívio em ser xingado, em se entregar; bem como o prazer de ter o controle, de dominar etc, tudo isso é profundamente atravessado nas relações de gênero.
É possível ter prazer com essas cenas de maneira saudável, consensual, desde que essas performances/jogos sejam reconhecidas como ficções. Não é o que acontece nas normatividades: nessas estruturas, essas lógicas não são vistas como uma brincadeira em cenas específicas, mas como a realidade. E aí sim, abrem porta para que relações abusivas se fortaleçam.
Reconhecer, acolher e elaborar nossos desejos para além dos tabus da moral cristã é um exercício fundamental para uma relação mais saudável consigo e com os demais.

Referências: "As razões medievais da extrema direita", Roberto Romano, 2019. Professor titular de Ética e Filosofia, PUC. História da Sexualidade, Michel Foucault, 1988.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -

https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s


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O erotismo da moral cristã: as controvérsias simbólicas da dominação, submissão e disciplina.

 


A moral cristã é hegemônica no planeta e busca orientar as diferentes formas de relação com a sexualidade.
A proibição, a punição, repressão e o controle ocupam um lugar importante no erotismo, em que o profano e o sagrado se encontram/confrontam (Foucault).
Simbolicamente, esse repertório moral orienta um certo modo de lidar com submissão, dominação, prazer.
Na Bíblia, a posição que os fiéis ocupam em relação a seu deus é de submissão, de prostração e obediência:
"não posso fazer nada se Deus não permitir. Se desobedecer, ele me castiga porque me ama, pelo meu bem. Ele é meu Senhor, é dominador de tudo, enquanto sou um servo fraco, ele é forte".
Nesse contraste de dominação/submissão, fraqueza/força, só deus é quem pode guiar, jamais é guiado. Ele quem disciplina, é o pai que rege seus filhos. Amá-lo é ser temente, fiel (não se pode "trai-lo" com outros deuses), obediente às suas leis.
Esse deus está no céu /acima, seus servos embaixo, na terra. "Aquele que vem de cima é superior a todos" (J.3).
Esse deus maiúsculo (na grafia e no simbólico), está no alto, portanto, não poderia ser mulher. "Cristo é o Cabeça de todo homem; o homem, o cabeça da esposa" (Cr 11). Segundo o professor Dr. Roberto Romano (2019) "as doutrinas cristãs ergueram um sistema hierárquico que postula a desigualdade como fundamento e alvo político".
Ainda há um tabu em falarmos sobre o quanto essa ideologia se reflete no erotismo de muitos.
O prazer sexual em levar/dar tapas, em ser dominado, punido e disciplinado, o alívio em ser xingado, em se entregar; bem como o prazer de ter o controle, de dominar etc, tudo isso é profundamente atravessado nas relações de gênero.
É possível ter prazer com essas cenas de maneira saudável, consensual, desde que essas performances/jogos sejam reconhecidas como ficções. Não é o que acontece nas normatividades: nessas estruturas, essas lógicas não são vistas como uma brincadeira em cenas específicas, mas como a realidade. E aí sim, abrem porta para que relações abusivas se fortaleçam.
Reconhecer, acolher e elaborar nossos desejos para além dos tabus da moral cristã é um exercício fundamental para uma relação mais saudável consigo e com os demais.

Referências: "As razões medievais da extrema direita", Roberto Romano, 2019. Professor titular de Ética e Filosofia, PUC. História da Sexualidade, Michel Foucault, 1988.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -

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