Era uma vez uma pessoa
que só gostava dos recheios.
Só comia o recheio da bolacha, destacava-o de
dentro do bolo, só comia a parte doce de tudo que provava.
Só comia o recheio da pizza, do pastel, a massa
deixava de lado.
Não conseguia ouvir uma música inteira, apenas
os segundos que gostava.
E de procurar sempre o recheio, repetia as
mesmas pequenas porções de recheio e sua fome nunca era saciada.
Um dia decidiu provar uma porção inteira de
bolo, mordeu a massa da pizza e do pastel e ouviu a música inteira.
Percebeu então, que o sabor não está apenas no
pico, no agudo e no extremo, mas no conjunto, na combinação.
E aproveitou melhor os dias de sol quando
compreendeu a beleza dos dias de chuva.
E degustou o sabor amargo do café, e saboreou
melhor o suco sem aquele tanto de açúcar.
Sentiu que alguns sabores amargos ou azedos
também podiam ser deliciosos e que as cores não saturadas também podem ser
bonitas.
Compreender as camadas de sabores para além do
sal e do açúcar não significa aceitar comida apodrecida, pelo contrário, é
apurando o paladar que conseguimos identificar a delícia da comida para além da
distorção do excesso dw açúcar e sal.
Artesania dos afetos também é sobre
sensibilizarmos nossos sentidos para a magia daquilo que é sereno, que não é
apelativo ou hiperbólico.
"A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me
alegra,
E quanto isso me basta.
(...)
Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a
pena ter nascido". Alberto Caeiro.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni
Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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