É antiga a tensão e o conflito entre o cristianismo e a
cultura.
Cristãos são ensinados a olhar para a cultura como algo suspeito e potencialmente
perigoso à sua fé.
Esse afastamento com a cultura se deve, sobretudo, à monocultura da fé cristã.
Nisso, o cristão só poderia cantar se fosse louvores a deus, só poderia
escrever poemas destinados a deus, só poderia admirar, celebrar e se envolver
com algo que fosse sobre deus.
Caso contrário, o fiel estaria cometendo adultério, traindo o casamento com
Cristo, o que provocaria ciúme em seu deus (Tiago 4:5).
Além disso, arte e cultura são vistas como um perigo "da carne". Para
o cristianismo, tudo que é da terra e da carne é inferior ao que é do alto, do
céu.
Apenas por essa interiorização é que é possível vender a salvação como algo
evolutivo, melhor do que aquilo que temos, essa vida.
As artes convidariam ao pecado e à traição da fidelidade com deus, desviando o
servo do único caminho supostamente verdadeiro.
Para esse deus se sentir amado, ele exige ser exclusivamente amado e isso vai
fazendo com que, para provar que ama seu deus, o fiel se afaste de tudo que lhe
"tente".
E essa monocultura da fé que cria a monocultura da sexualidade e dos afetos.
Nelas, só a própria forma de existir é válida e todas as demais devem ser
destruídas.
É dessa ideologia que vem a prática do racismo religioso, da lgbtfobia, da
monogamia.
A dança, a música, a pintura, os esportes, a literatura, tudo isso é visto como
desvio.
É justamente por isso que precisamos apostar de maneira profunda e séria na
arte como um dos principais meios da contracolonização.
Pela arte conseguimos ir além do medo, da culpa, conseguimos aspirar outros
sonhos, ganhamos possibilidade de maior gosto e gozo pela vida.
Com essa celebração da terra e da vida terrena, o ingresso vip pro céu já não
se mostra tão sedutor, nem as ameaças do inferno tão aterrorizantes.
Esse amor (ódio) colonial se destrói não com mais polícia e cadeia (punitivismo
é pedagogia cristã e nunca tornou ninguém saudável), é preciso ir além.
Sem as monoculturas do pensamento, não haverá a motivação ideológica para
perseguirem tudo que é floresta.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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