Há quem diga que o certo seria nunca criarmos expectativas,
pois assim evitaríamos decepções.
Essa evitação, para alguns, seria uma forma de não frustrar outras pessoas;
para outros, uma forma de tentar não desapontar a si mesmo.
O fato é que não há como viver tentando ser imune à própria vida e nesse
sentido criar expectativas pode ser uma forma de nos vincularmos à existência.
Expectativas não são importantes apenas quando são correspondidas, mas também
quando malogram.
Evitar frustrar a expectativa alheia a qualquer custo pode ter um alto custo
para nossa saúde e dignidade.
Querer parecer sempre bonzinho e perfeito aos olhos não nos garante vínculos
sólidos. Pelo contrário, é na frustração dos ideais que verificamos de fato a
consistência de uma relação.
Permitir que outras pessoas se frustrem conosco também pode ser uma forma de
não subestimá-las, "amar alguém tem sempre um certo risco", como diz
Marisa Monte.
Se, em alguns quadros depressivos, há uma dificuldade de se desejar, esperar o
amanhã, de arriscar movimentos e ações, é no exercício da criação de
expectativas que podemos fortalecer nosso laço com a vida.
Nesse sentido, até mesmo nossas expectativas frustradas podem ser algo a ser
celebrado: são indícios de que pelo menos a energia de desejar algo foi
mobilizada.
Se torcemos para que faça sol, para que o sabor da mordida na fruta seja
gostoso, para que a música chegue na nossa parte preferida, é porque algo nos
movimentou.
E essa expectativa pode ser de um tamanho que a gente dê conta de carregar, não
precisa ser para sempre a mesma música, nem a mesma fruta, nem o mesmo sol, a
mesma relação ou o mesmo trabalho.
Que em vez de nos blindarmos de quaisquer expectativas, tenhamos rede, colo e
amparo para vivê-las.
Talvez menos do que almejar não ter nenhuma expectativa, podemos elaborar quais
potencializam ou não nossa vida.
Lembrando sempre que é massificado fere nossa singularidade, por isso
desconfiemos das expectativas enlatadas que nos ofertam, elas são promessas
saturadas. Que construamos as nossas próprias, artesanalmente.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal
no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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