Tudo que é hegemônico se pretende universal, algo que por
ser tão "normal" nem precisaria ser qualificado.
Por isso que nomear a branquitude, a heterocisnorma, o monoteísmo cristão e a
monogamia incomoda tanto: querem ser apenas "humanos", que seu Deus
seja o único, que sua forma de se relacionar seja simplesmente "o
amor".
Nomear a monogamia dessa maneira crítica é um exercício político que tem tido
maior visibilidade mais recentemente.
"Essa é minha escolha pessoal, é meu direito!", apressam-se a dizer.
Antes imaginavam ter o monopólio do que era relação amorosa, do que era
família, laço, afeto.
Qual não é sua surpresa e desagrado em perceber que essa disrupção está cada
vez mais próxima, que agora um colega do trabalho já consegue separar amor de
monogamia, que um crush não toma por óbvia a exclusividade sexual, que um amigo
já não acha mais tanta graça em piadas que positivam posse e controle, que sua
prima usa as redes sociais para compartilhar perspectivas dissidentes e etc.
A hegemonia morre de medo de que façamos o mesmo que eles, que agora a não
monogamia se torne uma lei impositória da mesma maneira que fizeram com a
monogamia há tantos séculos.
Quase torcem para que nossas atitudes sejam "as mesmas" que as suas
para se vingarem de nossa desobediência e comemorarem nosso suposto fracasso:
"viu, não falei que não funcionava? Você é igual a mim".
Mas de todo esse ressentimento, talvez o maior medo da monogamia é que a não
monocultura entre em sua casa, em sua cama. E se apavoram em pensar que seu
namorado, sua esposa também se interesse por tamanha "libertinagem".
Mesmo que haja bilhões de monogâmicos no mundo, nosso punhado de dissidência se
torna uma grande ameaça, pois a hegemonia só descansa quando pensa que
converteu o mundo todo.
Assim como a família lgbfóbica tem medo de que seus filhos "percam a
cabeça" e sejam influenciados pela dissidência de gênero, os crentes da
monogamia também temem nossa suposta "catequização".
Mal sabem que o sonho de impor leis morais sobre o corpo alheio nunca foi nem
será nosso, é impossível impor autonomia.
Sem o véu do pânico moral, o que antes era uma ameaça agora pode se tornar um
abraço.
Geni Nuñez - @genipapos no Instagram
https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/...
Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni
Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -
https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s
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