sábado, 31 de dezembro de 2022

O aumento da visibilidade da não monogamia e o pânico moral

 


Tudo que é hegemônico se pretende universal, algo que por ser tão "normal" nem precisaria ser qualificado.
Por isso que nomear a branquitude, a heterocisnorma, o monoteísmo cristão e a monogamia incomoda tanto: querem ser apenas "humanos", que seu Deus seja o único, que sua forma de se relacionar seja simplesmente "o amor".
Nomear a monogamia dessa maneira crítica é um exercício político que tem tido maior visibilidade mais recentemente.
"Essa é minha escolha pessoal, é meu direito!", apressam-se a dizer.
Antes imaginavam ter o monopólio do que era relação amorosa, do que era família, laço, afeto.
Qual não é sua surpresa e desagrado em perceber que essa disrupção está cada vez mais próxima, que agora um colega do trabalho já consegue separar amor de monogamia, que um crush não toma por óbvia a exclusividade sexual, que um amigo já não acha mais tanta graça em piadas que positivam posse e controle, que sua prima usa as redes sociais para compartilhar perspectivas dissidentes e etc.
A hegemonia morre de medo de que façamos o mesmo que eles, que agora a não monogamia se torne uma lei impositória da mesma maneira que fizeram com a monogamia há tantos séculos.
Quase torcem para que nossas atitudes sejam "as mesmas" que as suas para se vingarem de nossa desobediência e comemorarem nosso suposto fracasso: "viu, não falei que não funcionava? Você é igual a mim".
Mas de todo esse ressentimento, talvez o maior medo da monogamia é que a não monocultura entre em sua casa, em sua cama. E se apavoram em pensar que seu namorado, sua esposa também se interesse por tamanha "libertinagem".
Mesmo que haja bilhões de monogâmicos no mundo, nosso punhado de dissidência se torna uma grande ameaça, pois a hegemonia só descansa quando pensa que converteu o mundo todo.
Assim como a família lgbfóbica tem medo de que seus filhos "percam a cabeça" e sejam influenciados pela dissidência de gênero, os crentes da monogamia também temem nossa suposta "catequização".
Mal sabem que o sonho de impor leis morais sobre o corpo alheio nunca foi nem será nosso, é impossível impor autonomia.
Sem o véu do pânico moral, o que antes era uma ameaça agora pode se tornar um abraço.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/...

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -

https://www.youtube.com/watch?v=mhtXVH-kO3I&t=2113s


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O aumento da visibilidade da não monogamia e o pânico moral

 


Tudo que é hegemônico se pretende universal, algo que por ser tão "normal" nem precisaria ser qualificado.
Por isso que nomear a branquitude, a heterocisnorma, o monoteísmo cristão e a monogamia incomoda tanto: querem ser apenas "humanos", que seu Deus seja o único, que sua forma de se relacionar seja simplesmente "o amor".
Nomear a monogamia dessa maneira crítica é um exercício político que tem tido maior visibilidade mais recentemente.
"Essa é minha escolha pessoal, é meu direito!", apressam-se a dizer.
Antes imaginavam ter o monopólio do que era relação amorosa, do que era família, laço, afeto.
Qual não é sua surpresa e desagrado em perceber que essa disrupção está cada vez mais próxima, que agora um colega do trabalho já consegue separar amor de monogamia, que um crush não toma por óbvia a exclusividade sexual, que um amigo já não acha mais tanta graça em piadas que positivam posse e controle, que sua prima usa as redes sociais para compartilhar perspectivas dissidentes e etc.
A hegemonia morre de medo de que façamos o mesmo que eles, que agora a não monogamia se torne uma lei impositória da mesma maneira que fizeram com a monogamia há tantos séculos.
Quase torcem para que nossas atitudes sejam "as mesmas" que as suas para se vingarem de nossa desobediência e comemorarem nosso suposto fracasso: "viu, não falei que não funcionava? Você é igual a mim".
Mas de todo esse ressentimento, talvez o maior medo da monogamia é que a não monocultura entre em sua casa, em sua cama. E se apavoram em pensar que seu namorado, sua esposa também se interesse por tamanha "libertinagem".
Mesmo que haja bilhões de monogâmicos no mundo, nosso punhado de dissidência se torna uma grande ameaça, pois a hegemonia só descansa quando pensa que converteu o mundo todo.
Assim como a família lgbfóbica tem medo de que seus filhos "percam a cabeça" e sejam influenciados pela dissidência de gênero, os crentes da monogamia também temem nossa suposta "catequização".
Mal sabem que o sonho de impor leis morais sobre o corpo alheio nunca foi nem será nosso, é impossível impor autonomia.
Sem o véu do pânico moral, o que antes era uma ameaça agora pode se tornar um abraço.

Geni Nuñez - @genipapos no Instagram

https://www.instagram.com/p/CkcCdQYNoJd/...

Assista a live “Descatequizar para descolonizar”, com Geni Nuñez em meu canal no Youtube (Angela Natel) -

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